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domingo, 30 de novembro de 2014

{7678] - A PÁTRIA HONRAI, QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA...

PORTUGUESES:

O Presente
exige-nos que construamos o
Futuro
honrando o nosso
Passado!


VIVA
O
1º DE DEZEMBRO
DE

1640


[7677] - O G.R.R.C.V. EM MARCHA...


INAUGURAÇÃO DA SEDE EM S.VICENTE...





JANTAR DE CONFRATERNIZAÇÃO E RECOLHA
      DE FUNDOS DO G.R.R.C.V.,
NO HOTEL OÁSIS,
MINDELO





(Fotos cedidas por José F. Lopes)

[7676] - CABO VERDE - ESTADO DA INFORMAÇÃO...

POR UMA INFORMAÇÃO LIVRE DOS PODERES
E APARTIDÁRIA...

Não é novidade para ninguém que a informação em Cabo Verde anda condicionada (através da Censura e da Auto- Censura ) por todos os poderes que atravessam a sociedade cabo-verdiana, a debater com uma autêntica camisa de forças que é o centralismo paranoico. Dois factores conjugam para esta situação grave e que se agrava dia para dia devido às vicissitudes da própria economia cabo-verdianoa, na prática estatizada, sem um sector privado minimamente expressivo: o partidarismo e o centralismo. Depois de se zangarem as comadres no seio do partido único que centralizava toda informação, gerando duas famílias distintas, a de Caim e a de Abel, ela (a actual informação) que reflecte  um país dividido, dicótomo, passou a estar dividida em dois campos, não restando espaço para o cidadão ter outra informação independente, fora do terreno minado, filtrado, bi-partidarizado, de modo a  fazer a sua própria opinião. O cidadão cabo-verdiano há 40 anos que vem sendo domesticado, desinformado, uma situação que gerou a acriticidade a passividade social e a manipulação de consciências. Hoje em dia tudo o que sai para fora do Sistema, ou é anti-séptico para o Sistema, ou senão tem que ter a aprovação tácita do Sistema. Tudo o que ficar no meio não tem chances. E é a situação do regionalismo, uma corrente de opinião que apanhou os partidos e o Establishment de surpresa, e que eles não têm podido domesticar, levando a que ela viva do ponto de vista oficial e da informação nos medias oficias, dominados desde a Praia e controlados por sistema politico-económico, numa situação de semi-clandestinida ou ostracização. Tudo isto vem a propósito de dois eventos que quase que passaram sob silêncio, não fora o espaço de liberdade que representa os blogues e o facebook. Estou-me a referir à Reacção do Grupo de Reflexão sobre a Regionalização de Cabo Verde (AGRRCV) e do Grupo de Reflexão da Diáspora acerca do Debate relativo à Regionalização de 03 e 04 de Dezembro de 2014 que foi boicotada na imprensa centralista e partidarizada. O comunicado foi distribuído na 3ª Feira passada e até hoje nenhuma referência em nenhum jornal cabo-verdiano. Por outro lado um evento que não devia ter passado desapercebido, a ida do Grupo de Reflexão da Diáspora para Roterdão no fim do mês de Outubro um evento de importância na Diáspora e na Emigração, que associou quase uma centena de pessoas. Foi lançado o Livro os Caminhos da Regionalização, houve um Debate bastante participativo. Houve cobertura de duas Rádios da comunidade de Roterdão. Aparentemente o assunto não tinha importância para Cabo Verde, quando se estava a debater precisamente o futuro de Cabo Verde na Diáspora, A Regionalização, que de resto vai sê-lo na Cimeira de 03 e 04 de Dezembro de 2014 na Praia. Bolas e o quantidade de faits-divers que se publica nos jornais e não há espaço para uma notícias destas. Na realidade o tema e o ‘franc-parler’ das pessoas  incomodou e incomoda o sistema e o Establishment.
Isto tudo leva a questionar sobre a sanidade do país, quem anda por detrás e a auto-censura devido aos papões partidários que supervisionam tudo. Não tenhamos dúvida embora acontecer a Cimeira de 2 a 3 de Dezembro, ainda neste preciso momento, é politicamente incorrecto falar de Regionalização, a não ser a música que a Praia e os dois partidos gostam de ouvir, e é o que vamos ter a partir de amanhã. Chamo aqui a capítulo os jornalistas cabo-verdianos a propósito do estado de indigência em que se encontra a liberdade da informação e os direitos e o papel do jornalismo independente!!!

José Fotes Lopes

sábado, 29 de novembro de 2014

[7675] - EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS...


JURAR DE PÉS JUNTOS:

"Mãe,  juro de pés juntos que não fui eu!" A expressão surgiu por analogia com uma  das torturas infligidas pela  Inquisição e na qual o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era forçado a  nada dizer para além da verdade. Até hoje, a expressão é usada para reforçar a veracidade de algo que se afirma, com toda a veemência...

[7674] - HISTÓRIA DO SEXO DAS MULHERES ATRAVÉS DA HISTÓRIA...

Em conversa com o colega e amigo João Manuel Varela (João Vário), há alguns anos, sobre as mutilações sexuais e preconceitos relativamente à mulher, pediu-me que escrevesse para a revista ANAIS, da AECCOM (Academia de Estudo de Ciências Comparadas), algo sobre o assunto – Academia que desapareceu após a morte do seu criador, Prof. Varela, e poderia ter tido continuidade não fora a vaidade de se ser o criador de outra -, face à minha experiência nos países africanos onde trabalhei, por ter reparado o apoio que sempre dei à luta feminina pela emancipação, em escritos e na minha missão para a introdução do planeamento familiar em Cabo Verde, através do Projecto de Saúde Materno-Infantil e Planeamento Familial; seguira a polémica que isso levantou com a Igreja por causa dos métodos modernos de controlo da natalidade, que fui enfrentando com habilidade e respeito pelas ideias contrárias, rebatidas com argumentos dificilmente refutáveis.
Num dos números de ANAIS debruço-me um pouco sobre as mutilações sexuais, e, posteriormente, em artigos publicados nos jornais nacionais, sobre vários aspectos ligados aos direitos das mulheres. Por ser assunto que continua a preencher o meu interesse, não negligencio publicações respeitantes à matéria, e, recentemente, encontrei um livro interessante da historiadora, filósofa e escritora, Diane Ducret, intitulado Chair Interdite, da Editora Albin Michel, e uma entrevista na revista La Revue (do Grupo Jeune Afrique), que me vão servir para fornecer aos leitores algumas constatações deveras interessantes e surpreendentes.
Não me vou deter na descrição das mutilações sexuais praticadas em África e noutras paragens por motivos supostamente religiosos e animistas, em boa verdade por estupidez e egoísmo masculinos, por já o ter feito noutros escritos – excisão do cliptoris, dos pequenos e grandes lábios, circuncisão (em rapazes), infibulação (em que se cose a fenda vaginal deixando um pequeno orifício para a saída das regras), etc., a sangue frio com instrumentos contaminados, geralmente em rapariguitas, mas também em mulheres adultas para preservar a fidelidade destas na ausência do marido. Como acontece com os teólogos muçulmanos (imãs, molas, muftis, iatolas, etc) que muito excepcionalmente se pronunciam nas mesquitas ou em público contra as barbaridades e crimes cometidos pelos extremistas islâmicos considerando-os crimes e pecados mortais, o que poderia levar à diminuição de tais práticas e dos seus defensores, a maioria dos presidentes e ministros africanos nunca se manifesta publicamente contra as referidas mutilações sexuais, não obstante haver leis que as interditam e condenam, o que nos convence de que, no fundo, concordam com tais crimes como práticas ancestrais respeitáveis que “os brancos não entendem”, como costumam dizer.
Diane Ducret descobriu nas suas investigações históricas, que, no século XIX e até 1910, se excisavam mulheres na Europa e EUA, altura em que desaparecia o Antigo Regime e se executava o Código Napoleónico, que considerava “a mulher” como parceira obediente do homem, que devia cumprir “missão” e “vocação” fundamentais: esposa e mãe ou prostituta. Inconcebível que a mulher pudesse usufruir de algum prazer no acto sexual que escapasse ao controlo do homem. Os médicos excisavam, ao termocautério (portanto, ao fogo) as mulheres histéricas, as que experimentavam, como se presumia, muito prazer no acto sexual. Um cirurgião Vienense, Gustavo Braun, especializou-se, em pleno século XIX, na excisão do cliptoris para prevenir as regras femininas e orgasmos muito expressivos! Os homens conseguiram convencer as mulheres de que o prazer sexual feminino era típico de prostitutas, não de mulheres-bem, honradas, o que as forçou a consultarem médicos quando tal acontecia. Mesmo para Freud, a mulher com prazer cliptoriano era uma menina que ficou bloqueada nesse estádio; aí entrava a Psicanálise. A excisão terminou, por fim, na Europa mas continuou por alguns anos nos EUA. Em 1872, Robert Battey, médico cirurgião, demonstrou que a castração feminina eliminava de facto toda a histeria sexual!
Recuando mais no tempo, descobrimos que no Cristianismo – ter presente que as religiões foram criadas e monopolizadas por homens -, a mulher perfeita não tem sexo. É a Virgem Maria intacta, pura, sem regras, nem sexo. Na Bíblia, a mulher é impura durante sete dias e deve ser banida. Tudo que ela toca, ou alguém que mexa nalgum objecto que ela tenha tocado fica impuro. Na corte de Luis XIV, o seu cirurgião preconizava a amputação do clíptoris para retirar à mulher a “lascívia contínua”.
Com a Renascença e a Revolução Francesa, o Cristianismo separou o poder temporal do espiritual e, a pouco-e-pouco, foi aceitando a não interpretação à letra de muitas afirmações das Sagradas Escrituras, abandonando alguns preconceitos sexuais, o que não aconteceu com o Islão, por os árabes não terem tido Renascença nem nada semelhante à Revolução francesa; pelo contrário, inicialmente mais tolerante do que o Cristianismo – nos reinos medievais da Espanha moura, os governantes islâmicos deram abrigo a cristãos e judeus perseguidos, enquanto a Europa cristã se atolava em conflitos religiosos -, o Islão foi dominado, a partir de certa altura, pelo clérigo reacionário e fundamentalista que não lhe permitiu evoluir, preferindo privilegiar atitudes extremistas e até criminosas como acontece na actualidade, sendo a mulher propriedade do homem e destituída de quaisquer direitos. Por exemplo, o criador da seita Irmandade Muçulmana, Sayyed Qutb, intelectual egípcio executado no tempo de Nasser, que viveu alguns anos no Ocidente e EUA, escreveu que “as americanas sabem que a sedução reside em seios hirtos e transbordantes, pernas bem torneadas e ao leu, cabelos soltos e ancas roliças”. Concluia: “É tudo quanto não queremos no Egipto”.
Durante muito tempo se pensou que o uso do cinto da castidade apareceu na Idade Média para prevenir o adultério das mulheres cujos maridos partiam nas Cruzadas ou em negócios à distância. Afinal o seu uso foi muito mais recente, século XVIII. Os cintos de castidade que vemos nos museus não eram da Idade Média, mas posteriores. Foram também utilizados para suavizar o ardor sexual feminino.
Esse médico famoso que conhecemos do liceu, Ambroise Paré, considerava o aparelho sexual feminino ignomínia da natureza. O que mais o intrigava era o cliptoris entrar em erecção por várias motivações, sem nunca se preocupar em saber a razão. Somente com o médico e anatomista Falópio, século XVI, é que se teve uma descrição anatómica dos órgãos sexuais femininos, mas sem aprofundar o seu estudo e fisiologia. 
Afirma Diane Ducret que quando o homem deixa de ter condições materiais ou de estabilidade social, quando começa a fraquejar a sua líbido ou se abeira da impotência, ataca a sexualidade feminina para controlar a sua capacidade reprodutora e erótica. Por exemplo, na actual crise económica e social mundial, põe em causa o direito ao abortamento, a legitimidade da contracepção. Tem havido todo um trabalho teoricamente estético visando a mulher levando-a a eliminar os pelos (depilação), primeiramente das axilas, e, a seguir, da púbis, por o pelo ser sinal de maturidade sexual, de animalidade. Os árabes (muçulmanos) chegam ao extremo de abominar tudo que seja pelo e pele femininos, obrigando a mulher a esconder o cabelo e a pele. Realmente, o egoísmo masculino não tem limites… e a mulher tem ido na conversa, quando não é forçada a isso, como acontece entre as muçulmanas e certas judias ortodoxas que usam variantes da burka, num excesso de pudor, para abreviar a chegada do Messias.
Diane Ducret valoriza também homens que se preocuparam e amaram verdadeiramente a mulher preconizando medidas e fazendo invenções que favoreceram a sua libertação, independência e domínio do seu corpo e fecundidade: à cabeça cita o médico Gregório Pincus, o inventor da pílula contraceptiva.
A falta de consideração que se tem pelo sexo da mulher modificou-se radicalmente entre os anos 1920 e 1940, com o desenvolvimento da sociedade de consumo. A firma americana Johnson & Johnson tinha fabricado pensos higiénicos em 1896, mas somente em 1920 é que a Kotex tirou proveito disso, surpreendendo todo o mundo com anúncios publicitários deles para mulheres, quebrando o tabu sobre assuntos sexuais. Os homens serviram-se desses pensos para enriquecer, o que fez melhorar a ideia que se tinha da sexualidade feminina.
Um outro benfeitor foi Ernest Grafenberg, judeu, o descobridor do chamado ponto G (equivalente vaginal erótico do cliptoris), médico que tratava a boa sociedade feminina nazi, em Berlim (emigrou depois para os EUA). Nos seus estudos conseguiu distinguir a ausência de orgasmo da frigidez feminina. Em 80% das mulheres que não conseguiam obter orgasmo, isso devia-se, segundo ele, precisamente por existirem zonas sexualmente excitáveis tanto no cliptoris como na vagina (Ponto G) com graus diferentes de excitação. Daí nasceu toda uma série de estimuladores vaginais para as mulheres com fraca excitabilidade cliptoriana, técnica reservada, no início, às mulheres histéricas, quando, antes, se acusava a equitação, a máquina de costura com pedal, a dança e a bicicleta de todas as vilanias excitantes.
Intrigante a posição do Papa PioXII que, já com 80 anos de idade e criticado por não ter feito muito para evitar o morticínio nazi de judeus – quando, em boa verdade, salvou muitos facilitando a sua fuga para a América Latina –, defendeu aberta e corajosamente, contrariando as Sagradas Escrituras (por a dor ser uma punição divina por Eva ter tentado Adão), a eliminação da dor no parto, técnica que, na altura, se praticava na ex-URSS, antes de se estender a todo o mundo.
Finalizo repetindo o que escrevi em Mulheres: Fieis de Segunda Fila. A luta das mulheres pelo reconhecimento dos seus direitos – o feminismo, como habitualmente se lhe chama – é o combate em favor da igualdade, é o meio para as mulheres acederem ao poder da palavra e da acção. […] Obviamente, são as mulheres que têm de continuar na primeira fila de luta pela sua emancipação visto que “nenhum agressor se demitiu voluntariamente do seu poder a favor do seu vassalo insubmisso”. Aos homens lúcidos e justos exige-se solidariedade.

Lisboa, Outubro de 2014                                                            Arsénio Fermino de Pina
                                                                                                   ( Pediatra e sócio honorário da Adeco)
  

[7673] - CABO VERDE - REGIONALIZAÇÃO...


O Grupo de Reflexão para a Regionalização de Cabo Verde (GRRCV) inaugura hoje, 29 de Novembro,  a sua sede social no Mindelo, seguido-se  um jantar onde espera juntar 100 a 150 convidados. Numa altura em que já conseguiu trazer o tema para o debate nacional, o presidente da direcção do GRRCV afirma que o próximo passo é continuar a esclarecer os cabo-verdianos sobre a regionalização para o bem da sociedade.
O propósito deste jantar será o de servir como meio de socialização e troca de conhecimentos,  esperando-se recolher a contribuição das pessoas para o fortalecimento das actividades deste grupo, que não tem filiação partidária. Por isso, o jantar assume um carácter de angariação de fundos para custear as despesas com a sede e outras acções, até agora assumidas por pessoas que querem que a voz dos mindelenses seja ouvida em tudo o que diz respeito ao desenvolvimento da ilha.

“A causa que a população de São Vicente abraçou, na defesa de uma regionalização que permita que todas as ilhas deixem de ser tratadas como ilhas periféricas da Praia, acabou por ser assumida por todos os Partidos Políticos e, particularmente pelo Governo, que vem mostrando alguma flexibilidade no tratamento do assunto”, diz o presidente de direcção do Grupo de Reflexão para a Regionalização de Cabo Verde.

Camilo Abu-Raya acredita que, dois anos depois do seu surgimento, o GRRCV cumpriu o objectivo inicial que passava por “colocar na ribalta” das discussões sociais e políticas do tema. “Hoje sentimos que todos falam da regionalização, incluise os partidos. E está agendada uma cimeira sobre o tema”, avançou.

O GRRCV, que tem como um dos principais mentores o cientista e político Onésimo Silveira, pretende continuar o programa de esclarecimento junto à população relativamente ao tema da regionalização para “o bem” da sociedade cabo-verdiana. A sede do GRRCV fica na Rua da Luz, cidade do Mindelo, num espaço alugado. Vai contar com 13 pessoas que constituem os três órgãos da associação, designadamente, cinco na direcção, seis na assembleia-geral e dois no conselho fiscal. (A Semana).

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

[7672] - O CÉREBRO EM NÚMEROS...


Toda a gente já ouviu falar em neurónios, como sendo uma espécie de "transístores" onde se armazena a inteligencia e outras habilidades humanas...O que talvez menos gente saiba é que estes neurónios são, no total, cerca de 100 biliões! Até apetece dizer que, com tantos neurónios, só é estúpido quem quer...
Estes minúsculos constituintes do nosso cérebro estão, por sua vez, interligados através daquilo a que se convencionou chamar  de "sinapses"...E estas, meus amigos, calcula-se que sejam, nada mais nada menos do que 100 triliões, ou seja,
100.000.000.000.000...
Ninguém sabe como é que conseguiram contar tantas conexões e calculamos que deve ter dado um trabalho dos diabos mas, nada que uns míseros 100 biliões de neurónios não facilitem, claro!

[7671] - CABO VERDE - RECONTANDO A HISTÓRIA...

CRÓNICAS DOS ÚLTIMOS DIAS
DO VERÃO QUENTE DE 1974

Estas Crónicas revelam factos dos Últimos dias de um Verão Quente de 1974 que passaram para o lixo da História, pelo seu grau de inconveniência, não merecendo ser lembrados pela imprensa cabo-verdiana e pela actual elite dominante.  O “fait-divers” desvia a atenção dos problemas críticos do país, enquanto o passado que importa evocar é o que enaltece o partido do poder. Hoje, em Cabo Verde, é politicamente incorrecto noticiar factos que incomodam o Establishment ou trazer de volta o que o passado tem de embaraçoso.
Falar dos porões cantando (poema de Ovídio Martins) que levavam os contratados para S. Tomé, abandonados pelo PAIGC á sua sorte é ‘démodé’. Esses contratados que eram usados como arma de denúncia contra o poder colonial por um partido que prometia, na sua propaganda de 1974, (panfletos quotidianos distribuídos pela cidade, comícios, saraus) livrá-los do degredo, desde que lhe fosse entregue de bandeja o poder, foram transformados num ápice, no dia 5 de Julho, em apátridas, proscritos por toda a gente (Portugal, S. Tomé e Cabo Verde) e condenados a morrer no esquecimento. Pois é, olhando par trás S. Tomé funcionou como uma arma de arremesso, uma bandeira revolucionária muito útil na altura, mas já não dá votos nem favorece o acesso ao poder: os desgraçados contratados são os únicos culpados do que lhes acontece e aconteceu, não tinham que se alistar (‘ba dá nom’) para a longa viagem rumo ao ‘Eldorado’ S. Tomé. Nem tão pouco já  interessa a sorte da emigração revolucionária antes tão elogiada pelo papel que teve  na  infiltração do PAICV, nos anos 60, em alguns meios cabo-verdianos de França e Holanda, Suécia etc. À revolta do Mindelo encabeçada pelo Capitão Ambrósio prefere-se hoje o que melhor se encaixa na narrativa da liturgia política dos donos do poder (revolta de Rubon Manel), que assim  reescrevem a História a seu bel-prazer para nela forjarem os fundamentos da sua própria exaltação.   A mitologia revolucionária de Santiago é levada aos píncaros,  e a ilha é ungida  com pretensões a Estado, estatuto só não assumido de todo porque o pudor e a prudência talvez ainda travem os ímpetos mais afoitos. 

Em suma, factos embaraçosos para o actual sistema são sistematicamente esquecidos ou silenciados, interessando apenas um enfoque propagandístico: era uma vez um Santiago sofredor por causa dos colonialistas e seus lacaios cabo-verdianos mas que agora se ergue orgulhosamente graças ao despertar dos seus filhos.
Então, vamos contar um facto que vai embaraçar muito o PAIGC e os partidos que a partir dele nasceram.
Se a minha memória não me falha, eram cerca das 9 horas de uma noite tépida de um dia do mês de Novembro de 1974 quando um evento extraordinário ia acontecer no centro da cidade do Mindelo e que, para o bem e para o mal, iria moldar os destinos desta ilha e de todo o território. A magnitude deste ‘sismo’ com epicentro em S. Vicente e que abalou Cabo Verde está na proporção directa da importância da ilha no quadro do arquipélago até 1974. É preciso recordar que quando S. Vicente espirrava Cabo Verde adoecia.
Algo estava em situação larvar  na cidade do Mindelo, desde o dia 26 de Abril, quando um grupo de alunos mais avançados do Liceu Gil Eanes (que constituíam jovens irreverentes, instantaneamente promovidos a revolucionários, pois já iniciados na oposição, alguns próximos do PAIGC e outros dissidentes do poder então vigente, ou seja, o chamado poder colonial) resolveram ‘dar o corpo ao manifesto’ e começaram a convocar comícios e a reunir-se no pátio do estabelecimento do Liceu Gil Eanes, interrompendo aulas em pleno período lectivo, para proclamar o apoio incondicional ao MFA e explicar aos mais novos o que se estava a passar. O 25 de Abril funcionou em Portugal, assim como em todos os antigos territórios ultramarinos portugueses, vulgo colónias, como uma autêntica válvula de escape, dando novas perspectivas a toda uma juventude com sede de liberdade e de sonhos, permitindo instantaneamente escapar à compressão social criada por um Estado Novo que durava 50 anos. Estava a ocorrer em MIndelo um autêntico Maio de 68, de consequências ainda mais revolucionárias do que o verdadeiro, ou seja, uma mudança total de paradigma social e político auspiciosa para uma aspirante a nação. A elite poderosa caía do cimo do seu pedestal para ouvir a verdade das bocas dos jovens ingénuos e confiantes no futuro: vai haver paraíso aqui nestas terras de S. Vicente e de Cabo Verde!!!
Nesse dia de Novembro ordens foram dadas (por quem? Pela rua?) para se rumar em direcção à mais famosa praça de Cabo Verde, Praça Nova (um sítio onde a juventude e a intelectualidade se deslocavam para discutir e saber das notícias do Mundo, e a população, aos domingos, exibia  as sua melhores roupas), pois um evento especial, excepcional, excitante, ia ali ocorrer, nessa que seria a mais quente noite de Mindelo do fim de um Verão de 1974. Estávamos perante o ponto mais alto, o clímax da efervescência revolucionária, o culminar do Maio 68 mindelense e o início da revolução cultural cabo-verdiana, a tomada do poder, a transferência do poder para o povo mindelense: o poder estava literalmente nas ruas, tudo estava consumado. Durante anos ninguém mais teria rédea neste povo, que se julgava e sentia de repente ‘livre’, liberto de todas as amarras do poder do Estado, e da longa ‘noite colonial’ segundo a narrativa do PAIGC. Tratava-se da Tomada de Assalto da Rádio Barlavento por um grupo de acólitos do PAIGC. Essa rádio era detida pela elite mindelense, pessoas apodadas de colonialistas, reaccionárias, ‘catchor de dos pé’ (um termo inventado pelos jovens) constituída essencialmente por altos funcionários e pessoas ligadas ao meio comercial e industrial do arquipélago. A Rádio Barlavento, assim como a Rádio Clube, era uma rádio privada, que estava ali à mão de semear para alimentar o apetite de todos os que queriam jogar um papel nos destinos de Cabo Verde. Recorde-se que passado pouco tempo depois 25 de Abril abriu-se o  jogo, e essa Rádio voltou ao seu natural, jogando um papel activo de oposição à corrente dominante, ao PAIGC e à independência imediata de Cabo Verde, embora permitindo a propaganda de afectos ao PAIGC. Quem detivesse essa rádio detinha uma alavanca importante do poder em Cabo Verde. O mais picante da história da tomada da rádio é que o golpe foi supervisionado pela representação local do Movimento das Forças Armadas Portuguesas (MFA), que ainda controlavam a situação no terreno, e que foram chamadas para dar caução aos actos de ocupação ilegal, aos desacatos e à intimidação de pessoas, legitimando assim um ‘coup de force’ ilegal. Os dados estavam definitivamente jogados e escreviam-se assim páginas da História de Cabo Verde, provisoriamente o destino desta ilha seria entregue nas mãos de jovens revolucionários que mais tarde o passariam para as de grupos recém-chegados, os de Conacri-Rabat (quadros do PAIGC) e os dos jovens estudantes de Lisboa, apodados de esquerdistas, dois grupos mais experientes e rodados na política, que iriam digladiar entre si ainda por mais 5 anos pelo controle do poder total em Cabo Verde. Este evento marca talvez o início da decadência da ilha, desencadeou uma fuga em massa da classe media alta residente que tentava escapar à revolução e à onda de exações que era fácil prever.  A situação de caos instalada no arquipélago era tal que jovens transformados em milícias populares podiam circular armados e fazer vigilância, criando situações que em muitos casos podiam acabar em terror e excessos cometidos contra quem ousasse ensaiar um discurso discordante com a tendência do momento. Como se sabe, o poder foi, na prática, transferido do MFA para o grupo de Conacri-Rabat, seguido da instauração, por este, do sistema de partido único que durou 15 anos. Este regime, que se legitimava com a narrativa épica da Luta de Libertação, em que os seus protagonistas se consideram os melhores filhos de Cabo Verde, apoderou-se de todas as rédeas do poder, do económico e político à informação, criando um perfeito regime totalitário que privou os cabo-verdianos do exercício das liberdades mais básicas e fundamentais: liberdade de expressão, de opinião o exercício do voto livre, para além de um total condicionamento económico, social e político da população que ainda hoje perdura 40 anos depois do evento. Nunca mais Cabo Verde seria igual: as amarras que o ligavam à potência administrante e colonial foram assim violentamente e definitivamente cortadas.
Novembro continua sendo um mês histórico em Mindelo. Foi em Novembro de 2010 que cidadãos mindelenses resolveram lançar um Movimento para a Regionalização e lançar o seu Manifesto, provando que a ilha ainda não morreu e ainda há moicanos que se dignam lutar por ela e um Cabo Verde melhor. Foi em Mindelo que em Novembro de 2012 se organizou uma palestra aberta ao público sobre a Regionalização e onde a população mostrou a sua adesão a essa reforma. Será de novo este mês que o Grupo de Reflexão sobre a Regionalização de Cabo Verde (AGRRCV) vai comemorar a sua oficialização a uns dias de acontecer a iniciativa governamental da Cimeira relativa à Regionalização de 02 e 03 de Dezembro de 2014, e da qual vai ser excluída assim como a sociedade civil e todos aqueles que contribuíram com as sua ideias e as divulgaram nos meios de comunicação para promover um debate aprofundado da regionalização, excepção, obviamente, do cidadão Onésimo Silveira, convidado pessoalmente como especialista, mas político próximo das esferas do poder. 

28 de Novembro de 2014
José Fortes Lopes

PS: Dedico este artigo a todas às vitimas da intolerância do período de 1974 / 1975 em S. Vicente e Cabo Verde e a todos os mindelenses que nunca se vergaram face à opressão e não se calam face às injustiças em troco de benesses e mordomias.


[7670] - INCOERÊNCIA...


Este obelisco, em Lisboa, recorda e comemora a data de 1 de Dezembro de 1640, quando os portugueses meteram ombros à tarefa de acabar com décadas de dominação espanhola do Reino de Portugal, restaurando a independência e colocando no trono um soberano luso...
Não sei durante quantas décadas o 1º de Dezembro foi  feriado nacional e continuo a discordar do seu cancelamento, como se dessa celebração viesse algum mal ao mundo ou isso pudesse, de qualquer forma, beliscar o orgulho dos nossos vizinhos espanhóis...Aliás, fica por explicar porque razão não se retira da Praça dos Restauradores, o nome e o obelisco!

[7669] - O ÁRBITRO "DEMENTE"...


Na Turquia, país que pretende pertencer à União Europeia, a homossexualidade é considerada uma "demência"...
Halil Dincdag, era árbitro de futebol e teve a coragem de se declarar "gay" quando pretendeu ingressar no exército...Não só viu a sua pretensão recusada liminarmente, como a Federação Turca de Futebol lhe cancelou a licença de árbitro...
Há anos que este homem luta nos Tribunais do seu país e já esteve presente a 12 julgamentos...Afinal de contas, a única coisa a que ele, agora, almeja, é apitar jogos de futebol...

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

[7668] - PIOR A EMENDA...




Um estudo feito no Japão deixou uma nota alarmante:
os cigarros electrónicos contêm até dez vezes mais agentes cancerígenos do que o tabaco convencional - contrariando outros que têm apontado para uma conclusão contrária.
(Observador)

[7667] - DO CENTRALISMO DEMOCRÁTICO E DOS ISMOS


Há largos anos que li, em Coimbra, da biblioteca dispersa pelos “repúblicos” por medida de segurança anti-PIDE, da Real República os 1.000-y-Onarius, O Contrato Social, de Jean Jacques Rousseau, tendo-me passado despercebido que o filósofo, que conhecemos do liceu ao estudar os precursores da Revolução Francesa, talvez fosse o primeiro a defender a teoria do Centralismo Democrático, claro que sob outras vestes. Partindo do princípio de que a autoridade do Estado idealizado por ele emana da “vontade geral”, de “todo o povo”, argumenta – de resto como F. Engels, na sua célebre “Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra” -, que mais nenhuma manifestação de liberdade individual deve ser tolerada posteriormente ao acto constitucional fundador.
Rousseau nunca escondeu preferir o campo à cidade, a agricultura ao comércio, a simplicidade e modéstia ao luxo, a estabilidade dos costumes às invenções, a igualdade dos cidadãos numa economia simples, à desigualdade numa complexa, o tradicionalismo ao progresso. Nesse sentido conservador e rural, não foi, ao contrário do que nos ensinaram no liceu, o precursor da democracia liberal, mas o intelectual da esquerda totalitária, esquerda, por vezes, autodeclarada, revolucionária.
Na minha juventude - minha e de alguns amigos que viraram políticos-, estivemos encantados com uma ideia inviável – o comunismo – de ideais nobres, mobilizadores, que, afinal, nunca se praticaram, mas empolgaram quem os conhecia através da bem urdida propaganda política e habilidade de dissimulação ideológica; admirámos homens que julgávamos íntegros e idealistas, em verdade sinistros, e, mais tarde, fechámos os ouvidos, algumas vezes, para não ouvir falar num número infinito de crimes em que não acreditávamos que pudessem ter sido praticados pelos nossos ídolos políticos. E isso aconteceu por termos vivido num regime sem liberdade as mais elementares, opressivo e policial que também navegava na mentira, que conhecíamos e nos impedia de acreditar no que nos contavam, até por não nos ser permitido visitar os países comunistas nem os outros onde existia a vera democracia, liberdade de expressão do pensamento e de informação. Sabíamos, por viver nele, que o capitalismo não proporcionava a igualdade, e julgávamos que o comunismo o fazia, quando, com efeito, o que fazia era repartir a pobreza. As soluções colectivistas da experiência soviética não podem ser repetidas porque, ao igualarem por baixo, mataram a liberdade, e esta morte liquidou a igualdade tentada.
Custou-nos a entender isso, esquivando-nos, durante anos, a acreditar no logro, inventando até desculpas para o comunismo, argumentando que fracassou por não ser o verdadeiro comunismo e por os seus intérpretes serem ruins. Afinal de contas, não havia outro, não há nem parece haver outro. 
Distribuir sem lucro está fora do sistema capitalista e neoliberal. E distribuir com lucro deixa de fora milhões, mesmo biliões de famintos. O mercado, de que tanto se fala nos nossos dias, prefere inutilizar os excedentes a distribuí-los. Os governantes actuais, neoliberais, tudo fazem para não irritar o mercado (receando o seu nervosismo, que significa tão-somente estar ávido de mais lucros). Damo-nos conta, pois, de que a riqueza concentra-se em cada vez menos mãos e o salário distribui-se por cada vez menos trabalhadores, o que significa que a miséria e a fome se distribuem por cada vez mais gente e bocas. A fome, a exclusão social e o desemprego aumentam exponencialmente com o aumento global da chamada riqueza das nações, e não o contrário, como nos garantiram e continuam a querer enganar-nos.
Dessa minha vivência, conhecia de ginjeira o centralismo português que, tendencionalmente entravava as iniciativas das administrações regional e locais, as tentativas de descentralização, tendo por consequência o avolumar do burocratismo. Somente mais tarde, já em Cabo Verde, na pós-independência, é que convivi com o centralismo a que se acrescentou o qualificativo democrático, e a persistência da imagem do poder político e social condensado no Partido único PAIGC/CV, e, mais tarde, no MpD, quando este teve maioria qualificada - tentação para a tirania da maioria -, centralismo com tendência a caminhar a par com uma degradação progressiva dos comportamentos e da mentalidade dos quadros, com tendência geral para se subtraírem ao cumprimento de normas regulamentares e éticas e a conviver, sem rebates de consciência, com a corrupção.
Embora tenhamos passado a viver em multipartidarismo, para alguns militantes e governantes no poder, o antigo partido único é, segundo dizemos em medicina, como um membro fantasma, um braço ou uma perna desaparecido, mas que o amputado continua a sentir como se ainda se encontrasse presente. Fenómenos de natureza ideológica podem estar em actividade em sectores da vida política, administrativa ou social sem que se esteja numa sociedade de partido único. Estamos, em Cabo Verde, nesta situação, o que tem dificultado o diálogo e as mudanças.
Como resolver o imbróglio e a actual crise global? Em primeiro lugar, deixar de salivar os lugares comuns do centralismo democrático e abrir o espírito a influências novas dialogantes. Em seguida, isso no contexto geral da actual crise global, tentar encontrar uma maneira de harmonizar o sistema que sabe produzir com o que sabe distribuir, que se invista na criação da sociedade solidária, da solidariedade, inventada pelo socialismo, em substituição da fraternidade, de origem liberal, da Revolução Francesa e da Comuna de Paris. Não será fácil, mas há que tentar, porque a pobreza e o desespero levarão os povos a revoltarem-se, como aconteceu na Revolução Francesa; havendo revolução, ela não se limitará a um só país, não poupando os que nos vêm explorando, incluindo os oligarcas partidários ensopados em negócios pouco límpidos. 
Voltarei ao assunto com mais vagar. Não escrevi tudo quanto desejava; fá-lo-ei às golfadas para não cansar os que perderam o hábito salutar da leitura.

Parede, Novembro de 2013                                                            Arsénio Fermino de Pina
                                                                                             (Pediatra e sócio honorário da ASdeco)

PS – Outubro de 2014
Este artigo, datado de Novembro de 2013, publicado num dos nossos jornais, corrobora o que escreveu o professor João Carlos Espada em O Público, de 6 de Outubro 2014. Por ser intelectual que cito com certa frequência, vou respigar parte do seu artigo, em apoio do meu.
Julgo que esse caminho de limitação da simples liberdade de consciência, em nome de uma alegada ´verdadeira liberdade´ foi tragicamente simbolizada por Jean-Jacques Rousseau – e pelo seu equívoco conceito de ´vontade geral´ que deve ´obrigar os indivíduos a serem livres´. Foi o equívoco de Rousseau que abriu caminho a um entendimento de democracia como vontade colectiva que pode (quando não deve) ter precedência sobre a liberdade de consciência das pessoas. É isso que explica que as ditaduras comunistas tenham sido autodesignadas por democracias populares. Também Mussolini, num célebre artigo na Enciclopédia Italiana, argumentou que o fascismo era mais democrático do que as oligarquias capitalistas.
Na Inglaterra, por exemplo, a democracia emergiu da gradual expansão do sufrágio em regimes que não eram absolutos e já eram limitados – pela Lei e o Parlamento (ainda que este fosse baseado em sufrágio não universal). A Magna Carta de 1215 é um símbolo destes princípios. Este entendimento de democracia como governo limitado pela lei que presta contas ao Parlamento – dominante hoje – resulta de critério das democracias liberais [isto faz-me recordar o longo e incansável combate jornalístico do amigo Casimiro de Pina] sobre os totalitarismos nacional-socialista e comunista do século XX. Supõe que a esfera política e estatal é ela própria limitada. Para além dela existem múltiplas associações, livres e privadas, da sociedade civil – que não podem nem devem ser comandadas pelo Estado, mesmo democrático.
Este conceito de democracia não garante um bom governo. Apenas garante que os maus governos poderão ser afastados sem violência. Tal como o conceito de liberdade de consciência não garante que as escolhas, dela decorrentes, sejam boas. Apenas garante que as más escolhas não poderão ser impostas a todos. A igualdade e a democracia são, por este motivo, imperfeitas. Mas, como recordou Churchill, a liberdade e a democracia são de longe preferíveis às alternativas.

[7666] - ALENTEJO, UNIVERSAL...


O "CANTE" ALENTEJANO É
PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE!

[7665] - MORREU O SENHOR TV RURAL...


Lamentamos, hoje, o falecimento do Engenheiro Sousa Veloso, o homem que, aos domingos, entre 1960 e 1990, ao longo de 1500 horas de emissão, apresentou, na RTP, o programa "TV-RURAL", um fenómeno de audiência difícil de repetir...
Creio não exagerar se considerar o Engenheiro Sousa Veloso como a mais acarinhada figura da Televisão portuguesa de todos os tempos...
Paz à sua alma!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

[7664] - SOARES EM ÉVORA...


Mário Soares meteu uma cunha e lá conseguiu ir a Évora visitar o seu amigo José Sócrates...É assim mesmo que os amigos se devem comportar...
Mau grado, perante os  muitos microfones à sua frente, não poupou munições e disparou em todas os sentidos já que, segundo ele, TODOS são culpados da "perseguição infame" ao antigo Primeiro Ministro: magistrados, políticos e jornalistas...Não se safa ninguém!
Assim, este lindo gesto do ex-Primeiro Ministro  e ex- Presidente da República que vai à prisão visitar o amigo, acabou por se transformar numa coisa estranha e talvez menos digna, pois o Dr. Mário Soares parece ter esquecido a fronteira que separa o direito à indignação da peixeirada soez...


[7663] - POEIRA DOS TEMPOS...

CIDADE DO PORTO - 1914...

Rua dos Clérigos

Nave Central do Desaparecido Palácio de Cristal
(Réplica do Crystal Palace, de Londres)

Praça da Batalha
Rua de Santo António

Colab. de Adriano M. Lima

[7662] - CABO VERDE - REGIONALIZAÇÃO...


Reacção do Grupo de Reflexão sobre a Regionalização de Cabo Verde (AGRRCV) e do Grupo de Reflexão da Diáspora acerca do Debate relativo à Regionalização de 03 e 04 de Dezembro de 2014

    No passado dia 14 de Novembro, através do porta-voz do Governo, o país ficou a conhecer a resolução do Conselho de Ministros sobre  um debate relativo à Regionalização a realizar em 03 e 04 de Dezembro, com uma “ampla participação” de especialistas nacionais e estrangeiros.
    Lembra-se que este evento deveria ocorrer em S. Vicente, a valerem alguma coisa as promessas iniciais do PM, o que denota mais uma vez um flagrante incumprimento da sua palavra. Se o PM fez essa promessa foi porque sabia  ter despontado na ilha do Porto Grande, em Dezembro de 2010, o movimento cívico para a Regionalização, que deu origem ao Grupo de Reflexão sobre a Regionalização de Cabo Verde (AGRRCV) e ao Grupo de Reflexão da Diáspora.
    É com surpresa que se constata o anúncio da convocação dos citados “especialistas”, nacionais e estrangeiros, dado que, ao longo de 4 anos, nunca se lhes ouviu um único comentário ou opinião sobre uma matéria que só foi espoletada na opinião pública por iniciativa da sociedade civil. Mas a surpresa atinge o cume quando  a sociedade civil, conforme tudo indica, vai ser excluída dessa iniciativa governamental,  votando-se ao ostracismo mesmo  aqueles que se organizaram civicamente para promover a ideia da regionalização e a divulgaram nos meios de comunicação. A excepção é o cidadão Onésimo Silveira, convidado pessoalmente como especialista, mas cuja única pessoa não pode de modo algum representar a  sociedade civil. 
    Questiona-se ainda se a decisão de remeter o debate para o fim do seu mandato,  não é uma estratégia congeminada por José Maria Neves para atirar o processo para as calendas gregas, ou, ainda, se não é mais uma das suas atitudes calculistas para se fazer passar por pessoa aberta ao diálogo, sem se dar conta da inconveniência de passar a batata quente para as mãos do seu sucessor.
    Ora, quem tudo prometeu, a ponto de anunciar um Livro Branco sobre a Regionalização,  denegando agora a sua palavra, tem de explicar a razão por que mudou radicalmente de opinião, bem como  os critérios que presidiram à escolha dos convidados para o debate, importando saber se não iremos mais uma vez assistir ao primado da teia do partidarismo e do amiguismo sobre o  interesse nacional.
    Acontece que o debate sobre a regionalização devia revestir nesta fase de arranque a natureza eminentemente política e social do que está em causa, envolvendo necessariamente uma ampla participação da sociedade civil (forças políticas e sociedade civil e seus representantes), só depois disso requerendo a intervenção do conhecimento especializado nas várias matérias atinentes à implementação do modelo que for decidido. Não que os especialistas tenham de ser excluídos do entrecruzamento oportuno da opinião política com a técnica, mas o que nunca pode acontecer é a subalternização da opinião da sociedade civil, veículo que é do pulsar e do querer da nação.
    Por outro lado, é inaceitável que “especialistas estrangeiros” se vejam no lugar que devia competir aos representantes da emigração, mas é sobretudo inqualificável ver sonegada a primazia dos  agentes nacionais e das forças vivas numa discussão desta importância para o futuro do país. E não se esqueça que foi o actual Presidente da República que recomendou um "debate profundo" sobre a descentralização e a regionalização, que poderá "traçar caminhos que permitam um melhor aproveitamento das sinergias em benefício das pessoas". 
    Perante o que configura mais uma perversão das regras lineares da nossa democracia, o Grupo de Reflexão sobre a Regionalização de Cabo Verde (AGRRCV) não pode deixar de exprimir veementemente o seu repúdio por ver a sociedade civil residente e na diáspora afastada, sem dúvida que ardilosamente, do debate sobre a Regionalização, e por isso solicita ao Senhor Presidente da República que tenha um papel proactivo na configuração do debate anunciado. Cabe ao mais alto magistrado da nação ter uma palavra onde veja gravemente atropelado o direito de cidadania.
    Exorta-se ainda os partidos políticos, os deputados, a sociedade civil em geral de S. Vicente e Cabo Verde a assumirem as suas responsabilidades para impedir que este debate se transforme numa manobra eleitoralista e de promoção de pessoas e de partidos, tendo em conta que esta é uma grande oportunidade para pôr termo às políticas centralizadoras e discriminatórias que travam o desenvolvimento equitativo do país

    Subscrevem este Documento cidadãos cabo-verdianos membros Grupo de Reflexão sobre a Regionalização de Cabo Verde (AGRRCV) e do Grupo de Reflexão da Diáspora. 

[7661] - AEROFOBIA?!...


[7660] - CABO VERDE - DAS NOSSAS UNIVERSIDADES...

Vasculhando recortes de jornais, deparou-se-me um do amigo engenheiro Edgar Gomes dos Santos, datado de 2006/7, publicado no Terra Nova, intitulado Alfabetização e Universidade. Como o patrício é técnico de sólidos conhecimentos, longa experiência em vários climas e culturas e escreve com aquela elegância e propriedade de linguagem de alguns do seu tempo, reli com gosto e proveito o artigo, de que irei servir-me para complementar o que escrevi no meu último livro a páginas 277 e 294 (Das Energias Renováveis e Limpas, Artes e Ofícios e Tempos Modernos) quanto à metamorfose do ensino técnico-profissional, negligência na criação das nossas universidades, o despropósito do seu número e a necessidade de investir na melhoria geral da qualidade do ensino.
Através dessas linhas apercebemo-nos de que há países desenvolvidos que não possuem universidades, o Luxemburgo, por exemplo, o mais rico país da Europa e altamente desenvolvido, com uma população mais ou menos igual à nossa, que utiliza as universidades de países vizinhos – Alemanha, França e Bélgica – para a formação superior dos seus estudantes. Possui institutos em vários ramos técnico-profissionais, escolas e liceus de alta qualidade.
Nós, com o mesmo número de habitantes, equilibrando-nos mal no baloiço entre o subdesenvolvimento e o desenvolvimento médio, sem recursos nem para mandar cantar um cego, já vamos em sete instituições universitárias, no Mindelo, e outras tantas na Praia (com promessas oficiais de mais), e o atrevimento de formar mestres e doutores. Das universidades, duas são públicas, as restantes privadas, quando nem temos quadros qualificados suficientes para uma única universidade em condições. A maior parte dos professores são licenciados e o número de doutorados muito longe de respeitar a norma estipulada para uma universidade. Não obstante a pequena distância e as comunicações diárias entre S. Vicente e Santo Antão, esta ilha já quer também uma universidade, como se esta se constituísse por prestidigitação ou com a facilidade de um trapiche.
Com tamanha abundância de licenciados a saírem das nossas universidades para o desemprego, temos, por outro lado, sérias dificuldades em encontrar um electricista, carpinteiro, canalizador ou outro técnico, como se chamavam outrora, das artes e ofícios. Quem viveu em S. Vicente há alguns anos tem a grata recordação da Oficina da Pontinha com a Escola de Artes e Ofícios dirigida pelo invulgar Mestre Teodoro Gomes, vulgo Cunco, formado nas bem apetrechadas Oficinas das Companhias Inglesas, onde mestres ingleses formavam técnicos nossos sumamente competentes.
Infelizmente, como recomendou, debalde, René Dumond aquando de uma visita ao país, repetiu o colega Ireneu Gomes e eu próprio, diazá, em vez de enganarmos os outros com liceus, pseudo escolas técnicas e universidades, deveríamos ter investido nas componentes técnicas e práticas, as quais vão desaparecendo nas escolas técnicas em benefício da teoria e formação geral graças à ridícula aristocratização de profissões técnicas, de minguada utilidade. 
A licenciatura em Enfermagem com o encerramento da Escola de Enfermagem Pública, que funcionava no Hospital Baptista de Sousa, cujo apetrechamento foi financiado pela Fundação Gulbenkian, não consegui entendê-la. Qual o trabalho dos futuros licenciados em enfermagem? Se é simplesmente por uma questão de melhoria da qualificação, uma formação pós graduação seria suficiente. Se for somente para aquisição do título de licenciado ou de doutor, isso irá confundir muitos espíritos e baralhar os dados na Função Pública.
Sabe-se, dada a tendência de os nossos governantes imitarem o que de menos bom se faz em Portugal, ou que dá lucro aos nossos chamados operadores económicos (a denominação comum de comerciante já é quase ofensiva, dada a aristocratização da profissão) sem grandes canseiras e com poucos riscos, que as universidades privadas, nossas e portuguesas, licenciam profissões que não existem nos respectivos países, de baixa qualidade, também chamadas profissões e doutores da mula ruça, por lhes interessar mais o número do que a qualidade, dentro do seu espírito mercantilista, isto é, mais interessadas e vocacionadas para ganhar dinheiro, do que para a formação de profissionais competentes e de utilidade para o desenvolvimento do país. Não poderia ser de outro modo por a vocação do negócio ser de obter lucros a todo o custo, a maioria dos professores serem licenciados, havendo um ou outro doutorado para enganar o pacóvio e tranquilizar o ministério de tutela. 
Parece-me lícita a pergunta: serão universidades as nossas, ou simples imitações apressadas para venda a retalho de diplomas?
As universidades não têm o direito de defraudar as expectativas de jovens e das famílias, atribuindo-lhes diplomas sem préstimo e sem valor, de formar ignorantes com diminuta cultura. As universidades já não são apenas lugares de ensino mas também espaços de ciência e de criação que abrangem inúmeras iniciativas, onde se concretizam ideias e projectos sociais, culturais, empresariais e tecnológicos fundamentais para a vida económica e para o desenvolvimento social, como nos diz o Reitor da Universidade de Lisboa, Doutor Sampaio da Nóvoa.
Será que haverá uma avaliação e prestação de contas exigentes da gestão das instituições universitárias? Duvido muito, porque, se houvesse, já se teria suspendido a avalanche delas, e, até, algumas eliminadas. A qualidade da formação deveria avaliar-se, não pelo diploma em si mas pelo que o licenciado venha, ou possa vir a fazer com esse diploma. Igualmente essencial é a definição de políticas que liguem a educação à organização social e económica, de modo a não se formarem licenciados para o desemprego, como vem acontecendo entre nós e em Portugal.
Temos de ficar por aqui, que os jornais exigem prosa curta que não afugente leitores, além de o tempo de que disponho ser escasso para tratarmos da permissibilidade e laxismo em quase tudo na vida nos últimos tempos, o que vem provocando conclutas à lei, a regras, aos bons costumes e hábitos com que nos vínhamos amanhando até há bem pouco tempo. Esse laxismo atingiu vários sectores da sociedade, mais particularmente a família, a escola e o poder político. Os agentes provocadores foram vários e não me detenho neles por já os ter enumerado bastas vezes: a televisão e outros meios de comunicação social subalternizados ao capital e ao Estado, e a globalização com a sua vertente de economia de mercado subvertida pelo capitalismo selvagem.
S. Vicente, Agosto de 2013                                             Arsénio Fermino de Pina
                                                                                   (Pediatra e sócio honorário da Adeco)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

[7659] - EX-PM ATRÁS DAS GRADES...

Foto "Página Global"

José Sócrates sempre foi uma figura acerca da qual não existem meias-tintas: ou se venera ou se odeia!
Todavia, cremos que a grande maioria dos portugueses teria desejado que que esta artimanha fotográfica não reflectisse, afinal, a dura realidade: em Portugal, há um ex-Primeiro Ministro da República encarcerado, em prisão preventiva, indiciado nos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção! E não está sozinho: um amigo de infância e um seu ex-motorista, acompanham-no nesta lamentável travessia do deserto que se deseja seja célere e muito bem fundamentada pois que, se parece que desta vez o rato pariu a montanha, seria trágico se, daqui a um ano, se chegasse a conclusões não confirmativas dos indícios que ora encarceraram três cidadãos e condenaram um advogado a apresentações bi-semanais às autoridades...Seria trágico e vergonhoso!

[7658] - MENSAGENS MAIS SEXY...


Quatro designers norte-americanas quiserem dar um toque artístico ao sexting – troca de conteúdos de cariz sexual através de dispositivos móveis. Os Flirtmoji são Emoji sexy – bonecos utilizados nas mensagens de smartphones e redes sociais que pretendem reproduzir comportamentos ou estados de espírito. Quem é que ainda não viu ou recebeu um coração pelo Facebook? Com os ícones desenhados pela empresa californiana, agora também pode cortar nas palavras quando quiser ser mais atrevido/a.

Os Flirtmoji são Emojy que se podem copiar, colar e enviar por sms. Para quem estiver envolvido numa relação sexual ou apenas em clima de flirt. Katy McCarthy, uma das artistas responsável pelo desenho dos bonecos, explicou, em entrevista à The Verge, que a ideia surgiu a propósito da relação à distancia que um amigo mantinha com a namorada.”Percebemos que tínhamos de fazer isto, desenhar o sexo enquanto ícone, e torná-lo compreensivo, divertido, e diversificado”, disse. (O Observador)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

[7657] - POEIRA DOS TEMPOS...

ESCOLA TÉCNICA (Mindelo - Cabo Verde) - Ano Lectivo 66/67 - Corpo Docente
Do FaceBook de Lucy Bonnuci

[7656] - A VOZ DA DIÁSPORA...

Emanuel Barbosa
“Cidadania” tem origem etimológica no latim civitas, significando “cidade”. Designa um estatuto de pertença de um indivíduo a uma comunidade politicamente articulada e que lhe atribui um conjunto de direitos e obrigações.1

O conceito evoluiu hoje e, por definição, é a capacidade de os cidadãos viverem no pleno gozo dos seus direitos e deveres, quer sejam civis e políticos, quer sejam sociais, estabelecidos na Constituição. Uma boa cidadania é condição necessária para uma sociedade mais equilibrada e, no mais, pressupõe uma harmoniosa relação entre o cumprimento dos direitos e o dos deveres. 

Este intróito vem a propósito do direito à participação política dos emigrantes cabo-verdianos, em particular o direito ao voto. Estamos na iminência de conhecer a maior fraude eleitoral de sempre junto da nossa Diáspora que vem sendo perpetrada pelo PAICV, desde 2011, e executada de forma “limpa”, através de uma técnica muito simples, barata e silenciosa, resumindo tão simplesmente em não recensear os emigrantes.

Já bastas vezes, em diferentes foras, tenho denunciado o facto de, há quase quatro anos, o recenseamento eleitoral se encontrar suspenso junto das nossas comunidades emigradas. Aos emigrantes têm sido obstruído o usufruto de um direito, supostamente, conferido a todos os cidadãos Cabo-verdianos. Um manifesto descaso para com a nossa Diaspora por parte do governo do PAICV, que, só pode querer significar que, aos seus olhos, os emigrantes são cidadãos de segunda no que tange à participação política, a exemplo do tratamento que também lhes tem dado noutros domínios, em que, invariavelmente, são relegados para planos secundários.

Devo recordar que nas ilhas, nos vários concelhos, o recenseamento tem sido permanente em conformidade com o que vem lavrado no código eleitoral. A realidade na Diáspora é outra, pois o código eleitoral foi colocado de molho sem qualquer explicação. O que está acontecendo com a Diáspora é uma clara e preocupante discriminação e, pela sua gravidade, deve interpelar-nos a todos. Aos proeminentes sujeitos políticos da nossa praça, nomeadamente a S.E. o Sr. Presidente da República e aos líderes dos partidos da oposição, fica um apelo em nome da Diáspora para um posicionamento firme por forma a findar a veleidade de tratar uma questão de sobeja importância desprovida do merecido sentido de Estado, confinando-a ao espectro de mera lógica partidária e de disputa eleitoral.

Também as organizações da sociedade civil, como as associações comunitárias na Diáspora, com reconhecida capacidade de intervenção cívica, não podem colocar-se à margem desta causa. Estas não devem deixar manietar-se e nem sucumbir perante o poder e as teias dos jogos de interesses que não são poucas e são, quase sempre, exercidas pelo partido do poder, o PAICV, com uma intensidade que roça a obscenidade com o fito de controlar quem tem voz e vez, numa clara pretensão hegemónica, intimamente conexa à sua matriz ideológica, de silenciar vozes discordantes e incómodas.

Os sinais emitidos pelo PAICV não agoiram nada de bom, pois a cada momento, maquiavelicamente, apresenta uma razão diferente para se desculpabilizar do grave atropelo ao código eleitoral. Por conseguinte, não se vislumbra vontade política por parte do governo, em dar provimento ao estatuído no código eleitoral, o que, obviamente, tem adensado as preocupações junto da nossa Diáspora, gerando ansiedade, ressuscitando as naturais suspeições do passado e reavivando as tristes imagens do conturbado recenseamento realizado nas vésperas das eleições de 2011.

A conclusão natural é que o PAICV está a urdir um recenseamento seletivo, a ser realizado num curto período de tempo, próximo do período eleitoral, e o mais atabalhoado possível para se recensear o menor número possível de novos eleitores, com o excessivo envolvimento dos partidos políticos e a servir como uma antecâmara para as eleições de 2016.

Não obstante as várias chamadas de atenção, o governo do PAICV continua determinado em seguir por este caminho sinuoso, apostando num processo reprovável a todos os títulos, cujos padrões de lisura e transparência estão longe de dignificar aqueles que labutam no estrangeiro e não se poupam a esforços para ajudar no desenvolvimento das nossas dez ilhas.

O prognóstico aqui esboçado não é um puro exercício de mau presságio, mas sim é, objectivamente, o que está a ser preparado. É o momento de apelarmos à responsabilidade e ao bom senso dos decisores políticos e de todos sairmos em defesa da qualidade da nossa democracia antes que fique irreversivelmente manchada junto daqueles que, também, sempre estiveram na linha da frente quer no que tange à luta pela independência, quer seja a que levou à queda da ditadura de partido único.

A nossa Constituição garante um direito fundamental, que é o direito ao voto aos emigrantes Cabo-verdianos, conseguido na sequência da abertura democrática de 1991 que conduziu ao colapso do regime autoritário do PAIGC/CV. Por isso, não é tolerável que hoje, em plena democracia, o governo do PAICV, por via indireta, através de esquemas de secretaria, impedindo a feitura do recenseamento, persista em sonegar tal direito aos nossos emigrantes.

Este é um acto lesivo aos direitos dos cidadãos Cabo-verdianos da Diáspora, o qual, em última instância, configura uma clara obstrução à nossa Constituição em matéria dos Direitos, Liberdades e Garantias de Participação Política e de Exercício de Cidadania, e em particular na limitação do direito de voto, pois quem não está recenseado não pode nem votar, nem ser eleito.

Desde os primórdios da filosofia clássica que a relação entre o saber e o poder se vem colocando, suscitando vários correntes de pensamento em que o primeiro é tido como fundamento do poder político na definição das qualificações necessárias que dão direito à participação nas decisões políticas. O PAICV tem de assumir se defende a concepção de Aristóteles e de Platão, contrária a socrática, querendo com isso dizer que os emigrantes não são homens virtuosos e sábios, que não detêm o conhecimento do bem-comum a perseguir e que não estão na posse do conhecimento indubitável, pelo que não estão em condições de participar nas decisões politicas cabendo-lhes o papel de obedecer e executar as decisões dos supostos iluminados do PAICV, os tais que, no entendimento deste partido, em tempos, foram designados como os melhores filhos do nosso povo. Se é isso que pensa dos emigrantes que o diga.

A minha convicção é outra, acredito que não existem razões para temer o voto dos emigrantes, estes saberão exercê-la com magnanimidade, pois segundo Sócrates para se ser virtuoso basta seguir a própria consciência e tal está ao alcance de qualquer um.

No contexto da nossa recente democracia, os emigrantes deram já provas da sua maturidade, pelo que repudiam qualquer tentativa de serem definidos como parte menor da nação Cabo-verdiana e não aceitarão ser arredados dos seus direitos por vias ínvias, mesmo que subtis. - (Expresso das Ilhas)