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quinta-feira, 30 de abril de 2015

[8090] - VOCÊ SABIA?...

Que o polvo tem três corações?

Sim, o polvo é um molusco cefalópode e,  nestes animais, o sistema circulatório é fechado sendo o sangue bombeado por dois corações branquiais e um sistêmico. Os corações branquiais recebem sangue não-oxigenado de todas as partes do corpo, enviando-o para as brânquias, onde ele é oxigenado. Daí o sangue é enviado ao coração sistêmico. Este, tem duas aurículas que recebem o sangue das brânquias, enviando-o depois para um ventrículo único, que bombeia o sangue para o corpo através de uma aorta anterior e outra posterior, as quais se subdividem em vasos menores, distribuindo o sangue por todo o corpo. (Net)

[8089] - A CIMEIRA INOPORTUNA...

José Pedro Chantre Oliveira
Uma opinião sobre a inoportunidade da Cimeira Regionalização protagonizada pelo Governo, publicada hoje no jornal A Nação:

REGIONALIZAÇÃO & POPULISMO

“O populismo ama tanto os pobres que os multiplica” 
(Mariano Grondona)

É nossa opinião que estando o país a meses das eleições, há determinadas matérias que por serem desígnios nacionais – como é o caso da Regionalização – deveriam ficar à margem das manobras de oportunismo ou de populismo que são normalmente utilizados nesses períodos pré-eleitorais.
Por um lado, os políticos têm o dever de demonstrar um pouco mais de patriotismo, e até de pudor, não usando o vale tudo na sua legítima luta pelo poder, e por outro, o cidadão tem a obrigação de se manter atento e íntegro para recusar entrar nessa dança, a troco de ganhos materiais momentâneos, para posteriormente vir acusar os políticos, assumindo a condição de cordeirinho abocanhado por aqueles.
Se assim não for, apesar dos bons acontecimentos com que a juventude nos tem brindado nos últimos tempos, poderemos estar à beira de um 2016 a repetir o triste espectáculo do folclore eleitoral em que tudo que não seja essencial e primordial para o país é trazido para as ruas numa competição a cheirar o primitivismo em que o vencedor é escolhido por emoções, cores e “rebuçados”. As questões importantes que podem mudar a vida das populações vão sendo adiadas.
Bem, e como o tempo está ficando escasso, nada melhor que usar um expediente que atiça o interesse de todas as ilhas, e qual é? A Regionalização, claro!
Tivemos todo o tempo deste mundo, um espaço temporal de 04 (quatro) anos sem qualquer acto eleitoral, e, NADA, apesar de algumas firmes chamadas de atenção aqui e acolá que era tempo de se repensar outras formas de melhor administrar este arquipélago, sempre dentro dos princípios republicanos e da unidade nacional. Ouvidos moucos, a regionalização é muito custosa, etc., etc., etc., eram as respostas, quase sobranceiras, dos que entendem (?) da coisa.
Às vésperas das eleições, quando já não é possível fazer nada, e muito menos sonhar com a veleidade de mexer na Constituição, lá vamos nós distrair os eleitores com uma Cimeira sobre Regionalização. Como não acreditamos nisso e nem estamos dispostos a perder a centralização do Poder, logo no discurso de abertura vamos condicionar as recomendações finais com uma clara abordagem a favor do fortalecimento do municipalismo e, quiçá, uma aposta no infra-municipalismo. Isto é, meus convidados, vamos desviar do objectivo para o qual a Cimeira fora programada!
Ora, tenhamos um pouco mais de cuidado, diria mesmo, de respeito pelos demais, pois a história era para ser outra! Era para reflectir sobre a REGIONALIZAÇÃO, isto é, sobre a organização administrativa e política destas ilhas em regiões supra municipais, entende-se, e não para o reforço do municipalismo e muito menos Infra, o que iria, se acontecesse, deixar o polvo central com a mesma cabeçona que vem sendo o mal de todos os males. É verdade que as estruturas das autarquias municipais e das freguesias (quando existir) reclamam uma outra montagem no sentido de se aproximar e melhor servir o cidadão, mas esta é uma outra história que poderá vir complementar a Regionalização após efectivada. Nosso entendimento é que o municipalismo em vez de se tornar mais pesado, como propõem alguns, deverá andar em sentido contrário e tornar-se mais leve, menos custoso e mais eficaz, coadjuvado pelas juntas de freguesia lá (e só) onde justificar. Portanto é outra história, ou se quisermos, será o aprimorar do item Regionalização!
Contudo, e ainda para reforçar que não levamos isto a sério, fomos procurar experts estrangeiros num país onde, até hoje, um dos seus maiores handicaps ao desenvolvimento tem sido exactamente a incapacidade de equilibrar as condições de vida em todo o seu território, continuando os centros do poder a asfixiar e a desertificar o interior, em assimetrias impensáveis e inaceitáveis, hoje em dia, num espaço como o europeu. Esquecemos os países nórdicos (quase todos), esquecemos a Suíça dos cantões (um belo exemplo), esquecemos alguns arquipélagos (de realidade próxima à nossa), isto tudo porque não é para levar a sério. Também, é só para gastar mais uns trocados públicos e animar o povão, distraindo-o do essencial pois vêm aí as eleições todas.
Eu diria mesmo, que um Governo que está preparando com pompa e circunstância (com o qual estou inteiramente de acordo) as comemorações do 40º aniversário da Independência Nacional deveria contribuir com acções concretas para seu povo ir perdendo essa tara de tudo copiar “chapado” na ex-metrópole colonial, mesmo quando se trata de matérias em que ela demonstra ignorância e inaptidão totais. É já tempo, meus senhores, de manter e desenvolver uma amizade digna e profícua, mas “15 na 15”, come on!
A essa mise en scène da Cimeira Regionalização se chama populismo, nu e cru, que nos leva a citar Mariano Grondona, jornalista argentino: “Hugo Chaves ganhou o voto dos pobres, depois de tê-los aumentado. O populismo ama tanto os pobres que os multiplica.” 
Já que se perdeu a oportunidade de termos tido 04 anos sem pleitos eleitorais para, juntos e sem pressão, pensarmos Cabo Verde, é de ética recolhermo-nos às boxes e irmos atrás de experiências reconhecidas e válidas que sirvam de exemplo à nossa realidade e regressarmos tranquilos após 2016 com propostas sérias e despidas de qualquer dose de populismo, em vésperas de eleições. Já se viu que o actual figurino está mais que esgotado e, com certeza, não será por culpa unicamente dos parlamentares, havendo necessidade de todos assumirmos, cada um sua responsabilidade no que acontece de mal ou de bem nestas ilhas de todos. Sem fugas à frente, sem oportunismos e, sobretudo, sem populismos.
Já disse várias vezes mas nunca é de mais repetir: as duas forças político-partidárias que se alternam no poder em Cabo Verde deveriam abandonar, de vez, algumas colagens históricas falsas para que o povo se sentisse tranquilo na sua escolha de acordo com cada momento e fruto de sua análise em relação aos feitos concretos de cada partido na governação ou na oposição. O PAICV, que nasceu em Janeiro de 1981 na sequência do golpe de estado de Bissau, e apenas para não perder o poder em Cabo Verde, continua autoproclamando como partido de Cabral e da Independência para confundir os mais jovens, na lógica do voto com o coração nacionalista. O MPD, é levado a responder na mesma moeda, agarrando-se à mudança de regime em 1991 onde venceu estrondosamente as primeiras eleições livres e democráticas num momento em que o povo das ilhas já havia conseguido o direito ao voto contra o obscurantismo do regime de partido único.
Portanto, quando o PAICV diz que é o partido da Independência e de Cabral, é mentira porque o herói foi morto em Janeiro de 1973, a Independência é de 5 de Julho de 1975 e o PAICV só nasce em Janeiro de 1981. E quando o MPD diz que é o partido da democracia também não é verdade porque ganhou as primeiras eleições democráticas num acto fruto da vitória do povo sobre o totalitarismo.
Sem qualquer pretensão, e apenas para provar que essa minha opinião vem de longe, cito um pequeno extracto duma intervenção no Parlamento 11 anos atrás, mais precisamente a 22.04.2004 : A fria aritmética dos votos não deverá continuar, eternamente, a alimentar e aprofundar os atritos de certas sociedades. Mesmo aqui em Cabo Verde, espero e faço votos que um dia, se ainda estiver vivo melhor, as duas siglas actualmente mais geradoras de votos, o PAICV e o MPD, ambas pretensamente ligadas a feitos de elevado significado histórico para o nosso povo, possam ser, normalmente, substituídas por designações que identifiquem ideologicamente essas formações partidárias criando assim condições para que as grandes questões nacionais sejam encaradas numa só voz pela família cabo-verdiana no seu todo e nas suas diferenças.
Dessas duas forças, o MPD já clarificou sua posição a favor da Regionalização e do modelo ilha/região, e o PAICV, talvez pelo seu apego genético à centralização do Poder, continua numa ambiguidade muito silenciosa. Todavia, o Governo suportado por esse partido e chefiado pelo seu ex-presidente vem, neste momento tão inoportuno, agitar as águas da Regionalização por razões simplesmente populistas, porque durante os 15 anos de governação ficou bem patente a convicção sobre as (não) necessidades de se equilibrar o país.
A Regionalização, pela sua importância no desenvolvimento futuro de todas as ilhas e sua gente, não deverá ser tida como oferta de qualquer partido ou governo mas sim uma assumpção consciente das populações, na sequência de demonstrações científicas, para colmatar falhas gritantes da actual híper centralizada organização administrativa e política. Nesta matéria, pede-se que os partidos políticos sigam as populações e a massa crítica do país e, não o contrário. E para que tal aconteça, algum paradigma terá que ser alterado.
A Regionalização, também ela, aconselha mexidas na Constituição para oxigenar o regime democrático e recuperar a confiança dos cidadãos nas instituições da República que vêm andando nuas e manipuladas pelas forças partidárias.
Cabo Verde precisa que tudo isso seja feito, mas bem feito! E, tenhamos em atenção, as coisas nunca ficam bem, quando feitas em momentos de efervescência espiritual. Esperemos pois, com temperança, que os espíritos se acalmem, e projectemos então os grandes passos que a vida das ilhas requer. E, sem dúvida para mim, a Regionalização é um deles! Sem Oportunismos e sem Populismos!

Santo Antão, 27.04.2015

[8088] - ERA UMA VEZ, ANGOLA...< 51 >


Chamava-se Necas, a bela morena que me matava a sede, enquanto lá fora o sol dardejava os seus raios inclementes sobre a vila e os corpos suados dos raros passantes, de passo estugado, como se todos tentassem escapar ao fogo que a natureza derramava sobre as suas cabeças escaldantes...Era bem mais fresca e reconfortante a visão da cabritinha que, por momentos, remeteu o meu pensamento para as "feiticeiras de cor morena" do Mindelo, passeando as suas atrevidas mini-saias da era pós-Mota Carmo pelas ruas de morada e no rodopio sem fim da Praça Nova, no início das noites cálidas, serenas, misteriosas, lembranças que me envolveram numa nostalgia ansiosa e num súbito desejo de regresso às águas mansas da Baía-das-Gatas, aos braços da família, ao convívio dos amigos, ao leite de cabra, aos bifes durinhos do Antonin Carne e, sobretudo, ao carinho envolvente de uma esposa com núpcias adiadas desde 3 de Outubro de 1957, íam já decorridos cerca de quatro anos...
E, por azar, quanto mais o tempo passava mais difícil se tornava a decisão de mandar Maiúca embarcar de S.Vicente para Luanda...É que as notícias que vinham do norte de Angola começavam a ser preocupantes e já constava que os camionistas de longo curso, tinham trocado as suas carabinas de caça por FNBP-G3, que disparavam  um ror de balas por segundo...Tudo indicava que a coisa tinha tendências para piorar num despertar de violência alimentada por gerações de relações laborais conflituosas fruto de práticas de trabalho forçado nas grandes plantações de café, de algodão, e de cana-de-açúcar, graças às quais, segundo constava à boca pequena, muitos Chefes-de-Posto, Administradores e, até, Governadores Distritais, tinham enriquecido, recebendo gordas luvas pelos chamados "voluntários da corda" arrebanhados, não raramente, com a conivência dos Sobas locais...
Não era, pois, o ambiente mais recomendável para dar início a uma vida a dois e creio que foi naquele momento que comecei a pensar, seriamente, em abandonar Angola que, até ali, eu tinha elegido como minha terceira pátria, uma espécie de terra prometida, onde todas as coisas atingiam dimensões que arrebatavam quem quer que ali chegasse provindo de cenários de horizontes mais limitados...
Fui despertado da semi-sonolência dos meus pensamentos pela algarviada de um cipaio que me trazia o recado do senhor Administrador segundo o qual parecia que tinha sido restabelecida a circulação na estrada para Malange...De volta à Administração, fiquei a saber que tinha havido problemas na, ou junta à ponte do rio Cutato -afluente do Cuanza - perto do Andulo e que, se eu quisesse, poderia seguir, no dia seguinte, de manhã cedo, num dos inúmeros camiões que íam saír em formação de combóio, depois de quase quatro dias de espera...Claro que aceitei e, de posse da respectiva Guia de Marcha, devidamente anotada, lá regressei à Chave d'Ouro, onde fui recebido pelo largo sorriso da morena Necas...Ou era a minha costela machista a funcionar ou a miúda (!) tinha engraçado comigo...De qualquer forma, no entanto, não haveria nem forma nem tempo para tirar isso a limpo pois, de ali a escassas horas, eu seguiria rumo ao Norte, decerto para jamais regressar, perdendo de vista, de forma definitiva a bela cabrita que, no entanto, nunca esqueci, com um misto de desejo e carinho que tempera os meus inúmeros regressos ao passado...
Aínda mal o sol tinha despontado para evaporar a espessa cacimbada, lá subi, meio a dormir, para um camião que transportava uma imensa máquina Caterpillar, na sua característica cor amarela e saudei o homem que, durante os próximos cerca de 430 quilómetros ía ser o meu guia e o meu companheiro de viagem... Chamava-se Clementino e era beirão, de uma aldeia de nome irrepetível...O ruído dos dezoito camiões arrancando em uníssono, era impressionante e, por momentos, senti-me como se toda aquele reboliço fosse prenúncio de uma grande aventura...
Na realidade, eu estava a adivinhar que algo de inusitado estava prestes a acontecer!

(Continua)

[8087] - BOA PERGUNTA!...

(E.mail - Valdemar Pereira)

[8086] - CABO VERDE - DESIQUILIBRIOS REGIONAIS..

Henrique Rodrigues Pires
A disparidade do desenvolvimento regional em Cabo Verde 
I Parte 

A forte e crescente disparidade regional no nosso país teve a sua génese como resultado de políticas públicas deliberadas e efectivas, sobretudo, a partir da independência nacional. Reza a nossa história que cada ilha, à vez, ganhou importância relativa sempre que, por razões diversas, teve contacto directo com o exterior, sempre sob o impulso deste. À altura da independência, sem que a disparidade tivesse sido tão gritante, a proeminência pertencia à Praia, como cidade-capital, e São Vicente, à volta do Porto Grande. 

A disparidade do desenvolvimento regional em Cabo Verde 
Com a independência nacional, enquanto se ansiava por um desenvolvimento mais equilibrado das ilhas, quando o expectável era ir às respetivas histórias, estudar suas vocações e potencialidades passadas no domínio económico, e sobre elas alavancar o desenvolvimento económico do país, inclusive impulsionando a concorrência sadia e cooperação entre as ilhas, decidiu-se pela promoção do desenvolvimento económico tripolar, cabendo a Mindelo a vocação industrial, ao Sal o turismo, reservando-se à Praia o papel da Administração Central, na expectativa de criação de efeito de arrastamento positivo destas ilhas/centros sobre as demais. 

Em consonância, desenhou-se uma política que se consubstanciava numa forte presença, directa ou indirecta, do Estado na esfera produtiva, seja sob a forma de empresas públicas, de capital 100% público, seja em forma de parceria pública e privada, empresas mistas, donde resultou a construção de várias empresas no Mindelo: Estaleiros Navais (Cabnave e Onave); confecções (Morabeza), calçado (Socal), massas alimentícias (Fama), moagem (Moave); metalomecânica (Metalcave); frigorífica, tratamento de pescado, etc. Em conformidade, procedeu-se à edificação de um ambicioso projecto de urbanização, saneamento básico e rede de esgotos, alargamento e modernização do Porto Grande e construção do aeroporto internacional. 

Posteriormente, surgiram mais projectos, desta vez privados, de confecções, transformação de pescados, etc., transformando Mindelo no único centro industrial do país. No Sal, a modernização do Aeroporto Amílcar Cabral e o Porto de Palmeiras deram o mote. A Praia, como concebido, centraliza toda a administração do Estado e alberga todas as representações diplomáticas além de bancos, seguradoras, etc. As outras ilhas foram deixadas à enxada, não obstante todo o saber-fazer acumulado no passado, outras com interessantes incursões em actividades industriais, ainda que rudimentares, como a construção naval na Brava, o fabrico de vinho e óleo do rícino no Fogo, a produção de óleo de purgueira, sabão, panos, mantas, lenços de cabeça, curtume, etc., no Fogo, Santiago e outras ilhas. São tantos os exemplos de actividades que fazem parte do activo do conhecimento adquirido no passado nestas ilhas e não foram tidas nem achadas. O surgimento da Boavista, mais tarde, na cena do turismo não resulta de nenhuma acção política pensada, deliberada, mas como resultado de visitas de turistas avulsos, que vieram, gostaram e ficaram. 

Abrimos um parêntese para relembrar que os ingleses foram buscar e posteriormente monopolizar o fabrico de tecidos e vestuários de algodão à Índia (acabou por proibir a esta sua ex-colónia fabricar e exportar tecidos e confecções de algodão) e, depois, por um tratado com Portugal, a Inglaterra passou a importar o vinho do Porto e, em troca, a exportar produtos manufacturados para Portugal e as suas possessões ultramarinas, arruinando, à nascença, qualquer pretensão portuguesa à industrialização, tanto na Metrópole como nas colónias. Assim, as ricas plantações de algodão e o fabrico de pano, principalmente, no Fogo e em Santiago, que tão bem serviram às ilhas na época da escravatura, foram arruinados com a industrialização inglesa e a incapacidade de Portugal, potência colonial, de promover a industrialização. 

Base teórica dos pólos de desenvolvimento regional 

A política de desenvolvimento (tri)polar posta em marcha no nosso país nos primeiros anos pós-independência, na I República, não surgiu do acaso, sendo, pelo contrário, solidamente sustentada na teoria de Robert Solow (neoclássica clássica), teoria profusamente desenvolvida por vários pensadores, sobretudo europeus, depois da segunda guerra mundial. 

Para se compreender melhor todo o processo, é preciso descodificar as teorias de desenvolvimento regional, tornando-as mais inteligíveis ao comum dos leitores. É o que faço de seguida. Ora, de acordo com Solow, devido ao rendimento marginal decrescente do capital e mobilidade dos factores de produção, o pólo de desenvolvimento provoca fluxos de efeitos líquidos positivos sobre as regiões menos desenvolvidas, e, mais tarde, quado atinge o ponto de saturamento, compele o deslocamento de várias actividades económicas para as regiões menos desenvolvidas, que passariam a crescer a ritmo mais acelerado, induzindo a uma tendência de convergência e de equilíbrio de longo prazo. Demais, considera que o progresso técnico, normalmente, originário da região central e/ou do exterior, introduzido nas regiões menos desenvolvidas, de modo exógeno e a custo zero, quando aplicado em ambiente de capital menos intensivo (a periferia) propicia um crescimento superior ao do centro, reforçando a tendência à convergência. 

Na esteira do modelo neoclássico, nasce a teoria neoclássica de crescimento endógeno, defende que o crescimento económico decorre do conhecimento, que é endógeno ao processo económico e o verdadeiro motor do crescimento per capita. Partidário desta corrente, Arrow defende que o conhecimento é um bem público puro, quer dizer, tem a natureza de não rivalidade1 e de não exclusão2, é obtido a custo zero e decorre do próprio processo produtivo. Pelo contrário, Romer, sustenta que o conhecimento resulta de esforços deliberados das firmas, que procurarão ganhar o poder de monopólio, sendo a tecnologia, por isso, um bem público impuro, por ter a natureza de uma exclusividade parcial, dado que a firma resguarda a investigação e desenvolvimento, com o intuito de impedir ou dificultar a sua difusão a outras firmas. Para se adquirir e aumentar o conhecimento, estes autores defendem a intervenção pública no domínio da investigação e desenvolvimento (I&D), diga-se investimento no factor humano. 

Richardson e Böventer, na análise do processo de desenvolvimento industrial e regional na Europa Ocidental, enfatizam e necessidade da integração da dimensão espacial no processo do crescimento económico, tanto a nível inter-regional como intra-regional, considerando o desenvolvimento regional como um fenómeno de natureza sequencial. 

Para eles, a concentração de empresas em espaços urbanos, a economia de aglomeração, desencadeia um conjunto de externalidades positivas potenciadoras de rendimento crescente, constituindo assim uma forma eficiente de organização e distribuição espacial de recursos produtivos. Deste modo, o crescimento dos grandes aglomerados vai-se fazendo sentir nos centros de menor dimensão, de modo que estes se aproveitam dos efeitos de economia de aglomeração interurbana, resultantes da integração dos centros urbanos, potenciada pelo desenvolvimento dos transportes e comunicações. Paralelamente, na esfera intrarregional, nas unidades espaciais - sede dos centros de menor dimensão - as actividades económicas vão-se polarizando, criando uma dinâmica de crescimento cumulativa e diferenciada. 

Consequentemente, ocorre um processo de crescimento temporal e espacialmente diferenciado, com picos de crescimento do tipo ondulatório, isto é, centros diferentes atingindo pico em momentos diversos. Tal processo cria uma dinâmica económica de tracções inter e intrarregionais que propicia o crescimento económico dos centros de menor dimensão e a descentralização económica regional. Com o tempo, o surgimento de custos de congestão e a escassez relativa de factores de produção nos grandes aglomerados pode ocasionar o surgimento de deseconomias de aglomeração, motivando a imigração dos factores económicos para as periferias, e, a longo prazo, a geração da convergência inter-regional das taxas de crescimento e do desenvolvimento económico. 

A abordagem neo-schumpeteriana defende que a disparidade no crescimento económico depende de factores tecnológicos. Para este modelo, o crescimento económico resulta de dois factores fundamentais, sejam a inovação e a difusão, na medida em que elas originam maior eficiência na utilização dos recursos e expandem a procura pela gestação de novos mercados. 

Dada a existência de uma forte correlação entre o nível de desenvolvimento e o nível tecnológico e ao facto de a inovação surgir normalmente nos países e regiões mais desenvolvidos, pode afirmar-se que a inovação tende a aumentar a divergência de desenvolvimento entre países/regiões mais desenvolvidos e menos desenvolvidos. Por outro lado, a difusão tende a diminuir a divergência dado que o impacto da inovação em níveis de eficiência é superior nos países/regiões mais atrasadas. 

1 Um bem ou serviço diz-se não-rival quando o seu consumo não o indisponibiliza para o consumo de outrem. 

2 Um bem ou serviço tem a natureza de não-exclusão quando o seu consumo não impede que seja consumido simultaneamente por outrem. 

Cidade e Município de Santa Maria, 28 de Abril de 2015

[8085] - EX-MINISTRO VETA RESOLUÇÃO...

Corsino Tolentino
Àcerca da resolução governamental sobre a questão da língua crioula, a edição 700 do Expresso das Ilhas, relata o pensamento de um ex-ministro do actual governo de Cabo Verde, nos seguintes termos:

"Uma Resolução que nada resolve. Uma “brincadeira”, que trata de forma leviana um assunto sério". De forma dura, é assim que Corsino Tolentino classifica a Resolução que aprova as medidas de valorização da Língua cabo-verdiana. Pela sua ineficiência e incoerência, e por considerar que se trata de um diploma que prejudica o próprio debate em torno da Língua Materna, o académico e ex-ministro da educação pede a sua revogação imediata.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

[8084] - MONUMENTO A NHÔ ROQUE...


Foi formada, em S. Vicente, uma espécie de comissão que tomou a seu  cargo dinamizar a ideia de erigir, no no Mindelo, uma estátua de homenagem ao saudoso  António Aurélio Gonçalves - Nhô Roque como, afectuosamente, todo o mundo a ele se referia e refere - o professor, escritor e filósofo que ajudou a formar as mentalidades de muitas gerações de estudantes, no velho Liceu Gil Eanes, numero em que inclúo, reverenciando com particular estima e agradecimento a memória do insigne pedagogo...
Deixamos, a seguir, a foto dos nove magníficos que compõem essa comissão, dos quais se conseguiu identificar sete: Lucília Morazzo, Margarida Fragoso, Fátima Gonçalves, Rui Spencer, Sónia Morais, Nelson Atanásio e Albertino Graça...
Desejamos que levem a sua "carta a Garcia" e, desde já, nos colocamos à sua disposição para o que entenderem que possamos ser de alguma utilidade. A colocação da placa alusiva na casa onde o mestre residiu,  foi um primeiro passo, prenuncio de outros cometimentos...Boa sorte!




[8083] - POEIRA DOS TEMPOS...

MIGUEL DA CONCEIÇÃO MOTA CARMO
O Homem, o Militar e o Administrador

CAPÍTULO VIII

O imaginário popular em torno do Mota Carmo

Todas as figuras públicas estão sujeitas ao escrutínio  popular, em grau variável com a natureza das suas personalidades ou com o tipo das suas lideranças.  Não raro, surgem rumores, boatos e por vezes invenções puras e simples, dando razão a este aforismo: “ quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto”. É neste húmus que nasce e cresce o anedotário.
Ora, o estilo de liderança do Mota Carmo era mesmo daqueles que se põem a jeito para cair “na boca do povo”. Mas estou convencido de que ele pouco ou nada se ralava com isso, mais preocupado em levar por diante  a sua missão  de serviço público  do que  em medir a par e passo os índices da sua popularidade. É certo que naquele tempo era relativamente fácil adoptar semelhante postura, pois o exercício do poder autocrático tem as costas protegidas, ao contrário do poder democrático, que não dispensa o barómetro da opinião pública. 
Posto este intróito, passemos a analisar as opiniões de duas pessoas sobre o Mota Carmo como administrador. São dois textos em estilo de crónica. O primeiro transcreve-se quase na íntegra, e em relação ao segundo apenas se comenta o seu conteúdo, dele se extraindo apenas um excerto: letra da morna sobre a questão das “saias curtas”.
Da autoria de Viriato de Barros, a crónica:
Regresso a Cabo Verde
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Mas Mota Carmo exercia um despotismo que hoje se chamaria talvez cirúrgico. Uma altura, deu-lhe, por exemplo, para embirrar com as saias curtas (imagine-se!) das meninas e mesmo de senhoras da prestigiada sociedade mindelense, que não faziam mais do que seguir a moda do momento que chegava a Mindelo através das revistas da época, dos visitantes que de passagem chegavam à cidade dos navios transatlânticos que escalavam o Porto Grande, e das nossas viajantes de regresso de várias partes do mundo "sima Bia di Bibi". Portanto, era puro abuso do Mota Carmo, mas passava. E deu ordens à polícia para abordar toda a menina ou senhora que assim se apresentasse em público e intimá-las a ir para casa "baixar a bainha" sob pena de ir parar à cadeia. Um administrador que entendia que devia, entre outras coisas, zelar pela moral pública evitando esses "atentados ao pudor público". E não admitia desafios às suas ordens, como ficou provado quando por via dessa ordem foi abordada e intimada uma senhora da sociedade mindelense de conduta a todos os títulos irrepreensível, decisão que provocou justo repúdio no meio. Mas assim funcionavam e funcionam os abusos de poder e nem Mindelo esteve sempre livre disso. Mota Carmo não parecia tão pouco simpatizar muito com certas confissões religiosas que se afastavam do cristianismo mais ortodoxo digamos assim, sobretudo quando a praxis de tais confissões implicava certos tratamentos naturalistas. Acreditava mais nas vantagens da ciência médica do que em certas modalidades de banhos semi-decúbicos. Embora nunca tivesse chegado a concretizar as suas ameaças, chegou a prometer em privado que "qualquer dia ainda acabava com aqueles banhos de... "... bem, aqui as reservas impostas pela minha educação tradicional impedem de citar Mota Cramo ipsis verbis. 
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Todavia, os mindelenses sempre olharam para as coisas deste capitão da guarda com uma certa condescendência, na convicção de que, no fundo, tratava-se de um homem rude, um tanto grosseiro na sua linguagem de caserna, mas que na realidade nunca fez mal a ninguém naquela terra. Era um homem que jogava, apesar de tudo, segundo consta, com lealdade e tinha um certo sentido, ainda que grosseiro, de humor, dois traços de carácter que os mindelenses sempre apreciaram: "fair play" e "sense of humour", passo os anglicismos, irresistíveis nas circunstâncias. Mas Mota Carmo foi um caso singular, até certo ponto, na história mindelense.

Meu comentário: 
O Dr. Viriato de Barros, ilustre cabo-verdiano e homem de letras, provavelmente não terá tido um conhecimento directo dos factos que aqui narra, mas sim mediante aquilo que ouviu. No entanto, o que diz não estará longe da verdade. Corrija-se apenas a referência sobre o ”comandante da guarda nacional portuguesa”, já que Mota Carmo  era oficial do Exército e não da Guarda Nacional Republicana (GNR), se bem que esta fosse enquadrada nos escalões médios e altos por oficiais do exército. Mas, de facto, este oficial serviu na GNR nos primeiros anos da sua carreira. Quanto ao resto, realce-se a observação sobre o “fair-play” e a “lealdade” do Administrador, que este cultivava na sua relação com o povo da ilha. Lembre-se que esta faceta do  carácter do Administrador veio ao cimo no confronto que ele teve com o Nuno de Miranda a propósito da revista “Certeza” (capítulo V). Diria ainda que ele primava pela frontalidade dos seus actos, desprezando os subterfúgios, os mexericos e os pequenos ardis. Não concordo com o autor do texto  quando afirma que Mota Carmo  era “um homem rude, um tanto grosseiro na sua linguagem de caserna”, e entendo que essa observação deve ser objecto de uma clarificação. É comum colar essa imagem a alguns militares, em alusão ao estilo de relacionamento com as classes inferiores, em especial os soldados, que em tempos recuados eram na sua maioria pouco escolarizados. É provável que o Mota Carmo, na função de comissário da polícia, que acumulava, tenha utilizado, em certas situações, linguagem rude no seu trato com a população, nomeadamente em casos de admoestações, reprimendas, advertências, etc., no entendimento de que não haveria diferença entre o soldado analfabeto e as classes populares pouco instruídas. No entanto, quem lê a entrevista dada por ele (capítulo III), tem de reconhecer ao entrevistado um certo buril, e até estilo, na linguagem utilizada, para além da inteligência, sensibilidade psicológica e subtileza com que analisa a situação social na ilha e direcciona alguns “recados”  à sociedade mindelense. 
Os banhos a que o Viriato de Barros  chama de “semi-decúbico” consistiam na imersão do corpo, despido da cintura para baixo, num recipiente com água e no meio do qual se colocava um pequeno banco em que se sentava. Os guias das sessões de espiritismo (ou racionalismo cristão) receitavam esse banho, acreditando que produziam uma cura pelo contacto da água com as partes inferiores do corpo. Ora, como isso era à margem da medicina convencional, daí a intervenção do Mota Carmo. Mas a graça do dito – “qualquer dia acabo com esses banhos de….” – reside na corruptela do termo em crioulo: “banho de semicu”. Isto demonstra que o Mota Carmo tinha efectivamente sentido de humor ou que o refinou e adaptou à vivência mindelense. Lembro-me de que, no meu tempo de menino e moço, essa expressão “banho de semicu” era efectivamente utilizada com certa carga de humor. Não sei se foi inventada pelo Mota Carmo ou se simplesmente dela se apropriou.
Do outro texto, de Juliana Braz Dias e intitulado “LÍNGUA CRIOULA E CULTURA POPULAR EM CABO VERDE: MÚLTIPLAS VOZES SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE UM POVO”, Universidade de Brasília, transcrevo apenas o que achei merecer maior interesse  ̶ a morna composta por Jorge Monteiro a respeito das “Saias Curtas”. Eis a sua letra: 

La pa qu’es banda de Compe Nove 
Tem um casinha qu’es ta tch’ma vôvô 
El ta tcheu de menininhas 
Qu’es panhâ na morada 
Por causa de se’s sainhas 
Ess home nhô Mota Carmo 
Tem tude se direito 
De q’rê caba 
Qu’es poco respeito

Tradução:

Lá para aquelas bandas do Campo Novo 
Tem uma casinha que chamam de Vovô (1)
Ela está cheia de menininhas 
Que eles apanharam na cidade 
Por causa de suas saiazinhas 
Esse homem, o Senhor Mota Carmo 
Tem todo o direito 
De querer acabar 
Com essa falta de respeito 
(1) Cadeia, prisão
Meu comentário: 
Outros aspectos do discurso da autora, que é brasileira, acabei por não achar pertinente transcrevê-los por não conterem informação com rigor histórico no que toca àquele que ela trata por “Governador da Colónia”, o que em si mesmo é suficientemente revelador de uma base factual que enferma de erros não aceitáveis. É certo que o texto foca mais a questão da língua e da cultura e este desiderato é atingido com eficácia. Quando a autora ilustra o seu discurso com a morna das “Saias Curtas”, entre outras mencionadas, o que nos pretende é dar uma mostra da criatividade e do imaginário cultural do povo de S. Vicente. Porém, quando aborda o drama da emigração para S. Tomé e coloca Mota Carmo no epicentro da sua narrativa, parecendo querer relacioná-lo com as causas desse lamentável fenómeno “migratório”, acentuando o seu protagonismo pessoal na efectivação do processo, aí incorre em erro crasso que atribuo a uma insuficiente informação ou distorção dos factos, por provável influência de fonte pouco credível. Todos sabemos que o fenómeno da “emigração” de contratados para S. Tomé teve início no século XIX, muito antes de Mota Carmo ter nascido, e continuou para lá da vigência da sua administração. O administrador entraria  no processo  dos contratados apenas por exigência das suas  atribuições oficiais, não  se podendo de modo algum, sob pena de desonestidade intelectual, julgá-lo como elemento interessado naquilo que era uma exploração oportunista da mão-de-obra cabo-verdiana. Aliás, o mesmo aconteceu com os seus sucessores no cargo, todos eles cabo-verdianos.
Também aqui vem a talho de foice  a questão das “saias curtas”. O assunto mereceu da população de S. Vicente mais uma daquelas suas proverbiais atitudes jocosas do que reacção azeda ou exacerbada. Nisto, concordar-se-á com o que atrás disse o Viriato de Barros sobre o “fair play” que marcava as relações entre o Administrador e a população. De resto, não acredito que alguma vez a cadeia se tenha enchido com “mnininhas” presas só por causa do delito das saias curtas. Seria de todo despropositado e pouco condizente com o “fair play” que o próprio Viriato de Barros reconhece a Mota Carmo. 
É do conhecimento público, confirmado por pessoas antigas daquele tempo, que o Administrador costumava mandar utilizar os presos da cadeia civil em trabalhos de descarga de navios no porto e provavelmente em outro tipo de actividade. Haverá quem possa censurar uma medida deste género, considerando-a arbitrária, assim como haverá quem a julgue uma iniciativa aceitável e preferível a ter pessoas enjauladas e sem qualquer possibilidade de ressarcir a sociedade pelos delitos cometidos. 
Também sabe-se que o Administrador Mota Carmo tornou mais rigoroso no seu tempo o processo de inspecção médica das prostitutas, que possuíam uma caderneta para o seu controlo sanitário. Será isto uma medida abusiva? Deve lembrar-se que naqueles tempos as regras de higiene pessoal não eram tão praticadas como hoje, nem em Cabo Verde havia as melhores condições de vida para a sua observância. Para mais, o Porto Grande de S. Vicente recebia muitos marinheiros estrangeiros dos navios que nele aportavam, pelo que a situação se tornaria gravosa se nada se fizesse no campo da prevenção contra as doenças venéreas. Além do mais, penso que essa medida envolveria tanto o Administrador do Concelho como o Delegado de Saúde, pois em princípio ambos teriam de estar em sintonia sobre questões essenciais da saúde pública. 
A proibição das vendas de produtos alimentares nas ruas foi outra medida que Mota Carmo levou muito a sério, no intuito não só de salvaguardar a saúde pública como de impor equidade de tratamento entre todas as vendedeiras, já que não é aceitável umas pagarem a respectiva taxa no mercado municipal e outras fugirem a essa imposição. Note-se que actualmente este problema voltou à ordem do dia em todas as ilhas de Cabo Verde, já que tem vindo a acentuar-se o abuso da prática de vendas de rua. Tanto é assim que muitos cabo-verdianos, quer residentes quer os que visitam a terra natal, se queixam da imagem terceiro-mundista que está a apoderar-se das nossas cidades. É voz corrente que a intenção do Mota Carmo era elevar a cidade do Mindelo a uma dignidade compatível com qualquer urbe europeia de idêntica dimensão.
Em suma, o estilo de liderança do Mota Carmo levava-o a intervir sem tréguas em todo o espectro das suas atribuições e responsabilidades. Nada deixava ao acaso e não era homem timorato ou que deixasse de ir ao fundo dos problemas quando entendia estar em causa o bem público. Ora, um homem desta estirpe naturalmente que não reúne consensos e alimenta o imaginário popular tanto no bom como no mau sentido. 

                                                         Adriano Miranda Lima

                                                                  ̶  Continua  ̶

terça-feira, 28 de abril de 2015

[8082] - HUMOR - DIVÓRCIO JUDEU...

Na antevéspera do Ano Novo Judaico, Boris Sylberstein,  patriarca judeu
e a mulher, Sara,  moradores num Kibutz perto de Telavive, visitam um  dos seus filhos,  na capital de Israel:

- Jacobzinho, odeio ter que te estragar o dia, mas o Pai precisa de te dizer que a Mãe e eu nos vamos separar, depois destes 45 anos!
- O Pai enlouqueceu! O que é que está a dizer? - grita Jacob.
- Já não conseguimos sequer olhar um para o outro.Vamos separar-nos e acabou-se! Liga à tua irmã Raquel a contar...
Apavorado, o rapaz liga para a irmã, que vive em Viena e conta-lhe a terrível notícia. Raquel fica em estado de choque ao telefone:
─ Os nossos pais não podem separar-se de maneira nenhuma! Chama já o Pai ao telefone!
O ancião atende e a filha balbucia na maior emoção:
─ Não façam nada até nós chegarmos aí, amanhã, ouviu? Vou telefonar também ao Moisés para São Paulo, ao Salomão para Buenos Aires e à Ester para Nova Iorque e amanhã à noite estaremos aí todos. Ouviu bem, Pai?
Desliga,sem esperar pela resposta do Pai. O velho pousa o auscultador no descanso, vira-se para a mulher e, sem que Jacob o ouça, diz-lhe, em voz baixa:
─ Pronto, Sara! Vêm todos, para a Ano Novo! Só que, desta vez, não temos de pagar as passagens…! 

(E-mail: Manuel M. da Silva)  

[8081] - CHAMPÔS E GÉIS CANCERÍGENOS...

PARA A VOSSA BOA SAÚDE!

Devem procurar o nome do composto em  inglês: Sodium   Laureth  Sulfate nos champôs e geles de banho.
Aos produtos abaixo identificados juntam-se o gel de banho da Sanex, os sabonetes líquidos  Pingo
Doce  (produtos brancos) e o shampoo da Dove.
Verifiquem se entre os ingredientes do champoo que usam há uma substância chamada 'Lauril Sulfato de Sódio' ou LSS ..
Esta substância faz parte da composição da maioria dos champôs pois os fabricantes utilizam-na por ela produzir muita espuma a baixo custo. No entanto o LSS é usado para lavar chão de oficinas (é um desengordurante).
Verifiquei que outras marcas como: VO 5, Palmolive, Paul Michell, Organics, Revlon Flex, Dimension o novo Herno Klorane champô, e muitas, muitas outras, contêm esta substância.
Ligou-se para um destes fabricantes,e foi-lhes dito que eles estavam a usar uma substância cancerígena. Eles concordaram com a afirmação, mas disseram que não podiam fazer nada pois precisavam dela para produzir espuma.
A pasta dentífrica Colgate (bubbles) também contém LSS.
Várias pesquisas têm mostrado que nos anos 80 a probabilidade de contrair cancro era de 1 em 8000 e nos anos 90 era de 1 em 3, o que é bastante grave.
Espero que tomem esta advertência com seriedade e a partilhem com as pessoas que conhecem, talvez possamos parar de 'espalhar' por aí o 'vírus' do cancro, evitando comprar champôs que contenham o LSS-Lauril Sulfato de Sódio, até que os seus fabricantes tomem a providência de  substituir este  componente  por outro que  não prejudique a saúde dos seus consumidores.
Por favor passem esta informação para o maior número possível de pessoas que isto não se trata de uma corrente, mas de uma preocupação com a nossa saúde.

Faculdade de Ciências e Tecnologia
Universidade Nova de Lisboa
Dr.ª Catarina Roriz

(E.mail de Manuel M. da Silva)    

[8080] - O MONUMENTO...


QUANDO A VELHA CATEDRAL DO CONHECIMENTO TANTO NECESSITAVA
DE UM BOM BANHO DE IMERSÃO, LIMITARAM-SE A
MAQUILHAR-LHE O ROSTO,,,

[8079] - QUIETUDE...


COM O SOL PRESTES A ESCONDER-SE PARA LÁ DOS CONTRA-FORTES DE SANTO ANTÃO, ESTA IMAGEM
REFLECTE UMA PAZ E UMA SERENIDADE MAIS FÁCIL DE SENTIR DO QUE DE EXPLICAR...
MAGNIFICA!

(Foto de Helder Doca - p.i. de J.F.Lopes)

[8078] - POEIRA DOS TEMPOS...

MIGUEL DA CONCEIÇÃO MOTA CARMO
O Homem, o Militar e o Administrador

CAPÍTULO VII

Louvores e condecorações

O oficial do Exército Miguel da Conceição Mota Carmo, ao longo de mais de 40 anos de serviço, recebeu inúmeros louvores e condecorações militares (sendo um de uma entidade civil) que atestam o seu mérito e os serviços prestados ao Exército e à Nação.
Louvores:
Ao todo, recebeu 20 louvores, conferidos por entidades de grau e categoria hierárquica distintos, e 6 condecorações de natureza diferenciada, umas mais directamente ligadas à rotina do seu desempenho como militar e outras, sobretudo as últimas, revestindo uma distinção mais elevada e particularizada.
Os dois primeiros louvores que Mota Carmo recebeu, respectivamente em 1921 e 1923, foram concedidos pela hierarquia da Guarda Nacional Republicana (GNR) e era ele ainda um jovem alferes. O primeiro louvor enaltece o seu espírito altruísta e generoso quando prescindiu de uma avultada importância em dinheiro, a que tinha direito, para a doar a uma instituição de assistência e aos homens que comandava. O segundo louvor enaltece o seu espírito de decisão, de terminação e coragem ao comandar o combate a um violento incêndio deflagrado na casa das máquinas de uma fábrica, ameaçando propagar-se e destruir o edifício.
Além desses, mais 5 louvores recebeu durante o tempo em que serviu na GNR, durante cerca de 20 anos. Esses 5 louvores atestam as suas qualidades de comando, de energia, de lealdade, de coragem e de determinação, que pôs em evidência no exercício das funções que sucessivamente lhe foram sendo atribuídas na Companhia a que pertencia.
Em 1940, estando já colocado na Escola Prática de Infantaria, e já capitão, é louvado pela Direcção da Arma de Infantaria em virtude da forma valiosa como participou na resolução de inúmeros problemas tendentes à melhoria dos cursos ministrados naquela Escola.
Em 1942, sendo Comandante da 1ª Companhia de Atiradores do Batalhão de Infantaria 15 sedeada em S. Antão, é louvado pelo seu Comandante de Batalhão pela forma resoluta e determinada como exerceu o seu comando, apesar de este lhe ter sido interrompido, dado que foi requisitado pelo Ministério das Colónias e mandado apresentar em S. Vicente. 
Em 1949, no termo das suas funções de administrador, é louvado pelo Governador da Colónia de Cabo Verde, “por ter desempenhado durante mais de seis anos as funções de administrador de concelho, comissário da polícia, delegado das Obras Públicas e Delegado da SAGA, sempre com invulgar competência e dedicação pelo serviço e….. (não é legível o que se segue porque é manuscrito) ”. 
Em 1952, é louvado pelo General Governador Militar de Lisboa “pela relevante colaboração que, desde o início, prestou na organização dos Serviços de Segurança relacionados com a Reunião do Conselho do Pacto do Atlântico em Lisboa, e, ainda, pela forma inteligente e criteriosa com que chefiou uma das Secções daquela Organização, não se poupando a esforços para assegurar o bom êxito das missões delicadas e difíceis que lhe foram confiadas, confirmando assim plenamente o conceito em que é tido no Governo Militar de Lisboa. Oficial invulgarmente desembaraçado, com muito bom senso e dotado de alto sentido do dever”.
De 1953 a 1961, este o ano em que cessa a fase activa da vida militar, recebe 9 sucessivos louvores a atestar as suas qualidades militares, postas em evidência como Subdirector do Campo de Tiro da Serra da Carregueira e, na parte final, como Director. Estes louvores foram concedidos quer pela sua hierarquia do canal de comando, o General Governador Militar de Lisboa, quer pela sua hierarquia do canal técnico, o General Director da Arma de Infantaria, quer ainda, e já no fim, pelo Ministro da Defesa nacional. Todos esses louvores se referem, em grau crescente de apreciação dos seus atributos militares, a uma acção tida como altamente valiosa seja no comando no Campo de Tiro da Serra da Carregueira, seja como Inspector e Coordenador de Segurança dos Estabelecimentos Militares da área do Governo Militar de Lisboa, seja ainda na organização de Campeonatos de Tiro Nacional envolvendo todos os ramos das Forças Armadas, designadamente, o Exército, a Marinha e a Força Aérea. 

Condecorações:
−Medalha de Dedicação da Cruz Vermelha (esta medalha lhe foi concedida pela disponibilidade e voluntariedade com que colaborou com esta Organização);
 −Medalha de Prata de Comportamento Exemplar (é uma medalha atribuída após algum tempo de serviço com bom comportamento militar e depois de um certo número de louvores concedidos);
−Medalha de Assiduidade de Segurança Pública (é do âmbito da GNR);
−Condecoração com o Grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis;
−Condecoração com o Grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo;
−Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar (semelhante à de Prata mas com mais tempo de serviço e resultante de louvores mais expressivos);
−Medalha de Prata de Serviços Distintos (este é o mais alto galardão militar que lhe foi atribuído e aconteceu no fim da sua carreira). 

Meu comentário: 
Os louvores e as condecorações que Mota Carmo recebeu atestam a sua valia como oficial do Exército. No seu conjunto, situam-no algo acima da média e o retratam como um oficial que não se limitou a gerir a rotina normal da sua vida profissional, como alguns fazem. Com efeito, demonstrou, na prática e na continuidade da sua carreira, e desde cedo, uma aptidão natural para a profissão militar. As suas qualidades de comando, de energia moral, de determinação, abnegação e dedicação ao serviço, aliadas à generosidade e altruísmo que também demonstrou, são os aspectos mais realçados nos louvores atribuídos. Reafirme-se que o primeiro louvor atribuído a Mota Carmo, enquanto alferes e ao serviço da Guarda Nacional Republicana, teve como finalidade reconhecer e enaltecer a exemplaridade da sua conduta ao prescindir de uma avultada gratificação monetária para a ofertar a uma instituição de assistência social. A grandiosidade deste gesto é reveladora do coração sensível que pulsava no interior deste homem corpulento e de semblante duro.  É o mesmo coração que o haveria de  guiar quando, mais tarde, em S. Vicente de Cabo Verde, moveu mundos e fundos para criar uma obra social na ilha. Esta marca da sua humanidade é tão evidente que não pode deixar de ser lembrada e sublinhada se se quiser fazer um julgamento da personalidade e do carácter do Mota Carmo e tiverem de entrar no prato da balança alguns aspectos menores do seu carácter. 

Adriano Miranda Lima

- Continua -

[8077] - LÁ, COMO CÁ, MÁS FADAS HÁ...

Dias atrás, o amigo Valdemar Pereira mandou-me um e.mail com um interessante desabafo de uma professora de matemática, brasileira...
Ainda tive a tentação de adaptar o texto à realidade portuguesa na matéria, mas resolvi dar-lhe guarida sem qualquer retoque, conservando a linguagem original...
Aí vai...
...oooOoo...

Antigamente se ensinava e cobrava tabuada, caligrafia, redação, datilografia...
Havia aulas de Educação Física, Moral e Cívica, Práticas Agrícolas, Práticas Industriais e cantava-se o Hino Nacional, hasteando a Bandeira Nacional antes de iniciar as aulas... 

Leiam o relato de uma Professora de Matemática: 

Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à balconista  R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber ainda mais moedas. A empregada pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registadora, aparentemente sem saber o que fazer. 
Tentei explicar que ela tinha que me dar 5,00 reais de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. 
Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender. 
Por que estou contando isso? 
Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950, que foi assim: 

1. Ensino de matemática em 1950: 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. 
O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. 
Qual é o lucro? 

2. Ensino de matemática em 1970: 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. 
O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro? 

3. Ensino de matemática em 1980: 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. 
O custo de produção é R$ 80,00. 
Qual é o lucro? 

4. Ensino de matemática em 1990: 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. 
O custo de produção é R$ 80,00. 
Escolha a resposta certa, que indica o lucro: 
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00 

5. Ensino de matemática em 2000: 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. 
O custo de produção é R$ 80,00. 
O lucro é de R$ 20,00. 
Está certo? 
( )SIM ( ) NÃO 

6. Ensino de matemática em 2009: 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. 
O custo de produção é R$ 80,00. 
Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00. 
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00 

7. Em 2010 ...: 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. 
O custo de produção é R$ 80,00. 
Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00. 
(Se você é afro descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social não precisa responder pois é proibido reprová-los). 
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00 

E se um moleque resolver pichar a sala de aula e a professora fizer com que ele pinte a sala novamente, os pais ficam enfurecidos pois a professora provocou traumas na criança.
Também jamais levante a voz com um aluno, pois isso representa voltar ao passado repressor (Ou pior: O aprendiz de meliante pode estar armado)

- Essa pergunta foi vencedora em um congresso sobre vida sustentável:

Todo mundo está 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... 
Quando é que se 'pensará' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

 " CULTIVAI ASSIDUAMENTE A CIÊNCIA DOS NÚMEROS  PORQUE NOSSOS CRIMES NÃO SÃO MAIS QUE MEROS ERROS DE CÁLCULOS ."

Passe adiante! 
Precisamos começar JÁ! 
Ou corremos o sério risco de largarmos o mundo para um bando de analfabetos, egocêntricos, alienados e sem a menor noção de vida em sociedade e respeito a qualquer regra que seja!!!

segunda-feira, 27 de abril de 2015

[8076] - TRÊS DÉCADAS DE ROLLS-ROYCE...




TRÊS MODELOS, CADA UM DA SUA DÉCADA, DA MAIS PRESTIGIADA MARCA
EUROPEIA DE AUTOMÓVEIS, NUM TEMPO EM QUE O REQUINTE DAS
FORMAS E DOS ACABAMENTOS ERA PRIMORDIAL...

[8075] - OLHAR AS COISAS DE LONGE...

A África tem grandes responsabilidades no drama que se vive no mar Mediterrâneo, com os milhares de africanos que procuram a Europa para melhorar a sua qualidade de vida, disse este Sábado,25, o Primeiro-Ministro, José Maria Neves.


José Maria Neves defendeu que há necessidade de se intensificar o diálogo entre os dois continentes, mas os governantes africanos têm de combater as causas pelas quais milhares de africanos acabam por morrer afogados ao atravessarem o Mediterrâneo em barcos sem condições e apinhados.

“África tem grandes responsabilidades. Para resolvermos o problema precisamos de um intenso diálogo entre os países africanos e a Europa. Mas temos de combater as causas. O facto de os africanos estarem a afogar-se no mediterrâneo deve interpelar todos: governantes, dirigentes e as forças vivas de África”, declarou Neves que falava na abertura do simpósio "África e Desenvolvimento Sustentável".

Recorda-se que a situação trágica no Mediterrâneo, com a morte de 800 imigrantes africanos que tentavam entrar na Europa, no passado dia 19, levou os líderes da União Europeia (UE) a adoptarem um plano de dez acções para travar o tráfico de seres humanos nas rotas da emigração clandestina para a Europa.

(Sugerido por Valdemar Pereira)

[8074] - POEIRA DOS TEMPOS...

MIGUEL DA CONCEIÇÃO MOTA CARMO
O Homem, o Militar e o Administrador

Capítulo VI

Carreira Militar de Mota Carmo após deixar Cabo Verde

Tendo cessado as suas funções de administrador civil em S. Vicente, Mota Carmo desembarca em Lisboa em 23 de Março de 1950, deixando de estar sob a dependência do Ministério das Colónias. Depois de cumprir a licença a que tinha direito, e que se acumulara por nunca ter usufruído de nenhuma enquanto esteve em Cabo Verde, e regressando ao Ministério da Guerra, apresenta-se no Quartel-general do Governo Militar de Lisboa, onde fica a aguardar colocação. Em 21 de Maio de 1950, é colocado, como subdirector, no Campo de Tiro da Serra da Carregueira, assim designada uma unidade militar situada nos arredores Lisboa e que tinha como missão a instrução de tiro de carreira de todas as armas e de todas as unidades da região de Lisboa, seja as do Exército, da Marinha ou da Força Aérea.

Um aspecto actual das instalações militares do antigo Campo de Tiro da Serra da Carregueira; seria mais tarde transformado numa unidade militar com outro nome.

Em 1 de Outubro desse mesmo ano, apresenta-se no Instituto de Altos Estudos Militares, a fim de frequentar o curso de promoção a oficial superior (classe hierárquica que começa em major e termina em coronel).
Em Março de 1951, regressa à sua unidade, Campo de Tiro da Serra da Carregueira, e é promovido a major em Dezembro de 1951.
Em Fevereiro de 1952, o major Mota Carmo apresenta-se no Ministério dos Negócios Estrangeiros a fim de se encarregar dos Serviços Nacionais de Segurança da Cimeira Pacto do Atlântico (NATO), função que o empenhou durante 17 dias. Com efeito, o Conselho de Ministros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) se reuniu em Lisboa, ainda nem sete anos tinham decorrido desde o fim da II Guerra Mundial na Europa. A divisão territorial da Alemanha era já uma realidade, uma vez que, desde 1949, o território daquele país se tinha dividido dando origem à República Federal da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA). Esta situação traduzia o acentuar da tensão política e militar entre as potências vencedoras, nomeadamente entre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os Estados Unidos, pelo que essa Cimeira se revestiu de uma magna importância para o Ocidente. Confiar a missão de organização da segurança desse evento ao Mota Carmo traduz sem dúvida o conceito em que ele era tido pela hierarquia do Exército.
Sobre este episódio, e por coincidência, há uns meses perguntei, no âmbito das minhas pesquisas, a um velho coronel, de 89 anos, meu amigo e meu antigo comandante de regimento, se ele conheceu ou ouviu falar do oficial Mota Carmo. Respondeu afirmativamente e adiantou que o conheceu por ter estado sob o seu comando durante essa missão de segurança do Pacto do Atlântico. Esse meu amigo coronel era à data tenente e com o seu pelotão participou juntamente com outras forças no dispositivo que foi montado para a referida segurança, sob às ordens directas do Mota Carmo. Então, perguntei-lhe com que impressão ficou do Mota Carmo, que era major na altura, se era um oficial excessivamente duro, exigente ou rigoroso. Respondeu-me que não, apenas um oficial que procurou cumprir aquela missão com zelo e sentido de responsabilidade. Mas o que me surpreendeu é ter-me revelado, rindo-se com gosto, que o Mota Carmo era então conhecido em Lisboa pela proibição das saias curtas que intentou em S. Vicente e pela morna criada a esse respeito. Vê-se assim que o assunto das saias curtas ultrapassou as fronteiras e por certo o acompanhou até à morte.
Até passar à reserva em 1960, Mota Carmo continua ininterruptamente colocado no Campo de Tiro da Serra da Carregueira, nas funções de subdirector, mesmo quando promovido mais tarde, em 1957, a tenente-coronel. No decurso desse tempo, tem, em acumulação, outras funções, como seja Inspector de Segurança da Carreira de Tiro de Alcochete. Esta era uma carreira de tiro destinada à Força Aérea, onde os aviões realizavam exercícios de bombardeamento e de ataque ao solo, como é próprio da sua missão. Mas Mota Carmo foi durante quase todo esse tempo, e igualmente em acumulação, Coordenador da Segurança e Defesa dos Estabelecimentos Militares do Governo Militar de Lisboa. Isto compreende-se porque os estabelecimentos militares, que eram em elevado número naquele tempo, não são unidades militares e, por conseguinte, pela sua natureza administrativa, implicam que haja um entidade superior a superintender na observância daqueles requisitos.
Entretanto, e durante o período da sua permanência na citada unidade da sua colocação, frequentou na Escola Prática de Infantaria estágios para manutenção das suas aptidões como oficial da Arma de Infantaria. Era normal naquele tempo, assim como hoje. Refira-se, em particular, que em 1957, já tenente-coronel, participa no Campo Militar de Santa Margarida em manobras militares da Divisão Nuno Álvares, no âmbito das missões da NATO que competiam a essa Divisão. Para esse efeito, Mota Carmo apresenta-se e fica colocado no Regimento de Infantaria 15, em Tomar, que era, assim como outros regimentos, fornecedor de efectivos para a referida Divisão Nuno Álvares. É no Regimento de Infantaria 15 que Mota Carmo integra uma unidade para participação naquelas manobras militares, que naquele tempo tinham uma elevada importância no contexto do Exército e da NATO. Não sei se Mota Carmo foi comandante de um dos batalhões constituídos para esse efeito, o que pode efectivamente ter acontecido, já que o posto que ele então tinha, tenente-coronel, era o que competia à função de comandante de batalhão (um efectivo da ordem de 800 homens). Mas também Mota Carmo pode ter sido o 2º comandante do regimento constituído para essas manobras. Enfim, o oficial regressou, ainda que temporariamente, ao Regimento de Infantaria 15, de onde partira em 1941 para Cabo Verde no comando de uma companhia de atiradores. E regressou também à terra que o viu nascer e que, convenhamos, é uma bela e antiga cidade

                                                Nesta rua de Tomar, chamada rua dos Arcos, nasceu o Mota Carmo

Mais tarde, em 19 de Agosto de 1958, Mota Carmo é nomeado para uma comissão especial de serviço na Índia Portuguesa de então, tendo regressado em 28 de Novembro do mesmo ano. Não há dados no seu registo que revelem a natureza da missão que foi desempenhar à Índia, mas deduzo que tenha tido algo a ver com questões de inspecção de segurança militar. É que uma das facetas particulares da formação militar de Mota Carmo era sem dúvida a sua aptidão para missões de segurança militar.
É promovido a coronel em 1958 e passa a comandar a unidade onde se encontrava colocado em permanência desde que deixou Cabo Verde, ou seja, o Campo de Tiro da Serra da Carregueira. Mas não será por muito tempo porque passa à reserva em 18 de Julho de 1960. É-lhe então atribuída a pensão de reserva anual de 84.000$00.
Depois de transitar para a reserva, o coronel passa a exercer um cargo de natureza civil na antiga Standard Eléctrica Portuguesa, empresa multinacional que se dedicava ao fabrico de material de comunicação.
Passa à situação de reforma 10 anos mais tarde, em 18 de Julho de 1970, conforme as leis então vigentes.
Miguel da Conceição Mota Carmo, coronel reformado do Exército Português, morre em 11 de Agosto de 1974. Desconheço a causa da sua morte, numa idade, 74 anos,  que não se pode considerar muito avançada.

Adriano Miranda Lima 

- Continua -

[8073] - DEBATE SOBRE REGIONALIZAÇÃO, NO FACEBOOK...

José F. Lopes
Seria bom que outros viessem alargar e contribuir para o debate no Facebook sobre a regionalização, promovido pelo Gualberto Rosario Almada -  "Efeitos da regionalização na eficiência, na eficácia e na efectividade da acção governativa".
Claro que este assunto parece ser quente demais (too hot) para as mãozinhas limpas e brancas da nossa elite pensante, que não se quer comprometer com nenhuma ideia de mudança em Cabo Verde.  Por exemplo, achei surpreendente que o político mindelense João do Carmo, no recente debate televisivo sobre a Regionalização, citasse JMN dizendo que a 'Regionalização é um luxo' para C. Verde... O homem é tal qual um mágico que pode dizer uma coisa e o seu contrário simultaneamente, e parecer natural!  De resto, por ser PM,  JMN não é Deus, nem é nenhuma sumidade intelectual. Ao deixar de ser PM voltará a ser o mais comum dos mortais e eu recomendava-lhe estudar muito e ir fazer uma pós graduação em Liberdade e Democracia, nos States.
João do Carmo, estava no lugar errado neste debate, pois via-se que estava a ocupar um lugar de político... Não tem nenhum pensamento sobre a matéria da Regionalização e do Estado em C.Verde, ou então não estudou a matéria do debate,  limitando-se a repetir a lenga-lenga do seu partido, a defender balanços estatísticas etc., coisas de funcionário político banal.
O PAICV é uma enorme máquina autoritária, de manietar e triturar os espíritos e as vontades dos seus militantes. Eu recomendava, pela sanidade mental de C. Verde, partir este partido dinossauro em dois novos partidos: um, reformista e, outro, conservador e reaccionário... Ia mais longe e até recomendava a mesma coisa ao MPD...
Isto dá uma ideia do atoleiro moral, intelectual e ideológico em que a sociedade cabo-verdiana se afunda,  depois de um longo período de partido único e do interregno reformista/liberal dos anos 90, do MPD.

[8072] - CAETANO BONUCCI, REALIZADOR...


EM MEMÓRIA DE
Caetano Bonucci (1912-1953)

Natural de S. Vicente, Cabo Verde, Caetano Bonucci era filho do italiano Pietro Bonucci e de Maria da Luz Rocheteau L. Bonucci e irmão de Yolanda Bonucci Pias.
Movido pela sua paixâo pelo cinema, o engenheiro electrónico Caetano Bonucci viria a tornar-se mais tarde no primeiro realizador natural de Cabo Verde a dirigir um filme de longa metragem em Portugal, "A Morgadinha dos Canaviais", cuja estreia foi a 4 de Março de 1949 no cinema "Èden", onde participaram entre outros, Eunice Mûnoz Paiva Raposo, Tomaz de Macedo, Raul de Carvalho, Costinha, Maria Matos, etc...
Surgiu a fazer cinema em Portugal, provavelmente, por influência ou insistência de Amadeu Ferrari, um técnico italiano muito interessado pelo cinema português, ligado a uma firma que representava em Portugal material fotográfico sensível, da marca «Ferrania», de origem italiana.
Infelizmente, não pôde dar seguimento á sua promissora carreira cinematográfica devido ao facto de ter falecido precocemente, aos 41 anos de idade...

(Adaptação de um texto de Lucy Bonucci
enviado por José F. Lopes)

domingo, 26 de abril de 2015

[8071] - A MONTANHA PARIU UM RATO...


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Zero-a-zero, no resultado...Zero-a-zero, na exibição das equipas...Zero-a-zero no comportamento dos treinadores de ambas as equipas após o encontro...Um desastre completo, no tão propagandeado JOGO DO TÍTULO...