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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

[8962] - POEIRA DO PASSADO...


O Hospital de S.Vicente, em 12 de Julho de 1902...
Pesquisa de A.Mendes

[8961] - DECLARAÇÃO CAFEANA...

João Branco
O meu amigo Salvador Mascarenhas, que em boa hora resolveu regressar a Cabo Verde e fincar os pés no chão, lembro algo que me parece básico: não faz sentido que deputados que concorrem pelos dois maiores partidos para o círculo eleitoral de S. Vicente, não só não vivam na ilha, como digam abertamente que não o pretendem fazer. Como ele pergunta, e bem, "casta de representação é essa?"

Eu concordo, e falando em fincar os pés no chão, considero que é de uma suprema hipocrisia virem com listas onde estejam políticos que passam em S. Vicente apenas no Carnaval e no festival Baía das Gatas, isto é, quando passam. Que ao longo de uma legislatura botam faladura no Parlamento uma ou duas vezes lembrando dos problemas da ilha, sendo que se for de uma cor acusam a Câmara Municipal dos desmandos, se for da outra cor, o culpado pelo "abandono a que S. Vicente está sujeito", é o governo centralista.

Até quando?

Por isso, com todos os defeitos ou incoerências que lhe possam apontar, admiro o político Onésimo Silveira. Foi o único que conseguiu quebrar esta dicotomia partidária que, infelizmente, não muda de discurso, nem de postura, nem demonstra uma ponta de criatividade, ao menos isso! 

Finalmente, virem falar de renovação é outra forma de troçar com o povo desta ilha. A gente olha para as listas e pergunta: renovação é ess? Bzot ta maj é na brinkadera! (in Café Margoso)

[8960] -DO BAÚ DO VALDEMAR...


O baú e a memória do Valdemar Pereira são dois repositórios inesgotáveis de memórias e imagens do Mindelo de antigamente...Há dias, e a propósito da foto daquela gente linda a bordo da "Sagres", ele referia uma história passada com a Senhora Alerton, em Londres...Ora aí está a citada senhora, numa foto que tem a originalidade de ser a última feita na Western Telegraph Company com aquilo que julgo ser o quadro completo do pessoal da empresa, britânicos e autóctones...Desde logo se reconhecem Nhô César e Mendo Barbosa e os nossos visitadores decerto que vão identificar muitos outros... Mãos à tarefa!

[8959] - CONTOS SINGELOS - {7}

Rua Direita-Nova Sintra-Brava-Cabo Verde
Contos Singelos
Guilherme da Cunha Dantas

Segunda parte
Vinte anos depois
Júlia

Ricardo vinha esmeradamente trajado. Suas maneiras tinham então uma certa distinção e elegância. E Galvão, cremos tê-lo já dito, era de si muito bem-apessoado. 
Depois dos cerimoniosos cumprimentos de estilo, José Pedro perguntou-lhe a que se devia a honra da sua visita.
Ricardo, procurando dar à fisionomia hipócrita um certo ar de virtude e modéstia que estava bem longe de ter, expôs ao pai de Júlia o seu “amor” pela sua filha., terminando por lha pedir em casamento.
José Pedro, interiormente indignado, mas sempre grave e politico, respondeu ao pretendente com voz firme e resoluta:
-- Senhor … a mão da minha filha só a concederei a quem dela for digna.
Galvão levantou-se de pulo; e com os olhos chamejantes, os punhos crispados, pegou no chapéu e dirigiu-se para a porta, lançando ao mesmo tempo ao esposo de D. Elvira um olhar de ódio mal contido e de vingança certa. Cumprimentando ironicamente José Pedro, medonho sorriso lhe contraía os lábios. Este sorriso era ao mesmo tempo uma ameaça e uma advertência para o pai de Júlia.
 Deixa estar, meu bigorrilhas! … rosnava Ricardo ao sair  corrido da casa de José Pedro, tu verás que Ricardo Galvão nunca foi ofendido impunemente. Ele! … Rejeitar para a filha o meu nome, quando muitas o aceitavam, beijando-lhe os pés! … Pois eu a possuirei! Não como esposa, tolo que fui! … Obrigado, meu amigo … muito obrigado. Eu a possuirei, possuirei Júlia, as suas riquezas e … a vingança!
E os olhos do libertino brilhavam, mostrando o prazer insensato que nele despertava o sentimento de vingança.
A emboscada
Entretanto passam-se cinco dias, sem que da parte de Ricardo se note o menor movimento agressivo contra José Pedro.
Neste meio tempo, o pai da Júlia que não deixara o emprego depois de casado é pelos seus deveres de oficial da Alfandega chamado a inspecionar um navio inglês que acaba de entrar em “Fajã de Água”, outro porto da Ilha Brava, mais espaçoso que o da Furna.
O segundo piloto da galera inglesa é um rapaz bem-apessoado e robusto, de bigodes fartos e pretos, cabelo também preto e comprido, fisionomia leal e simpática. Todo o seu exterior, a sua mesma prenunciação denota não pertencer ele à mesma nação que o resto da equipagem.
Este homem parece não poder despregar os olhos do pai da Júlia. Porém José Pedro não repara na visível comoção do mancebo, que ao contemplá-lo sente marejarem-lhe as lágrimas nos olhos.
Concluído que foi o seu trabalho, José Pedro regressou para terra. É noite fechada. A lua que nasce desenha na estrada formas fantásticas penetrando através dos densos renques de purgueira que orlam o caminho.
Preocupado como vai em seus pensamentos, o esposo de D. Elvira não reparara num homem que embuçado em ampla “japona” o segue a uns trinta passos de distância, sem contudo o perder de vista.
Ao passar por um sítio muito estreito e sombrio, seis homens armados de possantes “manducos” o cercam e antes que José Pedro tenha tempo de fazer o menor movimento, furiosas cacetadas o prostram do cavalo abaixo.
Então um sétimo homem sai da emboscada. Nas mãos lhe reluz um ferro. Ergue o braço para ferir o pai da Júlia já inanimado. Súbito, ouvem-se passos precipitados, e um tiro de pistola ressoa a dez passos de distância.
O assassino cai ao lado da sua vítima, tendo-lhe a bala varado um ombro. Os seus cúmplices dando-o por morto e julgando-se perseguidos, o desempararam.
Chega o salvador de José Pedro. Apalpando-o ansioso, reconhece que está mal ferido, mas não morto. Carrega com ele nos possantes braços, e, como conhecedor do trilho, veloz o transporta. 
O homem que tão covardemente pretendera assassinar, o pai de Júlia, era, já os leitores terão adivinhado, o infame Galvão. E aquele que o salvou – o moço piloto do navio inglês.
O Salvador de José Pedro 
Caminhando com a pressa que lhe permitia o mau caminho e o seu pesado fardo, o generoso mancebo vê a alguma distância bruxulear uma luz. Dirige-se nesta direcção. Vem-lhe abrir a porta da casa um camponês que mostra ter os seus cinquenta anos, porém ainda forte e robusto. Trajava de luto. 
Informado pelo valoroso marinheiro do sucedido, o aldeão exclama benzendo-se:
-- Santo Deus! … Foi ele! Foi o maldito Ricardo! Vai para dez anos, que nenhum crime se comete nesta pobre terra, que não seja obra dele e dos seus infames satélites. Há um mês que “ bati-tu” (1) passou à noite por sobre minha casa. E daí a três dias…. Ah! Minha filha, minha filha!

(1) Pássaro marinho, semelhante ao corvo pequeno. O seu canto lúgubre pressagia desgraças àqueles por cuja morada passou. Mais uma superstição daquela pobre gente! 

A Voz de Cabo Verde – 1912                                                                       Continua
(Pesquisa de Artur Mendes)




[8958] - MANOBRAS...



Jornal de São Nicolau
16 min · Praia (Cabo Verde)· 
Segundo uma nota do Gabinete do Governo, Cabo Verde quer ter uma parceria estratégica com a Guiné Equatorial nas áreas como energias renováveis, serviços financeiros, transportes aéreos e marítimos, tecnologia informacional, entre outras.
O primeiro-ministro, José Maria Neves realizou, na passada quinta-feira, uma visita de 24 horas à Guiné Equatorial, a convite do seu homólogo, Vicente Eheate Tomi, com o intuito de reforçar as relações de cooperação económica e empresariais entre os dois paises.

«oooOooo»

O que vai fazer este senhor  a um país como a Guiné Equatorial num período em que o seu governo devia ser de gestão, marcado pela "abstinência'? Assim, está a fazer batota política e a proceder nos limites da ilegalidade!! A catadupa de anúncios e eventos que têm marcado o fim do mandato deste senhor é impressionante!! Alguém mande parar este senhor que já não vai ser mais governo... Ou pensará ele que continuará a mandar nos bastidores? (José Fortes Lopes)

[8957] - UMA ESPERANÇA DE UNIÃO...

 DO FAMIGERADO “ESTADO ISLÂMICO” DO EXTREMISMO

Volto ao assunto do extremismo islâmico, por ser de actualidade, com algumas achegas, de modo a facilitar a compreensão da tragédia. Apoio-me, sobretudo, em dois livros, “O Crescente e a Cruz”, de Jaime Nogueira Pinto, e “O Novo Estado Islâmico”, de Patrick Cockburn, do jornal Indepent, considerado o melhor jornalista em serviço no Iraque, e no artigo Penser le jihadisme, de Fouad Laroui, na revista La Revue. Interessa-me apontar os responsáveis pela criação e entretenimento dos movimentos jihadistas e do Estado Islâmico (EI) ou Daech e a desmistificação da maioria das ideias vendidas no Ocidente pelos media atribuindo as culpas a Assad, Kadafi e ao Irão. Não pretendo apontar a solução para o problema mas tão-somente assinalar a via que poderá levar os contendores a entenderem-se, a deixarem de se guerrear e a unir esforços contra o EI, o que redundaria em benefício deles e da humanidade em geral.
A animosidade árabe e muçulmana contra o Ocidente, sobretudo contra os EUA, vem de longe, mas exacerbou-se a partir de 1948 com a criação do Estado de Israel na Palestina. O território, ocupado pelos palestinos, deveria ser repartido por Israel, e a Palestina – dois Estados - ao que se opuseram os palestinos por o considerarem terra deles. Daí nasceu a Organização da Libertação da Palestina (OLP) dirigida por Arafat, que acreditava ser capaz de “atirar os judeus ao mar”. Longa luta com violência de parte a parte, ocupação de mais território por parte de Israel, que foi vencendo as guerras, havendo tentativas diversas, sem sucesso, no sentido de um entendimento, que só teve possibilidade de solução depois de a OLP ter reconhecido o direito de existência de Israel como Estado, ao lado deles, noutro Estado, o da Palestina. Esta solução esteve em vias de se realizar, com o apoio dos EUA, no tempo do Primeiro-Ministro I. Rabin, mas gorou-se com o assassinado deste por um extremista judeu, visto os seus sucessores, ultraconservadores, terem feito marcha atrás.
A aceitação, em 1949, de Israel como membro da ONU, foi condicionada à criação do Estado da Palestina e o regresso dos palestinos que foram forçados a abandonar as suas casas durante a guerra de 1948, o que nunca se concretizou, dado que os EUA apoiaram sempre Israel com o seu veto no Conselho de Segurança todas as vezes em que as deliberações da ONU lhes eram desfavoráveis, além de apoio maciço em dinheiro e material bélico. Tudo isso funcionou como espinha irritativa para os árabes e muçulmanos contra os EUA e o Ocidente. Obviamente, que enquanto Israel contar com o apoio incondicional dos EUA contra as deliberações da ONU – o que se poderia justificar durante o tempo em que a OLP não reconhecia a existência de Israel como Estado, mas não depois - a questão palestiniana permanecerá, bem como a animosidade dos árabes e muçulmanos contra o Ocidente e os EUA. A criação do Estado da Palestina, advogada por todo o mundo menos os EUA e um ou outro Estado que toma bençon nos EUA, criaria um ambiente de paz e até de colaboração entre Israel, o Estado da Palestina e outros Estados vizinhos com benefícios mútuos, com abandono da política suicidária da direita israelita.
A atracção exercida sobre alguns jovens do Ocidente pela jihad é consequência das suas precárias condições de vida em bairros degradados das grandes cidades, sem perspectivas futuras e sem emprego, o que os leva, primeiro, à radicalização, e depois, à conversão. São rebeldes, portanto facilmente influenciáveis, à procura de uma causa radical, não importa qual, e de um ou outro psicopata para as degolações.
A Síria foi sempre governada por ditador; ao pai sucedeu o filho Assad, mas a sua população vivia relativamente bem, num Estado laico de minoria alauita, havendo igualdade de direitos entre homens e mulheres. Condenando-se o regime sírio por ser uma ditadura, com maiores razões se condena a Arábia Saudita, uma teocracia governada por uma família (Saoud, que deu o nome ao país), sem constituição, a qual é substituída pela Sharia, pelos aspectos mais primitivos e desumanos do Alcorão (em comparação poderíamos dizer que funciona como se um Estado cristão se governasse pelo Levítico a substituir constituições), do mesmo modo que se condenaria o Bahrein, os EAU e outros emiratos do Golfo Pérsico. Na Síria, as várias religiões e seitas viviam em paz, o que não acontece na Arábia Saudita e outras dinastias e Estados islâmicos, onde as mulheres são autênticas escravas dos homens; na Líbia, um dos primeiros actos dos “libertadores e lutadores pela democracia”, após a queda de Kadafi provocada pela intervenção do Ocidente, foi a exigência da legalização da poligamia, banida durante a ditadura de Kadafi. Tal como sucede com o Boko Haram, na Nigéria, os militantes islâmicos que lutam no Iraque e na Síria, não veem nenhum impedimento religioso na escravização de mulheres como despojos de guerra.
Com a chamada Primavera Árabe, iniciada na Tunísia com o derrube do seu ditador, pensou-se ser fácil derrubar também Assad na Síria, até por haver um grande mal-estar no país após reacção violenta do regime contra os contestatários em consequência de quatro anos de seca que levaram grande parte da população rural a fugir da miséria para a periferia das cidades. Daí nasceu a ideia de apoiar os revoltosos contra o regime de Assad com apoio maciço do Ocidente, da Arábia Saudita, Turquia e outros países muçulmanos, à semelhança do que se passou na Líbia, com o fim de levar a democracia ao povo sírio. Com esse apoio, essencialmente de países sunitas e de seitas do sunismo, criou-se um ambiente de guerra civil, desestabilizando-se o país, mas sem conseguir derrubar o regime de Assad que passou a ter o apoio da Rússia, Irão e Hezbollah.
O nascimento do EI foi a mudança mais radical na geografia do Médio Oriente desde a implementação dos Acordos Sykes-Picot que redesenharam as fronteiras do Médio Oriente, e as promessas feitas aos árabes pelos ingleses durante a Primeira Guerra Mundial foram traídas. Enquanto o EI se torna a força principal de oposição na Síria, o Ocidente e os seus aliados regionais convenceram-se de que a segunda força militar mais poderosa na Síria era o EI e, se derrubassem Assad, essa força ocuparia o vazio. A partir daí, quando os ataques aéreos começaram contra o EI, os americanos informavam o regime de Assad e não os chamados rebeldes “moderados”, por já não confiarem nestes, ao terem constatado que os membros do EI ficavam contentes quando eram enviadas armas sofisticadas aos rebeldes que combatem Assad, porque poderiam sempre obter esse equipamento através de ameaças de violência, de pagamento em dinheiro ou livremente quando os “moderados” ingressavam no EI. Este só controla uma capital das catorze da Síria sob o controlo do regime de Bashar Assad.
O EI é liderado desde 2010 por al-Baghdadi, mais violento do que qualquer dos líderes terroristas de outras facções de al-Qaeda sediadas no Paquistão. As suas victórias militares devem-se também à participação de militares do exército de Saddam, exército desmantelado estupidamente por ordem de Bush e que passou a dar o seu contributo à luta contra os EUA ao lado do EI. As suas victórias fulgurantes em Trikit, Mossoul e noutras cidades deveram-se igualmente ao facto das populações dessas cidades terem colaborado por julgarem tratar-se de um movimento de libertação. Interessante é esse energúmeno, que se auto intitula de califa, ter tido uma educação esmerada com um diploma em Estudos Islâmicos, incluindo poesia, história e genealogia da Universidade de Bagdade. Este figurante faz-nos recordar os líderes dos Khmers Vermelhos, no Camboja, esses facínoras que, para aterrorizarem os adversários, mataram ou mandaram matar milhões dos seus conterrâneos, tendo, muitos deles tido uma formação superior no país (França) da liberdade, igualdade e fraternidade. Como entender a desumanidade e a tragédia na zona do Globo (Oriente Fértil) onde nasceu a civilização Ocidental, há cerca de dez mil anos antes da Era Cristã?!!
A ascensão rápida do EI foi grandemente auxiliada pelo levantamento dos sunitas na Síria em 2011, que encorajou os seis milhões de sunitas do Iraque a revoltarem-se contra a marginalização política e económica a que foram sujeitos desde a queda de Saddam e o estabelecimento do regime liderado pelo Primeiro-ministro al-Maliki, regime dominado pela corrupção.
O Wahhabismo (que deveria chamar-se abismo de contradições) é uma religião fundamentalista do Islão do século XVIII, e impõe a Sharia. Relega as mulheres para a condição de cidadãos de segunda classe e considera os sunitas (donde deriva) e os xiitas como não muçulmanos, e persegue os judeus e cristãos. A ideologia do EI é grandemente inspirada no wahhabismo, mas actualmente a monarquia saudita está receosa do Ei, dado que, embora professando a mesma fé, o seu líder defende o derrube dessa monarquia. É de se dizer que a Arábia Saudita está com medo do monstro Frankenstein que criou, embora seja tarde para esse rebate de consciência. O Príncipe bin Sultan, antigo embaixador da Arábia Saudita nos EUA e director dos Serviços Secretos saudita de 2012 a 2014, fez tudo o que podia para apoiar a oposição jihadista até ao seu afastamento. John Kerry também criticou, embora em privado, o Príncipe bin Sultan acusando-o de ter orquestrado toda a campanha de deposição do governo de Assad. O mesmo se passou com a Turquia, ao manter aberta a sua fonteira de 900 km com a Síria para os combatentes do EI, facilitando o seu abastecimento e escoamento do petróleo roubado na Síria e Iraque.
Vejamos algumas declarações de governantes americanos relativamente a esse imbróglio da crise síria e criação do EI.
Em 2009, numa mensagem revelada pelo Wiki Leaks, a secretária de Estado, HIllary Clinton, queixava-se de que o principal financiamento dos grupos terroristas sunitas em todo o mundo provinha daa redes da Arábia Saudita.
O vice-presidente americano, Joe Biden, disse no Forum John Kennedy Jr. que a Arábia Saudita, a Turquia e os Emiratos Árabes Unidos estavam muito determinados em derrubar Assad, e, basicamente, em participar indirectamente numa guerra entre sunitas e xiitas. Canalizam milhões de dólares e toneladas de material bélico para quem estivesse disposto a lutar contra Assad. Ainda acrescentou que, na Síria, os EUA tinham descoberto “não haver combatentes moderados porque os moderados eram comerciantes e não soldados”.
Um estudo do Parlamento Europeu, datado de 2013, intitulado “O movimento do Salafismo/wahhabismo no apoio e fornecimento de armas a grupos rebeldes em todo o mundo”, dizia: “A Arábia Saudita tem sido uma das principais fontes de financiamento das organizações rebeldes e terroristas desde a década de oitenta”. As autoridades americanas sabiam disso, mas nunca tomaram nenhuma medida contra a Arábia Saudita.
Outro progenitor de al-Qaeda, dos talibãs e movimentos jihiadistas foi o Paquistão, por intermédio dos seus serviços secretos militares e de informação. “A guerra contra o terrorismo” falhou, depois de se ter gastado biliões de dólares por ter errado o alvo, a Arábia Saudita, o Paquistão, os emiratos árabes. E isso aconteceu e continua a acontecer por os EUA não quererem ofender dois países que são aliados importantes, muito próximos do Pentágono, grandes compradores de armas e bases militares americanas. Além disso, a Arábia Saudita e seus satélites, acordaram com os EUA só aceitar dólares na venda do seu petróleo, que os outros produtores de petróleo respeitam.
Da entrevista recente na RTP dos ex-primeiros-ministros Guterres e Durão Barroso podemos reter, no que interessa para este artigo, que a melhor via de solução para a questão síria é uma trégua entre o governo sírio de Assad e os chamados “rebeldes moderados”, o que permitiria aos dois lados aplicarem os seus recursos no combate ao EI e reduziriam os ódios e receios comunitários que lhe dão origem. Em boa verdade, a chamada “coligação de esforços” incluindo países como a Arábia Saudita e outros Estados que professam a mesma religião (sunitas e suas seitas) não deseja fazer qualquer esforço para enfrentar o EI, enquanto os excluídos, como o exército sírio, o Irão (xiita), os curdos do PKK (organização considerada terrorista pela Arábia Saudita e EUA) e o Hezbollah (também considerado terrorista pelo Ocidente) são as foças no terreno dispostas a lutar contra o EI e os falsos moderados, com apoio da Rússia.

Parede, Fevereiro de 2016                                                          ArsénioFermino de Pina
 Pediatra e sócio honorário da Adeca

[8956] - A TEIA...

Os três exemplos aqui referidos (uma teia de obscuros interesses), a que poderíamos juntar um role imenso de outros casos, são sintomáticos da situação do país e da governação. E, como dizíamos mais atrás, podem ser a ponta de uma situação bem mais grave para a qual os caboverdianos devem estar preparados


Isto pode ser apenas a ponta do véu de uma real situação do país ainda mais grave do que aquela que se nos apresentava semanas atrás. Nas últimas 24 horas, três notícias (absolutamente irrefutáveis) publicadas em primeira mão no Cabo Verde Direto dão sinais preocupantes sobre o estado da Nação.

A começar, o arresto de um avião da TACV em Roterdão (ver aqui), expondo ao país e ao mundo esta vergonha para Cabo Verde, sem que (até à hora que publicamos este Editorial, alguém da empresa ou do governo tenha vindo a público dar uma satisfação às caboverdianas e caboverdianos). Um arresto – diga-se – que tem como origem a gestão ruinosa da empresa aérea de bandeira nacional, permeável ao assalto de comissários políticos e de incompetentes.

Em segundo lugar, a aquisição da totalidade da dívida da TACV pela Caixa Económica de Cabo Verde (ver aqui), uma operação financeira de risco decidida unilateralmente pelo presidente do banco, sem ouvir os seus pares da administração e em violação dos estatutos da Caixa. Uma operação, aliás, só possível pela promiscuidade clientelar que medra nas instituições públicas onde o Estado se confunde com o partido e vice-versa.

Um escândalo que envolve a atual líder da oposição, Janira Hopffer Almada, que, a pedido do seu camarada João Pereira Silva (Pereirona), fala com o seu amigo pessoal Emanuel Miranda, faz panelinha com a ministra das Finanças e arranja-se tudo, num conciliábulo de camaradas, amigos e compadres. Resta saber com que custos para a sustentabilidade da Caixa Económica.

Por último, a ameaça do Grupo Rio em não avançar com um novo investimento na Boa Vista (ver aqui), obstando à criação de cerca de 450 novos empregos diretos. Na origem estão “falta de garantias jurídicas” e incumprimento de contratos por parte do governo, para além de um grave atentado ao ambiente que é a requalificação do parque natural de Ponta Sinó, na ilha do Sal.

Três exemplos ilustrativos daquilo que é o ADN da governança em Cabo Verde!

É evidente que poderão surgir alguns (como, aliás, é costume) a imputar responsabilidade aos anos 90, e outros, mais “criativos”, a avançar com teorias da conspiração. Mas a verdade é esta: os factos aqui referidos não são invenção de jornalistas ou das oposições. E nem mesmo o parvo argumento do “somos todos caboverdianos”, serve para desresponsabilizar as pessoas concretas envolvidas nestes casos de má gestão, promiscuidade e falta de integridade e transparência.

(Cabo Verde Direto - Redação)

[8955] - A RAZÃO A QUEM A TEM...


[8954] - ATITUDES...


Um partido politico que arrecada 10% dos votos numa eleição presidencial, não se pode comportar como um gangue de marginais socialmente desajustados e sem expressão política... Há coisas em que a liberdade não se pode sobrepor ao senso comum e ao respeito pelas convicções alheias!

sábado, 27 de fevereiro de 2016

[8953] - NOVOS SONS...


Bau, natural da Ilha de São Vicente, Cabo Verde, começou a aprender a tocar cavaquinho logo aos sete anos de idade, a partir da sua vontade autodidata, ao ponto de construir os seus próprios instrumentos: o cavaquinho, violino e a guitarra de dez cordas. E foi a partir destes instrumentos e do aprofundamento do seu som que o músico foi construindo o seu universo musical - primeiro ligado às raízes de Cabo Verde e depois transgredindo todas as fronteiras da sua terra natal. (in Meo-Music).
E, assim, graças ao Miguel, meu neto, temos novas sonoridades no AcA, com este extraordinário artista que começa, com Toy, por apresentar "Cape Verdian Melancholy" e, a seguir e da colectânea Inspiração, os temas "Filosofia" e "Fruto Proíbido"...Esperamos que gostem!

[8952] - MARINHAGEM DE ÁGUA DOCE...

Notável foto que o Valdemar nos enviou hoje, certamente colhida no decorrer de uma das recepções que eram habituais nas escalas da chamada Barca Sagres... Neste conjunto de cerca de 50 pessoas há muita gente conhecida, como o Tuta Melo, a Bia Cohen, o patrão-mor do Porto, António Ribeiro e a esposa D. Maria dos Anjos e, por aí fora... Fica o desafio para os nossos visitantes identificarem o maior numero possível destes convivas expostos ao sol mindelense no zénite de um dia decerto memorável dos anos 60 (?)...

[8951] - EVOCAÇÃO ENVERGONHADA...


Há 130 anos, em 1885, terminava na Alemanha um encontro de líderes europeus que ficou conhecido como Conferência de Berlim. O objetivo era dividir África e definir arbitrariamente fronteiras, que existem até hoje.

Tinha cinco metros o mapa que dominou o encontro em Berlim, que teve lugar na Chancelaria do Reich. Mostrava o continente africano, com rios, lagos, nomes de alguns locais e muitas manchas brancas.
Quando a Conferência de Berlim chegou ao fim, a 26 de fevereiro de 1885, depois de mais de três meses de discussões, ainda havia grandes extensões de África onde nenhum europeu tinha posto os pés.
Representantes de 13 países da Europa, dos Estados Unidos da América e do Império Otomano deslocaram-se a Berlim a convite do chanceler alemão Otto von Bismarck para dividirem África entre si, "em conformidade com o direito internacional". Os africanos não foram convidados para a reunião.
À excepção da Etiópia e da Libéria, todos os Estados que hoje compõem África foram divididos entre as potências coloniais poucos anos após o encontro. Muitos historiadores, como Olyaemi Akinwumi, da Universidade Estatal de Nasarawa, na Nigéria, consideram que a Conferência de Berlim foi o fundamento de futuros conflitos internos em África.
"A divisão de África foi feita sem qualquer consideração pela história da sociedade, sem ter em conta as estruturas políticas, sociais e económicas existentes." Segundo Akinwumi, a Conferência de Berlim causou danos irreparáveis e alguns países sofrem até hoje com isso.
Novas fronteiras
Foram definidas novas fronteiras e muitas rotas de comércio desapareceram porque já não era permitido fazer negócios com pessoas fora da sua própria colónia.
Em muitos países, como foi o caso dos Camarões, os europeus desconsideraram completamente as comunidades locais e as suas necessidades, lembra o investigador alemão Michael Pesek, da Universidade de Erfurt.
  
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Conferência de Berlim: Partilha de África decidiu-se há 130 anos
"Os africanos aprenderam a viver com fronteiras que muitas vezes só existiam no papel. As fronteiras são importantes para a interpretação do panorama geopolítico de África, mas para as populações locais têm pouco significado", defende.
Na década de 1960, quando as colónias em África começaram a tornar-se independentes, os políticos africanos tiveram a oportunidade de rever os limites coloniais. No entanto, não o fizeram.
"Em 1960, grande parte dos políticos africanos disse: se fizermos isso, então vamos abrir a caixa de Pandora", explica Michael Pesek. "E provavelmente tinham razão. Se olharmos para todos os problemas que África teve nos últimos 80 anos, vemos que houve muitos conflitos internos, mas muito poucos entre Estados por causa de fronteiras."
Compensações pelo colonialismo
Em 2010, no 125º aniversário da Conferência de Berlim, representantes de muitos países africanos em Berlim exigiram compensações para reparar os danos do colonialismo. A divisão arbitrária do continente africano entre as potências europeias foi um crime contra a humanidade, disseram em comunicado.
Defendiam, por exemplo, o financiamento de monumentos em locais históricos, a devolução de terra e outros recursos roubados e a restituição de bens culturais.
Mas, até hoje, nada disso foi feito. O historiador Michael Pesek não se mostra surpreendido. "Fala-se muito em compensações por causa do comércio de escravos e do Holocausto. Mas pouco se fala dos crimes cometidos pelas potências coloniais europeias durante os anos que passaram em África."
O investigador nigeriano Olyaemi Akinwumi também não acredita que algum dia haverá qualquer tipo de indemnização...

in D.W. Made for Minds
Pesquisa de Valdemar Pereira

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

[8950] - INESQUECIVEL...


DEVO ADIANTAR QUE NÃO HÁ, QUE EU SAIBA, NENHUM MOTIVO ESPECIAL PARA A PUBLICAÇÃO, HOJE, DESTA BELA ESTAMPA DE NHÕ ROQUE, PARA ALÉM DA MUITA AMIZADE QUE LHE DEDIQUEI E DA IMENSA ADMIRAÇÃO QUE CONTINUO A POR ELE NUTRIR...
E, DEPOIS, ELE APARECE, AQUI, TAL COMO O RECORDO E SEMPRE RECORDAREI: EXPRESSÃO UM TANTO TRISTE, QUIÇÁ AUSENTE, A FRONTE ALTA E NOBRE, FEIÇÕES VINCADAS DENUNCIANDO A TENACIDADE DO SEU ESPÍRITO, O OLHAR BAIXO, ENSIMESMADO, FERVILHANDO DOS DRAMAS QUE A SUA MENTE TECIA E A SUA VERBE DERRAMAVA, EM HISTÓRIAS PLASMADAS NA REALIDADE DO POVO HERÓICO NA SUA SOFRIDA SOBREVIVÊNCIA DAS LUTAS PERMANENTES PELO PÃO E PELA DIGNIDADE...
O INESQUECÍVEL NHÔ ROQUE, UM REFERENCIAL PROEMINENTE NOS MEANDROS DA MINHA E DA FORMAÇÃO DE MUITOS JÓVENS QUE GOZARAM O PRIVILÉGIO DA SUA PALAVRA...
ATÉ UM DIA, QUERIDO MESTRE!


[8949] - CABO VERDE - ELEIÇÕES 2016...

"Moral" do “debate”: se o MpD não fizer, entretanto, disparates, e estiver atento aos jogos "por debaixo dos panos", em que o PAICV é especialista, vence as eleições de 20 de março. Sem sombra de dúvidas!


Do debate a cinco, na TCV, ficaram-me estas perceções:

1. Não registei qualquer ideia de João Alem ou de Amândio Barbosa Vicente, aquilo é o deserto, não há qualquer substância, aqueles partidos não servem rigorosamente para nada;

2. António Monteiro não acrescenta nada e perdeu uma oportunidade de ouro para afirmar a UCID como charneira da política caboverdiana. É limitado, não tem visão, parece estar ali apenas para garantir o seu próprio lugar de deputado;

3. Janira Hopffer Almada incorreu em vários "pecados mortais": revisitou os anos 90, cuja governação já foi avaliada em 2001. Focou-se no trabalho de Ulisses na Câmara da Praia, que é a grande mais-valia do líder do MpD e razão maior da simpatia popular que o rodeia. Tem um discurso vazio, construído em slogans e ideias gerais. Fugiu à pergunta sobre a nomeação do marido como administrador do INPS (perdendo uma oportunidade para se retratar junto dos caboverdianos). É arrogante e tem um tom de voz agressivo e irritante (próprio, aliás, de "meninas-do-papá" que olham o mundo por debaixo do seu nariz). Mostrou não ter condições para estar à frente de um clube de bairro, quanto mais do governo de Cabo Verde;

4. Ulisses Correia e Silva apresentou ideias, mostrou sobriedade e postura de estadista, deixou de ser candidato e comporta-se já como primeiro-ministro de Cabo Verde.

"Moral" do “debate”: se o MpD não fizer, entretanto, disparates, e estiver atento aos jogos "por debaixo dos panos", em que o PAICV é especialista, vence as eleições de 20 de março. Sem sombra de dúvidas!

Post Scriptum: Quando ao espetáculo chamado “debate”, organizado pela TCV e RCV, aquilo apenas merece nota zero e pouco mais. Nota zero para o formato, antítese de um debate e que queima qualquer possibilidade séria de discussão de ideias (quem inventou aquilo deve ser uma dessas sumidades saídas dos prémios de jornalismo do governo…); nota zero para a prestação da “melhor jornalista de Cabo Verde” (Rosana Almeida), que esteve reiteradamente medíocre, a trocar segundos por minutos e a ordem dos entrevistados; pouco mais a Júlio Vera-cruz Martins, que se não fora o atamancado programa e os deslizes da sua colega de palco, até teria brilhado.

António Alte Pinho | privado.apinho@gmail.com

[8948] - CURA RADICAL DO REUMATISMO...



ESTE VÍDEO DA REGISTA PARA CIMA DE
DOIS MILHÕES DE VISUALIZAÇÕES
NO YOU-TUBE...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

[8947] - A LINGUÍSTICA, ARMA POLÍTICA...

José Fortes Lopes

Pois é, em vez de se preocuparem com o ensino e o uso corrente da Língua Portuguesa, esta ferramenta de trabalho comum aos países e povos de língua portuguesa​, continua  a Agenda da Transformação Cultural. Como todos já sabemos que o verdadeiro objectivo da oficialização seria a morte da língua portuguesa e dos crioulos das outras ilhas em Cabo Verde​

O PAICV brinda-nos com mais este título de campanha eleitoral, talvez, destinado a algum eleitorado fundamentalista “”O governo quer mais celeridade na oficialização do crioulo””, convencido que vai-se oficializar uma versão eleita do crioulo e a morte programada das outras, como já se dá por consumado nos medias oficiais de Cabo Verde. Pois é, mal sai um problema pela porta, não é que trazem outro pela janela, pois aqui estão eles de volta com a atabalhoada Agenda da Transformação Cultural, a eterna questão do crioulo e da língua portuguesa.

Às vezes dá-me vontade de ser grosseiro com este regime e apetece-me perguntar: quando é que este governo do PAICV vai acabar com esta teimosia da Oficialização atabalhoada do Crioulo, ou nunca estaremos em repouso enquanto estiverem no poder!? A catadupa de indignidades a que vimos assistindo em pouco espaço de tempo leva-nos, assim a bradar até aos céus a nossa indignação.

Mas o que me parece que temos aqui com este anúncio, é mais propaganda política em vésperas de eleições para captar votos de gente humilde, pouco informada e esclarecida. Como vem acontecendo em muitas eleições,​  acena-se com uma questão identitária, a língua (que merece grande responsabilidade no estudo e tratamento político), usando demagogia e promessas de cariz duvidoso,​ por​ pouco exequíveis. Neste e noutros assuntos,​ as pontarias do regime e do PAICV têm sido certeiras. Tenta-se fazer crer à​s pessoas, como já ouvi a ​ alguns prosélitos desa​vergonhados declarar,​ que a Independência seria consumada com o arrear da bandeira da língua portuguesa e o hastear da ​do Crioulo. Obviamente,​ este engodo nacionalista visa a arraia miúda, vítima da poderosa máquina de propaganda e de desinformação do PAICV​, partido no poder. Esta Utopia cara ao que resta dos radicais do 25 de Abril, muitos hoje regendo áreas da  ​Cultura e das línguas, e do grupo Fundamentalista de Santiago, que nunca o próprio PAIGC/CV dos veteranos acharam por bem levar avante, foi incluída na agenda populista do actual primeiro ministro para ganhar o poder em 2001, torna-se um problema embaraçoso, cheio de quid-proquos e malentendidos.

Eu já me pronunciei várias vezes sobre esta problemática, no facebook, nos comentários em blogues e em extensos artigos de opinião. Esta agenda é demais radical e deve ser retirada da mão desta gente. ​P​or esta e outras razões,​ apelo a arredar o PAICV definitivamente do poder.​

Pois é, em vez de se preocuparem com o ensino e o uso corrente da Língua Portuguesa, esta ferramenta de trabalho comum aos países e povos de língua portuguesa​, continua  a Agenda da Transformação Cultural. Como todos já sabemos que o verdadeiro objectivo da oficialização seria a morte da língua portuguesa e dos crioulos das outras ilhas em Cabo Verde​,​  suplantada pela variante de Santiago​, ​sede do poder actual de onde  irradia nova cultura do Homem Novo, a que foi eleita pelos novos donos de ​C​abo Verde.

A oficialização​,​ como já todos vieram apercebendo-se​,​ consistirá em tornar obrigatório​ o uso exclusivo do crioulo em detrimento da língua portuguesa, já em desuso e maltratado em Cabo Verde,​  e a disseminação de uma  única variante entre as 9 faladas no arquipélago, o que é um acto violento e antidemocrático, contrário aos direitos do Homem.

Tende-se para o fim da diversidade linguística do Crioulo em Cabo Verde e o desaparecimento da língua portuguesa do horizonte linguístico. Trata-se​ de mais um acto derivado da ideologia centralista que domina o país: a hegemonia política já não é mais dissimulada. A padronização da dita ‘ língua materna’ é outro expediente pouco claro. Portanto,​  os regionalistas devem bater-se​ contra esta agenda e tentar reformular o debate sobre o futuro do Crioulo e da língua portuguesa em ​C​abo Verde.
(in Liberal)

Fevereiro de 2016




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

[8946] - NAS MARGENS DO DRAMA HUMANITÁRIO...


« Allemagne : 
Les migrants ont commis plus de
 208 000 actes criminels en 2015. »
« Des chiffres qui font froid dans le dos »…
(Pesquisa de Valdemar Pereira)

[8945] - FALTA VONTADE...

Nestes últimos dias tem feito eco  nos órgãos
de informação a ideia de trazer reformados da Europa para C. Verde para beneficiarem do bom clima, da boa convivência e dos prazeres do sol, das praias, montanhas e vales exóticos das diferentes ilhas.

 A ideia teria saltado para a comunicação social no acto de lançamento em Luxemburgo do fundo de investimento dirigido para empreendimentos turísticos em várias ilhas do Norte do país que contou com a presença do Primeiro-ministro José Maria Neves. Tomada como original e ter provavelmente maravilhado alguns pelo alcance e possível impacto, a ideia irá certamente correr o seu curso por vários circuitos e condimentar várias intervenções políticas. Aliás, já começou. Só se espera é que a “onda” não vá morrer na “praia” sem deixar marcas permanentes.
A ideia não é nem nova nem original. Este jornal, em vários editoriais e reportagens desde há mais de cinco anos, tem vindo a chamar a atenção para as vantagens de uma outra abordagem em relação ao turismo, associando imobiliária residencial e prestação de serviços de saúde virada para a terceira idade. No mesmo sentido tem-se pronunciado colunistas deste mesmo jornal em sucessivos artigos ao longo dos anos. Certamente muitos outros em outros fóruns também terão chamado a atenção para o obvio: Cabo Verde está a poucas horas da Europa e deveria poder oferecer a um continente rico com uma população a envelhecer e com custos crescentes de saúde uma alternativa de repouso, bem-estar e entretenimento em ambiente de segurança e de tranquila interacção cultural.
O problema com as ideias ou visões desta natureza é que em Cabo Verde não têm muito futuro. Podem até entusiasmar a princípio, aparecer em discursos de políticos ou em momentos de debate. Depois desaparecerem e não poucas vezes reaparecem, nem sempre recauchutados mas sempre com um ar de originalidade que só envaidece quem as proclama. Em vez do destino costumeiro que se dá a muitas ideias válidas, devia-se é explorá-las para ver até que ponto podem ser inovadoras, podem potenciar a criação de novos mercados e criar novos postos de trabalho. Os hábitos adquiridos com o modelo de desenvolvimento baseado na ajuda externa inibem outras posturas do Estado que não seja a de arrecador/distribuidor de recursos externos. Ideias e oportunidade passam sem que sejam agarradas por quem antes de acabar o último projecto já está a pensar no próximo e em quem vai sacar o financiamento necessário para isso. Não estranha que o país não avance significativamente mesmo com financiamento de muitos milhões ao longo dos anos. Muitos destes investimentos são exercícios fechados em si próprios sem resultados comensuráveis e sustentáveis e são concebidos normalmente sem grande preocupação com os resultados.
As pessoas não parecem preocupar-se realmente com facto de, depois de centenas de milhões de dólares gastas em infraestruturas, o desemprego continuar tão elevado. Nem tão pouco parecem estar desconfortáveis com o facto de, depois dos grandes investimentos públicos terem sido feitos o país caiu para níveis de crescimento demasiado baixos com um sector privado em colapso e um sector laboral frustrado com o desemprego existente. Ideias para sair desta situação pululam por aí mas não há acção consequente. Diz-se que se está a apostar no turismo mas não se vê a vontade forte para reinar sobre a insegurança, regular o mercado de oferta de serviços, resolver o problema da habitação, de saneamento básico e dos cuidados de saúde nem de formar trabalhadores e criar uma cultura de serviço a nível das exigências do mundo. Fala-se em clusters do ar e do mar e ainda em praças financeiras e não se descortina o esforço necessário para fazer de Cabo Verde um país realmente competitivo e com um bom ambiente de negócios. 
A atitude perante dois programas americanos distintos, o MCA e AGOA, deixa transparecer o que está por detrás desta aparente contradição entre o pensar e o fazer. O MCA é um programa de ajuda directa e é adorado pelas autoridades cabo-verdianas. AGOA é um programa de ajuda indirecta, “Aid for trade” pela via de acesso preferencial ao mercado americano; vem desde o ano 2000 e é basicamente ignorado. Mas no Lesotho até 2014 esteve na origem de mais de 35 mil novos postos de trabalho. O governo cabo-verdiano faz o discurso convencional de se comprometer com o programa de incentivar o sector privado e promover as exportações mas na prática parece preferir o modelo de ajuda que mais confortavelmente lhe assiste nos seus desígnios de poder.
Concluindo, pode-se afirmar que ideias e visões de desenvolvimento não faltam. Toda a gente sabe o que há a fazer. O que falta é a vontade de mudar as coisas.
(Expresso das Ilhas - Editorial)  

[8944] - GOLPE PALACIANO?!


O presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves, foi constituído arguido pela Polícia Judiciária (PJ) esta segunda-feira, 22, na sequência de uma audição em que o autarca fora convocado na qualidade de testemunha.

N.E. - Por inoportuna concidência, há eleições à porta o que, de resto, até pode não ter nada a ver com o assunto...Ou talvez possa!






[8943] - HARAKIRI LINGUÍSTICO...


OFICIALIZAÇÃO DO ALUPEC...

O governo quer mais celeridade na oficialização do crioulo defendeu a directora nacional da Educação, Margarida Santos que falava a imprensa  sobre as recomendações saídas do atelier de reflexão sobre a educação bilingue em Cabo Verde, que decorreu durante dois dias, na Cidade da Praia. Avançou que  já existem condições para se avançar com a oficialização, pois no que respeita a material didáctico, o cenário é de “digitalização dos materiais” que sirva em contextos diferentes.

Sobre o atelier considera que“Ficaram recomendações no sentido de continuarmos, pois, estamos a fazer um trabalho que dá pistas e que servem para tomada de decisões do colectivo governamental, já que a principal questão é a oficialização e padronização da língua materna”.

Ainda segundo a directora nacional da Educação, as contribuições deixadas permitiram não só reflexões em termos pedagógicos, como também sobre as melhores metodologias e estratégias para o processo de ensino e aprendizagem as duas línguas.

Fonte: Inforpress

[8942] - A BANHEIRA...


Hoje, dei comigo a vasculhar as páginas do Google em busca de um automóvel semelhante ao que, em 1951, tirei a minha carta de condução, em S.Vicente... E, sorte a minha, encontrei um, igualzinho, à excepção do volante, que era à esquerda e a cor, que era verde garrafa...
Era um carro do tipo "banheira" com capota de lona e comando do travão de mão exterior, da marca Opel e que meu pai havia comprado um ano antes, não me recordo a quem...
O meu instrutor, foi o amigo Ferreira, sargento-mecânico do exército que, sendo um pouco duro de ouvido, era conhecido por "surdão"...Mas não era por mal...
Ainda me recordo que era um veículo difícil de conduzir, de direcção pesada (aínda não havia direcção assistida), suspensão dura (ainda não havia amortecedores a óleo) e, sobretudo, com um motor nada fácil de arrancar, de manivela, pois o motor de arranque ainda estaria em estudo...Creio que não andava a mais de 70 km/hora mas o meu pai afirmava que a mecânica era excelente, no que tinha a concordância de mestre Cunque, que também era adepto da Opel...
Enfim, já lá vão 65 anos mas, como dos velhos amigos, nunca me esqueci da velha "banheira" da Opel!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

[8941] - O PASSADO REDUZIDO A CACOS...

VERGONHA NACIONAL!
Foto Silva António
ESTE É O ASPECTO ACTUAL DO QUE FOI O CONSULADO INGLÊS EM S. VICENTE,
UM COMPLEXO DATADO DE CERCA DE 1880 E QUE DEVERIA GOZAR DO ESTATUTO DE PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO HISTÓRICO E MANTIDO COM A DIGNIDADE QUE TAL CONDIÇÃO CONFERE... AO INVÉS, TUDO PARECE INDICAR
QUE O SEU DESTINO ESTÁ TRAÇADO E, NÃO TARDA, SERÃO OS CACOS APEADOS E O TERRENO OCUPADO POR UM QUALQUER MAMARRACHO TANTO AO GOSTO DAS SOCIEDADES HODIERNAS... DEIXAMOS, ABAIXO UMA VISÃO DE COMO ERA POR ALTURAS DA SUA CONSTRUÇÃO, ESTE EXEMPLAR DA ARQUITECTURA COLONIAL BRITÂNICA DA ALTURA...





[8940] - MUDAR DE VIA OU DESCARRILAR...

  NECESSIDADE
DE
REFORMAS

Quem conserva o hábito da leitura, não se contentando somente com a leveza, excesso de imagens ou de informações da televisão e internet difíceis de digestão serena, surpreende-se agradavelmente, bastas vezes, com o que lhe transmitem os livros. Isto vem a propósito da intervenção do amigo Dr. Manuel Varela Neves aquando do lançamento do meu livro Escutai as Vozes do Bom Senso na Associação dos Antigos Alunos Liceais de Cabo Verde sobre a fraqueza das nossas instituições públicas e da necessidade da sua renovação e restruturação. O amigo, que conhece os meus escritos, sabe que me detenho nelas, parcelarmente, embora sem aprofundar muito o golpe crítico, sempre na expectativa de que políticos profissionais e intelectuais de gabarito mais elevado e mais ouvidos se debrucem sobre a matéria com desassombro, o que raramente tem acontecido, exceptuando as intervenções de um Casimiro de Pina, Humberto Cardoso, Felisberto Vieira Lopes, José Fortes Lopes, Luiz Silva e Frei Fidalgo Barros, sem que os visados e instituições criticados se dêem por achados quando se assinala que o rei vai nu, só de tanga transparente, ou de topless e fio dental, tratando-se de rainha.
Como sei ler, embora não tenha frequentado a “escola da Dona Gegê mestra na tchon de Soncente”, vou lendo e anotando os assuntos que mais interessam à nossa terra, que venho partilhando com os leitores. Irei, hoje, colher algumas pepitas das obras de Tony Judt, John Maynard Keynes, Karl Popper, Adam Smith e Dominique Strauss- Kahn que possam interessar a quem aprecia ler e visitar cérebros privilegiados.
O nosso país necessita de mais pessoas que façam da oposição à opinião governamental convencional uma virtude, dado que uma democracia de consenso permanente não continuará a ser democracia por muito tempo. Um círculo fechado de opiniões ou de ideias como o do PAICV – limito-me a este partido por estar a governar - onde nunca é atendido o descontentamento ou a oposição – ou que só são permitidos dentro de limites circunscritos – perde a sua capacidade de responder com energia ou imaginação aos desafios novos que se põem.
Olhemos para as nossas instituições, já caducas: Parlamento pletórico de deputados abúlicos que encomenda a feitura de leis a escritórios de advogados, num país com prioridades importantes e problemas graves por resolver; Presidência com pouco poder de intervenção (semi presidencialismo não obriga…, parecendo ser presidencialista o Primeiro-Ministro); Eleições com alto nível de abstenção, por vezes fraudulentas (compra de votos) em que a escolha é dos partidos e não dos eleitores, Justiça lenta e cara, Governo com excesso de ministérios e secretarias de Estado; pseudo Universidades privadas mercantilistas a formarem licenciados para o desemprego e com cursos cujas profissões nem existem em Cabo Verde; Sistema Nacional de Saúde com excesso de clínicos gerais e carência de especialistas, em que os técnicos são mal remunerados e não se valorizam os sacrifícios e riscos que a profissão implica, o que tem contribuído para piorar a qualidade de prestação de serviço e a menosprezar a deontologia; inexistência de segurança nas grandes cidades, sobretudo na capital, visto a polícia ter sido retirada das ruas e desautorizada, quanto antes tinha autoridade, prevalecendo o medo de estranhos, de bandidos violentos, o que está corroendo a confiança e interdependência em que assentam as sociedades civis. Qualquer reforma, nos diz Varela Neves, deve começar por aí, mas quando alguém alvitra isso, cai-lhe o Fortim del Rei e o Monte Tchota por riba. Precisamos de menos leis, por as haver feitas por juristas com a displicência de quem enche chouriços, necessidade de revogação das que nunca se regulamentaram ou não se aplicaram, regime eleitoral diferente que motive a participação de eleitores. Temos de descobrir maneira de tornar os funcionários públicos eleitos e não eleitos sensíveis e responsáveis perante os eleitores e o povo em geral.
Tornou-se um lugar-comum declarar que queremos todos o mesmo, que temos somente formas diferentes de o conseguir, o que é inteiramente falso. Os ricos não querem o mesmo que os pobres, os que dependem do seu emprego para viver não querem o mesmo que os que vivem de investimentos, dividendos e da corrupção. Foi Adam Smith que escreveu que “decerto nenhuma sociedade pode ser feliz quando a grande maioria dos seus membros é pobre e miserável”.
Na medida em que falamos de aliviar males sociais, supomos suficiente o crescimento económico: a disseminação da prosperidade e privilégios iria fluir naturalmente de um aumento do bolo. Infelizmente todos os indícios sugerem o contrário; numa época de fartura, o crescimento económico costuma privilegiar uma minoria enquanto acentua o desfavorecimento relativo da maioria. A China e a Índia, embora tenham retirado milhões da miséria, ainda são exemplos deste facto, a disparidade entre os imensamente ricos e os miseráveis, e em menor grau os EUA.
Iniciámos a nossa independência inspirados em ideais da social-democracia do Norte da Europa com forte inclinação socialista e certo pendor para o comunismo na repressão política, em regime de partido único, em moda na época em África, e conseguimos grandes vitórias com a criação de um Estado-providência, a valorização do social, alguma prosperidade, serviços sociais, e restaurámos o orgulho e a auto estima dos nacionais. De resto, a diferença entre socialismo e social-democracia é esta aceitar o capitalismo açaimado dotado de uma boa componente social que cuide dos interesses negligenciados de grandes sectores da população. A confiança, a boa gestão, a inexistência de corrupção, a cooperação e solidariedade internacionais, esta, sobretudo dos EUA, Portugal, países europeus, Cuba e China, e o Estado intervencionista legaram à nossa sociedade confiança, segurança relativa (esta empanada pela repressão política que não admitia fuga ao pensamento único partidário e monolítico) enxertados numa base sui generis criada durante o tempo colonial de identidade nacional graças à educação propiciada pela Igreja (constatada pelo Padre António Vieira ao passar por Cabo Verde) no início da nossa existência, mais tarde no famoso Seminário-liceu de S. Nicolau, à emigração inicial para os EUA, e, mais tarde, pelo ensino oficial primário e liceal e valorização do Porto Grande de S. Vicente pelos Ingleses.
No início da independência suportámos bem os enormes sacrifícios e carências que eram enormes por não haver grande disparidade de situação económica entre as pessoas. Já na fase final da primeira república, começou-se a notar o aparecimento de alguns privilegiados, e, mais tarde, com o neoliberalismo desregulado, essa disparidade acentuou-se. O que realmente conta e estimula as pessoas não é a riqueza do país, mas a desigualdade da sua distribuição. Veja-se, por exemplo, o escândalo da diferença entre o salário médio do funcionário público e o número de desempregados e o vencimento obsceno de alguns presidentes de administração de empresas públicas, assessores e conselheiros ministeriais.
Algum tempo depois do tombo do PAICV começámos a ouvir dizer que o preço dessas vitórias foi desmedido, o que não é inteiramente verdade, porque se preveniu que a riqueza e os bens criados não fossem parar às mãos de uns poucos privilegiados. O PAIGC/CV estava esgotado na sua política e já se percebia nitidamente que a continuação dos sacrifícios era desumana e impossível de se manter por mais tempo, havendo necessidade de novo rumo, de outra política menos restritiva, mais aberta a outros credos que somente o multipartidarismo poderia proporcionar. A situação modificou-se com a queda do comunismo em 1989, o que levou à condenação do partido único e defesa do multipartidarismo. O PAICV viu-se obrigado a fazer a abertura do regime, a admitir o multipartidarismo e a organizar eleições livres, que perdeu a favor do MpD, movimento nascido do seu seio. Algo que contribuiu negativamente para o PAICV foi os governantes se terem tornado, com o exercício do poder não partilhado, cada vez mais arrogantes, insensíveis e intratáveis, alvorando-se nos únicos, verdadeiros e legítimos filhos da nação, e nós-outros, filhos bastardos e enteados.
A partir daí avançou o capitalismo liberal que nos levaria para a paz (que sempre tivemos), democracia e mercado livre. A experiência não foi feliz, como já explicámos noutro texto, e vinte anos depois, não obstante o PAICV ter retomado as rédeas do Estado ao fim de dez anos de travessia do deserto, parece não ter aprendido muito nessa travessia, achando-se mal em novas vestes (apertadas) que teve de usar nessa viragem para o neoliberalismo, renitente em atender às críticas e sugestões dos que não pertencem ao rebanho e soltam balidos dissonantes.
Liberdade é liberdade, mas se conduzir à desigualdade, à pobreza e ao cinismo, é bom que afirmemos isso com força e tudo fazer para desalapar os predadores das suas presas. A divergência e dissidência são maioritariamente trabalho de jovens. Não é por acaso que os homens e mulheres que iniciaram a Revolução Francesa, bem como os reformadores do New Deal, os revolucionários cubanos, das lutas de libertação e da Europa pós-guerra, eram bastante mais novos que os seus antecessores. Também é mais provável que eles cedam mais do que os mais velhos à tentação política dada a degradação dos políticos da nossa época, o que não deveria levá-los a resignar-se ou a desistir, porque se o fizerem, estarão assim a abandonar a sua sociedade aos governantes mais medíocres e venais. Obviamente, que o ideal é a dissensão se manter dentro da lei e buscar os seus objectivos através de canais políticos.
O que o Estado deve fazer a fim de que os homens e mulheres usufruam de vidas decentes? Aí está o busílis, de que já tratei algumas vezes, mas interesses outros do que os dos cidadãos que vivem do seu trabalho e salário, vêm criando obstáculos. Presumo que o capitalismo selvagem e o neoliberalismo – os que nos vêm governando – que dispensam a regulação e defendem o Estado mínimo, demonstraram ser incapazes, a não ser para criar mais disparidade entre poucos imensamente ricos e a maioria pobre onde predomina a doença, o crime, alcoolismo, violência e doença mental. O sucesso da social-democracia do pós-guerra na Europa residiu no equilíbrio entre a produção e a redistribuição reguladas pelo Estado. Com a globalização, esse equilíbrio quebrou-se. O capital tornou-se móvel: a produção transferiu-se além-fronteiras e, portanto, fugiu da competência da redistribuição estatal. Dizia Karl Popper, em oposição ao compatriota F. Hayek, que um mercado livre é paradoxal. Se o Estado não interfere, então outras organizações semipolíticas, como monopólios, cartéis, sindicatos, etc., podem interferir, reduzindo a liberdade do mercado a uma ficção. Não admira, pois, que renasça agora a tendência proteccionista, o apelo anti-imigração (é só ver o que se passa na Europa Ocidental com os refugiados), construção de muros, instalação de redes de arame farpado e outras barreiras para evitar a entrada de “bárbaros” do Sul, isto é, dos que fogem da guerra e de regimes ditatoriais tolerados e alimentados longamente pelo Ocidente.
O fracasso do mercado livre sem regulação estatal pode ser catastrófico – como foi recentemente, em 2008, em que os que exigiam Estado mínimo e ausência de regulação, tiveram de recorrer ao Estado para não falirem. Politicamente o sucesso do mercado é igualmente perigoso. A função do Estado não é só apanhar os cacos quando uma economia não regulada rebenta. É também conter os efeitos do lucro excessivo que é mal distribuído, o que nos convence da necessidade e urgência de reformas das instituições, regulação estatal rigorosa e primazia do poder político sobre o económico. A escolha já não será entre o Estado e o Mercado, mas entre dois tipos de Estado. Cabe-nos, portanto, imaginar o papel do governo.

Parede, Fevereiro de 2016
Arsénio Fermino de Pina                                                 
Pediatra e sócio honorário da Adeco

N.E. - O título do "post" é da responsabilidade do editor.
                                                                                        

[8939] - CONTOS SINGELOS - {6}

Rua Direita - Nova Sintra - Brava - Cabo Verde
Contos Singelos
Guilherme da Cunha Dantas

“SCENAS DA ILHA BRAVA”
Segunda parte
JÚLIA
_________
Vinte anos depois...
De então para cá importantes mudanças tiveram lugar na vida do nosso herói, as quais cumpre-nos não esquecer.
Guiado n bom caminho pela solicitude paternal do João Gay, seu tutor e amigo, José Pedro tornou-se um mancebo varonil de esmerada educação.
 Saindo da escola aos quinze anos, entendeu que não devia esbanjar no ócio e em falsos deleites as imensas riquezas que de seu pai herdara, nem votar ao ostracismo os importantes conhecimentos que adquirira, as noções de honra, trabalho e caridade que recebera de seu pai, seu mestre e seu tutor.
Bem abonado pelo seu comportamento exemplar atestado pelas principais pessoas da terra que sabiam apreciar os dotes raros do mancebo, José Pedro alcançou um lugar de escrevente nas repartições da Alfandega da Ilha Brava. E como árvore também cultivada devia dar bons frutos, aos vinte anos era ele um distinto amanuense, honrado de seus superiores que lhe tributavam grande deferência, estimado e respeitado dos seus iguais e inferiores.
Então resolveu o mancebo dar o primeiro passo para a realização do mais ardente voto da sua vida.
Dotado de uma alma terna e sensível, acessível a todos os bons sentimentos, José Pedro amava. Amava com paixão sincera e pura dos vinte anos, do primeiro amor.
Chamava-se Elvira o objecto dos seus castos amores. O pai da donzela era o superior do moço amanuense, o director da Alfandega.
Feitos um para o outro, o pai de Elvira entendeu que devia unir estes dois corações pelos sagrados laços do himineu. E três semanas depois pedida a seu chefe a mão de sua filha, José Pedro, conduzia sua noiva aos pés do altar, e com o coração transbordando do mais inefável jubilo e amor, jurava fazer a felicidade daquela a quem estremecia mais do que à própria vida.
Desta sagrada união resultou um fruto, o complemento da felicidade dos dois esposos. José Pedro foi pai de uma encantadora menina, a qual quis que se chamasse Júlia, em memória de sua sempre chorada mãe.
Neste meio tempo teve José Pedro a desdita de perder o seu pai, João Gay.
JÚLIA - Como era bela aos quinze anos a filha de José Pedro! 
Seu belo rosto levemente moreno, dum aveludado igual ao do pêssego, era emoldurado por uns cabelos pretos, compridos e acetinados, que se lhe espalhavam pelas costas, de contorno admirável, em tranças opulentas e lustrosas como azeviche. Seu corpo donairoso, alto e flexível como a palmeira, parecia não se poder suster sobre uns pezinhos encantadores escondidos nuns sapatinhos de criança. E seus olhos negros e rasgados, de uma expressão indefinível que assombreados por bem desenhadas pestanas, lançavam às vezes daqueles reflexos que são o espelho da alma e a sua voz, que falam mudez, e parecem dizer ao imprudente que se atreve a fitá-los, a palavra mágica – amor! 
Mas o amor ainda não fizera palpitar aquele juvenil coração. – Quantos corações porém não palpitavam já por ela, tímidos e receosos?
Entre os mancebos, alguns dos quais bem distintos, que requestavam a formosa filha de José Pedro, fazia-se notar um certo prodigo libertino, temido e odiado de todos, mas procurado e respeitado pelo ouro.
Este ouro e encantos naturais da sua pessoa haviam feito decair muitos anjos, correr muitas lágrimas. 
José Pedro, que não ignorava os precedentes do mancebo, de quem até se contavam crimes inauditos, vigiava a filha com a solicitude com que um bom pastor guarda a ovelhinha querida que teme ver cair nas garras de lobo voraz. 
A casa de Ricardo Galvão era contígua à de José Pedro na mencionada povoação de “Santa Ana”.
Apesar desta circunstância, e das arrojadas pertinácias do mancebo nas poucas ocasiões em que via Júlia, jamais lhe pudera surpreender uma palavra, um olhar, um gesto sequer.
Todavia, as dificuldades, e resistências não fizeram maias do que irritar a sensibilidade pouco delicada do mancebo; e o sentimento inteiramente sensual que dantes experimentara pela filha do José Pedro. Foi- se convertendo pouco a pouco em amor – se este sentimento casto e puro pode penetrar num coração corrompido pelo vício das paixões. O amor que o libertino Galvão experimentava pela angélica Júlia era  um amor profano, por assim dizer, desesperado, furioso, insensato.
Pedido em casamento – Estavam as coisas neste ponto, quando certo dia anunciaram a José Pedro a visita do seu vizinho Ricardo Galvão.
O honrado pai de Júlia não deixou de estremecer pensando no que motivara aquela visita inesperada e fora de comum nos hábitos de seu vizinho.
Disse que o introduzissem na sala, onde logo o foi receber.

In: Voz de Cabo Verde 1912                                                                       Continua...
(Pesquisa de A. Mendes)



   
  

[8938] - O BALOIÇO JAPONÊS...


COMENTÁRIO DO ASTERIX:
"ILS SON FOUS, CES ROMAINS...PARDON, JAPONAIS!"

domingo, 21 de fevereiro de 2016

[8936] - DESUMANIDADES...

[1915] Desumanidade para com cabo-verdianos deportados
de Portugal para Cabo Verde...

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"PRAIA-DE- BOTE"