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sexta-feira, 29 de abril de 2016

[9174] - AS ORIGENS DO MAL...



DO FAMIGERADO “ESTADO ISLÂMICO” 

Volto ao assunto do extremismo islâmico, por ser de actualidade, com algumas achegas, de modo a facilitar a compreensão da tragédia. Apoio-me, sobretudo, em dois livros, “O Crescente e a Cruz”, de Jaime Nogueira Pinto, e “O Novo Estado Islâmico”, de Patrick Cockburn, do jornal Indepent, considerado o melhor jornalista em serviço no Iraque, e no artigo Penser le jihadisme, de Fouad Laroui, na revista La Revue. Interessa-me apontar os responsáveis pela criação e entretenimento dos movimentos jihadistas e do Estado Islâmico (EI) ou Daech e a desmistificação da maioria das ideias vendidas no Ocidente pelos media atribuindo as culpas a Assad, Kadafi e ao Irão. Não pretendo apontar a solução para o problema mas tão-somente assinalar a via que poderá levar os contendores a entenderem-se, a deixarem de se guerrear e a unir esforços contra o EI, o que redundaria em benefício deles e da humanidade em geral.
A animosidade árabe e muçulmana contra o Ocidente, sobretudo contra os EUA, vem de longe, mas exacerbou-se a partir de 1948 com a criação do Estado de Israel na Palestina. O território, ocupado pelos palestinos, deveria ser repartido por Israel, e a Palestina – dois Estados - ao que se opuseram os palestinos por o considerarem terra deles. Daí nasceu a Organização da Libertação da Palestina (OLP) dirigida por Arafat, que acreditava ser capaz de “atirar os judeus ao mar”. Longa luta com violência de parte a parte, ocupação de mais território por parte de Israel, que foi vencendo as guerras, havendo tentativas diversas, sem sucesso, no sentido de um entendimento, que só teve possibilidade de solução depois de a OLP ter reconhecido o direito de existência de Israel como Estado, ao lado deles, noutro Estado, o da Palestina. Esta solução esteve em vias de se realizar, com o apoio dos EUA, no tempo do Primeiro-Ministro I. Rabin, mas gorou-se com o assassinado deste por um extremista judeu, visto os seus sucessores, ultraconservadores, terem feito marcha atrás.
A aceitação, em 1949, de Israel como membro da ONU, foi condicionada à criação do Estado da Palestina e o regresso dos palestinos que foram forçados a abandonar as suas casas durante a guerra de 1948, o que nunca se concretizou, dado que os EUA apoiaram sempre Israel com o seu veto no Conselho de Segurança todas as vezes em que as deliberações da ONU lhes eram desfavoráveis, além de apoio maciço em dinheiro e material bélico. Tudo isso funcionou como espinha irritativa para os árabes e muçulmanos contra os EUA e o Ocidente. Obviamente, que enquanto Israel contar com o apoio incondicional dos EUA contra as deliberações da ONU – o que se poderia justificar durante o tempo em que a OLP não reconhecia a existência de Israel como Estado, mas não depois - a questão palestiniana permanecerá, bem como a animosidade dos árabes e muçulmanos contra o Ocidente e os EUA. A criação do Estado da Palestina, advogada por todo o mundo menos os EUA e um ou outro Estado que toma bençon nos EUA, criaria um ambiente de paz e até de colaboração entre Israel, o Estado da Palestina e outros Estados vizinhos com benefícios mútuos, com abandono da política suicidária da direita israelita.
A atracção exercida sobre alguns jovens do Ocidente pela jihad é consequência das suas precárias condições de vida em bairros degradados das grandes cidades, sem perspectivas futuras e sem emprego, o que os leva, primeiro, à radicalização, e depois, à conversão. São rebeldes, portanto facilmente influenciáveis, à procura de uma causa radical, não importa qual, e de um ou outro psicopata para as degolações.
A Síria foi sempre governada por ditador; ao pai sucedeu o filho Assad, mas a sua população vivia relativamente bem, num Estado laico de minoria alauita, havendo igualdade de direitos entre homens e mulheres. Condenando-se o regime sírio por ser uma ditadura, com maiores razões se condena a Arábia Saudita, uma teocracia governada por uma família (Saoud, que deu o nome ao país), sem constituição, a qual é substituída pela Sharia, pelos aspectos mais primitivos e desumanos do Alcorão (em comparação poderíamos dizer que funciona como se um Estado cristão se governasse pelo Levítico a substituir constituições), do mesmo modo que se condenaria o Bahrein, os EAU e outros emiratos do Golfo Pérsico. Na Síria, as várias religiões e seitas viviam em paz, o que não acontece na Arábia Saudita e outras dinastias e Estados islâmicos, onde as mulheres são autênticas escravas dos homens; na Líbia, um dos primeiros actos dos “libertadores e lutadores pela democracia”, após a queda de Kadafi provocada pela intervenção do Ocidente, foi a exigência da legalização da poligamia, banida durante a ditadura de Kadafi. Tal como sucede com o Boko Haram, na Nigéria, os militantes islâmicos que lutam no Iraque e na Síria, não vêm nenhum impedimento religioso na escravização de mulheres como despojos de guerra.
Com a chamada Primavera Árabe, iniciada na Tunísia com o derrube do seu ditador, pensou-se ser fácil derrubar também Assad na Síria, até por haver um grande mal-estar no país após reacção violenta do regime contra os contestatários em consequência de quatro anos de seca que levaram grande parte da população rural a fugir da miséria para a periferia das cidades. Daí nasceu a ideia de apoiar os revoltosos contra o regime de Assad com apoio maciço do Ocidente, da Arábia Saudita, Turquia e outros países muçulmanos, à semelhança do que se passou na Líbia, com o fim de levar a democracia ao povo sírio. Com esse apoio, essencialmente de países sunitas e de seitas do sunismo, criou-se um ambiente de guerra civil, desestabilizando-se o país, mas sem conseguir derrubar o regime de Assad que passou a ter o apoio da Rússia, Irão e Hezbollah.
O nascimento do EI foi a mudança mais radical na geografia do Médio Oriente desde a implementação dos Acordos Sykes-Picot que redesenharam as fronteiras do Médio Oriente, e as promessas feitas aos árabes pelos ingleses durante a Primeira Guerra Mundial foram traídas. Enquanto o EI se torna a força principal de oposição na Síria, o Ocidente e os seus aliados regionais convenceram-se de que a segunda força militar mais poderosa na Síria era o EI e, se derrubassem Assad, essa força ocuparia o vazio. A partir daí, quando os ataques aéreos começaram contra o EI, os americanos informavam o regime de Assad e não os chamados rebeldes “moderados”, por já não confiarem nestes, ao terem constatado que os membros do EI ficavam contentes quando eram enviadas armas sofisticadas aos rebeldes que combatem Assad, porque poderiam sempre obter esse equipamento através de ameaças de violência, de pagamento em dinheiro ou livremente quando os “moderados” ingressavam no EI. Este só controla uma capital das catorze da Síria sob o controlo do regime de Bashar Assad.
O EI é liderado desde 2010 por al-Baghdadi, mais violento do que qualquer dos líderes terroristas de outras facções de al-Qaeda sediadas no Paquistão. As suas victórias militares devem-se também à participação de militares do exército de Saddam, exército desmantelado estupidamente por ordem de Bush e que passou a dar o seu contributo à luta contra os EUA ao lado do EI. As suas victórias fulgurantes em Trikit, Mossoul e noutras cidades deveram-se igualmente ao facto das populações dessas cidades terem colaborado por julgarem tratar-se de um movimento de libertação. Interessante é esse energúmeno, que se auto intitula de califa, ter tido uma educação esmerada com um diploma em Estudos Islâmicos, incluindo poesia, história e genealogia da Universidade de Bagdade. Este figurante faz-nos recordar os líderes dos Khmers Vermelhos, no Camboja, esses facínoras que, para aterrorizarem os adversários, mataram ou mandaram matar milhões dos seus conterrâneos, tendo, muitos deles tido uma formação superior no país (França) da liberdade, igualdade e fraternidade. Como entender a desumanidade e a tragédia na zona do Globo (Oriente Fértil) onde nasceu a civilização Ocidental, há cerca de dez mil anos antes da Era Cristã?!!
A ascensão rápida do EI foi grandemente auxiliada pelo levantamento dos sunitas na Síria em 2011, que encorajou os seis milhões de sunitas do Iraque a revoltarem-se contra a marginalização política e económica a que foram sujeitos desde a queda de Saddam e o estabelecimento do regime liderado pelo Primeiro-ministro al-Maliki, regime dominado pela corrupção.
O Wahhabismo (que deveria chamar-se abismo de contradições) é uma religião fundamentalista do Islão do século XVIII, e impõe a Sharia. Relega as mulheres para a condição de cidadãos de segunda classe e considera os sunitas (donde deriva) e os xiitas como não muçulmanos, e persegue os judeus e cristãos. A ideologia do EI é grandemente inspirada no wahhabismo, mas actualmente a monarquia saudita está receosa do Ei, dado que, embora professando a mesma fé, o seu líder defende o derrube dessa monarquia. É de se dizer que a Arábia Saudita está com medo do monstro Frankenstein que criou, embora seja tarde para esse rebate de consciência. O Príncipe bin Sultan, antigo embaixador da Arábia Saudita nos EUA e director dos Serviços Secretos saudita de 2012 a 2014, fez tudo o que podia para apoiar a oposição jihadista até ao seu afastamento. John Kerry também criticou, embora em privado, o Príncipe bin Sultan acusando-o de ter orquestrado toda a campanha de deposição do governo de Assad. O mesmo se passou com a Turquia, ao manter aberta a sua fronteira de 900 km com a Síria para os combatentes do EI, facilitando o seu abastecimento e escoamento do petróleo roubado na Síria e Iraque.
Vejamos algumas declarações de governantes americanos relativamente a esse imbróglio da crise síria e criação do EI.
Em 2009, numa mensagem revelada pelo Wiki Leaks, a secretária de Estado, HIllary Clinton, queixava-se de que o principal financiamento dos grupos terroristas sunitas em todo o mundo provinha das redes da Arábia Saudita.
O vice-presidente americano, Joe Biden, disse no Forum John Kennedy Jr. que a Arábia Saudita, a Turquia e os Emiratos Árabes Unidos estavam muito determinados em derrubar Assad, e, basicamente, em participar indirectamente numa guerra entre sunitas e xiitas. Canalizam milhões de dólares e toneladas de material bélico para quem estivesse disposto a lutar contra Assad. Ainda acrescentou que, na Síria, os EUA tinham descoberto “não haver combatentes moderados porque os moderados eram comerciantes e não soldados”.
Um estudo do Parlamento Europeu, datado de 2013, intitulado “O movimento do Salafismo/wahhabismo no apoio e fornecimento de armas a grupos rebeldes em todo o mundo”, dizia: “A Arábia Saudita tem sido uma das principais fontes de financiamento das organizações rebeldes e terroristas desde a década de oitenta”. As autoridades americanas sabiam disso, mas nunca tomaram nenhuma medida contra a Arábia Saudita.
Outro progenitor de al-Qaeda, dos talibãs e movimentos jihiadistas foi o Paquistão, por intermédio dos seus serviços secretos militares e de informação. “A guerra contra o terrorismo” falhou, depois de se ter gastado biliões de dólares por ter errado o alvo, a Arábia Saudita, o Paquistão, os emiratos árabes. E isso aconteceu e continua a acontecer por os EUA não quererem ofender dois países que são aliados importantes, muito próximos do Pentágono, grandes compradores de armas e bases militares americanas. Além disso, a Arábia Saudita e seus satélites, acordaram com os EUA só aceitar dólares na venda do seu petróleo, que os outros produtores de petróleo respeitam.
Da entrevista recente na RTP dos ex-primeiros-ministros Guterres e Durão Barroso podemos reter, no que interessa para este artigo, que a melhor via de solução para a questão síria é uma trégua entre o governo sírio de Assad e os chamados “rebeldes moderados”, o que permitiria aos dois lados aplicarem os seus recursos no combate ao EI e reduziriam os ódios e receios comunitários que lhe dão origem. Em boa verdade, a chamada “coligação de esforços” incluindo países como a Arábia Saudita e outros Estados que professam a mesma religião (sunitas e suas seitas) não deseja fazer qualquer esforço para enfrentar o EI, enquanto os excluídos, como o exército sírio, o Irão (xiita), os curdos do PKK (organização considerada terrorista pela Arábia Saudita e EUA) e o Hezbollah (também considerado terrorista pelo Ocidente) são as forças no terreno dispostas a lutar contra o EI e os falsos moderados, com apoio da Rússia.

Parede, Fevereiro de 2016                      

Arsénio Fermino de Pina
(Pediatra e sócio honorário da Adeco)

[9173] - EM GUERRA HÁ MAIS DE 5.000 ANOS...


Crê-se que o primeiro grande confronto bélico da história da humanidade remonte a mais de 2.700 anos A.C. Mas, as mais antigas batalhas sobre as quais existem evidências claras, ocorreram em 2.525 A.C. quando deflagrou um sério conflito armado na Suméria (sudeste do Iraque) entre Lagash e Umma, cidades-estados daquela conflituosa zona.
Transcendendo a simples curiosidade do facto histórico ressalta a triste conclusão de que os humanos andam, afinal,  há mais de cinco mil anos a matarem-se uns aos outros... São bem elevados os custos da civilização!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

[9172] - EM BUSCA DA DIGNIDADE NA IMPRENSA...

Quando a opinião pública acredita mais numa página anónima, que não respeita, minimamente, o código deontológico do jornalismo e se dedica a espalhar o pânico, em vez de esclarecer e informar, algo vai muito mal no jornalismo cabo-verdiano...


Cabo Verde está de luto. Um luto profundo, misto de estupefacção e sofrimento.  Os acontecimentos de Monte Tchota, pela sua gravidade, abrangência, proximidade e raridade, merecem a reflexão de toda a sociedade. Aos familiares de todos os envolvidos, endereçamos as nossas sentidas condolências neste difícil momento.

Lamentamos, principalmente, toda a especulação que se gerou em torno deste gravíssimo acto. E toda aquela que, infelizmente, ainda se irá gerar. É típico do ser humano, em caso de desgraça, especular sempre o pior. Quando se vislumbra um cenário intrincado de tráfico de droga, de preferência com ramificações internacionais ou quando, melhor ainda, se pode especular sobre um sumarento acto de terrorismo, poucos querem acreditar que os acontecimentos de ontem foram resultado de um simples homem. Como se o inferno pessoal de cada um não fosse importante o suficiente para justificar tal carnificina.

Nos EUA, país que muitos idolatram por aqui, já se tornou demasiado frequente alguém entrar numa escola, numa igreja, num centro comercial e atirar indiscriminadamente sobre quem passa. Nos EUA, país que muitos idolatram por aqui, já se tornou demasiado frequente alguém acordar um dia e chacinar familiares, amigos e animais domésticos porque lhes cancelaram um cartão de crédito, bloquearam um telemóvel ou sorriram-lhes de forma estranha no dia anterior.

O que aconteceu em Monte Tchota merece ser explicado e compreendido, mas temo que nunca se consiga, muito graças à constante desinformação que grassa em Cabo Verde. Muitas pessoas tomam como garantida a (des)informação que é transmitida por alguns meios de comunicação como certa. Porque sejamos claros, muitas páginas do facebook, que imperam agora pelo país, querendo exercer o papel de um meio de informação, não passam de meros meios de comunicação, o que é algo bem distinto do jornalismo. Ou devia ser. Quando a opinião pública acredita mais numa página anónima, que não respeita, minimamente, o código deontológico do jornalismo e se dedica a espalhar o pânico, em vez de esclarecer e informar, algo vai muito mal no jornalismo cabo-verdiano. E pela cobertura dada ao caso no jornal da Noite da TCV, não há dúvidas disso. Dispenso a constante ladainha da falta de meios como justificação e preferia que adoptassem a visível postura com que observam o país: a falta de profissionalismo e criatividade. Em termos jornalísticos os acontecimentos de Monte Tchota equivalem ao euromilhões informativo. Há tanto para explorar, explicar, abordar, que noutro país dava, pelo menos, para um especial de muitas horas, ainda que não houvesse nada para dizer. Mas há sempre especialistas para ouvir, testemunhos para dar, infografias para fazer. Dá tudo algum trabalho, eu sei, mas é assim que o jornalismo funciona. Nem sempre podemos depender das notas de imprensa, há que procurar a informação, inovar, esclarecer. Querem ideias para substituir as miseráveis peças transmitidas ontem à noite? Façam uma peça a explicar o que é, como funciona, para que serve o aquartelamento do Monte Tchota. Até suspeito que conseguem encontrar militares ou ex-militares que conhecem bem o espaço, podem colocá-los a falar, para não dar tanto trabalho. Havia funcionários a trabalhar nas antenas, e que tal explicar também isso, que antenas são, para que servem, etc? Estão a perceber a ideia? Ainda não? Vá, dou mais uma ajudinha...Falou-se em tráfico de droga, terrorismo, doença mental...Também suspeito que encontram pessoas, os ditos analistas, toda a gente comenta tudo, por isso será fácil, mas para a coisa ser mais profissional recomendo alguém ligado às forças policiais para o primeiro cenário, outro às relações internacionais para o segundo e um médico para o terceiro, dizia eu, chamem analistas para falar em cada uma dessas teorias e as suas implicações. E não querendo entrar por aí, mas se tiver que ser, falar com amigos e familiares dos falecidos e do (s) implicado (s). Mas com um bocadinho mais de sensibilidade do que aquilo que foi feito ontem, onde se falou com o pai de uma das vítimas como se estivesse a comentar um resultado desportivo. Não sigam a linha disparatada de desinformar, trazer ainda mais barulho, confusão, especulação, num assunto de extrema gravidade. Colocar alunos do liceu, calculo que a grande parte menores de idade, a explicar porque foram mandados para casa por um director de liceu, que não foi ouvido nem achado, com justificações patetas, não dignifica em nada o jornalismo. Vejam as peças da SIC Notícias, da TVI, até do Correio da Manhã TV. Não deixem que a opinião publica se forme através de posts anónimos e especulações perigosas.

Mais não seja, por respeito às vítimas de tão horrendo acto. Não merecem ser lembradas na boca de um adolescente feliz por ir mais cedo para casa.
(in Cabo Verde Direto)

Marisa de Carvalho | m_a_carvalho@yahoo.com

[9171] - A U S Ê N C I A !!!


Lá do alto da sua posição hegemónica no sector, a Microsoft decide e a gente...obedece!
Assim, foi decidido que os sistemas operativos Windows-XP e Windows-Vista irão, a  breve prazo, deixar de contar com a assistência e actualizações da Microsoft o que obriga os utentes a mudar para um dos sistemas sobreviventes da Windows ou a mudar de servidor, o que não seria mal pensado, mau grado o sabor  revanchista...
Enfim, como nós, desde sempre vimos usando o Windows-Vista, vamos internar o nosso PC em clínica da especialidade para uma intervenção que
incluindo a convalescença, deverá provocar uma ausência de quatro dias...
Contamos, por isso, regressar ao v/ convívio lá para o princípio da noite da próxima segunda-feira, dia 9 de Maio... Até lá, divirtam-se!

[9170] - AS LIÇÕES DO CHIQUINHO...


A primeira coisa que eu me lembro de ter feito em termos radiofónicos, no Rádio Clube Mindelo, aí por volta de 1950 foi a adaptação das Lições do Tonecas, de José de Oliveira Cosme que, por motivos óbvios, adoptaram o título de As Lições do Chiquinho"...
Claro que eu fazia o papel de Tonecas-Chiquinho e o professor era interpretado pelo Henrique de Albuquerque, proprietário do Salão Mimoso, não muito longe do edifício do R.C.M.
Foram alguns meses de puro divertimento e o programa tinha uma tal audiência que, na rua, muita gente já me chamava de Chiquinho...
Anos mais tarde, já eu trabalhava na Drogaria de Leão, nos anos 70 - vinte anos depois das aventuras escolares do Chiquinho - aconteceu algo que me deixou estupefacto... Às sextas-feiras era costume e Drogaria do Leão distribuir uns dinheirinhos por idosos mais necessitados que faziam fila frente ao "guichet" da zona do escritório... Nessa tarde, cabia-me a mim fazer a distribuição das moedas e, a certa altura, uma velhinha, já de cabelos brancos e vergada ao peso dos anos e das desventuras, olhou-me nos olhos e disse:
- M' tá lembrá de voçê naquel echcola de rádio, senhor Chiquin...
Mirei a velhota, de olhos húmidos e dei-lhe o dobro do óbolo... Ela afastou-se, sorrindo, certamente satisfeita por ter visto a sua memória compensada...

[9169] - MONTE TCHOTA - A DENUNCIA! ...

Um oficial superior a quem, por razões ponderosas respeitamos o anonimato, a nosso pedido, respondeu à seguinte questão: “Como é possível que um destacamento militar tenha sido dizimado e as FA não sabiam de nada?”. Começou por dizer que isso que aconteceu, “porque o nível operativo das Forças Armadas está em decadência há vários anos e agora bateu no fundo”.

Diz que nenhuma estrutura de comando teve conhecimento porque foi desactivado o serviço de Guarda Operativo. Um serviço que era coordenando por um oficial superior que tinha como funções “o contacto e ligações com todos os destacamentos e regiões militares, isso durante 24 horas para avaliar a situação operativa”. E não havendo essa coordenação, diz que não há razão para espanto que “as estruturas de comando não tenham sabido de nada”. Conclui dizendo que “é uma situação grave, mas as guarnições dos destacamentos sabem que estão abandonadas”.

Em relação ao destacamento de Monte Tchota, a fonte que vimos a citar esclarece que “a rendição é feita de 15 em dias 15. E até lá, eles estão entregues à sua sorte. E a prova é que o contingente foi dizimado e as FA ficaram a saber pela comunicação social 24 horas depois”. Assegura que no mínimo, no espaço de 24 não houve contacto exterior com a guarnição”. No seu entender, isso é prova “da baixa operacionalidade das Forças Armadas que no espaço de 24 horas não sabe nada sobre o que se passa num dos principais destacamentos”.

Más condições no destacamento: fome nos quartéis

Os soldados operam “em condições péssimas no destacamento de Monte Tchota”, garante este oficial superior sob anonimato. Ficámos a saber que o destacamento é composto por:
1 Cozinheiro, 1 sargento, 1 cabo e seis soldados que são rendidos de 15 em 15 dias.

A comida é confeccionada no destacamento o que não garante a qualidade mínima exigida. Refere que muitas vezes os mantimentos terminam e os militares são obrigados a irem pedir comida aos moradores de Rui Vaz. Mas existem denúncias que se passa fome nalguns destacamentos. Este online sabe que um sargento-mor, num encontro com o Chefe de Estado-maior, disse que “havia fome nos quartéis”. A única consequência desta denúncia foi a transferência do denunciante.

A fonte considera que o isolamento do local é “outra condicionante que piora as condições de serviço no posto”. Lembra que se trata de jovens que estando longe das famílias e sem forma de contactar, às vezes não suportam esse isolamento o que provoca consequências na sua estrutura psíquica.

E para piorar, diz que fazem o serviço 24 horas sobre 24 horas. No local existem dois postos de vigia e cada um com uma sentinela que é rendida de duas em duas horas. O que este militar de patente superior considera ser exagerado nas condições em que a guarnição opera. Mas diz que essa situação se estende a outros destacamentos, por isso, afirma que “os soldados foram transformados em máquinas de serviço de segurança”.

O NN tentou, via telefone, contactar o gabinete do Chefe de Estado Maior das FA para saber a sua versão sobre os factos aqui divulgados, mas não tivemos retorno. (in Noticias do Norte)

quarta-feira, 27 de abril de 2016

[9168] - C O N V I T E ...


[9167] - VOZES DE ABRIL...

A recordação do dia em que ousámos sonhar num tempo em que aceitámos deixar de fazê-lo. A comemoração da revolução que derrubou a ditadura num tempo em que a opressão se aperfeiçoou ao cúmulo de se enraizar numa ditadura que brota das próprias consciências adormecidas por bebedeiras de contemporaneidade fútil que catequizam para a ignorância como virtude e para um optimismo alicerçado no nada que tudo relativiza. A celebração da democracia num tempo em que os que mais mandam não foram eleitos por ninguém. Devemos aos heróis de Abril a recordação dos cravos que nos fizeram novamente donos do nosso próprio destino. Aqui estou eu a recordá-los e a agradecer-lhes com estas breves linhas que posso escrever livremente graças ao seu legado, animado pela ideia de que se vive para futuro transformando o presente, como tal, recusando deixar-me domesticar por aquela moda do "temos que ser positivos" atrás da qual se acomodam todos os que se demitem dos seus deveres de cidadania. Quarenta e dois anos depois do 25 de Abril de todos os sonhos, vivemos o pesadelo de uma democracia formal que se deixou subordinar por uma ditadura informal que se manifesta todos os dias, ora impondo tectos à Saúde do nosso presente e à Educação do nosso futuro, ora problematizando a actualização de salários de miséria e não os milhões dos salários dos gestores das rendas garantidas, ora assegurando paraísos onde os lucros feitos do nosso suor e do nosso sangue ficam a salvo de qualquer contribuição para a sociedade que os engordou, ora apresentando-nos a factura de mais um buraco escavado pela delinquência banqueira. O cravo que aqui lhes deixo nasceu há 42 anos, é bonito mas está velho e cansado, precisa de um filho. É a todos nós que nos cabe fazê-lo germinar. Pelos nossos. Também nós um dia seremos recordados. Ou pelos cravos que semeemos, ou pelas ervas daninhas que deixemos crescer na sua vez.

 Filipe Tourais (O País do Burro)


[9166] - MISS FOGO 2016...

LENILDA SILVA

A NOVA MISS FOGO-2016

[9165] - A CHACINA DE MONTE TXOTA...

Os familiares do soldado desaparecido do destacamento militar de Monte Txota, Manuel António Silva Ribeiro, conhecido por ‘Antany Silva’, procuraram Polícia Nacional no Palmarejo para revelar que o militar confessou ter assassinado as onze pessoas. Afirmam que “Antany” procurou alguns parentes após o crime e desabafou ser ele o autor dos assassinatos, sem revelar as suas motivações...

Segundos os familiares, Antany confessou ter matado as onze vítimas uma a uma, chamando cada um e disparando contra eles. Na casa dos parentes de Antany foram encontrados uma das armas desaparecidas (AKM) e três carregadores, supostamente deixados por ele quando os procurou.

Entretanto, o soldado voltou a desaparecer. Neste momento, há um aparato policial sem precedentes, com cerca de 40 militares a formar um cordão de segurança em torno da praça do Palmarejo – frente à Esquadra -, as estradas estão cortadas e o acesso restrito nas imediações do estabelecimento policial.

Esta terça-feira, durante uma conferência de imprensa na Praia, o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, afirmou que o soldado desaparecido – no momento não havia a confirmação de que Antany fora detido – é o principal suspeito desta chacina, realçando, contudo, que não existem indícios de ligação destes factos com o narcotráfico, nem com o terrorismo.

Paulo Rocha disse que motivações pessoais estarão na origem destes acontecimentos. O ministro garantiu, entretanto, que as autoridades estão a tomar todas as medidas que se impõem para esclarecer o caso. Mas esta explicação não convenceu os cabo-verdianos que, através das redes sociais, exigem informações mais concretas, sobretudo no que diz respeito às vítimas.

C/Oceanpress - (A Semana)

[9164] - AFINAL NÃO HÁ CANDIDATURAS...

O recém-empossado ministro da Cultura, Abraão Vicente, defendeu esta segunda-feira, 25, no seu primeiro dia como titular da pasta, que suspeita que não há candidatura da Morna e do Campo de Concentração do Tarrafal a património da Humanidade.Ministro da Cultura diz suspeitar da existência da candidatura da Morna a património da Humanidade


“Não existe nenhum dossiê que fale da candidatura da Morna a património da Humanidade nem do Campo de Concentração do Tarrafal” nos documentos que recebeu do seu antecessor.

Por isso, o novo ministro da Cultura, Abraão Vicente, diz partir do princípio de que não existem. Segundo enfatizou, era de esperar que essas informações fossem cedidas na passagem de pastas.

O ministro da Cultura começou o seu primeiro dia de trabalho, com uma visita à Ribeira Grande de Santiago (Cidade Velha). E a explicação é no seu entender óbvia: “Cidade Velha porque é aqui que começamos como Nação”.

Primeiro teve um encontro oficial com o autarca Manuel de Pina, com vista a tomar o pulso à situação do município, principalmente no que toca à colaboração entre o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal da Cidade Velha. Isto, no sentido de “desencravar os projectos engavetados”.

Referindo-se à Cidade Velha, Abraão Vicente defendeu que “Cabo Verde não pode dar-se ao luxo de ter um património da humanidade dentro do seu território e não fazer uso dele”.

A conversa entre o ministro e o autarca estendeu-se por cerca de uma hora porque, segundo Vicente, "havia muito para falar”. Isso tanto a nível da gestão patrimonial, o plano de gestão, o relacionamento entre o Governo e a autarquia, entre outros.

Garantiu que vai criar uma cultura de facilitação - um ministério mais pragmático, próximo dos projectos, concretizador e que toque vários aspectos. Dai defender que foi “ouvir para começar bem”.

O ministro diz que vai fazer da Cidade Velha uma plataforma de recepção não só de investimentos como de turistas e projectos economicamente viáveis. Reforçou ainda que Cabo Verde não precisa apenas de apoio financeiro dos parceiros internacionais, mas também de apoio técnico.

No caso da Cidade Velha em concreto defendeu ser preciso preservar o património construído, bem como fazer um marketing necessário para que se possa alavancar o potencial turístico que a localidade tem.

Defendeu entretanto a necessidade de intervenção nas várias ilhas do país, como são, a seu ver a Cidade de São Filipe, Mindelo, Ilha do Maio, Santo Antão, entre outros. E garante estar pronto para tomar algumas decisões difíceis necessárias para desencravar o desenvolvimento do legado patrimonial.

Por seu turno, o autarca da Cidade Velha, Manuel de Pina, diz ter recebido a visita do novo ministro com muita expectativa, uma vez que vai ser possível tomar o pulsar do sitio histórico, tanto os problemas como as perspectivas e as oportunidades.

Pelo que diz esperançoso que “muita coisa vai melhorar”, apontando que a população da Cidade Velha até agora não ter apropriado do sítio histórico. Daí ter realçando que "o primeiro património são as pessoas". Lamentou ainda que vários projectos tenham ficado pelo caminho.

Sanny Fonseca (A Semana)

[9163] - MALÁRIA, OUTRA VEZ...

Presidente da República quer erradicação da Malária até 2030
 O Presidente da República (PR), Jorge Carlos Fonseca ambiciona a criação de condições para que Cabo Verde, África e o Mundo estejam livres do Paludismo antes de 2030....

25-04-2016, Fonte: "Expresso das ilhas"

Confesso que este texto me causou alguma perplexidade pois eu ainda me recordo de ter andado por Cabo Verde uma Missão de Erradicação do Paludismo nos anos 50 e 60 do século passado, chefiada pelo Dr. Meira do Instituto Português de Medicina Tropical.
Tanto quanto rezam as crónicas, a malária foi, oficialmente, considerada erradicada da Ilha do Sal, em 1950; da ilha de S. Vicente, em 1954; das ilhas da Boavista e do Maio, em 1962; da ilha do Fogo, em 1965 e, da ilha de Santiago, em 1968... Não encontrámos referências às ilhas de S.Antão, S. Nicolau e Brava o que, eventualmente, significará que aí não não se verificaria a prevalência da doença.
Ocorre, pois, perguntar o que terá acontecido desde então para ser necessário, de novo, erradicar a Malária de Cabo Verde?

terça-feira, 26 de abril de 2016

[9162] - TÃO AMIGOS QUE ELES ERAM...


Toda a gente sabe que Sócrates não é menino de levar desaforo para casa...Mais tarde ou mais cedo a réplica aparece, como par de bandarilhas em final de uma "faena" épica...
Estava o ex-PM em Évora quando o actual PM o visitou pela primeira e única vez e, ao que consta, por razões da época natalícia que então transcorria e não por outras...
O pior é que o actual PM em declarações à saída de tal visita se terá referido ao facto de que Sócrates certamente teria a oportunidade de fazer vingar "a sua verdade", (sua, dele, Sócrates, claro!)... Ora, convenhamos que isto não é coisa que se diga de um amigo do peito e militante do mesmo partido e Sócrates terá, depois de contar até dez, pensado que o Costa teria, mais tarde ou mais cedo a sua resposta...
E, assim foi quando o ex-PM vem, agora, afirmar que ele, Sócrates, jamais aceitaria ser Primeiro  Ministro sem que, para tal, tivesse vencido a eleição legislativa...Tomá lá!
Quando ouviu isto o Passos Coelho deve ter dado pulos de lebre de contente!
O Costa, esse, deve-se ter sentido um tanto enjoado como quem tivesse comido chamuças a mais!

[9161] - COLOCAR AS BARBAS DE MOLHO - (2)

OS ESTADOS
QUE SE PONHAM A  PAU - 2

A artimanha, com promessas dessas transnacionais (que não se cumprirão), vem contando com a compreensão e a anuência de instituições “respeitosas” a vários níveis dos governos da UE e dos EUA. Se essa chamada parceria se realizar ficaríamos completamente depenados e escravizados, o meio ambiente e o próprio planeta destruídos por se permitir tudo quanto os prejudica desde que dê lucro a curto prazo.


Não sei se já ouviram falar da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) entre os EUA e a Europa (UE), que vem sendo preparada, há alguns anos, no maior segredo, pelas transnacionais. Soube disso, dos seus maléfícos desígnios, há pouco tempo. Pretende-se com essa parceria o controlo das funções dos governos e a eliminação das prestações básicas dos cuidados através dos chamados tratados de comércio livre, negociações que começaram em 2013. Se o TTIP for aceite, os seus regulamentos usurpariam boa parte dos poderes legislativos e judiciais de governos democraticamente eleitos, para os substituir pelos seus árbitros privados e peritos.

Fixemos a nossa atenção sobre essa catástrofe que as transnacionais estão congeminando para nos transformar em autênticos escravos dos seus objectivos. A artimanha, com promessas dessas transnacionais (que não se cumprirão), vem contando com a compreensão e a anuência de instituições “respeitosas” a vários níveis dos governos da UE e dos EUA. Se essa chamada parceria se realizar ficaríamos completamente depenados e escravizados, o meio ambiente e o próprio planeta destruídos por se permitir tudo quanto os prejudica desde que dê lucro a curto prazo. Os capítulos sobre investimentos atribuirão poderes sem precedentes às transnacionais, as quais poderão accionar processos judiciais contra os governos em tribunais arbitrais privados, se considerarem que os seus lucros presentes ou futuros são ameaçados por uma decisão governamental. E têm tido boa colaboração com o executivo europeu para abolir todos os regulamentos de que as empresas europeias pretendem libertar-se. Imaginem só! E mais grave ainda é que actuando a nível nacional, regional e supranacional, também o fazem a nível das Nações Unidas (NU), passando a usar as organizações do quadro do sistema das NU! A intromissão e influência crescente das empresas transnacionais nas NU vêm sendo facilitada por beneméritos que fazem doações às suas agências (OMS, UNICEF, FAO,etc.) devido à penúria de fundos dessas agências face às necessidades a satisfazer. Claro que são doações (os beneméritos pertencem à indústria agro-alimentar, petrolífera, farmacêutica, de pesticidas, química, robótica, informática, etc.), com benefícios também para essas empresas, por poderem deduzir isso dos impostos e criarem um ambiente favorável para para venderem as suas produções e serviços às agências das NU e influenciarem a modificação de leis não favoráveis aos seus negócios.

Não é de admirar essa infiltração, dado que muitos dos antigos quadros dirigentes, por exemplo, da Goldman Sachs foram nomeados como governantes e para postos políticos sensíveis; encontramo-los na Itália, Grécia e no Banco Central Europeu (BCE). Por exemplo, o poderoso banco americano Goldman Sachs comprou os CTT portugueses e o deputado do PSD, secretário ou ex-secretário de Estado (Arnault), encarregado de defender os interesses do país e negociar com o banco, saiu-se tão bem de empresa que, depois da venda, passou a ser funcionário do banco com um bem remunerado posto. Tipos desse calibre (e os da TV, o que não é de admirar por a maior parte dos meios de comunicação social terem sido comprados por essas grandes empresas) ainda têm a lata de aparecer, periodicamente, em entrevistas para nos darem lições de moral, de patriotismo e boa gestão governamental!

Publiquei artigo em que explicava que foi a revisão de Glass-Steagall Act (do New Deal, que obrigava à separação entre bancos comerciais e de investimento) que abriu caminho a toda a série de operações, fusões e aquisições e deu origem a estruturas gigantescas que se tornaram “demasiado grandes para falir”, mas acabaram por falir na crise de 2007/2008 (como o Lehmann Brothers e umas dezenas de bancos americanos) e outros tiveram de ser socorridos pelo Estado para não falirem, quando o neoliberalismo defende o Estado dever ser mínimo, por o mercado ter o dom da autorregulação.

A famosa Organização Mundial do Comércio (OMC), de que tenho falado bastas vezes apontando a sua política económica, de que Cabo Verde é signatário, é criação das transnacionais e não agência das NU, como poderia parecer. Entrou em funções em 1995, e em 2013, já tinha 160 membros. Pela sua maternidade (de madrasta bruxa) conclui-se não ser favorável aos interesses nem aos direitos dos países em vias de desenvolvimento, embora afirme o contrário. São tipos de instituições que subordinam a política à burocracia e economia, construídas à medida dos interesses iníquos das grandes potências.

As transnacionais já obtiveram não só acordo mas também apoio entusiástico dos seus governos para a criação do TTIP. Não posso entrar em detalhes quanto às desgraças que ela nos prepara, mas sei que a sua aplicação implicaria virmos a consumir e suportar tudo quanto até agora, na UE, é interditado proveniente dos EUA, como os OGM, armas de fogo, pesticidas, alimentos cheios de hormonas e antibióticos, etc., por essa parceria entre a UE e os EUA ser a todos os níveis – comercial, militar, judicial, etc. Em verdade o TTIP não está interessado em instaurar um mercado livre, mas sim proteger a propriedade industrial – impedir a entrada no mercado de medicamentos genéricos, aumentar o prazo das patentes de fármacos (que passou de dez para vinte anos), etc. Em suma, o TTIP é um atentado à democracia levado a cabo pela oligarquia no poder com a cumplicidade de políticos venais em função em cargos de alta responsabilidade de execução a nível internacional e supranacional. Até parece que estamos a ser governados por quadrilhas de oligarcas!

As ONG estão assanhadas na luta, mas foram relegadas para longe dos lugares onde as decisões são tomadas, sobretudo por os governos não as tratarem como verdadeiras parceiras que são, fazendo-lhes a vida cara no pagamento de subsídios a que têm direito por lei, a destruírem as suas instalações e meios, como aconteceu ao barco almirante da Greenpeace, Rainbow Warrior, afundado pelos serviços secretos franceses, na Nova Zelândia, com aprovação do presidente Mitterand, como veio a saber-se muito mais tarde, privilegiando até empresas transnacionais e instituições e agências light de regulação, ditas independentes, criadas para inglês ver e camuflar a realidade.

Parece-me, no entanto, que a luta contra o TTIP irá ter um fim feliz, não por intervenção do Poder dos Estados mas por uma persistente acção de organizações da sociedade civil. Uma coligação de 150 organizações lançou uma Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE) que recolheu, em 2015, mais de 2,5 milhões de assinaturas de cidadãos europeus, e apesar de a ICE ter sido reorganizada na sequência da recusa da Comissão Europeia presidida por Durão Barroso – que exigia pelo menos um milhão de assinaturas para que pudesse ser presente ao Conselho Europeu, isto é, aos Estados membros – segue as regras estabelecidas e crê-se que vingará com os 2,5 milhões de assinaturas de 2015.

“É sempre nas minorias que as boas ideias começam; as sementes das próximas lutas foram lançadas à terra e germinam lentamente. É nessas minorias onde se conhecem as pessoas interessantes, que pensam, actuam, têm esperanças e amam”, como nos lembra Susan George.

Parede, Abril de 2016

Arsénio Fermino de Pina | Pediatra e sócio honorário da ADECO | pinaarsenio@gmail.com


[9160] - COM A VERDADE ME ENGANAS...

ADVOGADO NÃO MENTE...

UM ADVOGADO tinha 12 filhos e precisava sair da casa onde morava e alugar outra, mas não o conseguia por causa do monte de crianças.
Quando ele dizia que tinha 12 filhos, ninguém queria alugar porque sabiam que a criançada iria destruir a casa.
Ele não podia dizer que não tinha filhos, não podia mentir; afinal os ADVOGADOS não podem mentir...
Estava ficando desesperado pois o prazo para se mudar estava a esgotando-se.
Então, teve uma ideia: mandou a mulher ir passear ao cemitério com 11 dos filhos.
Pegou no filho restante  e foi ver casas, acompanhado do agente da imobiliária.
Quando se decidiu por uma o agente  perguntou quantos filhos é que ele tinha. Ele, claro, respondeu que tinha 12.
Surpreendido, o agente perguntou: e onde estão os outros?!
Com um ar muito triste ele respondeu: “Estão no cemitério, junto com a mãe deles”...
E foi assim que ele conseguiu alugar uma casa sem mentir...
Por vezes não é necessário enganar: basta escolher as palavras certas.
 
Assim são os políticos, quase todos advogados, claro!

(Colab. Manuel M. Silva)
 
 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

[9159] - UMA SINGULAR NOVA NOTA...


O rosto da abolicionista negra Harriet Tubman (1823-1913), será a figura central na nova nota de 20 dólares dos Estados Unidos da América, que será colocada em circulação em 2020.

[9158] - D E S A F I O ...



Numa altura em que a regionalização volta a estar na ordem do dia, o professor José Fortes Lopes desafia Ulisses Correia e Silva a avançar com um fórum que junte personalidades nacionais e internacionais, partidos, associações e movimentos para se pensar sobre os novos caminhos de Cabo Verde


O professor caboverdiano da Universidade de Aveiro, José Fortes Lopes, propõe ao governo a realização de um fórum nacional e internacional sobre a regionalização, que reúna partidos, associações e movimentos, mas também figuras nacionais e internacionais.

“Sobre a regionalização, proponho ao governo a realização, no verão, de um fórum nacional e internacional em que se convidem os partidos, a sociedade civil, movimentos, associações e países amigos com experiência em matéria de regionalização, pois não vamos inventar a roda como alguns crioulos pretendem. A humanidade tem várias experiências de regionalização e devemos conhecer as experiência dos outros”, disse ao Cabo Verde Direto o professor na área da Física da Atmosfera e dos Oceanos e investigador em Oceanografia Física Costeira e Ambiental.

O académico que integra o Movimento para a Regionalização de Cabo Verde-Diáspora participa no próximo sábado, 30, numa palestra/debate (ver aqui) onde a questão deverá ser abordada. No evento participam ainda Adriano Miranda Lima, Arsénio Fermino de Pina e Luiz Andrade Silva, os rostos mais proeminentes da regionalização na diáspora.

Redação - Cabo Verde Direto

[9157] - OS CRAVOS DA REVOLUÇÃO...


Mais de quarenta anos transcorridos, ainda hoje me interrogo porque diabo haveria eu e outras centenas de milhares, como eu de, subitamente sermos forçados a emigrar para o nosso próprio país porque, finalmente, se havia inventado a liberdade...
Podem crer que, nem eu, nem a grande maioria das outras centenas de milhares, somos inimigos da liberdade, do constitucionalismo, da democracia... O que nos dói é que esses três pilares da perfeição político-social, para se implantarem, tivessem provocado um tal tsunami de vítimas inocentes,  acabado por  permitir a implantação de regimes onde campeiam o oportunismo, a demagogia, a corrupção...
E isso significa que todos esses milhares de cidadãos, descendentes de gerações que, deste extremo da Europa, ao longo de séculos, seguiram as rotas dos navegadores de quinhentos foram forçados a regressar às origens que já não eram as suas, em nome de valores mais altos que, afinal, falharam em toda a linha, ou quase...
É por isso que, por muito que o tempo passe não conseguimos extirpar este sentimento de amargura das nossas memórias!

domingo, 24 de abril de 2016

[9156] - COLOCAR AS BARBAS DE MOLHO...

Arsénio Fermino de Pina
 OS ESTADOS QUE SE
PONHAM A PAU... (1)

Estamos rodeados de grupos de indivíduos não eleitos que não prestam contas a ninguém e só procuram o lucro, de grandes empresas e instituições que fazem política oficial em áreas da saúde pública, alimentação, agricultura, dos impostos, finanças e comércio. Alguns são lobistas ao serviço de empresas com orçamentos de volume superior ao PIB de muitos países onde actuam, pelo que facilmente subornam os dirigente.


Um amigo patchê perguntou-me há tempos como consigo escrever tanto. A resposta, incompleta, foi que leio bastante; por ele ser letrado de boa pinta, achei dispensável não acrescentar que o conhecimento é sempre o primeiro e indispensável antídoto para não nos sentirmos e sermos de facto manipulados e impotentes. Sem informação, nada poderemos fazer, ainda que, por si só, não seja suficiente, apenas um primeiro passo para a indignação, quando as coisas correm mal, que nos encaminhe para a acção. Esta maneira de pensar e actuar tem sido as minhas armas para poder participar na gestão da nossa cousa pública como activista da sociedade civil, depois de ter sido o criador, mais o apoio incondicional de um colega, amigo de infância, e de uma equipa coesa, apoiado pela excepcional cooperação sueca, de um dos instrumentos mais poderosos para a edificação do nosso Sistema Nacional de Saúde.

A leitura de “Os Usurpadores”, de Susan George, que nos informa como as empresas multinacionais ou transnacionais, como a autora da obra prefere chamá-las, se apoderam do poder, forneceu-me uma série de informações e factos, alguns, já conhecia em grande parte, mas outros, embora suspeitasse da sua existência, nunca me passara pela cabeça que pudessem estar em vias de realização.

Susan George tem dupla nacionalidade, americana e francesa, é professora e presidente honorária da ATTAC França (Associação para a taxação financeira, acção de cidadania, além de actividades nas lutas internacionais contra os efeitos devastadores da globalização capitalista). Activista perseverante, é autora de vários livros que nos dão conhecimento aprofundado do mundo cão em que vivemos. Foi ela quem descobriu e revelou o plano de acção que as empresas transnacionais estão a utilizar para conquistar o nosso sistema político. A ATTAC tem delegações na Europa, América do Sul, África e Canadá, definindo-se como “um movimento de educação popular virado para a acção”. Também desenvolve campanhas a favor da imposição de uma taxa sobre as transações financeiras, da abolição dos paraísos fiscais, contra a economia de casino e as políticas europeias de austeridade. É fundamentalmente do que desconhecia ou simplesmente presumia, que irei falar-vos nestas linhas.

Até à década de 1970, a remuneração do trabalho representava 70% do PIB mundial, e os 30% restantes remuneravam o capital (dividendos, lucros, rendas). Hoje, o capital recebe 40% e mais e o trabalho 60% e menos (segundo Paul Khrugman, o rendimento do capital concentra-se, nos EUA, em 0,1% dos americanos, pessoas com um rendimento anual de mais de 1,9 milhões de dólares). Os grandes accionistas das empresas contentavam-se, até essa data, com dividendos entre 3 a 4% anuais, mas hoje recebem entre 10 a 20 % e mais. As empresas eram sólidas, saudáveis e bem integradas na comunidade, mas actualmente predomina o lucro a curto prazo, a liquidação de activos, os despedimentos em massa e transferência de empresas e das suas sedes para outros locais onde pagam menos impostos, menos salários aos trabalhadores locais e não há legislação de protecção destes, sendo permissivas as leis locais. A tendência é enfraquecerem ou destruirem os sindicatos de trabalhadores e apoderarem-se dos serviços públicos rendosos através da sua privatização. Algumas empresas até recebem subsídios estatais, mas são contra as despesas em serviços sociais que não sejam de defesa ou segurança.

Em boa verdade estamos rodeados de grupos de indivíduos não eleitos que não prestam contas a ninguém e só procuram o lucro, de grandes empresas e instituições que fazem política oficial em áreas da saúde pública, alimentação, agricultura, dos impostos, finanças e comércio. Alguns são lobistas ao serviço de empresas com orçamentos de volume superior ao PIB de muitos países onde actuam, pelo que facilmente subornam os dirigentes, infiltram as estruturas estatais e condicionam as leis a favor delas.

Estas empresas, as maiores e mais poderosas, são chamadas multinacionais ou transnacionais. Iremos falar de algumas, como, por exemplo, o Fórum Económico Mundial (FEM), mais conhecido por Davos (estância de esqui na Suiça onde se realizam as suas reuniões), de que já vos falei em artigos anteriores, sendo a sua ambição governar o mundo. Enquanto os cidadãos são chamados a apertar o cinto, a pagar mais IRS e IVA e a aceitar medidas rigorosas de austeridade, como aconteceu e vem acontecendo nalguns países europeus (Grécia, Portugal, Itália, Espanha), as empresas tiveram benefícios, em 2014, e um alívio de encargos sociais que se traduziram em vários biliões de euros, em prejuízo dos seus países, onde tiveram esses lucros e trabalham os seus empregados que beneficiam das estruturas do Estado.

Sabemos que, por exemplo, a Comissão Europeia, a que presidiu Durão Barroso durante dez anos, bem como o Euro-Grupo, liderado pela Alemanha, não têm a menor legitimidade democrática por os seus componentes não serem eleitos, seguindo a orientação do neoliberalismo que rege a União Europeia (UE). São organismos opacos que contrariam a tradição do Iluminismo, em que a legitimidade de uma instituição depende da democracia e do consentimento dos governados. Um vasto ramalhete de obscuros protagonistas não eleitos consolida, em segredo, os valores da doutrina neoliberal, influenciando decisões dos governos e afrontando a democracia. São os lóbis, isto é, actores familiares (da promiscuidade Estado/Privado e vice-versa) que contam com o know how de indivíduos que navegam nessa promiscuidade, e ainda Conselhos e Fundações, constituindo alguns autênticos mega lóbis, teoricamente com actividades sem fins lucrativos, mas na realidade defensores dos interesses das transnacionais, de que recolhem benefícios graúdos não declarados através dos paraísos fiscais. (in Cabo Verde Direto)

[continua próximo número]

Parede, Abril de 2016

[9155] - A DIÁSPORA DISCUTE REGIONALIZAÇÃO...


Notas biográficas dos oradores

Adriano Miranda Lima nasceu em S. Vicente, tem 72 anos, e concluiu o ensino secundário no Liceu Gil Eanes em 1963, após o que ingressou no exército, seguindo a carreira militar. É coronel na reserva. Casado, vive em Tomar, é pai de duas filhas e avô de dois netos. Interessa-se pelos problemas da sua terra natal e nesse sentido tem intervindo na imprensa e em blogues cabo-verdianos, emitindo opinião sobre temas da actualidade. Intervém também no jornal "O Templário", de Tomar, e já colaborou em órgãos de comunicação militares e vários jornais cabo-verdianos.

Arsénio Fermino de Pina, nascido na Vila da Ribeira Brava, S. Nicolau, fez a primária na Vila, o início do secundário no Liceu Gil Eanes, em S. Vicente, Moçambique e Lisboa. Licenciou-se em Medicina em Coimbra e Lisboa e fez a especialização em Pediatria, Saúde Pública e Medicina Tropical em Lisboa. Generalista em várias ilhas de Cabo Verde. Após a independência foi o criador, corroborado pelo colega Dr. Pedro do Rosário, do Projecto/Programa da PMI/PF, como director nacional do mesmo. Integrou as Nações Unidas, OMS, como conselheiro técnico em PMI/PF, trabalhando em vários países africanos, durante dez anos, até à idade da aposentação internacional. Co-fundador da Academia de Estudos de Ciências Comparadas (AECCOM). Publicou dez livros, além de textos da sua especialidade, e tem colaboração diversa em vários jornais e revistas nacionais e estrangeiros. Aposentado, vive com a família alternadamente em S. Vicente e Lisboa.

José Fortes Lopes é Professor na Universidade de Aveiro, na área da Física da Atmosfera e dos Oceanos. Realiza investigação em oceanografia física costeira e ambiental no CESAM, Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, Laboratório de Estado na área das Ciências do Mar.
Desde 2006 vem-se preocupando com diferentes problemáticas cabo-verdianas e exercendo actividades cívicas em prol do desenvolvimento da sua ilha natal, S. Vicente e de Cabo Verde. É um dos fundadores do Movimento para a Regionalização de Cabo Verde associado ao Grupo de Reflexão para a Regionalização sediado em Mindelo. Tem várias dezenas de publicações versando sobre diferentes aspectos da problemática do desenvolvimento da ilha de S. Vicente e de Cabo Verde, nomeadamente o Património, a Sociedade, o Ambiente e o Clima e, por fim, a Regionalização. Recentemente tem tido uma intensa actividade e intervenção no debate nacional sobre a Descentralização, Democratização e a Regionalização de Cabo Verde.


Luiz Andrade Silva nasceu em Cabo Verde tendo emigrado para França em 1968. Sociólogo e historiador, é um dos fundadores e activista do movimento associativo cabo-verdiano em França. Membro do Comité de Redacção da revista Latitudes editada em Paris, publicou vários estudos sobre a emigração cabo-verdiana em revistas francesas como a Lusotopie e em jornais caboverdianos entre os quais Terra Nova, Horizonte, A Semana, Liberal, Expresso das Ilhas. A ele se deve a reedição em Paris do Folclore Caboverdiano, de Pedro Monteiro Cardoso, com prefácios seu e de Alfredo Margarido, que propõe uma nova leitura da literatura cabo-verdiana. É co-autor do livro Odisseia Crioula, e participou no livro Cabo Verde – três décadas depois, organizado por Jorge Carlos Fonseca (2007). Em 2015 publicou Crónicas da Terra Longe (edição de Chiado Editora, Lisboa, Portugal), uma colectânea de textos e ensaios sobre a emigração, cultura, desporto, economia e vida política de Cabo Verde. Tem poemas em português e em cabo-verdianos dispersos em várias revistas e que, musicados por Jovino dos Santos, foram reunidos num CD intitulado EX-Ilhas.

sábado, 23 de abril de 2016

[9154] - CABO VERDE - NOVO GOVERNO (2) ...

Presidência da República

Discurso proferido por Sua Excelência o Presidente da República Jorge Carlos Fonseca por ocasião de Cerimónia de Posse do Governo da IX Legislatura
Palácio da Presidência da República, 20 de Abril de 2016


EXCELÊNCIAS
Senhor Presidente da Assembleia Nacional
Senhor Primeiro Ministro 
Senhor Presidente do Tribunal Constitucional
Senhora Presidente do Supremo Tribunal de Justiça 
Antigos Presidentes da República de Cabo Verde
Senhor Primeiro Ministro cessante
Senhores Membros do Governo
Senhores Deputados Nacionais
Senhor Deputado do Parlamento das Canarias 
Antigos Primeiros Ministros
Senhores Presidentes dos Partidos Políticos
Senhores membros do governo cessante
Senhor Presidente do Partido Popular Europeu
Senhor Presidente do Tribunal de Contas
Senhor Procurador-Geral da República
Senhor Provedor de Justiça
Senhor Presidente da Câmara Municipal da Praia 
Senhores Presidentes das Câmaras Municipais de Cabo Verde
Senhor Presidente da Câmara de Agua Grande de São Tomé e Príncipe
Senhora Presidente da Assembleia Municipal da Praia
Senhor Presidente da Assembleia Legislativa Regional do Príncipe 
Senhor Chefe do Estado Maior das Forças Armadas
Senhores Membros do Conselho da República
Senhores Membros do Corpo Diplomático e Organismos Internacionais
Senhora Presidente da Associação Internacional dos Presidentes de Câmaras Francófones
Senhor Director Nacional da Polícia da Nacional
Senhor Director Nacional da Polícia Judiciária
Magníficos Reitores e Presidentes de Institutos de Ensino Superior
Senhores Bastonários das Ordens Profissionais 
Senhores Representantes das Confissões Religiosas
Senhores Colaboradores da Presidência da República
Senhores Presidentes das Federações Desportivas e Associações culturais
Senhores Jornalistas
Ilustres Convidados
Caros concidadãos no país e na diáspora
Caros Amigos e Caras Amigas

Empossar um Governo Constitucional – no caso, o VI da II República - , que emerge de uma maioria e de um Parlamento eleitos sob o signo do civismo, da tolerância e do respeito pelas diferenças, é das obrigações constitucionais que assumo com inegável prazer. 
Para além dos elogios e das críticas ao nosso sistema, para além da necessidade do seu aperfeiçoamento continuo, é indiscutível que essa sucessão de posses, que contempla  várias  alternâncias políticas e o cumprimento integral dos mandatos dos órgãos eleitos, são, inquestionavelmente,  indicadores  da vitalidade e da estabilidade da nossa democracia.
  É verdade que temos ainda um longo caminho a percorrer, que o aprofundamento e o alargamento da nossa democracia continuam a ser importantes desafios a vencer e que a nossa cultura democrática necessita de consolidação.
Mas essas preocupações não nos devem impedir de festejar, de celebrar, de exultar com mais uma conquista, com o coroar de um processo que conduziu à renovação da Assembleia Nacional da qual o Governo que acaba de ser empossado é a legitima emanação.
Excelências,
Ilustres Convidados, Minhas senhoras e meus senhores
As razões para celebrar são evidentes e resultam de um processo de alguma complexidade que culminou numa campanha eleitoral alegre e participada que contribuiu para a formação da opinião dos eleitores que livremente fizeram as sua escolhas, concretizaram as suas opções, num clima de total tranquilidade, aliás reconhecida e elogiada pelos observadores  internacionais que, também, fizeram questão de realçar o facto de os resultados das eleições terem sido imediatamente reconhecidos pelos adversários.
O ambiente e as posições assumidas pelos partidos  políticos contribuíram para que o clima fosse realmente festivo e as diligências conducentes   à conclusão do processo, com a posse do novo Governo, fossem aceleradas dentro do possível, no escrupuloso respeito pelas exigências constitucionais.
Nesta hora solene dirijo uma palavra de muito apreço aos cidadãos cabo-verdianos, no país e no estrangeiro, pela sua participação activa e responsável na disputa eleitoral, exercendo, com civismo, o seu direito de voto, verdadeiro adubo da democracia.
Aceite, Senhor Primeiro Ministro,  uma palavra de  felicitações pela vitória obtida nas urnas. As propostas  suas e do partido a que preside foram sufragadas pelo Povo de Cabo-Verde que entendeu por bem conceder-lhe  a oportunidade de dirigir os seus destinos nos próximos cinco anos.
A sua participação, bem como a dos líderes do PAICV, da UCID, do PSD, do PP e do PTS, foi  de muita qualidade e  contribuiu  para o reforço do nosso sistema político. 
Igualmente digno de registo foi a contribuição prestada pelo Governo no sentido de, não obstante alguns constrangimentos, criar as condições necessárias ao desenvolvimento de todo o processo eleitoral, sem esquecer o trabalho igual e reconhecidamente meritório das demais autoridades eleitorais, designadamente a CNE. 

Excelências,
Ilustres Convidados, Minhas senhoras e meus senhores
Este momento de regozijo perante a vitalidade da nossa jovem democracia é também ocasião para aquilatar as enormes responsabilidades que impendem sobre a novel equipa governamental e um pouco sobre todos nós.
Os resultados das eleições de 20 de Março são inequívocos quanto às expectativas que suscitaram no eleitorado cabo-verdiano. 
O Governo que Vexa dirige tem pela frente diversos processos importantes que se encontram pendentes, situações que requerem respostas urgentes, problemas os mais diversos que importa equacionar e resolver no curto prazo. 
Todos os Governos em início de mandato enfrentam situações semelhantes, com maior ou menor acuidade ou abrangência.
Os diagnósticos que ainda não foram feitos deverão merecer atenção imediata, para que o Governo tenha uma perspectiva completa da situação real do país, do que está mal e precisa de ser corrigido, e o que vai bem e merece ser continuado. 
As mudanças políticas na governação são salutares em democracia, e devem ser aceites com normalidade. 
As forças políticas revezam-se no poder, mas o Estado de Cabo Verde é perene, não muda com as alternâncias no poder. 
A continuidade do Estado é inquestionável, e isso deve ser tido em conta na governação. Há compromissos de Estado que devem ser respeitados, qualquer que seja a força política no Governo. O Estado de Cabo Verde tem interesses próprios que se colocam acima das lutas partidárias, e que, idealmente, devem merecer o consenso de todas as forças políticas. Em particular em matérias relacionadas com a política externa, a das comunidades no exterior  e a da segurança interna. 
Senhor Primeiro Ministro
As situações urgentes e os problemas de curto prazo não devem relegar para segundo plano as questões de fundo, de natureza estrutural que o país enfrenta, as quais requerem uma estratégia de abordagem clara e um ímpeto reformador bem calibrado e adaptado aos meios e às condições prevalecentes no país. 
De entre as inúmeras questões de fundo que Vexa irá seguramente enfrentar, seja-me permitido salientar algumas, pelo impacto profundo que têm na vida dos cidadãos. 
A necessidade do crescimento económico é, sem dúvida, o maior desafio que o Governo enfrenta. 
Primeiro, porque os insuficientes resultados dos últimos sete anos tiveram efeitos negativos no emprego e nos rendimentos das famílias, o mesmo é dizer na qualidade de vida dos cabo-verdianos. 
Esta tendência não pode perdurar por mais tempo. 
Os cidadãos têm a noção clara das limitações e conhecem a exiguidade dos recursos do país. Mas não se conformam com a redução do seu nível de vida, e estão, seguramente, dispostos a trabalhar pelo progresso do país, para o seu bem-estar próprio e para o bem-estar de todos. Precisam apenas da oportunidade para o fazer, e isso depende em grande medida das políticas que o Estado defina e ponha em prática para libertar as energias criadoras das empresas e dos particulares e, com isso, fazer a economia retomar o caminho do crescimento. 
O crescimento económico não é um objectivo em si, nem constitui a panaceia que resolve todos os problemas do país. Longe disso!
Mas é evidente para qualquer observador da realidade económica nacional e internacional, que, sem crescimento económico não há emprego, não são gerados rendimentos, não há receitas para o Estado, não há progresso. 
É esta realidade que justifica toda a ênfase que deve ser colocada nesta problemática. 
Uma economia diminuta como a nossa tem, ademais, que crescer a taxas elevadas, durante muitos anos, para alcançar um nível de desenvolvimento compatível com o de uma vida decente para todos, com a criação de emprego em número suficiente, e que seja capaz de resistir aos choques externos que, inevitavelmente, atingem os países tão abertos como o nosso, num momento ou noutro do nosso percurso.
O tempo não joga a nosso favor. A concorrência internacional nas áreas em que somos de algum modo competitivos, como por exemplo o turismo de mar e sol, é impiedosa. As reformas de fundo na esfera económica assumem, por isso, um cariz de urgência, que não se compadece com delongas, é certo, mas que ao mesmo tempo devem ser amadurecidas e  divulgadas e debatidas com a sociedade e suas instâncias representativas.
Estou ciente do papel crucial do investimento externo para o crescimento e desenvolvimento da nossa economia. Tem sido assim desde há vinte anos pelo menos, e continuaremos a precisar de um fluxo crescente de investimento externo no futuro previsível, sem o qual é ilusório pensar em crescimento acelerado. 
Mas isto não significa que o empresariado nacional seja relegado para uma posição secundária. As nossas empresas locais são os principais criadores de emprego no país; geram a maior parte dos rendimentos salariais para as famílias. Bastaria essas duas circunstâncias para sublinhar a relevância da nossa classe empresarial e a necessidade de acarinhar o esfoço dos empresários nacionais, sejam pequenos ou grandes, localizados na agricultura, no comércio, no turismo, na saúde, ou em quaisquer outras esferas da vida económica. 
Acarinhar não significa proteger da concorrência. Significa apenas não discriminar. 
A criação de um ambiente mais favorável ao desenvolvimento da actividade empresarial, área em que já foram feitos progressos relevantes, mas que requer, ainda, esforços adicionais importantes, deve ser levada a cabo tendo presente as necessidades de toda a classe empresarial, nacional e estrangeira.
As organizações dos trabalhadores são, também, um importantíssimo parceiro nesse processo, uma vez que representam um elemento essencial do sistema produtivo.
Excelências,
Ilustres Convidados, Minhas senhoras e meus senhores

A liberdade não é compatível com ausência de segurança, nem com um Estado fraco.
Os cidadãos esperam mudanças visíveis nesta área da governação.
Querem sentir-se protegidos pelas instituições públicas responsáveis pela segurança das pessoas e bens.
É preciso reavaliar as estratégias de segurança pública, reforçar as vertentes que se mostrem positivas, corrigir o que não tem produzido resultados, reforçar meios, inovar onde houver espaço para tal, aprofundar alianças com parceiros externos, tradicionais e novos, de modo a responder, num período de tempo razoável, às expectativas dos cidadãos. 
A violência, a grande criminalidade e o terrorismo, são realidades que apoquentam grande parte dos países do mundo, e Cabo Verde não constitui excepção. É preciso lutar em todas as frentes contra estes flagelos que tanto afectam o quotidiano dos nossos concidadãos.
O sucesso do combate à insegurança e à criminalidade dependerá também, em boa medida, de políticas públicas que favoreçam a atenuação do efeito dos factores criminógenos que têm a ver com défices em matéria de emprego, saúde, educação, ocupação de tempos livres, dispnibilidade parental, aliados ao vazio de instrumentos locais de regulação social.
Que fique, porém, clara esta noção: o combate pela redução da insegurança a níveis comunitariamente suportáveis – meta que deve estar sempre presente em sociedades livres, abertas e plurais – tem de ser pensado e levado a cabo pelo recurso a instrumentos, métodos e comportamentos ajustados aos valores e princípios de um estado de direito, ao seu núcleo essencial e irredutível, e não ao lado dele e muito menos contra ele.  
Minhas Senhoras e meus senhores,
A esperança de uma solução para a questão das assimetrias regionais de desenvolvimento acalenta todos os cabo-verdianos. O povo das ilhas quer um desenvolvimento inclusivo em que as pessoas recebem a sua quota-parte dos benefícios do desenvolvimento lá no seu rincão natal. A problemática da autonomia e do desenvolvimento local deve ser enquadrada no processo da Reforma do Estado que, também, deve ter em vista a edificação de um aparelho de Estado mais ágil e eficiente ao serviço do desenvolvimento e das pessoas. 

Excelências,
Ilustres Convidados, Minhas senhoras e meus senhores
A questão da integração do mercado nacional (e de desencravamento de algumas ilhas) e de facilitação da circulação de pessoas e bens entre as ilhas é um imperativo, é uma urgência e é estrategicamente relevante. O isolamento e a impossibilidade de escoamento da produção já não são aceitáveis.
Aqui também emerge a necessidade de políticas integradas e de engajamentos pluridisciplinares. E uma preocupação acrescida em matéria de solidariedade em relação aos que menos têm – em matéria de bens pessoais e em matéria de infraestruturas económicas, de equipamentos sociais e de qualidade de vida.
Sem pretender  imiscuir-me em assuntos que são da competência do Governo, saliento a necessidade de ajustar a nossa política externa aos imperativos das políticas económicas e de segurança do país. 
Em meu entender, as duas vertentes que referi, economia e segurança, devem ser, numa dimensão racional e adequada, fios condutores da nossa política externa. Em certa medida têm-no sido. Mas a nossa diplomacia deverá ser mais focalizada, mais inovadora e mais ousada nestas matérias.

Senhor Primeiro-ministro,
Minhas senhoras e meus senhores,
As expectativas são enormes, as pressões vão ser muitas e creio que muito dificilmente Vossa Excelência poderá disfrutar do tradicional período de graça. As fasquias ficaram colocadas bem altas.
Contudo, é fundamental que se tenha clara noção de que se é verdade que compete aos cidadãos exigirem e velarem pela realização da plataforma eleitoral sufragada maioritariamente nas urnas em 20 de Março, passado, também não é menos verdade que não se fará tudo de supetão, ao mesmo tempo. O importante é que se faça tudo o que for possível fazer, se siga realizando tudo o que for necessário fazer, e, quem sabe, se culmine em uma situação em que se possa realizar até o que não tinha sido acertado fazer agora. Para tanto, é ingente que sejam definidas prioridades e se invista em quanto tenha relevância estratégica, priorizando soluções em relação a desafios cuja resolução possa levar à de questões afins.

Exmo Senhor Dr. José Maria Neves,  Primeiro Ministro cessante,
Nos últimos quinze anos dirigiu o Governo de Cabo Verde, entregando-se à tarefa de procurar contribuir para o equacionamento e resolução dos essenciais problemas do país. Durante esse período o país e o mundo conheceram  importantes alterações que tornaram os seus desafios muito mais complexos.
Nesta ocasião aproveito para lhe agradecer o esforço desenvolvido por si e pelas equipas que dirigiu e desejar-lhe, a si  e aos colaboradores e respectivas famílias, sucesso e felicidades pessoais e familiares. 
Excelências,
Ilustres Convidados, minhas senhoras e meus senhores
Num dia tão marcante para o país, é fundamental lembrar a grande e expressiva parcela da Nação que vive no exterior e assumir com toda a clareza que as relações com a nossa diáspora são cruciais nas perspectivas da unidade e coesão nacionais e do aproveitamento das suas grandes potencialidades para o desenvolvimento do país. 
Um olhar muito especial devem merecer os cabo-verdianos que, em alguns países, nomeadamente africanos, enfrentam dificuldades de monta.
Senhor  Primeiro Ministro
O Povo de Cabo Verde acaba de lhe conferir a legitimidade democrática para governar o país e enfrentar os grandes desfios que se perfilam.
Estou convencido de que, juntamente com a sua equipa de governo, tudo fará para ajudar a construir o progresso e o bem-estar da nossa gente.
  Na oportunidade asseguro-lhe, a si  e à  sua equipa,  toda a colaboração  institucional – permanente, leal e construtiva, como tenho procurado incessantemente fazer nestes anos de mandato -   no quadro constitucional vigente.
Para o bem de Cabo Verde desejo-lhe, a is e a todos os membros do seu Governo muito sucesso no desempenho das vossas altas funções.
Muito obrigado.

N.E. - Colaboração de
José Fortes Lopes