FÚRIA GASTADORA...

Antigamente, era assim: penduravam-se as meias à lareira, na esperança de que o Menino Jesus lá colocaria um presente, durante a noite, e que nos deliciaria (ou não...) na manhã seguinte...Os presentes iam desde rebuçados a minúsculas "tabletes" de chocolate, a um par de meias novo, uma camisinha dedicamente feita à mão, um táxi de lata, uma boquinha de palmo sem cuecas,  uma carrocinha de pau, um pião de ponta reluzente e cordel novinnho em folha, coisas simples para gente simples que vivia simplesmente mas que dava à Festa o cunho que lhe era devido: a envolvencia de uma festa de família partilhando momentos raros de entrega, de amor, cumprindo uma tradição milenar que concedia ao "dar" a primazia da troca e, tudo, em nome das crianças porque, afinal, de comemorar um nascimento se tratava (e de trata, apesar de tudo...), de um nascimento que haveria de mudar o mundo, com acidentes de percurso que toda a evolução provoca, com contradições, exageros, ódios e guerras até à paz do entendimento, da compreensão mútua, do um ecumenismo urgente baseado no respeito e reverencia às convicções alheias, pois é no caldeamento de tantas diversidades que se fundem os preceitos da convivência pacífica: dando, por vezes. mais do que se recebe e vivendo o Natal com uma festa mais de fé e amor do que de ostentação e fausto...

Não sei se é de formação ou deformação este sentimento de revolta que me invade, quando ouço notícias de Paris que dão conta de que as vendas de produtos de luxo aumentaram de tal forma, que algumas lojas de marcas sonantes.,  reduziram o seu horário de funcionamento -algumas de forma drástica - como forma de evitar o esgotamento de "stocks" e a vergonha de não ter que vender na véspera do Natal...

A crise anda por aí, sem vislumbre de melhorias a prazo decente...Só não compreendo é como é que esta crise e esta ostentação criminosa conseguem conviver...