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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MUAMMAR ABU MIYAR AL-GADDAFI...

O nome era tão pomposo como o próprio e como o cenário de Mil-e-uma-noites que o acompanhava, onde quer que fosse e do qual emergia, como um deus, a figura, por vezes grotesca, do coronel, todo-poderoso que tudo podia e tudo fazia, sob um olhar frio e acusador, capaz de matar um inimigo de terror antes que a morte física o alcançasse...Senhor de uma fortuna de muitos milhões (só (!) 1.300 milhões estão na Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa...) sugou as riquezas do país até à medula, para subsidiar a construção de um império familiar a quem tudo era permitido...
Com os exageros que se lhes reconhecem, os líbios festejam a morte do tirano enquanto os líderes mundiais que ontem se reverenciavam ao poder do petróleo que ele representava, se juntam ao coro da populaça na sua dança macabra tentando, a todo o transe, estar na linha da frente quando começar a distribuição dos despojos...Le roi est mort, vive le roi!

2 comentários:

  1. Texto bem escrito e pleno de verdade. O que mais me choca em toda este trágico acontecimento é a tremenda hipocrisia do Mundo Ocidental, que hoje em dia não advoga outros valores senão os do seu interesse imediato, mesmo que a evidência do seu oportunismo nos entre pelos olhos dentro. Não fosse o petróleo líbio, todos sabemos que jamais os aviões da NATO teriam levantado voo das suas bases, pois de outro modo o teriam feito em direcção à Síria, onde persistem cenários idênticos de violência armada entre o poder e os seus opositores. Muito em particular, envergonho-me de um dia ter pertencido a uma força integrada na NATO, que deixou de ser o que foi para passar a braço armado para todo o serviço de um Ocidente em vias de sucumbir face à crescente hegemonia dos povos asiáticos. Sinto que chegámos ao fim da civilização que conhecemos. Para Francis Fukuyama, o “Fim da História” se coroava com o triunfo da democracia e do capitalismo sobre os demais sistemas políticos e económicos. Mas não. O “Fim da História” vai ser a queda da civilização ocidental. E é por isso que as tribos e facções líbias não vão conseguir erigir uma nação edificada e um Estado sólido, sob a égide da democracia.

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  2. Obrigado, companheiro, pelas palavras amigas. Aliás, que direi eu da sua prosa?
    Um conceito a que há dias dei guarida, fala da nacessidade de os pais educarem os seus filhos no sentido de eles entenderem as coisas pelo seu "valor" e não pelo seu "preço"...Creio que este é o cerne dos males que enfermam a sociedade moderna em que todos os vetores cívicos de conduta têm vindo a ser paulatinamente substituídos por uma unica via de realização pessoal baseada na acumulação de riqueza e de estatuto social a qualquer preço, numa luta pela vida em que deixou de haver "concorrentes", apenas "inimigos"...
    Como parece claro, esta degradação dos indices sociais cria espaço à penetração de ideologias politico-economicas fundamentalistas e muito embora não creia num regeresso de Gengis Khan,
    não posso esconder um certo receio...Aliás, eu era aínda jóvem. muito jóvem mesmo, mas recordo que alguém, julgo que Churchil, já nesses idos de 40 avisava contra o "perigo amarelo"...
    Acredito que a História se repete e por isso, num novo Renascimento!
    Mas, como o meu amigo, não creio que o caldo de culturas e etnias líbias permita nada de estavel naquela sacrificada nação!

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