A LINHA RECTA...

Estávamos no 3º ano, no então Liceu Gil Eanes, em Mindelo, ilha de S.Vicente - Cabo Verde e éramos para aí uns 23 alunos, no salão de desenho, na aula do professor Simões...Corria, talvez, o ano de 1948, tinha eu, portanto, 14 anos; eu e a maioria dos meus colegas, mais rapazes que raparigas.

Chamado ao quadro, o João Ratim (Ratinho) foi convidado a traçar uma linha recta...Rei dos gozadores do Liceu, Ratim pegou no giz branco e traçou na lousa negra uma linha que não teria mais do que dois centímetros... Instado a prolonga-la, Ratim acrescentou-lhe outro centímetro o que provocou alguma exaltação ao professor Simões que, elevando a voz, ordenou ao aluno que traçasse "uma linha que se visse"...

João iniciou uma linha que ia de um lado ao outro do quadro, e depois seguiu parede fora até à porta do salão por onde saiu, sempre de giz em punho traçando a sua linha recta até desaparecer, literalmente, pois ninguém mais o viu durante as férias que começariam dentro de dois dias...

"A recta do Ratim" já era um  clássico da História do Liceu e até teve direito a um apoteose com que ninguém contava.

No ano lectivo seguinte, já estávamos no 4ºano, havia aula de desenho na terceira hora com o inevitável Professor Simões.

O salão estava em silencio, aguardando as primeiras palavras do mestre quando a porta se abre dando entrada ao João Ratim, empunhando um toco de giz que ia deixando rasto sobre  a parede...Chegado ao quadro, João parou, e levantando o que restava do giz à altura dos olhos, fitou o espantado Dr. Simões e perguntou: "Já chega, Senhor Professor?"

(Embora levemente romanceada esta história é baseada em factos reais...)