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sábado, 25 de janeiro de 2014

(6436) - POEIRA DOS TEMPOS...




1886

ARCHIPELAGO DE CABO VERDE

ILHA DE SANTO ANTÃO

(AGRICULTURA)

Conclusão 2
O cacto da cochonilha foi introduzido nas ilhas de Cabo Verde no anno de 1839, devendo-se este beneficio ao governador geral do archipelago, João Fontes Pereira de Mello, pae do actual sr. ministro da fazenda. Foi importado da ilha de Tenerife, e em breve se prepagou nas ilhas de S. Nicolau, de Santo Antão e outras do mesmo archipelago, onde vegeta e se multiplica como se fôra indigena d’essas localidades. Veiu juntamente com este cacto o precioso insecto que lhe dá o nome e nélle e n’elle se cria.
 
A cochonilha é um insecto pequenino, que vive e sustenta-se pegado ás folhas d’este cacto, como as plantas parasitas que vemos pendentes dos troncos das arvores colhe-se de dois em dois mezes, pois que se reproduz e se desenvolve de modo prodigioso. Faz-se a colheita raspando levemente as folhas do cacto com uma faca de pau ou de ferro, mas não cortante, ao mesmo tempo que se apara em uma bacia ou bandeja os insectos que se vão despegando. Depois lançam-se os insectos em agua fervente: tiram-se passado apenas alguns segundos, ponde-se a seccar á sombra; e sêccos se vendem por bom preço, porque não ha carmim mais bello que o d’elles se extrae. São as cochinilhas femeas que produzem esta tinta muito apreciada nas industria e nas artes. Para reprodução deixa-se ficar pegada ás folhas, por ocasião das colheitas, uma porção de cochinilhas femeas, que ahi morrem, inchando em seguida, depois secando e mirrando-se, até que ao cabo de curto praso sae de dentro d’estes corpos ressequidos uma infinidade de novos insectos.

Sendo examinada a primeira amostra de cochinilha de Cabo Verde, que veiu a Lisboa, pelo sr. Dr. Benardino Antonio Gomes, distintíssimo professor de medicina, e igualmente versado em outros conhecimentos humanos, declarou, em resultado das analyses a que procedeu, que a cochinilha de Cabo Verde de primeira qualidade a que é sécca em estufa, é pelo menos egual, e talvez até superior, á boa cochinilha americana; e que a de segunda qualidade a que é passada por agua a ferver, mui pouco inferior e ainda em riqueza de principio corante á mesma boa cochinilha do México.
Com taes condições, acrescidas á fácil multiplicação e rápido desenvolvimento do cacto em que se cria este insecto, que para mais vantagem até afronta as maiores séccas sem prejuízo da sua força vegetativa, pode-se julgar dos excelentes resultados que tem a esperar a ilha de Santo Antão, se algum dia os seus habitantes se resolverem a cultivar este ramo da industria, que tão productivo está sendo em várias regiões da America.

Tambem foram levadas para a mesma ilha em tempos antigos laranjeira e a vide. A primeira tem-se propagado e prosperado, havendo hoje alli bastantes pomares, que recompensam amplamente o suor do cultivador. A segunda, pela influencia do clima, e também pela impropriedade em que a plantaram (estão plantadas alli as vinhas em varzeas, ao longo das ribeiras, cuja fresquidão ás parras, e rouba uva a sua parte sacharina) produz pessima uva, e um vinho similhante, ou talvez ainda inferior, ao que se colhe em a nossa provincia do Minho. O nome de mijarreta, com é conhecido tal vinho em toda a ilha, dá certamente uma ideia exacta da sua qualidade.
Deixámos de pôr n’este logar, por ser muito extenso o catalogo das arvores fructiferas, das hortaliças e das plantas leguminosas, medicinaes e outras ainda uteis na economia domestica, umas indígenas das regiões tropicaes, e outras oriundas dos paizes temperados da Europa…

Continua
I.De Vilhena Barbosa


1 comentário:

  1. Quando visitei o Peru participei de oficinas de artesanto e tecelagem com as mulheres de alguns povoados e lá vi todo processo de tingimento das lãs e os belos tons que a cochonilia produz.
    Por cá, pouco se usa artesanalmente.

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