1886
ARCHIPELAGO
DE CABO VERDE
ILHA
DE SANTO ANTÃO
(AGRICULTURA)
Conclusão
2
O cacto da cochonilha
foi introduzido nas ilhas de Cabo Verde no anno de 1839, devendo-se este
beneficio ao governador geral do archipelago, João Fontes Pereira de Mello, pae
do actual sr. ministro da fazenda. Foi importado da ilha de Tenerife, e em
breve se prepagou nas ilhas de S. Nicolau, de Santo Antão e outras do mesmo
archipelago, onde vegeta e se multiplica como se fôra indigena d’essas
localidades. Veiu juntamente com este cacto o precioso insecto que lhe dá o
nome e nélle e n’elle se cria.
A cochonilha é um
insecto pequenino, que vive e sustenta-se pegado ás folhas d’este cacto, como
as plantas parasitas que vemos pendentes dos troncos das arvores colhe-se de
dois em dois mezes, pois que se reproduz e se desenvolve de modo prodigioso.
Faz-se a colheita raspando levemente as folhas do cacto com uma faca de pau ou
de ferro, mas não cortante, ao mesmo tempo que se apara em uma bacia ou bandeja
os insectos que se vão despegando. Depois lançam-se os insectos em agua
fervente: tiram-se passado apenas alguns segundos, ponde-se a seccar á sombra;
e sêccos se vendem por bom preço, porque não ha carmim mais bello que o d’elles
se extrae. São as cochinilhas femeas que produzem esta tinta muito apreciada
nas industria e nas artes. Para reprodução deixa-se ficar pegada ás folhas, por
ocasião das colheitas, uma porção de cochinilhas femeas, que ahi morrem,
inchando em seguida, depois secando e mirrando-se, até que ao cabo de curto praso
sae de dentro d’estes corpos ressequidos uma infinidade de novos insectos.
Sendo examinada a
primeira amostra de cochinilha de Cabo Verde, que veiu a Lisboa, pelo sr. Dr.
Benardino Antonio Gomes, distintíssimo professor de medicina, e igualmente versado
em outros conhecimentos humanos, declarou, em resultado das analyses a que
procedeu, que a cochinilha de Cabo Verde de primeira qualidade a que é sécca em
estufa, é pelo menos egual, e talvez até
superior, á boa cochinilha americana; e que a de segunda qualidade a que é
passada por agua a ferver, mui pouco
inferior e ainda em riqueza de principio corante á mesma boa cochinilha do
México.
Com taes condições,
acrescidas á fácil multiplicação e rápido desenvolvimento do cacto em que se
cria este insecto, que para mais vantagem até afronta as maiores séccas sem
prejuízo da sua força vegetativa, pode-se julgar dos excelentes resultados que
tem a esperar a ilha de Santo Antão, se algum dia os seus habitantes se
resolverem a cultivar este ramo da industria, que tão productivo está sendo em
várias regiões da America.
Tambem foram levadas
para a mesma ilha em tempos antigos laranjeira e a vide. A primeira tem-se
propagado e prosperado, havendo hoje alli bastantes pomares, que recompensam
amplamente o suor do cultivador. A segunda, pela influencia do clima, e também
pela impropriedade em que a plantaram (estão plantadas alli as vinhas em
varzeas, ao longo das ribeiras, cuja fresquidão ás parras, e rouba uva a sua
parte sacharina) produz pessima uva, e um vinho similhante, ou talvez ainda
inferior, ao que se colhe em a nossa provincia do Minho. O nome de mijarreta, com é conhecido tal vinho em
toda a ilha, dá certamente uma ideia exacta da sua qualidade.
Deixámos de pôr
n’este logar, por ser muito extenso o catalogo das arvores fructiferas, das
hortaliças e das plantas leguminosas, medicinaes e outras ainda uteis na
economia domestica, umas indígenas das regiões tropicaes, e outras oriundas dos
paizes temperados da Europa…
Continua
I.De Vilhena Barbosa
Quando visitei o Peru participei de oficinas de artesanto e tecelagem com as mulheres de alguns povoados e lá vi todo processo de tingimento das lãs e os belos tons que a cochonilia produz.
ResponderEliminarPor cá, pouco se usa artesanalmente.