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quarta-feira, 5 de março de 2014

[5717] - CENTRALISMO...

 
Imaginem que a TV e a Rádio estão todos centralizados na Praia, tudo fazendo parte de uma política colonial cultural e ideológica existente. O Eduino, em 2012 quando lá estive, contou-me o estado de indigência em que trabalhavam como funcionários na área da informação , sem condições técnicas nem meios e tudo comandado lá da Praia, com muito abusos de burrocratas. Isto é um insulto, pois até 1974 tínhamos 2 rádios no Mindelo que representavam a pujança da ilha e se havia propaganda política era muito discreta. Com a independência, o Paigc fechou o Rádio Clube e levou todos os meios técnicos e humanos para a Praia a partir de onde debitava propaganda política de má qualidade. É que, quando pensamos nesta história toda, fica-se revoltado...
Eu não posso falar por outras ilhas, como SNicolau ou S. Antão, mas é inacreditável como é que é possível que não se produzam programas televisivos em S. Vicente, uma informação local, uma televisão ao serviço da ilha ou da região. Eu sou pela informação independente do Estado. É assim que, por não haver condições técnicas em S.Vicente, em vez de uma apresentadora deslocar-se para aí, tem que se deslocar 3 ou 4 pessoas para participar num ‘plateau’ televisivo a Praia. Porque? Não acham isso ridículo? Quem imaginaria isto há 40 ou 50 anos? Para que um tal debate se realizasse no Mindelo tinham que enviar todos os meios técnico, todo um plateau técnico e meios humanos, outro paradoxo. Por outro lado Cabo Verde funcionou e tem ainda resquícios da União Soviética: muita propaganda governamental (felizmente que alguns medias independentes formaram estes últimos anos, que o digam o Alte Pinho e o Eduino e outros) manipulação da informação básica e tentativa de lavagem de cérebros dos cidadãos. É isto que está matando Cabo Verde: a incapacidade de pensar os problemas locais paralisam, anestesiam o debate nacional.
Esta é a situação ridícula que se vive em Cabo Verde 40 anos depois da independência, um país dos mais centralizados do mundo, (nem talvez na URSS, pois era por definição uma união de repúblicas). Ou seja ,somos mais centralista (papistas) que os próprios centralistas comunistas. S. Vicente andou para trás e perdeu em toda a linha com a independência, por culpa de um processo muito mal conduzido, onde se conjugou muita leviandade, incompetência crassa e puro cinismo político. E bem feito para nós: fomos mais papistas que o próprio papa, agora temos que ir aguentando os desaforos...
Isto é um autêntico marasmo. Desmantelar este estado de coisas é uma obra titãnica e nem sei se com a Regionalização haverá condições políticas para tal missão, pois muitos santiaguenses verão nisto uma operação contra a sua ilha. Estes partidos fizeram a proeza de transformar a ilha de Santiago no centro de tudo pelo que reformar o sistema pode ser encarado como uma violência contra eles, daí a dificuldade de constituir uma aliança com os meios progressistas desta ilha. Com o discurso fundamentalista que transformou Santiago no princípio e na finalidade de Cabo Verde, o centralismo transformou-se num dogma ou numa droga. Como diz o Alte Pinho, estamos feitos ao bife...
Abraço
José Fortes Lopes

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