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segunda-feira, 17 de março de 2014

[6676] - DE MAL A PIOR...

 
DA MATIOTA ATÉ À LAGINHA
Em meados dos anos 70 foi cometido em S. Vicente um crime ecológico : a Matiota, a praia por excelência dos mindelenses foi destruída para ali se construir um Estalaleiro Naval. A justificação era que iriam receber barcos de todo o mundo, seria um grande negócio para o Arquipélago, seria criado um número grande de postos de trabalho, etc,.
Numa altura em que, em todo o mundo se procurava valorizar os espaços à beira-mar, melhorando as praias e construindo avenidas marginais, em S. Vicente transformava-se uma bela praia num estaleiro, inevitavelmente poluente.
É claro que a Cabnave trouxe diversos benefícios para S. Vicente, nomeadamente os postos de trabalho que criou e a formação que proporcionou nos seus trinta e um anos de existência.
Dou o devido valor a esses resultados e acho que o balanço é bastante positivo apesar das dificuldades económicas por que a empresa tem passado.
Mas porque razão escolheram o local da praia natural do Mindelo quando o Porto Grande tinha tantos lugares onde se poderia ter construído o Estaleiro? E mesmo fora do Porto Grande havia muitos lugares de águas profundas, junto à costa, como, por exemplo, “Nin d’Guintch”.
De nada valeram os protestos dos mindelenses, a sua voz, como em diversas outras ocasiões, não foi ouvida.
Mas os mindelenses não se rendem tão facimente. Ao fim de semana ainda alguns vão tomar banho no que resta da antiga Matiota que agora é conhecida como a “Praia das Docas”.
Até dão mergulhos no que resta do tranpolim, construído com dinheiro que mindelenses juntaram em subscrição pública.
A Lajinha, que era uma praia de segunda, (os mindelenses preferiam andar mais um bocado e ir até à Matiota) passou a ser a praia de eleição.
Atualmente a sua área foi substancialmente aumentada com areia proveninte do desaçoreamento da zona do cais acostável. É uma medida louvável e quem vê as fotos da nova Lajinha fica encantado.
Mas, como se costuma dizer “não há bela sem senão” e “os senãos” são muitos :
- A tal areia que adicionaram à praia parece ser cálcarea – há quem diga que é pozolana – e se nos deitarmos nela ficamos com o corpo todo manchado de branco; se usarmos uma toalha é ela que fica manchada.
- Essa areia forma conglomerados que magoam os pés quando caminhamos sobre ela;
- A água numa grande extensão a partir da praia está turva como resultado dessa espécie de “cal” em suspensão e, se abrimos os olhos debaixo de água, eles ficam vermelhos e a arder.
- Logo que se entra na água a profundidade aumenta rapidamente pelo que a praia está perigosa, principalmente para crianças e pessoas que não sabem nadar. Se não forem colocados cartazes a alertar as pessoas para o perigo na época balnear haverá vítimas, inevitavelmente. Dizem que o mar se vai encarregar de suavizar o declive acentuado que existe atualmente. Pode ser verdade, mas até lá como vai ser?
- Há um vigilante na praia mas se alguma criança perder o pé vai ser difícil localizá-la na rebentação pois, como foi dito atrás, a água está muito turva.
Penso que as autoridades deveriam reconstruir o que resta da Matiota dando assim ao povo do Mindelo uma alternativa com águas límpidas e com areia que merece esse nome. Há condições para se criarem nesse local, sem grandes dispêndios, piscinas naturais onde as crianças e os adultos que não sabem nadar poderiam banhar-se em segurança, como acontece na Madeira. É o mínimo que podem fazer para compensar o crime ecológico cometido nesse mesmo local, há quatro décadas atrás, pelas autoridades de então.
 
 
Foto - Rui Machado
 
Fonte - FACEBOOK
 
 

2 comentários:

  1. Muito bom, este texto do Rui Machado. Eu desconhecia que essa areia fosse da qualidade descrita, o que significa que não é areia adequada para aquele fim. Como não viram isso? É possível que haja uma percentagem de pozolana na sua composição, dado que muito desse material escapava para o fundo do mar na altura das descargas. Só que o que caía ia para o fundo e acabava por pousar, sedimentando-se. Não é o caso da areia que foi amontoada sobre a praia, pois ela fica à superfície e naturalmente que tem um efeito compurscador se não é areia pura.

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  2. Cabo Verde tem que deixar de se fechar sobre si mesmo. Se queremos obter receitas do turismo temos que apostar bem forte na qualidade do nosso produto. Temos que ter restaurantes decentes, com comida apelativa, artesanato local bem explorado, Pontos de Turismo e Informação bem estruturados, serviços de guias formados e credenciados (já nô ca ta na tempe de cicerone de ponta de praia). Temos que ter um circuito aos monumentos e pontos históricos bem definidos, e cuidar do nosso património histórico em vez de demoli-lo. Temos que ter cursos de formação superior na área de Gestão e Turismo e escolas de formação profissional para a área da hotelaria e turismo - para formar animadores culturais, técnicos de turismo, recepcionistas, Chefes , pessoal de servir à mesa, etc. etc. , para que o pessoal do sector se apresente como um verdadeiro profissional do turismo, mais dinâmico e sobretudo que saiba comunicar em inglês que é hoje a língua universal. Temos que manter as nossas praias limpas e organizadas e estimular a implantação de alguns restaurantes nelas não de qualidade e dignidade, não os botecos mal frequentados que afugentam até os da terra. Temos que disciplinar os serviços de táxi que exploram as pessoas com as tarifas arbitrárias e exorbitantes só porque são estrangeiros. Os estabelecimentos comerciais e restaurantes devem estar devidamente identificados com letreiros. Tenho a certeza que se vocês forem a uma cidade onde não há informação sentem-se perdidos e se não houver nada para ver ou fazer ou se tudo for de má qualidade “bsot ta ba bá tchorá bsot dinher”. Enfim há uma série de coisas que deviam ser feitas e não são e então quando há uma crítica mordaz o pessoal fica todo ofendido (pessoal ê piluuude!!!) dizendo que o turista não conhece a realidade do país e que devia ficar na sua terra etc. etc. O turista não tem que conhecer a realidade do país e ele vem cá pela primeira vez e as primeiras impressões é que valem. Pessoas dizem que ”temos o que temos” mas acho que é preciso apresentar bem o que temos para se poder vendê-lo. O governo têm um papel importante a jogar nesta matéria e não pode demitir-se dele que é fomentar o turismo. E para isso ele tem que ter um plano de desenvolvimento do turismo, a médio longo prazo e isto inclui entre outras coisas, financiamentos pois sem dinheiro não se chega lá. Não vamos esperar que sejamos demolidos por críticas que ressoam ( estamos num mundo globalizado) e contribuem para que o turista evite Cabo Verde como destino ou então que faça “uma vez a Cascais e nunca mais”, para metermos mãos à obra pois, depois do colapso recomeçar é mais difícil e envolve maior esforço. Mas também é preciso mudar de atitude. Então pessoal, queremos ganhar dinheiro com o turismo ou não? Se sim, metam o orgulho no bolso, mãos à obra e vamos trabalhar para que isto se concretize. Bocas não levam a parte alguma. Fica aqui uma pergunta: Porque é que a Madeira consegue ganhar muito dinheiro com o turismo? Por acaso tive a curiosidade de pesquisar o que autor escreveu sobre a Madeira durante a viagem no mesmo cruzeiro, MSC Sinfonia em http://www.heraldsun.com.au/travel/world/visit-the-island-of-madeira-aboard-the-msc-sinfonia/story-fnjjva7c-1226832814529.

    Matrixx

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