Milton Hatoum, professor e
escritor brasileiro, escreveu no jornal O Público um interessante artigo em que
analisa o percurso do Brasil nos últimos 50 anos. Sobre o problema da
identidade do povo brasileiro esboçou esta síntese: “Não reivindicamos uma
origem e uma identidade fixa. Nossa identidade é plural e difusa, pois a
mestiçagem é parte constitutiva da sociedade brasileira. E, pelo menos nesse
sentido, antecipamos o futuro”.
Este pensamento trouxe-me de
volta a questão suscitada pela
entrevista dada por Iva Cabral e sobre a qual trocámos opiniões. É verdade que
seria estultícia dizer que Cabo Verde é uma reprodução sociológica do imenso
Brasil a uma escala diminuta, senão em aspectos particulares da miscigenação
operada em ambos os lados e na existência de uma língua comum.
Mas o que é de relevar na
afirmação de Milton Hatoun é a
consciência assumida, por ele e certamente pela maioria do povo
brasileiro, de que a mestiçagem é um
dado enriquecedor da sua sociedade e que por essa circunstância estão a
antecipar o que será o futuro da humanidade. Ora, todos temos lido opiniões e
teses de antropólogos que prevêem que o habitante do planeta do futuro será um
homem resultante do cruzamento das várias etnias, o que permite também concluir
que as diferenças de cultura estarão implicitamente bastante esbatidas, mercê
do efeito conjugado da mobilidade social e da profusão dos meios de comunicação
cada vez mais avançados.
É por tudo isto que voltei a
reflectir sobre as palavras da Iva Cabral, tentando encontrar resposta para as
seguintes perguntas:
- Que sinais encontrou na
actualidade da sociedade cabo-verdiana
para levantar neste momento a questão da nossa identidade africana e da
necessidade do “retorno” ao continente?
- Por que razão entendeu ser
ela a exprimir de viva voz aquilo que a República de Santiago talvez pense mas
não proclama com fanfarra e foguete, pelo menos por enquanto?
- Que credenciais a recomendam
e que autoridade detém para semelhante leitura da realidade cabo-verdiana,
entrando em colisão com o pensamento “Claridoso”? O ser filha de quem é?
- O que a leva a pensar que o
seu pensamento encontra acolhimento em toda a sociedade cabo-verdiana, incluindo
as comunidades emigrantes?
Eu não sei, mas posso
especular dizendo que tudo isto parece estar mais enfeudado a um recado
político do que a um pensamento intelectual autónomo, o que é grave. Era só o
que nos faltava ter agora reitores de
universidades porta-vozes encapotados do ministério da cultura. Não é de
surpreender se a senhora reitora vier brevemente a terreiro com a questão do
ALUPEC. Temos de estar preparados para tudo.
O que merece realce é, sem
dúvida, a diferença de visão entre o citado professor brasileiro e esta
professora cabo-verdiana. Enquanto o
primeiro tem uma visão prospectiva da História, a segunda prefere uma visão
reducionista. Enquanto um visiona um homem do futuro liberto de preconceitos de
raça e cultura, a outra entende que o progresso não se alcança fora dos espaços
exclusivos. A meu ver, é a diferença entre o progressismo e a estagnação da
civilização.
O cabo-verdiano é um
case-study, como sabemos, exactamente pela sua singularidade humana e pelo que
representa de uma utopia que ele próprio encarna e que surgiu de forma natural
e espontânea, não de qualquer cálculo ou propósito pré-determinado.
Deixem a nau cabo-verdiana
seguir o seu curso natural em vez de a ancorar onde não quer.
ADRIANO MIRANDA LIMA
Sobre este assunto, permito-me aconselhar a leitura do livro: " Seroantropologia das Ilhas de Cabo Verde", de autoria do Dr. Almerindo Leça (1) de 1957.
ResponderEliminarEste livro deu azo a uma mesa redonda, onde esteve presente a elite intelectual da altura :
Tema: " O Homem Cabo - Verdiano"
Presentes: O autor; Aníbal Lopes da Silva, medico; Júlio Monteiro, advogado e A.do Conselho; António Miranda, médico; Baltasar Lopes da Silva, advogado, reitor do Liceu; Raúl Ribeiro, comerciante, director do Noticias de CV; Henrique Teixeira de Sousa, médico, escritor; Manuel Serra, advogado; António Roque Gonçalves, professor do Liceu; Augusto Miranda, advogado; Jonas Wahnon, industrial; Joaquim Nonato Ramos, comerciante; José Resende, major; João Morais, medico, director do Hospital, Júlio Oliveira, Presidente da CMSV; José dos santos, comerciante metropolitano; Daniel Tavares, médico; Manuel Meira, médico; Olímpio Nobre Martins, médico; João Lopes, comerciante; Manuel Pelico, oficial do exercito; José Mascarenhas; Adriano Duarte Silva, advogado, deputado.
....
Este assunto e outros, como por exemplo, a linguagem crioula, foram amplamente debatidos.
(1) Este livro encontra-se disponível na Biblioteca do Instituto Tropical I. Cientifica / Lisboa.
Pode ser parcialmente consultado no blogue: Buala. org.pt - projecto crioulo cabo Verde.
Iva Cabral, é porta-voz da estafada e provocatória campanha dos fundamentalistas do PAIGC/CV, que, pelo facto de terem a maioria política, dispoem de todos os meios de manipulação, para convencerem os Cabo-Verdeanos, mais ignorantes, de que a salvação de Cabo Verde está na Grande Marcha, de regresso à Terra Prometida do pai dela, o idealista e visionário Amílcar Cabral. Consequência de complexos de mediocridade encapotada
ResponderEliminarOh Escorpião Vermelho, parece-me que quem está aqui encapotado, é vossa excelência ! Porque não se identificas e mantem um diálogo de nível e útil, como os demais ?? Pontos de vista, valem o que valem e ai posso recorrer do último parágrafo do cronista (Sr Adriano Lima) e dizer que há muita gente que alinha pelo mesmo pensamento mas também há muita gente que não ! Todos os Caboverdianos são tripulantes da nau Caboverdiana e cada um deverá ser livre de exprimir e escolher o seu rumo, como individuo social e integrado que é! O que significa "rumo natural" duma Nação? Isto já não existe neste Mundo dito Globalizado. Hoje em dia, mais que nunca, o Capitão da nau, em salvaguarda da sua tripulação, deverá estar atento ás marés que vem do norte, sul, este e oeste e corrigir sistematicamente as rotas, quando assim for necessário. Se for preciso ancorar para definir e refazer a rota e deixar passar as más marés, que seja feito. E quem não quer ? Quem não vive com uma boa dose de prudência ? Quem não quer ser dono do seu destino e rumo ??? Quem não quer ser LIVRE ? Porque, ter uma IDENTIDADE é mais que tudo, SER LIVRE !
ResponderEliminarPermitam-mea pequena observação...Se é certo que "escorpião vermelho" não identifica nada, "ZRL" não identifica mais..Ou estarei a ver mal o a questão?!
ResponderEliminarDe facto, ZRL, está literalmente encapotado
ResponderEliminarSr Azevedo, as iniciais de um nome, podem não identificar a pessoa mas, não deixa de ser o nome da pessoa (assim como a rubrica). Escorpião vermelho, nem uma coisa nem outra. Estou certo ou errado ???
ResponderEliminarQuanto ao Escorpião, faça favor de servir-se da resposta ao Sr Azevedo (pessoa que respeito muito) e, por favor, seja mais enriquecedor no assunto ! Abraço patriota.
Podiamos transformar isto numa complexa e extensa discussão semântica mas o contexto do post nada tem a ver com isso... De resto, este espaço não nega cobetura a ninguem, nem mesmo aos "anónimos": apenas se lhes exige compostura e contensão verbal pois o que aqui pretendemos é discutir ideas, concepções, teorias, princípios, numa perpectiva Histórica ou de mera curiosidade científica, pois nem só de pão o homem vive!
ResponderEliminarSejam bem-vindos os Escorpiões (uma revisãozinha aos travões seria aconselhável...) os ZRL os TSF ou os GNR!!!
Braça,
Zito