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quinta-feira, 15 de maio de 2014

[6911] - MORREU O CAPITÃO MARCO LOPES...



MINDELO: Morreu último capitão da emigração marítima para os EUA


O último timoneiro do navio “Ernestina” deixou este mundo de vivos, mas a sua determinação em enfrentar obstáculos é exemplo para toda a Nação. A última leva de emigrantes cabo-verdianos que cruzou o Atlântico por via marítima, foi transportada pela embarcação tendo ao leme o velho “lobo-do-mar”


Marco Nascimento Lopes, o capitão do navio “Ernestina” que levou para os Estados Unidos da América (EUA) os últimos emigrantes cabo-verdianos que atravessaram o oceano por via marítima, morreu no Mindelo, a cidade que o viu nascer e onde vivia.
Nascimento Lopes esteve durante anos ao leme do “Ernestina”, uma embarcação bastante frágil mas que nunca deixou de ser ponte de esperança dos cabo-verdianos que rumavam ao novo mundo em busca de uma vida melhor. Um objetivo que contou com o empenho heróico da tripulação capitaneada por este velho “lobo-do-mar”, um quase anónimo herói cabo-verdiano.
O “Ernestina” foi construído e fez-se ao mar em 1893, alternando entre viagens aos EUA, a São Tomé, e o comércio entre as ilhas do arquipélago. Até 1974 o navio estoicamente cruzou o mar, onde era recebido em festa em cada ilha, até que foi remetido à inatividade. Em 1982, por decisão do Governo de Cabo Verde, foi oferecido aos EUA e ancorado no Porto de New Bedford, onde reside uma forte comunidade cabo-verdiana.
Navio foi recuperado

Até 2010, o navio esteve sujeito à voragem do tempo e, à beira de ser dado como perdido, foi recuperado e palco de um programa educativo orientado por uma antropóloga norte-americana. No entanto, há cerca de um ano, o professor e intelectual cabo-verdiano Leão Lopes, ao visitar o navio, ficou (segundo disse ao JSN) com a sensação que o programa teria sido suspenso, embora o “Ernestina” se mantenha em boas condições de preservação e navegabilidade.
O então ministro da Cultura, Manuel Veiga, chegou a anunciar uma viagem do “Ernestina” pelas ilhas de Cabo Verde, em 2010, assinalando o 35º aniversário da independência nacional e os 550 anos da Nação cabo-verdiana. No entanto, apesar de Veiga ter considerado a viagem como “um desígnio nacional”, esta nunca se chegou a realizar.
São memórias que não convém alguma vez se apaguem, porque estão intrinsecamente ligadas às vivências e à história de um povo guerreiro, que nunca virou a cara aos desafios, e que temem Marco Nascimento Lopes um exemplo de determinação e heroísmo. Seria tempo de o País reconhecer, mesmo que a título póstumo, o mérito de uma figura que foi um exemplo de ousadia para todos nós.

7 comentários:

  1. No "Terra Nova" deste mês sairá mais uma "Crónica do Norte Atlântico" (foi enviada hoje para o jornal), segunda e última parte de longo artigo dedicado ao "Madalan". Nele, ainda que brevemente, fala-se no "Ernestina", acerca de uma multa que os proprietários tiveram de pagar (7000 dólares) por levarem clandestinos para os States (1000 dólares por cabeça). Só que os proprietários da escuna não tinham na altura muito dinheiro e ainda por cima necessitavam pagar os estragos feitos numa bóia de sinalização em que embateram (3200 dólares). Umas massas, para o tempo...

    Braça saudosa de escunas,
    Djack

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  2. E lá consegui, por este processo, voltar ao Ac'A. Veremos se as coisas se compõem. Caso contrário ficamos assim que não ficamos mal.

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  3. Deus te guarde meu Capitão...

    Só uma pequena lembrança.. aquele embarque de clandestino e dramático para Dakar, com transbordo na praia de Palha Carga!!!
    "Fugido de PIDE e dos guarda de captania...( Estes coitade só queria um "fachon" por passagero"
    ( Disse guarda!)
    Cesária foi uma das passageiras... voltou connosco!

    RIP- Cpatain

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  4. Caro Arroz

    Permita-me o desacordo duma afirmação:
    "..."Bastante frágil" ( navio)

    O Ernestina de casco duplo, foi o navio mais seguro que navegou "naquelas 'agua"...
    A "aventura" é outra estória!

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  5. VOU TENTAR FAZER CHEGAR A OBSERVAÇÃO DO ARTUR AO JSN...
    Braça

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  6. Ao ANÔNIMO:

    Era hàbito, em Dakar, irmos ver o movimento dos passageiros que chegavam e dos patricios que so se via nesse momento de matar saudades, de saborear produtos da terra e, claro, comprar uma garrafinha, um atunzinho ou outra coisa. Uma vez, na minha presença, apareceu um funcionàrio da Alfândega que devia vistoriar o barco mas, em vez disso, pediu ao Alberto para lhe arranjar uma mulher.
    (Isso não me foi contado e o Capitão Alberto mora na antiga Rua do Telegraph).
    Uma (so) vez o "Novas de Alegria" chegou vazio, facto que nos deixou tristes e de boca aberta. Perguntado, o Mestre informou-nos que, pouco antes dos passageiros subirem a bordo, a PIDE mandou um Guarda que ia fiscalizar o barco. Lembro que foi o Trinta que tinha sido Policia.
    Foi na viagem seguinte que encontraram o subtrfùgio de os passageiros emabarcarem a partir de Palha Carga.

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  7. Deixei de ser Anonimo... Meu nome de crisma é Amendes.
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    Nessa viagem que aludo ( Palha Carga)eu fui como ajudante do maquinista Vicente Nascimento... o motor só trabalhou até ao largo.
    Zeca Nascimento era o representante do armador.
    Levei para negócio uma caixa de azeite de oliveira -- comprado fiado na Adega do Leão---Na Dakar fiquei enamorado por uma "lambreta",coisa nunca vista lá na "nós terra"...
    Eu não sabia andar naquilo... Tive duas lições de Djô Beiçudo...Logo na primeiro dia que andei sozinho... A lambreta começou acelerar perto de Escola Técnica ... mim tã gritá por socorro. Nada!Ninguem câ quedi! lambreta do catano celerade ao máximo entrá pâ mar de Laginha adentro... Pifou de vez)!

    Peço perdão ao meu irmão, que pagou fiança do azeite!

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    É indiscritível as condições e sofrimento das dezenas de passageiros...Como gostaria de saber escrever! Não perdoou ao Nhô Balta pôr-me na turma de Maria de Jesus... Pâ castigo!

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