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terça-feira, 24 de junho de 2014

[7067] - CABO VERDE - IMIGRAÇÃO {3}...



A meu ver, o presidente da UCID tem toda a razão no que diz.
Qualquer visão com que a esta distância se deve olhar para o problema tem de ser despida de preconceitos ideológicos, religiosos ou outros. É um erro crasso tentar analisar a nossa realidade com o escopo da abertura e da tolerância ilimitadas ou com o crivo do mais abjecto sentimento xenófobo. Porque o cerne do problema não está apenas em vislumbrar o que poderá ser do ponto de vista sociológico e antropológico a realidade das nossas ilhas daqui a 30 anos, aceitando-a ou não, mas sim em saber se essa realidade terá por essa altura a mínima relação com os fundamentos que levaram à independência da nação cabo-verdiana. Ora, esta só se justificou pela crença assumida de que havia uma identidade nacional cabo-verdiana, que de facto existia e por enquanto existe ainda.
Não havendo essa identidade nada poderia ter legitimado a aspiração à independência política, à luz do que é consenso universal. Dir-se-á que, sem essa identidade, as ilhas mais não seriam que uma plataforma atlântica que poderia ter um aproveitamento utilitário sob o protectorado de qualquer potência com capacidade para a administrar. Essa potência, no seu interesse, poderia prover as ilhas com as gentes que bem entendesse, oriundas de outras paragens e misturando-as com as populações locais, porque o objectivo seria apenas a sua rentabilidade como espaço estratégico susceptível de potenciar serviços de interesse intercontinental. A acontecer assim, talvez que a renda das famílias fosse minimamente acautelada mas o facto é que a identidade cabo-verdiana iria aos poucos extinguindo-se, relegada para o fundo da memória das gerações mais velhas. E com o tempo certamente que dela nada restaria para o futuro.
Ora, com a fragilidade da nossa capacidade de sobrevivência económica, esse cenário pode vir a colocar-se, de facto, de uma forma ou outra daqui a 30 ou mais anos. Uma das vias insidiosas para lá chegar é a tal abertura total à CEDEAO como alguns defendem. Se com essa abertura se pretende objectivos de ordem económica, não deixa de ser alarmante se ela se traduzir, desde logo, num surto migratório que lenta mas progressivamente irá apagando os vestígios da nossa cultura e, quem sabe até, os alicerces da nossa religião cristã. Imersos num mundo predominantemente islâmico, será ingénuo excluir a influência que o Corão poderá vir a ter paulatinamente nos nossos costumes. Para mais, não se pode deixar de interrogar sobre a real solidez da nossa identidade cultural, e implicitamente a sua capacidade de resistência, sabendo-se como se sabe que ela se quedou sempre num ponto de interrogação face à encruzilhada entre a Europa e a África. Assim, com uma invasão de povos africanos do continente, talvez a questão dilemática venha a resolver-se definitivamente, pendendo para o campo fisicamente mais próximo – a África.
Daí que essa opção sobre a CEDEAO não deva deixar de ser analisada com profundidade, não a submetendo a um simples rácio económico. Portanto, na dialéctica entre o idealismo cego e a insanidade da xenofobia é que temos de encontrar as soluções mais sensatas, se de facto queremos sobreviver como povo dotado de uma identidade cultural própria.
Enfim, penso que o António Monteiro está a fazer um alerta que tem de ser levado a sério.

Adriano Miranda Lima

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