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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

[7257] - MEMÓRIA DOS QUE DECIDIRAM FICAR...


Doutor Camões:
 “O Médico dos pobres”... Revolucionário, figura de São Nicolau.
…” É uma figura incontornável da história de São Nicolau do século XX. Desterrado pela ditadura de Salazar, o oficial do exército e médico português Manuel Ferreira Camões ainda hoje está vivo na memória colectiva e marcou como poucos a vida da ilha por um período de 37 anos (de 1931 e 1968, altura em que faleceu).
O “médico do povo” como era conhecido entre as gentes da ilha, cedo despertou a insana perseguição da ditadura, pese embora ter sido um herói da I Guerra Mundial e o militar português mais condecorado pelos governos da França e do Reino Unido.
Nascido em 1897, cedo despertou no jovem Manuel a apetência para o serviço militar, decorrente da vontade de servir o seu povo e a sua Pátria. Aos 16 anos frequenta a Academia Militar e, quatro anos depois, segue para França integrando o Corpo Expedicionário Português, tendo combatido na Batalha de La Lys, o mais emblemático cenário da I Guerra Mundial.
Regressado dos Campos de Batalha, Manuel Ferreira Camões interrompe a carreira militar para cursar medicina e, mais tarde, regressa ao exército, pois considerava serem os militares aqueles que melhor condições teriam para derrotar a ditadura.
No início dos anos trinta, sendo tenente, é deportado para a Madeira onde, chocado com a miséria do povo, se entrega à organização de um golpe militar para apear Salazar e o regime. Gorado o golpe, encarcerados os seus participantes e apoiantes, o jovem oficial acabou por ser novamente desterrado, desta feita para São Nicolau, inaugurando a colónia penal de triste memória localizada no Tarrafal.
“ Médico dos Pobres”
…” O meu pai era uma pessoa muito dedicada aos doentes, levanta-se muito cedo e estava sempre ao serviço durante 24 horas, dava as consultas na delegacia, ia à Fajã, ao Juncalinho, ao Tarrafal, corria os postos sanitários e estava disponível a todas as horas do dia e da noite para qualquer emergência, deslocações que, nos primeiros anos eram feitas de mula e mais tarde de jipe”
“Chiquinho do senhor doutor” – médico, filho de Manuel Ferreira Camões
A solidariedade do médico para com os mais pobres ainda hoje é referida pelas pessoas desse tempo, recordando que o doutor Camões passava vales à farmácia local para os pacientes levantarem a medicação que, no final do mês, era paga pelo clínico do próprio bolso”…
“Perseguido pela ditadura” – Durante as fomes, em plena década de 40, o médico foi diversas vezes importunado pela polícia política. A PIDE (então PVDE), não gostava que o médico escrevesse nas autópsias “fome” como causa de morte, mas nisso o doutor Camões sempre foi inflexível e jamais cúmplice do branqueamento das misérias promovidas pelo regime. O que lhe valeu a permanente recusa do Estado português em integrá-lo nos quadros do Ministério da Saúde.
Apenas uma vez, no início dos anos cinquenta, o médico regressou a Portugal, tendo na altura sido convidado a regressar definitivamente, que seria “perdoado”. No entanto, manifestando uma atitude de grande dignidade, Manuel Ferreira Camões colocou como condição ser julgado pelos alegados crimes de que foi acusado (e que nunca reconhecera) aquando do golpe da Madeira e lhe provocaram prisão sem culpa formada. Disse, então, que regressaria a Cabo Verde e ficaria à espera da sentença, o que nunca aconteceu”…
Após o 25 de Abril de 1974, o seu nome é recuperado em Portugal e, muito depois da sua morte, condecorado e promovido à patente de coronel mas, por decisão da família, os seus restos mortais nunca regressaram ao país de origem”…
No entanto, as condecorações e insígnias honoríficas por actos de bravura na I GM, retiradas aquando da prisão, não foram restituídas à família”…
Por gentileza do editor do JSN – António Alte Pinho.
Pesquisa de A.Mendes




3 comentários:

  1. Deste HEROI da Historia da nossa terra sempre ouvi falar mas, infelizmente para mim, muito poucas vezes.
    Fico imensamente feliz ao ler o relato e orgulho-me de ser da terra onde ele é considerado. Vou classificar o Dr. Camões no lugar onde tenho Dr. Bptista de Sousa e o Dr. Regala.
    Obrigado, AcA

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  2. O doutor Camões e meu pai (enfermeiro) eram grandes amigos, recordo que quando ele arribava a S. Vicente havia "rancho melhorado"... Dr Camões era um exímio jogador de "damão" e chadrez... era um regalo vê-lo jogar no Café Portugal!

    Faz-nos bem à alma recordar!

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  3. É a primeira vez que leio algo mais circunstanciado sobre o Dr. Camões. E no entanto fui colega e amigo de um filho dele. Para mim, heróis são pessoas do seu perfil humano e da sua estirpe moral.

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