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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

[7506] - HOMENAGEM...


Esta foto foi feita em Junho de 2000, no Mindelo, e a senhora que aqui acompanha a esposa (Maiúca) do gerente, chamava-se Nininha...
Nininha ainda era moça quando, em 1950, entrou nas nossas vidas e, durante cerca de 27 anos, esteve sempre presente, ajudando nas lides domésticas os meus pais e as duas pestinhas Tuta e Zito, mais tarde, meu irmão Tuta e a mulher Isabel e, finalmente, minha mulher e eu e os nossos filhos, Ana Paula e Paulo Jorge... Até Julho de 1977, quando os últimos Azevedos abandonaram a terra onde tinham sido tão felizes...
Minha saudosa mãe passou à Nininha toda a sua experiência acumulada de "dona-de-casa" desde que, em 1930, casara com com meu pai, até à chegada a S.Vicente, em 1942 ela, que herdara da mãe, a minha querida avó Lucília, uma propensão toda especial para a chamada "lide-da-casa"...Por sua vez, a Nininha mostrou ser senhora de uma receptividade invulgar e, a breve trecho, não havia nada que ela não fizesse na perfeição...E, ainda por cima, era uma cozinheira de estalo, com uma mão para o tempero digna de um autentico"chef"...Ainda hoje, passados quase 40 anos, salivo ao recordar os seus extraordinários pasteis de massa-tenra...
Nininha, que dormia em sua casa, chegava, de manhã, às 7,30 horas, já com o pão quente...À noite, regressava a casa, cerca das 21,00 horas...Andava sempre vestida de forma simples mas impecável e nunca lhe vi uma nódoa no avental...Torrava o café em grão com uma pitada de  manteiga e fazia uns torresmos de comer e chorar por mais, pois a banha que se consumia era feita lá em casa, a partir de umas mantas de toucinho branco de porco "lantejo"...
Não tenho memória de nenhuma altercação digna de nota mas recordo que sempre tratámos a Nininha, que conhecíamos desde crianças, como uma tia adoptiva, a quem era costume pedir as coisas "por favor"...Tivemos, todos os dez das três famílias a quem ajudou, por ela, uma grande estima que, creio, era correspondida...Quando meus pais regressaram a Portugal, em 1975, Nininha queria vir com eles mas não deixou de entender as razões da minha mãe para a recusa...
No dia em que esta foto foi tirada, fomos levar-lhe um abraço e umas pequenas lembranças da minha mãe, do meu irmão e de mim próprio...Chorámos, todos os três e soube-me muito bem!
´Té manhã, Nininha!

9 comentários:

  1. Zito, estas recordações são saudosas na memória de quem encontra na singeleza e sinceridade das coisas da vida o seu lado mais sublime. Também nunca me esqueci de uma empregada que os meus pais tinham quando eu era ainda muito criança. Chamava-se Anorata e a sua fisionomia não seria muito diferente da da Nininha. Ainda há 2 anos, aquando do 90º aniversário da minha mãe, perguntei-lhe se ela se lembrava ainda da nha Anorata. Receei que o esbatimento natural da memória da minha projecnitora, já patente em algumas situações, tivesse já apagado a figura da nha Anorata das suas lembranças. Mas não, ela respondeu logo: Claro que me lembro da nha Anorata, uma boa criatura e excelente empregada.

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  2. Lembranças... lembranças... dessas pessoas que nos votavam respeito profundo que se traduzia em amor-familiar. Até podiam repreender e, ao mesmo tempo, impedir os meninos de "levá de lato".
    Um episódio que tenho bem patente foi quando um de nós ia ser castigado (abusivamente) por uma tia e uma delas apareceu avisando logo:

    - Se bô pô mom nesse mnine m' ta largá esse casa !!!

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  3. Enternecedora e comovedora a forma que Zito encontrou (palavras simples e belas) para homenagear a sua Nininha, dedicada que viveu, trabalhou muitos anos na família e também como parte dela. Um texto lindo! Sem dúvida que soltou sem titubear, e deixou "falar" livremente os olhos e os sentimentos que se mantiveram, diria, intactos ao longo do tempo, no seu coração pleno de afecto. Valeu!

    Abraços

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  4. Meus amigos, creio que tudo depende da qualidade do olhar com que defrontamos o mundo que nos rodeia e a permeabilidade da nossa sensibilidade aos apelos das coias e das pessoas..Acredito que todas as mentes bem formadas acabam por coleccionar na sua memória imagens e sentimentos do seu quotidiano que as marcam de forma indelevel e que constituem um património de reconfortante sintonia com o Universo e tudo o que nele se contém de belo e apreciável...Creio que sou um romantico incurável!
    Abraço-vos, reconfortado...

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  5. O Zito encerrou com mestria, se é que está encerrado este post. Quando muitos falam de religião, esta é para mim apenas uma via para entrarmos em "sintonia com o Universo". Não precisamos de falsos intermediários ou de artefactos esquisitos para chegar a esse desiderato. Basta que olhemos para dentro do nosso próprio ser, num olhar que, como diz o Zito, deve ser simultaneamente amplo e penetrante, de modo a abarcar todo o património da nossa humanidade.

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  6. Pois é mano, deste cabo de mim, quando hoje de manhã dei de caras com a foto da Maiuca e da nossa Nininha.
    Muitas pessoas passaram por mim nesta já longa vida de 78 anos... muita gente conheci e com muita gente convivi.
    Mas a NININHA tem um lugar especial. É esta a maneira simples de dizer o que ELA representa para mim. Não tenho a tua habilidade para escrever, porque isso não se aprende... nasce com a pessoa

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  7. Pois é Pai, provocaste-me um belo nó na garganta e arrancaste-me algumas sentidas lágrimas com a tua narrativa... Bela Homenagem!!!

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    1. Aínda bem...A Ninina é, felizmente, uma das muitas boas recordaçõies que tenho da tua terra e seria lógico que o fosse para toda a família...Creio que a "velhota" gostava tanto dela como se fosse da família, como, de resto, aconteceu connosco...Gostei de ter provocado esta evocação!

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