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segunda-feira, 13 de abril de 2015

[8002] - MEMÓRIA HISTÓRICA DE ADRIANO MOREIRA...

Entre 13 de Agosto e 6 de Setembro de 1962, o então Ministro do Ultramar, Dr. Adriano Moreira, visitou Cabo Verde e, pelos vistos, ficou com uma visão clara da terra e das gentes...Foi o que o nosso amigo Adriano Miranda Lima terá constatado, ao retirar alguns excertos do Livro de Memórias do antigo governante e que passamos, gostosamente, a reproduzir...

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A VISÃO DE ADRIANO MOREIRA SOBRE CABO VERDE
(EXCERTO DO SEU LIVRO AUTOBIOGRÁFICO)

Antes tinha-me deslocado a Cabo Verde e ali, transportado pelo contratorpedeiro Vouga, pude visitar todas as ilhas. Cabo Verde era por esse tempo um fascínio, sem qualquer repercussão interna, que inquietasse, do movimento fundado por Amílcar Cabral,  embora este fosse o mais lusotropicalista dos líderes da revolta africana, com um notável comando da língua, riqueza de pensamento, e prestígio reconhecido entre as chefias do anticolonialismo que lhe dispensaram honras de chefe de estado. Os seus textos devem ser revisitados sempre que se pretenda revisitar o enquadramento teórico, político e cultural da época, e não foi certamente útil para o futuro da Guiné o assassinato que o vitimou.
Não era muito divulgada na metrópole a literatura específica dos povos do Império, muito especialmente a poesia que antecipou a voga e importância da negritude a que Sartre deu cidadania europeia.
A vertente da revolta brotaria a seguir apoiada na riqueza de que os autores mencionados são limitada amostra, mas em Cabo Verde, tão singular em todo o Império,  a alta cultura não fez emergir uma mobilização política com apelo à violência.
Lembro-me de cabo-verdianos devotados  como Júlio Monteiro, que foi membro das primeiras delegações à ONU, e que descreveu assim a gente do Mindelo: “ formada pela miscigenação de sangues  de estranhas e remotas origens, ela tem características próprias, entre as quais sobrelevam: a fidalga hospitalidade do povo, o amor ao trabalho, ao progresso, notável poder de assimilação, equilibrado sentimento artístico, respeito pelos deveres e direitos de cidadania, a até, um fino humorismo para apreciar as coisas mais graves desta vida”.
Havia um interesse profundo pelas novidades literárias, e um debate dialogado sobre os problemas da actualidade tal como deles chegava notícia, sendo 1936 uma data de referência por então se ter publicado o primeiro volume da Claridade. A geração de Jorge Barbosa, Manuel Lopes, Jaime de Figueiredo, Baltazar Lopes, Teixeira de Sousa, tivera uma atenção fixada na literatura continental, designadamente no movimento da Presença, com evidente sentido crítico. O liceu de S. Vicente e o seminário de S. Nicolau tinham uma influência para além e acima do nível de vida da população.
A influência da literatura brasileira era evidente, designadamente Luís do Rego, Jorge Amado, Manuel Bandeira, segundo o testemunho de Baltazar Lopes, não faltando Gilberto Freyre, e a dinamização devida a José Osório de Oliveira.
A música era uma voz genuína do Arquipélago, e pessoas como Eugénio Tavares e B. Leza, consagraram a Hora di Bai, que seria tocada nas festas de despedida dos que partiam em busca de outra liberdade e qualidade de vida, embalados nos dois amores que rodeiam respectivamente a Terra-Longe e a Terra-Mãe, pelo barco ao qual Jorge Barbosa suplicava: “Leva-me contigo/navio, Mas torna-me a trazer”.
Esse vínculo entre a emigração e a terra resultava do facto de ali se ter desenrolado a mais profunda integração de todas as contribuições trazidas pelo povoamento forçado das ilhas desertas, fenómeno que Nuno Miranda descreveu admiravelmente, chamando a atenção para a mistura dos pilões e moinhos de pedra com as casas de raiz europeia, reminiscências africanas convivendo com a religiosidade cristã, a cozinha misturada, as gentes miscigenadas que não vêem diferenças de pele, tudo factos que fascinaram estudiosos como Almerindo Lessa, ou os sempre dedicados estudiosos como Jacques de Ruffié da Universidade de Toulouse, Soares Amora da Universidade de S. Paulo, Hélio Simões da Universidade da Bahia, e Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília, este tão desafiado pelo confronto entre a metodologia marxista e as emergências multiculturais, um grupo a que me juntei com Jorge Dias.
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Tudo visto, levei para Cabo Verde um projecto que me parecia corresponder à definição de um povo na fronteira do encontro das culturas europeias e africana, onde a harmonia étnico-cultural era sem réplica em qualquer outro território, e que nos conceitos de hoje corresponde a uma região ultraperiférica da União Europeia. Tratava-se de lhe atribuir o estatuto de Ilhas Adjacentes, como acontecia com a Madeira e os Açores.
Nessa data era muito emocional o facto de o herói de Mucaba Hermínio Sena ser cabo-verdiano, e eu próprio não estava imune a esse sentimento quando disse, num discurso feito na cidade da Praia, que me  fez Cidadão Honorário, até pelos jovens, porque correspondia à experiência passada e resistente, como de regra, aos desafios da mudança, era ter o estatuto de província de Governo-Geral, com o consequente alargamento das perspectivas de carreira e de dignificação, embora sem considerações sobre os horizontes da mudança que emergiam.
Não eram temas para lidar com pressas, e as circunstâncias não apontavam para que tivesse ainda vagares à minha disposição.
Os dias passados em Cabo Verde, com a ajuda da chuva sempre tão rara e que por então foi abundante, permitiram comprovar mais uma vez a especificidade daquele povo, atormentado pela terra avara, paupérrimo de recursos, de quando em vez atormentado pelas crises que se traduziam em pesadas mortes causadas pelas carências, e que mantinha uma cordialidade geral, uma amorosidade transbordante, uma alegria amargada a que dava voz pelas mornas, e uma malícia atrevida nos requebros das coladeiras.
Lembro-me de alguns episódios comoventes. Por exemplo, à chegada à ilha do Fogo, aquela em que os reis Filipes de Espanha nunca reinaram, e que pelas circunstâncias do lugar implicava que o Vouga  fundeasse a duas milhas da terra. Por isso, o desembarque se fazia utilizando botes que  remadores conduziam. Uma companhia braçal permanente entrava pelo mar para agarrar o bote, e à força de braços o levava até varar na praia. A pega de touros não exige maior coragem, nem atinge a beleza da perigosa intervenção. Recordo-me de uma velhinha de mais de oitenta anos, na cidade da Praia, que atravessou a rua para me oferecer pilão (?), dizendo: ”é lembrança por o senhor se ter incomodado a vir cá ver-nos”. Um dos rapazes da equipa de futebol ofereceu-nos uma bandeirinha, acrescentando: “somos muito pobres, não temos nada para oferecer ao senhor”.
Pequenas decisões eram recebidas como dádivas havia muito esperadas, por exemplo a criação da modesta Caixa de Crédito Agrícola, a ordem para a construção de cisternas para captação de água, no Fogo, ou de uma pequena pista para aviões, ou a viabilização de um pequeno jornal – O Arquipélago. Na visita à ilha da Brava, onde a Vila de Nova Sintra foi de um extremo carinho, deparei com os “americanos”, que noutros  lugares se encontram, mas ali são mais numerosos. Parecem uma réplica dos nossos “brasileiros” de torna-viagem, que nos Estados Unidos ganham uma reforma, voltam para casas confortáveis que mandaram entretanto construir, naturalizados americanos para terem direito aos benefícios sociais, pendurando nas paredes litografias com os retratos seriados dos presidentes dos EUA, levando um nível de vida superior, mas sem poderem resistir ao apelo das raízes.
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A mão-de-obra em S. Tomé era predominantemente cabo-verdiana, e acontecia que a chamada autonomia das Províncias Ultramarinas não dava a Cabo Verde, no que tocava a recursos orçamentais, a possibilidade de se responsabilizar pela protecção aos emigrantes. Houve recurso a uma prática, no sentido de ultrapassar o regime legal, que se traduzia em as províncias de Governo-Geral, isto é Angola e Moçambique, aumentarem as contribuições para as despesas de soberania, crescendo assim as verbas do Gabinete, que depois se transferiam  para o Governo de Cabo Verde. Por esse tempo, sendo já Governador o Tenente-Coronel Silvino Silvério Marques, e Subsecretário do Fomento o Engenheiro Carlos Abecassis, constituíram reservas de milho para enfrentar as crises de carência, organizando então um programa de obras públicas, e desse modo evitando, pela primeira vez eficazmente, os desastres demográficos do passado. Quem pôde ver então os documentários fotográficos de crises anteriores, pôde também avaliar a importância do esforço organizado. 
Esta carência endémica era o motor das migrações para destinos variados, por exemplo, os EUA, o Senegal, a Guiné, a Holanda, e S. Tomé, parecendo que eram os critérios patriarcais do patronato que limitavam o esquecimento dos direitos. 
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Em todos os lugares, nesta longa visita (a Cabo Verde), era fácil reconhecer que entre  pobreza e revolta não há certamente uma relação necessária, que a confiança dos pobres se alimenta de pouco, e que mais se anima de esperança do que de resultados. O que converte num sentimento de angústia a incapacidade de lhes evitar a frustração, como rapidamente aconteceria em relação às expectativas criadas, que inspiravam as concentrações das gentes entusiasmadas, que se repetiam.
Quis distinguir alguns dos intelectuais que davam expressão à identidade cabo-verdiana, voz às suas dores, e horizonte aos projectos que não deixavam de acalentar. Foi assim que deparei com a impossibilidade de falar com o notável Baltazar Lopes, porque o seu estado de saúde, por causas várias, lhe reduzia severamente a mobilidade e a capacidade de comunicação. Disse ao capitão Níveo Herdade (oficial às ordens do ministro) para o meter num avião com destino ao Hospital do Ultramar, onde recuperou. Nunca tive oportunidade de o encontrar, mas tenho esperança de que não tivesse queixas deste “abuso de autoridade”.

Em 1999, a convite de Onésimo Silveira, o então combativo autarca de S. Vicente, fui ali participar nas celebrações do Dia de Portugal. Precisei de fazer uma compra num modesto estabelecimento, e o dono, depois de me atender, acrescentou que me reconhecia, e se lembrava da ajuda que eu dera ao Dr. Baltazar Lopes. Quando, em Junho de 2002, o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, discursou na Aula Magna da Universidade de Lisboa, e fez a avaliação do progresso do país, começou por dizer: “Temos água”.  A política das cisternas e dos poços era de facto importante, mas exigia muito mais.
A permanência em Cabo Verde foi talvez excessiva naquilo que dizia respeito à retaguarda em que se desenvolvia e agudizava o conflito de interesses, e também de projectadas carreiras, tudo afectado pela evolução da conjuntura internacional adversa, e pelas propostas legislativas que as acumulavam com as iniciativas do Ministério do Ultramar.

7 comentários:

  1. Do relato jornalístico integral do "Diário Popular" que temos aqui em casa, segue a parte referente a São Vicente e Santo Antão:

    28.AGOSTO.1962
    Pág. 7 – A VISITA DO MINISTRO DO ULTRAMAR A CABO VERDE – S. Vicente (Cabo Verde), 28 – O ministro do Ultramar, prof. Adriano Moreira, é hoje aguardado nesta ilha, onde ficará dois dias, antes de seguir para Santo Antão, de onde novamente virá a S. Vicente, para outra permanência de mais dois dias.
    Após o desembarque, o prof. Adriano Moreira desloca-se aos Paços do Concelho, para presidir a uma sessão solene e, mais tarde, visita o cais acostável, a sede da brigada de fiscalização e várias instalações industriais.
    Por último, aquele membro do Governo assiste a uma recepção em sua honra, oferecida pelo Grémio Recreativo do Mindelo, e que será seguida por um espectáculo folclórico. – (ANI).

    29.AGOSTO.1962
    Pág. 8 – PROSSEGUE A VISITA DO MINISTRO DO ULTRAMAR A S. VICENTE DE CABO VERDE – S. Vicente, Cabo Verde, 29 – O ministro do Ultramar iniciou o programa do segundo dia da sua estada em S. Vicente visitan-do a povoação de Salamanca [sic] e a Baía das Gatas, acompanhado pelo governador de cabo Verde, tenente-coronel Silvério Marques, e por alguns componentes da sua comitiva. De tarde, realizará novas visitas: às instala-ções da Shell portuguesa, da Millers e dos estaleiros Navais e outros serviços do Estado. Por último, em S. Vicente, será homenageado com uma recepção que em sua honra oferece a Câmara Municipal.
    A população da ilha – cerca de vinte e dois mil habitantes – teve conhecimento com agrado do anúncio, ontem feito pelo titular da pasta do Ultramar, de que vai ser criado em Cabo Verde o Instituto de Assistência Social. No discurso que proferiu, ao ser recebido nos Paços do Concelho, o ministro aludiu ainda a vários problemas das ilhas cabo-verdianas, designadamente a estrutura agrária e o aumento demográfico, declarando que antes de regressar a Lisboa terá oportunidade de se pronunciar publicamente sobre esses problemas e as suas possíveis soluções. – (ANI).
    O poeta cabo-verdiano José Lopes recebeu as insígnias da Ordem do Infante
    S. Vicente, 29 – O sr. ministro do Ultramar esteve hoje na residência do poeta José Lopes, a quem entregou a insígnia da Ordem do Infante com que foi agraciado pelo Chefe do Estado. – (L.).
    O ministro foi autorizado a utilizar a sua competência legislativa
    Um despacho da Presidência do Conselho, publicado no «Diário do Governo», torna público ter o Conselho de Ministros deliberado autorizar o titular da pasta do Ultramar a usar da sua competência legislativa durante a viagem às províncias de Cabo Verde e da Guiné.

    (Continua)

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  2. 30.AGOSTO.1962
    Pág. 9 – CHEGOU À ILHA DE SANTO ANTÃO O MINISTRO DO ULTRAMAR – Vila Maria Pia (Santo Antão), 30 – O ministro do Ultramar, prof. Adriano Moreira, chegou a Santo Antão cerca das 8 horas locais, acompanhado pelo governador de Cabo Verde, tenente-coronel Silvério Marques, a bordo do contratorpedeiro «Vouga».
    A ilha de Santo Antão, onde o titular da pasta do Ultramar estará três dias, regressando depois a S. Vicente, é a última do arquipélago de Cabo Verde que o prof. Adriano Moreira visita. Trata-se da segunda ilha do arquipélago quanto à superfície e à população, pois tem a área de 779 quilómetros quadrados e cerca de trinta e cinco mil habitantes.
    O ministro do Ultramar desembarcou no porto da Vila Maria Pia, sede do concelho de Ribeira grande, em cujo Município foi recebido oficialmente. Depois de várias visitas na localidade, assistiu a um almoço que lhe ofereceram os representantes das actividades económicas em Santa Bárbara, visitando seguidamente explorações agrícolas e obras de hidráulica que estão a ser levadas a cabo em várias ribeiras.
    O programa oficial prevê, ainda, um jantar oferecido pela Câmara Municipal desta vila. – (ANI).

    31.AGOSTO.1962
    Pág. 8 – VISITOU O CONCELHO DE PAUL O MINISTRO DO ULTRAMAR – Vila Maria Pia (Santo Antão), 31 – O ministro do Ultramar, prof. Adriano Moreira, partiu hoje de manhã desta vila para o concelho de Paul, acompanhado pelo governador de Cabo Verde, tenente-coronel Silvério Marques, e por alguns componentes da sua comitiva.
    Em Vila das Pombas, sede daquele município, o prof. Adriano Moreira foi recebido nos Paços do Concelho, onde se efectuou uma sessão solene. Depois de várias visitas naquela localidade, dirigiu-se para uma propriedade chamada «Passagem», onde almoçou. De volta à Vila das Pombas, o ministro concederá ali diversas audiências, regressando ao fim da tarde a Vila Maria Pia. – (ANI).

    (Continua)

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  3. 1.SETEMBRO.1962
    Pág. 14 – A REGIÃO DE PORTO NOVO EM CABO VERDE FOI VISITADA PELO MINISTRO DO ULTRAMAR – Cabo Verde, Ponta do Sol, 1 – O ministro do Ultramar, acompanhado pelo governador de Cabo Verde, tenente-coronel Silvério Marques, e da comitiva, saiu de Vila Maria Pia, cerca das 8 horas, em visita à região de Porto Novo.
    Apesar da hora matutina, muita gente estava no local de partida para saudar o prof. Dr. Adriano Moreira, que foi alvo de grandiosa manifestação de carinho por parte dos habitantes de Vila Maria Pia.
    Durante o percurso imensa gente comprimia-se nos locais de passagem da caravana ministerial, para saudar aquele membro do Governo.
    Parte do trajecto entre Vila Maria Pia e Porto Novo teve de ser efectuado a cavalo, em virtude de não estar ainda concluída a obra de construção da estrada que se desenrola através de altas montanhas e entre gigantescos precipícios, que liga aquelas duas localidades.
    Durante a visita, o ministro do Ultramar foi-se inteirando do estado da obra e conversou com os trabalhadores encarregados da construção da magnífica via que passará a ligar dois pontos de grande interesse da ilha de santo Antão. – (L.).

    2.SETEMBRO.1962
    Pág. 11 – O MINISTRO DO ULTRAMAR INAUGUROU O CAIS ACOSTÁVEL DE PORTO NOVO – Mindelo (Cabo Verde), 2 – O ministro do Ultramar, prof. Adriano Moreira, partiu esta manhã para a ilha de santo Antão, no pros-seguimento da sua viagem ao arquipélago de Cabo Verde. Inaugurou ali o cais acostável de Porto Novo e almoçou com a sua comitiva e entidades oficiais a bordo dos navios atracados ao cais. Cerca das 16 horas regressa a S. Vicente, onde às 22 horas, o Rádio Clube do Mindelo lhe oferece um sarau.
    Novo diploma de Adriano Moreira
    No Mindelo, o ministro do Ultramar assinou novo diploma legislativo que revê a divisão dos concelhos «podendo estes, transitoriamente e sob certas condições, serem substituídos por circunscrições administrativas». – (ANI).

    (Continua)

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  4. 4.SETEMBRO.1962
    Pág. 8 – TERMINA HOJE A VISITA DÓ MINISTRO DO ULTRAMAR À ILHA DE S. VICENTE - Mindelo (S. Vi-cente), 4 – O prof. Adriano Moreira termina hoje a visita de cinco dias que efectuou à ilha de S. Vicente, de onde partirá amanhã para a capital do arquipélago.
    O ministro do Ultramar ocupou a manhã com visitas a estabelecimentos militares, comando militar, quartel da segunda companhia de Caçadores e aquartelamento da companhia de Artilharia. À tarde, concederá audiências no Palácio do Governo, onde lhe é oferecido um jantar, seguido de recepção.
    A população das ilhas cabo-verdianas tomou conhecimento com satisfação dos diplomas que o titular da pasta do Ultramar ontem promulgou, criando o ensino profissional agrícola, que compreende cursos elementares de aprendizagem, cursos de formação e cursos de aperfeiçoamento, e ainda unificando o comando da PSP e da Guarda Fiscal. – (ANI).

    5.SETEMBRO.1962
    Pág. 1 – TERMINA HOJE A VISITA OFICIAL DO MINISTRO DO ULTRAMAR A CABO VERDE – Mindelo (S. Vicente), 5 – O ministro do Ultramar, prof. Adriano Moreira, deixou hoje esta cidade dirigindo-se ao aeroporto de S. Pedro, onde embarcou às 8 horas (locais) para a cidade da Praia.
    O titular da pasta do Ultramar, que é acompanhado pelo governador de Cabo Verde, tenente-coronel Silvério Marques, e por outras entidades da sua comitiva oficial, teve oportunidade de apreciar o vulcão da ilha do Fogo, que ainda há poucos anos esteve em erupção e que foi sobrevoado pelo aparelho em que viajava o ministro.
    Da cidade da Praia, o prof. Adriano Moreira seguirá para a cidade da Ribeira Grande, a chamada cidade velha, que foi a primeira capital do arquipélago de Cabo Verde, presidindo ali a várias cerimónias que se desenrolarão na multissecular fortaleza real de S. Filipe.
    Mais tarde o ministro assiste, na capital, a uma sessão do Conselho do Governo e inaugura uma exposição sobre obras públicas levadas a cabo no arquipélago. Por fim, janta no Palácio do Governo, terminando desta forma a visita oficial às ilhas de Cabo Verde que iniciou no dia 15 de Agosto.
    Antes de deixar esta cidade, o prof. Adriano Moreira entregou, em nome do Chefe do Estado, condecorações a várias personalidades: a comenda da Ordem do Infante D. Henrique ao dr. Baltasar Lopes da Silva, e a Ordem da Instrução Pública aos professores primários D. Inácia Bettencourt, Alexandre Silva Tavares e Hugo Reis Borges, dirigindo nessa altura palavras de felicitações aos agraciados. – (ANI).

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  5. O Professor Adriano Moreira é das personalidades que mais admiro neste país. Intelectual de rara estirpe, humanista e homem de grande visão, precisaríamos de muitos como ele para darmos a volta por cima nesta hora de incerteza e angústia sobre o futuro que nos espera.

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  6. Tenho ouvido intervenções muito interessantes, que me comoveram muito, de Dr A.Moreira(um intelectual e professor de grande prestígio em Portugal) sobre Cabo Verde. Apesar de estar afastado do podercseguiu de perto a realidade de CV.
    José

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  7. Devo ter lido o mesmo livro que inspirou o amigo Adriano, o último da entrevista por um locutor da TV cujo nome não me vem à memória. Na sua visita a S. Nicolau, ao passar pela residência da Nha Ná e D. Elisa, a caminho do Cachaço, informaram-no de
    que eram duas senhoras muito respeitadas e prestáveis à população, pelo que quis cumprimentá-las. Explicou-lhes que iriam construir estradas para facilitar o acesso a locais como os que estava percorrendo, além de outras realizações de fomento. Como reparou que Nha Ná não mostrava grande entusiasmo, perguntou-lhe se não estava contente com tais realizações. Respondeu-lhe que sim, que "construam as estradas que quiserem mas não toquem nos caminhos". Intrigado perguntou-lhe porquê. Resposta da Nha Ná: "é que geralmente as vossas estradas desaparecem com as primeiras chuvas e os nossos caminhos ficam".
    Na visita ao Fogo, como descreve o Adriano, eram braçais gigantes e robustos que carregavam os passageiros dos botes para terra. A notícia transmitida pela Emissora Nacional Portuguesa foi que "o entusiasmo da população foi tal, que nem deixaram o ministro chegar a terra; meteram-se pelo mar adentro e foram buscá-lo, trazendo-o aos ombros"

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