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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

[8492} - O MUNDO PÓS GUERRA FRIA...

José Fortes Lopes
9- 3º Mundo, Independências, Revolução e Fim da Guerra Fria

In Cabo Verde 40 anos após a Independência

A queda do Muro de Berlim veio trazer uma catadupa de revelações sobre a verdadeira realidade do socialismo na ex-União Soviética e mais tarde na China de Mao. Da Coreia do Sul de Kim-il-Sun à Cambodja de Pol Pot, passando pela Guiné-Bissau de Luís Cabral (para citar um exemplo africano), as principais revoluções do século XX acabaram todas em desastres humanos e socioeconómicos (1). O Livro Negro do Comunismo de Stephane Courtois (1,2), uma espécie de enciclopédia do comunismo no Mundo, revela que, em oitenta anos de regimes comunistas ou pró-marxista-leninistas, houve um saldo trágico de quase 100 milhões de mortos, com a esmagadora maioria das vítimas nos dois gigantes do marxismo-leninismo. As revelações deitaram por terra a badalada crença nas utopias que atravessaram o Mundo, que consistiam na possibilidade de construir pela força e através de regimes “socialistas”, uma sociedade nova, totalmente igualitária, onde imperaria uma justiça social perfeita, em suma, paraísos na terra e futuros radiantes. As principais causas que mobilizaram milhares ou milhões de pessoas no Terceiro Mundo consumiram-se no tempo e acabaram invariavelmente traídas ou esvaziadas dos seus conteúdos, provocando a maior das desilusões em quem nelas acreditou: sem tentar aqui ser advogado do quer que seja, podemos constatar que afinal o melhor dos ‘socialismos científicos leninistas’, excluindo obviamente a actual Coreia do Norte para não piorar o quadro, não foi melhor do que o mais vulgar modelo social-democrata europeu (nomeadamente o do Norte da Europa) defensor de políticas sociais bastante avançadas e de êxito comprovado. Podemos no entanto alegar que se tratou de uma experiência humana e que, apesar de tudo, todos os caminhos levam à Roma, embora uns com mais ou menos sacrifícios!!! Com a resolução pela negativa do comunismo, o campo adverso liderado pela maior e mais poderosa potência capitalista de então, os EUA, rejubilava, predominando uma sensação de vitória e de triunfo total, e de tal forma que levou Francis Fukuyama (3) a vaticinar, ingenuamente, o Fim da História, já que para a ele a História do século XX se resumia à luta entre o capitalismo e o comunismo. Hoje sabemos que ele estava redondamente enganado e que cometeu um erro crasso de apreciação com a sua visão simplicista, pois o Mundo hoje é bem mais complexo e difícil do que o da Guerra Fria, e poderemos ter entrado num novo capítulo, uma nova era da história da Humanidade, o da Globalização e das suas contradições insanáveis. Embora este tema não seja aqui o objecto principal, torna-se evidente que hoje, mais de que nunca, se impõe um mecanismo de regulação: do Sistema Global (que se denominou Mundialização) do poder dos “Mercados”, das trocas desiguais entre Norte e Sul e das desigualdades crescentes no seio dos países do Sul. 
Depois de um século de revoluções, nomeadamente no Terceiro Mundo, não é despiciendo recolocar hoje de novo a questão que sempre dividiu os ‘progressistas’ do século XX, e que invariavelmente fora uma questão dilacerante nos momentos de transição das sociedades (colocou-se na Rússia de 1917, entre as correntes que lutavam pelo fim do Czarismo): reforma ou revolução, reformismo ou revolução? Será o Reformismo (de esquerda ou de direita) capaz de realizar as transformações sociais que o processo revolucionário se propõe, e com vantagem de ser a via mais segura e eficaz? Será que as grandes transformações históricas reclamam necessariamente o vanguardismo revolucionário e o recurso à ruptura traumática e muitas vezes com custos humanos? A resposta não parece tão evidente, hoje como há cerca de 100 anos, e bastará observar as revoluções árabes que fustigaram o Médio Oriente desde 2010 e que acabaram em caos ou em total retrocesso civilizacional. As revoluções podem em raros casos produzir transformações sociais (muitas resolveram problemas de injustiça social), mas todas elas saldaram-se no Terceiro Mundo em inconsequências e em paradoxos, com resultados concretos muito aquém dos esperados, ou mesmo contraditórios em relação aos pressupostos iniciais. Como sempre, têm consumido invariavelmente os melhores dos seus próprios filhos, a começar, obviamente, pelos seus protagonistas, os mais puros, os mais ingénuos ou inexperientes, acabando os piores por trepar aos lugares cimeiros do poder, pois tudo acaba quase invariavelmente numa luta fratricida para a disputa do poder em que nem sempre vencem os mais qualificados e os mais aptos. Sobre a natureza dos regimes no Terceiro Mundo implantados após as independências, Paulo Fagundes Visentini em “As Revoluções Africanas, Angola, Moçambique e Etiópia” (4) “traça o cenário que possibilitou a eclosão das revoluções de cunho social ou socialista na África nos anos 1970, focalizando as consideradas mais marcantes: as que mudaram os regimes de Angola, Moçambique e Etiópia”. Segundo o autor, “essas revoluções têm as mesmas características políticas e, do ponto de vista histórico, compartilham a mesma conjuntura que estimulou revoluções semelhantes em vários países do Terceiro Mundo naquele período, incluindo os movimentos de libertação das tardias colónias portuguesas, que acabaram por abrir caminho para revoluções nacionais democráticas e até socializantes. Visentini analisa as lutas árduas decorrentes desses movimentos revolucionários, que tiveram de enfrentar forças conservadoras nacionais e estrangeiras poderosas, e as transformações sociopolíticas que promoveram ao longo dos 15 anos seguintes à tomada do poder”. “Hoje, pouca gente conhece ou se lembra de tais experiências, pois a historiografia pós-Guerra Fria rotulou-as simplesmente como regimes autoritários de partido único”, escreve Visentini, lembrando que, “embora possa ser aplicado a quase todos os Estados africanos nascidos naquele período, tal rótulo foi usado apenas para designar os governos que se posicionaram como de esquerda”. Esta visão idílica e até apoiante de regimes autoritários de partido único, de Visentini, difere da pessimista do agrónomo francês René Dumont (5) que já afirmava nos anos 60 da independência que “L'Afrique noire est mal partie “, o livro que fez escândalo nos meios ‘progressistas’ da época, os irredutíveis apoiantes de todo e qualquer regime africano sanguinário desde que se autoproclamasse marxista ou “progressista”. O angolano Miguel Oliveira autor de “A África entre a «cortina de fumo»: a utopia dos africanistas, as ditaduras e os golpes de estado no pós¬-independência” (6) defende que “A África é um continente angoevo e opíparo, acredita-sse que os primeiros seres humanos terão surgido aqui. Hodiernamente é conhecido numa visão científico¬-histórica como o “Berço da Humanidade”, pois as investigações paleontológicas e arqueológicas têm vindo a provar que a génese do homem, a evolução biológica, a sua transformação, assim como o surgimento das primeiras civilizações tiveram como demiurgo a África. Paradoxalmente, o “Berço da Humanidade” tem sido conotado como alfobre da miséria, guerra, fome, variados tipos de doenças, má governação e apresenta uma augusta letargia económica… Os «Pais do pan¬-africanismo» tinham dado o seu «litro de sangue» à revolução africana, mas o tempo transformá-lo¬-ia em autênticos ditadores. Estes tinham combatido heroicamente o «colonialismo branco», todavia, preferiram implantar o «colonialismo negro» apelidado de socialismo e sem sombra de dúvida foi o principal martírio que os povos africanos tiveram que viver depois da colonização europeia. A elite através do nepotismo usufruía o que o poder tinha de melhor, enquanto o povo evoluía de pobres para miseráveis; havia uma corrupção exacerbada, mortes indiscriminadas de opositores políticos, privação sistemática dos direitos dos cidadãos, pior em tudo isso é que o poder promovia exclusão social de certos grupos étnicos e até de intelectuais que tinham contribuído para a revolução africana. Muitos estadistas africanos pensavam que o país era uma herdade que tinham herdado dos seus «avós ou bisavós». Por isso, o que vem a seguir em África no pós-¬independência é horrível, e o continente vai ser alvo de inúmeros golpes de estado que acontecem de forma vertiginosa, o que o levará à deriva. Os dirigentes africanos tinham adoptado uma visão política radicalmente maquiavélica, alicerçada sobre a prepotência e o autoritarismo, era a visão do quimérico socialismo que de um lado defendia «tudo para todos; só come quem trabalha» do outro lado estava trasvestido da frase de Maquiavel que diz: «os fins justificam os meios, e o êxito político desculpa os crimes cometidos para o atingir, e o príncipe deve praticar o bem quando possível e o mal sempre que é necessário». A História da África traz¬-nos factos relevantes sobre Pan¬-africanistas conspícuos metamorfoseados em ditadores no pós¬-independência”. A África é pois um continente que tem ficado para trás na senda do progresso e transformações que ocorreram no Mundo desde o fim da 2ª Guerra, não sabendo adaptar políticas para se afirmar pelo primado das nações que integra e como continente: o principal culpado desta situação incumbe aos africanos que já são na sua maior parte independentes há mais de 40 anos. A jornalista francesa Anne-Cécile Robert (7) defende que a África sonha com uma "segunda independência" e que o continente pode não estar condenado aos golpes de Estado, "democracias FMI", emigração e miséria. Obviamente que a natureza do capitalismo e do imperialismo tem vitimado claramente o continente africano devido aos enormes desequilíbrios entre as trocas comerciais praticadas, com a matéria-prima a ser adquirida a preços muito abaixo do seu valor real e quase sempre envolvendo contrapartidas que são mais do interesse do importador do que os do país africano, e envolvendo de permeio esquemas corruptos em que beneficiam agentes africanos. Os africanos de uma maneira geral continuam a defender visões dos anos 60/70 totalmente ultrapassadas no Mundo de hoje. A luta frontal ao capitalismo e ao imperialismo, que muitos continuam utopicamente a defender, nunca resultou e até pode ser suicida, dada a flagrante diferença dos poderes em confronto. A China deu o exemplo de como usar as vantagens do capitalismo global para sair do marasmo em que se encontrava e desenvolver a sua economia, e hoje até aspira a ser uma das maiores superpotências do século XXI, e será talvez uma nação imperialista com que a África terá que contar. Se a África não adoptar um modelo pró-activo, então só será capaz de erigir um “Muro das Lamentações” do tamanho da Torre de Babel (continua).

Referências bibliográficas:
1-https://sumateologica.files.wordpress.com/2009/09/o-livro-negro-do-comunismo-crimes-terror-e-repressao.pdf
2-http://lelivros.site/book/download-o-livro-negro-do-comunismo-stephane-courtois-epub-mobi-pdf/
3-http://www.fnac.pt/O-Fim-da-Historia-e-o-Ultimo-Homem-Francis-Fukuyama/a189617
4-http://www.editoraunesp.com.br/catalogo/9788539302253,revolucoes-africanas-as
5-http://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=20979:a-africa-entre-a-cortina-de-fumo-a-utopia-dos-africanistas-as-ditaduras-e-os-golpes-de-estado-no-pos-independencia-oliveira-miguel&catid=17:opiniao&lang=pt&Itemid=1067
6-http://www.seuil.com/extraits/9782021086447.pdf
7-http://www.esquerda.net/dossier/%C3%A1frica-sonha-com-segunda-independ%C3%AAncia

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