Há dias, no "post" Nº 8678, recordamos palavras de Eugénio Tavares respingadas da imprensa de Novembro de 1913, acerca do Fado...
No dia seguinte, alguém que se identificava como "M.P.", respondia ao poeta nos seguintes termos e no mesmo jornal:
A MORNA…
“ Em Cabo Verde, podemos, mesmo dizer que há, entre outras, duas coisas essencialmente boas: - O olhar das jovens crioulas que o sabem ser deveras e a Morna por elas cantada ao som de uma rabeca.
É um encanto, como aliás não deixava de ser qualquer música boa, quando bem executada, embora haja quem diga que não é música a Morna, e embora também não falte que desdenha dos nossos rabequistas….
Mas… deixá-los falar, os técnicos. O sentimento não se amolda a regras e praxes, puramente convencionais por vezes.
Muitos com ouvido capaz de sentir se cantam a nosso favor neste ponto.
Quantos, artistas pelo coração, não terão ouvido com enlevo as nossas rabecas e as vozes das nossas afamadas cantadeiras?
Ouvi-las é às vezes uma verdadeira delícia…
Aqueles suaves acordes entram-nos pelo coração dentro como se fossem uma finíssima lâmina de marfim machetada a oiro e como ferindo-o no mais fundo amago da sua sensibilidade.
Ouvindo-as, como que se nos gasta deliciosamente aquele órgão, o centro de todas as emoções da alma.
A pouco e pouco se apoderam dos nossos sentidos, embriagando-nos como se fora um vinho capitoso e exercendo sobre eles uma acção comparável à do ópio, com efeitos correspondentes…. Como nos fazem sonhar acordados. Temos então visões verdadeiramente fantásticas, e nosso espirito, por momentos embalado no regaço da ilusão, parece transportar-se a ignotas regiões astrais! ….
Não se descrevem emoções destas. E supondo que nesse instante nos envolve a alma, como aveludado manto de luar, o curioso olhar de alguma vestal…
A nossa alma então
Semelha um passarinho
À procura do ninho
Dentro do Coração
….
Não se descrevem, emoções tais; são intraduzíveis com a saudade, esse doce amargo punjar que na música encontra o seu mais fiel interprete .
E de saudade parece realmente ser, às vezes, aquele fugitivo perfume com que se evola de acordes bem combinados.
E o Sr. Eugénio Tavares a falar-nos de fado!... Tem razão o poeta, mas não valia a pena:
Pois se por cá temos coisa melhor…
M.P.
Vadias - Estudos de Pedro Gregório
(E-mail A,Mendes)
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