José Fortes Lopes |
Pois é, em vez de se preocuparem com o ensino e o uso corrente da Língua Portuguesa, esta ferramenta de trabalho comum aos países e povos de língua portuguesa, continua a Agenda da Transformação Cultural. Como todos já sabemos que o verdadeiro objectivo da oficialização seria a morte da língua portuguesa e dos crioulos das outras ilhas em Cabo Verde
O PAICV brinda-nos com mais este título de campanha eleitoral, talvez, destinado a algum eleitorado fundamentalista “”O governo quer mais celeridade na oficialização do crioulo””, convencido que vai-se oficializar uma versão eleita do crioulo e a morte programada das outras, como já se dá por consumado nos medias oficiais de Cabo Verde. Pois é, mal sai um problema pela porta, não é que trazem outro pela janela, pois aqui estão eles de volta com a atabalhoada Agenda da Transformação Cultural, a eterna questão do crioulo e da língua portuguesa.
Às vezes dá-me vontade de ser grosseiro com este regime e apetece-me perguntar: quando é que este governo do PAICV vai acabar com esta teimosia da Oficialização atabalhoada do Crioulo, ou nunca estaremos em repouso enquanto estiverem no poder!? A catadupa de indignidades a que vimos assistindo em pouco espaço de tempo leva-nos, assim a bradar até aos céus a nossa indignação.
Mas o que me parece que temos aqui com este anúncio, é mais propaganda política em vésperas de eleições para captar votos de gente humilde, pouco informada e esclarecida. Como vem acontecendo em muitas eleições, acena-se com uma questão identitária, a língua (que merece grande responsabilidade no estudo e tratamento político), usando demagogia e promessas de cariz duvidoso, por pouco exequíveis. Neste e noutros assuntos, as pontarias do regime e do PAICV têm sido certeiras. Tenta-se fazer crer às pessoas, como já ouvi a alguns prosélitos desavergonhados declarar, que a Independência seria consumada com o arrear da bandeira da língua portuguesa e o hastear da do Crioulo. Obviamente, este engodo nacionalista visa a arraia miúda, vítima da poderosa máquina de propaganda e de desinformação do PAICV, partido no poder. Esta Utopia cara ao que resta dos radicais do 25 de Abril, muitos hoje regendo áreas da Cultura e das línguas, e do grupo Fundamentalista de Santiago, que nunca o próprio PAIGC/CV dos veteranos acharam por bem levar avante, foi incluída na agenda populista do actual primeiro ministro para ganhar o poder em 2001, torna-se um problema embaraçoso, cheio de quid-proquos e malentendidos.
Eu já me pronunciei várias vezes sobre esta problemática, no facebook, nos comentários em blogues e em extensos artigos de opinião. Esta agenda é demais radical e deve ser retirada da mão desta gente. Por esta e outras razões, apelo a arredar o PAICV definitivamente do poder.
Pois é, em vez de se preocuparem com o ensino e o uso corrente da Língua Portuguesa, esta ferramenta de trabalho comum aos países e povos de língua portuguesa, continua a Agenda da Transformação Cultural. Como todos já sabemos que o verdadeiro objectivo da oficialização seria a morte da língua portuguesa e dos crioulos das outras ilhas em Cabo Verde, suplantada pela variante de Santiago, sede do poder actual de onde irradia nova cultura do Homem Novo, a que foi eleita pelos novos donos de Cabo Verde.
A oficialização, como já todos vieram apercebendo-se, consistirá em tornar obrigatório o uso exclusivo do crioulo em detrimento da língua portuguesa, já em desuso e maltratado em Cabo Verde, e a disseminação de uma única variante entre as 9 faladas no arquipélago, o que é um acto violento e antidemocrático, contrário aos direitos do Homem.
Tende-se para o fim da diversidade linguística do Crioulo em Cabo Verde e o desaparecimento da língua portuguesa do horizonte linguístico. Trata-se de mais um acto derivado da ideologia centralista que domina o país: a hegemonia política já não é mais dissimulada. A padronização da dita ‘ língua materna’ é outro expediente pouco claro. Portanto, os regionalistas devem bater-se contra esta agenda e tentar reformular o debate sobre o futuro do Crioulo e da língua portuguesa em Cabo Verde.
(in Liberal)
Fevereiro de 2016
Força !!!
ResponderEliminarNão podemos nos contentar com as belas exposições como a que nos apresenta o Prof. José Fortes Lopes Ê preciso investir, retomar a iniciativa de combater por todos os meios para a defesa dos nossos falares e da língua que nos serviu, bem como a outras nações mais populosas, durante séculos.
Há que tomar a ascendência continuando a produzir ainda mais conteúdos e ferramentas para combater o fundamentalismo.
Este pode ser, de facto, uma das bandeiras do fundamentalismo cultural. Parece que neste ano começou-se com o ensino bilingue nas escolas. Restará esperar os resultados da experiência, mas que não me parece possam prenunciar algo de positivo. A barafunda deverá ser tremenda.
ResponderEliminarA pressão para o aceleramento do que chamam de "lingu materno" vai ser tiro que sai pela culatra.
ResponderEliminarCom efeito, o cabo-verdiano não pode cruzar os braços perante uma tese tão pesada e indigesta de consequências gravosas e que constituí um universo angustiante provinda de uma entidade ultraviolenta. Não podemos aderir à construção de qualquer mundo sem história, sem passado definido quando, no dia de independência, já se tinha um pais de séculos de existência.
Não vale só ser testemunha. Não tenhamos medo de denunciar a opressão totalitária que ora reaparece para nos empurrar para a utopia.
Eduardo Oliveira