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terça-feira, 8 de março de 2016

[8990] - M O R A B E Z A...

Mrs. Allerton

Andei às voltas com os alfarrábios a ver se achava algo de novo sobre o vocábulo "morabeza" que, segundo há bastante tempo aprendera, seria um substantivo derivado do adjectivo "morabi" que eu conhecia de há muito do crioulo da Brava mas que li não ser da ilha caractarístico pois parece deambular pelos restantes crioulos da nossa micro macronésia...

Por seu lado, a "morabi" é atribuído o significado de amável, afável, atencioso, delicado, gentil, simpático, carinhoso, enfim, só palavras doces para gáudio dos gulosos crioulos... Ora, "morabeza" parece não ter herdado, apenas, a superficialidade dos sinónimos semânticos do seu primo "morabi" pois parece exprimir algo de indecifrável, que transcende no seu conteúdo mais íntimo e profundo a banalidade da delicadeza, da simpatia, do carinho, da afabilidade... Eu só sei que agente sente mas a gente não sabe explicar...E será isso, por ventura, tão importante assim?!

Há dias, o Post Nº 8960 do Arrozcatum, editado em 29 de Fevereiro, p.p., exibiu a ultima foto feita no antigo Telégrafo, com todos os colaboradores britânicos e locais e onde pontificava um única representante do sexo feminino, a Mrs. Allerton, na sua farda de enfermeira-chefe...Com a desactivação da Western Telegraph Company, deu-se o regresso dos funcionários inglêses à velha Albion cerca de 1973...
Mas, o destino tem desígnios que ninguém consegue desvendar...Ora, vejam o comentário de uma neta de Nhô César à tal foto a que acima aludimos:

"Gente fina é outra coisa; o avô César é perfeitamente reconhecível; o papá e o tio Lulu parecem-se com ele.
Reconheci mesmo  Mrs Allerton, que hoje já deve estar  noutro mundo... Em 2003, quando a conheci, num encontro com a comunidade cabo-verdiana, em Cardiff, ela compareceu, apesar   dos seus 92 anos e quis logo saber se havia alguém de São Vicente na delegação. Apresentei-me e  logo me perguntou por pessoas bem conhecidas como o meu padrinho Argo Rocheteau, o Dr. Aníbal e a D. Zinha... Conhecia bem o meu avô e familiares... A felicidade dela era tanta,  que os olhinhos dela brilhavam enquanto me confidenciava que os melhores anos da sua vida tinham sido passados em Mindelo e fez questão de arrematar com a informação de que os filhos tinham nascido em Cabo Verde! Fiquei feliz por lhe ter proporcionado aqueles momentos de alegria...Histórias de vida!" 

Agora, é só unir as pontas e chegar à conclusão lógica que Mrs. Allerton, após ter desfrutado dos melhores anos da sua vida na terra da morabeza tinha ela própria ficado "apanhada" pelo inebriante sentimento da mais fraterna comunhão, uma espécie de osmose cósmica que inunda os sentidos de gente que nunca se viu antes mas jamais se esquecerá! Mrs. Allerton é, pois, o paradigma desta simbiose de sentires que se multiplica por gentes de todas as origens que se deixaram enredar nas malhas dessa doce sensação de paz e comunhão com o que de melhor o ser humano consegue partilhar com o seu semelhante...
Long life to  morabeza!

(Texto de Zito Azevedo
s/ desafio de Valdemar
Pereira)

7 comentários:

  1. Belas e acertadas palavras, Tuta. O meu aplauso.

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  2. Impecável! Faço minhas as palavras da neta do Nhô César Marques!

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  3. Foi também uma eximia desportista. Ganhou, por várias vezes, o campeonato de golf, feminino, no antigo Saint Vicent Golf Club.

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  4. Agradeço ao amigo Zito em aceitar o desafio de preparar este "prato" que a Sra. Allerton muito havia de apreciar se ainda fosse deste mundo pois devemos relembrar (homenagear) quem nos admirou e connosco viveu alguns anos de vida, deixando para trás o mundo onde outros prazeres podiam ter.
    Mas, aproveitemos para citar o nome do seu marido que foi trabalhar para S.Vicente na Companhia Nacional onde havia de encontrar outros jovens dirigidos por outro cabo-verdiano de adopção que foi o Sr. Evelyn Harrys esposo de uma sanvicentina, descendente de bravenses (Sara Feijoo).
    O também golfista Sr. Allerton bebeu a água de Madeiral (ou seria Vascônia?) e viu desfilar um ror de rapazes que o acompanhava nos bailaricos de jovens, nomeadamente no Castilho.
    Tendo adoptado o Mindelo, foi à Grã Bretanha e regressou com a então jovem que hoje se homenageia.
    Allerton foi um bom Chefe, um bom com Companheiro e bom Cabo-adoptivo.
    Com o depoimento da neta de Nhô Césa, podemoS desejar que fique na nossa memória o nome dos ALLERTON.

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    1. Pela sua postura e pela sua aceitação no meio que escolheu, Mister Allerton foi convidado por Sua Magestade Britânica para ser em Cabo Verde, com sede em S.Vicente, o seu Cônsul Honoràrio, cargo que exerceu até deixar nôs terra.

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  5. Peço desculpas ao Zito pelo erro cometido no meu comentário ao referir-me ao seu irmão Tuta, que volta e meia aqui colabora também com excelentes contribuições. Comentei numa altura em que tinha acabado de intervir em outros blogues e, um pouco cansado, a vista pregou-me uma partida.
    Conheci tanto a senhora Allerton como o seu marido. Bons mindelenses. Não há assim muitos anos, talvez uns 8, li a notícia do falecimento senhor Allerton.

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