Este é um "calhambeque" da marca Wollsley, de 1921, que um inglês do Telégrafo de regresso a casa, em 1941, vendeu a Nhô Hermínio pela quantia de 500.000 réis, um valor que não faço a mínima ideia do que compraria hoje mas que, na altura, não devia ser de todo despiciendo...
Antes do mais, convém esclarecer que o feliz novo proprietário do elegante Dona-Elvira, aqui ao volante da viatura ostentando a farda profissional, foi uma figura bem conhecida, para além das funções no Telégrafo Inglês (W.T.C.). De seu nome completo Hermínio César Pereira, foi o pai do nosso amigo de Tours, Valdemar Pereira, e filho de César José Pereira, um bravense com origens na Madeira e de Clementina Leite Cardoso Pereira, uma mindelense de origem lisboeta...
Nhô Hermínio ficou célebre pela sua especial aptidão no encordoamento de raquetas de ténis, o que fazia com zelo e exímia perfeição sendo o único a executar tal função enquanto foram usadas as "tripas-de-gato" (cat-guts) para o efeito...Desportista de bom quilate, fez parte da selecção de golfe de S.Vicente que venceu a de Lisboa, em Portugal...
Mas, voltando ao Dona-Elvira, algum tempo passado o motor entregou a alma ao criador o que, no entanto, não provocou grande pânico...Foi-lhe adaptado, pela módica quantia de 150.000 réis, o motor de um camião que tinha sido desactivado e, com alma nova, o velho Wollsley sobreviveu anos ao transplante...
Mas, infelizmente, e por falta generalizada de pneus, após a segunda Grande-Guerra Mundial, a carripana teve mesmo que estacionar sobre quatro tijolos mas deixou o motor como herança, que foi vendido ao Manuel Matos por 1.000$00 (mil escudos)...Este, que também era homem com habilidades comprovadas, tratou de adaptar o motor, que tinha sido de um camião e, depois de um auto ligeiro, a um bote de pesca que, assim equipado, foi vendido para a Guiné por 15.000$00 (quinze mil escudos), cerca de € 75,00...
Paz à vetusta Dona-Elvira e ao seu feliz proprietário, um Homem bom, com um aceno de muita simpatia ao Valdemar, responsável pelos pormenores desta divertida história!
Da Dona Elvira não tenho memória, sou mocin de diazá, mas não tanto assim, mas lembro-me do Nhô Hermínio e, principalmente, da Nha Maninha, gente amiga e respeitada da minha infância na Chã de Cemitério. Bom lembrança!
ResponderEliminarMuito interessante esta evocação tanto da viatura como, sobretudo, daquele que foi seu proprietário, o exemplar cidadão que foi o senhor Hermínio Pereira, pai do nosso Val. Sem dúvida que muito curiosa é a história do motor. Estou convencido de que esta viatura seria hoje uma relíquia e com grande valor monetário.
ResponderEliminarQue dizer senão Obrigado ao Zito que deu vida à foto tirada por volta de 1939 pelo sr. José Vitôria, também funcionàrio da Western.
ResponderEliminarA estôria do automovel, que custou uma fortuna (dois meses de salàrio, aproximadamente) não começou ali mas poupo-vos os pormenores porque a fé de um homem decidido, contada aqui, pode eventualmente passar por bazofaria.
Foi bom ventilar o passado.
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O meu amigo Lalela (Prof. Manuel Brito Semedo) ainda não tinha nascido quando o carro foi comprado por falta de pneus a um morador mesmo à porta da sua casa.
Um abraço ao amigo da Chã do Cemitério.