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sábado, 9 de abril de 2016

[9104] - MULHERES DE PANO PRETO...


Conhecia algo do que nos relata Armindo Ferreira, muito depois da independência, mas outras, as mais graves e criminosas, desconhecia-as e nunca me passou pela cabeça que tais patifarias e crimes pudessem ser cometidos pelos nossos “heróis” que vieram do mato, por os supor somente praticados no fascismo, na URSS e China, durante o nazismo e no Cambodja praticados pelos Kmers Rouges...


Acabei de ler o livro do Eng. Armindo Ferreira, “Mulheres de Pano Preto”, de que tive notícia através da apresentadora, a colega Dra. Odete Pinheiro, o qual, embora ficcionado em certos nomes e diálogos, dá-nos um lamiré do que se teria passado na Guiné-Bissau e em Cabo Verde um pouco antes e depois da independência, desmistificando a maior parte do que se badalou e se bazofiou sobre o comportamento ético do PAIGC e dos chamados “melhores filhos da nossa terra”. A independência e o 25 de Abril apanharam-me em Lisboa, na especialização em Pediatria, e só regressei em Fevereiro de 1976, quando os piores momentos em Cabo Verde já estavam no rescaldo. Nunca estive na Guiné-Bissau, mas vivi, durante um ano, na Guiné Conakry, presidência de Lansana Conté, que me decepcionou até mais não poder pelo seu grau de atraso, corrupção e imundicie.

Armindo Ferreira, que conhece bem a Guiné, Cabo Verde e Portugal, serviu-se da sua vivência nesses países, da de pessoas idóneas, e consultou vários autores, desde Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Daniel dos Santos, A. Almeida Santos, Pedro Cardoso, Loff de Vasconcellos, Ives Bénot, José Leitão da Graça, Onésimo Silveira, Júlio Monteiro, entre outros, jornais e revistas da época, para escrever o livro, livros e jornais que eu próprio conheço, exceptuando o de Ives Bénot. Outrossim, trabalhei em vários países da África Central e Ocidental e pude avaliar o “patriotismo” dos nossos manos africanos, sobretudo dos seus líderes, que se traduz em tribalismo e clanismo com ausência total do sentimento de pertença a uma pátria ou nação, que já existia no cabo-verdiano muito antes da independência.

Conhecia algo do que nos relata Armindo Ferreira, muito depois da independência, mas outras, as mais graves e criminosas, desconhecia-as e nunca me passou pela cabeça que tais patifarias e crimes pudessem ser cometidos pelos nossos “heróis” que vieram do mato, por os supor somente praticados no fascismo, na URSS e China, durante o nazismo e no Cambodja praticados pelos Kmers Rouges.

Este é um livro que deve ser lido por todos os cabo-verdianos e guineenses, adoptado nos liceus e universidades para estudo, a fim de se prevenir que tamanhas barbaridades, desumanidades e crimes, possam vir a ser praticadas e se possa avaliar correctamente a “heroicidades dos nossos heróis”, os tais que se autoproclamaram “os melhores filhos da nossa terra”.

Felicito vivamente o Eng. Armindo Ferreira pela sua coragem na publicação deste livro, porque outros há com informações semelhantes ou mais graves que se calam. Como bem perguntou num artigo recente, no Terra Nova, “É preciso refrescar a memória?” Sem dúvida que sim para exorcizar os demónios. (in Cabo Verde Direto).

Parede, Abril de 2016    

Arsénio Fermino de Pina | Pediatra e sócio honorário da ADECO | pinaarsenio@gmail.com
[escrito com a antiga grafia da língua portuguesa]


4 comentários:

  1. O conteúdo do livro, a competência do autor, as análises da Dra. Odete Pinheiro e agora do Dr. Arsénio despertam a curiosidade em qualquer desejoso de saber a realidade dos factos e a heroicidade dos tais melhores filhos. Ademais, tenho bastas razões para desejar ler o livro e aguardo o momento de o devorar.
    De há muito vinha perguntando quando apareceriam pessoas idóneas, agora que não se vive som ameaças e intimidações, para nos falarem verdades tão esperadas. Ê tempo de se escrever a História pois não podemos continuar a viver com mentiras e o Eng° Armindo Ferreira é testemunha que viveu no tempo e no espaço.

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  2. Este livro merece ser divulgado de toda a forma possível, por ser um inestimável contributo para se conhecer a verdade sobre as tristes façanhas desses "heróis". Já o li e fiquei simplesmente rendido à arte literária do autor e à sua coragem cívica de trazer luz a factos que alguns teimam em silenciar ou deixar envoltos em conveniente nebulosa.

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  3. O PAIGCCV Vai ter um dia que explicar melhor os crimes relatados neste livros cometidos pelas suas milícias

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    1. Ê possivel que, depois de distribuida, esta obra possa acordar os "vivos à força" e/ou gentes de honra. Infelizmente ainda não temos causidicos por amor capazes de ir "esgrovetar". Isso é para gente altruista ou materialmente desinteressada.

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