EXPOSIÇÃO EM LX-FACTORY 27/4 a 15/5
Cartografias, mesmo!
Ao que parece, terá sido Manuel Francisco Carvalhosa, 2.º visconde de Santarém, a inventar a palavra "cartografia" – ou, pelo menos, a dar-lhe significado preciso, lá por meados do século XIX. De qualquer modo, cartas/mapas foram coisas de mar e terra desde cedo muito coisa de portugueses, ajudando em navegações difíceis e explorações terrestres não menos complicadas. E, como agora vemos, de igual modo caras a Teresa Ribeiro…
É que, quem tem vindo a acompanhar a obra da artista, é inevitavelmente levado a verificar que, de facto, de cartografias ela é feita. Na realidade, tanto a série "Movimento dos Sons" (1993), como a de "Paisagens matéricas" (1999) e a de "Espírito da Matéria" (2002) – talvez as mais significativas neste particular cadastral geográfico –, se apresentam (até pelas designações) como registos bem definidos, nas suas latitudes e longitudes mentais de espaços, signos, essência pictórica, geometrias e volumes, ideários e sensações.
Sim, sensações, aquilo que em princípio se procura ao observar uma obra de arte. E que nesta série elaborada desde 2012 até agora nos surgem eivadas de dramatismo – já que, por azar do destino, são mostradas num tempo incompreensível de desprezo pela vida humana, em que rios de sangue escorrem para o nosso quotidiano, pontuando uma cartografia que compreende topónimos como Nova Iorque, Columbine, Utoya, Paris, Bruxelas…
Enfim, a artista não o terá procurado conscientemente e pode parecer abusivo o palavreado de quem lhe apresenta a mostra. Mas nestes dias é quase inevitável a associação, pela violência das manchas vermelhas que Teresa Ribeiro coloca nos suportes, no entanto em contraste com mares de calmaria azul. Por outro lado, sublinha os seus mapas com o esgrafitado nervoso que de há muito lhe marca a obra e imaginárias manchas de névoa. Algumas peças são até rasgadas por meridianos e paralelos que dão enquadramento aos territórios pictóricos que se pretende cartografar, disciplinada ou aleatoriamente.
Digamos que com este conjunto de massas coloridas e caligrafias abstractas, as cartas com que Teresa mapeia o espaço se tornam parte da nossa geografia pessoal e colectiva, do nosso atlas humano de seres complexos e diversos, de inúmeras vivências definidas por múltiplas coordenadas e outros tantos azimutes. Porque não somos de um único ponto, de um único pólo, de um único continente. Por isso, também, esta exposição se torna tão fascinante.
Joaquim Saial
Excelente, a imagem e a descrição.
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