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sábado, 18 de junho de 2016

[9340] - O FIM DA CAMINHADA?!...

SOBRE O "ESTATUTO ESPECIAL"
PARA A PRAIA...


Com a implementação de mais este estatuto de privilégio para a Praia, fico com a sensação de que se chegou ao fim da caminhada. Para uns será o atingir do cume da montanha, enquanto para outros o resvalar pela encosta abaixo.
    Os nossos argumentos, ao longo do tempo, foram sendo exaustivamente expostos e fundamentando a necessidade de uma reforma profunda do Estado cabo-verdiano, focalizada, em particular, na reorganização político-administrativa do território, para a correcção das assimetrias e desigualdades territoriais. 
    Essa foi a nossa porfia, e desde há anos que vinha sendo. Mas agora a impressão que fica é que ardilosamente nos trocaram as voltas. Como se andássemos redondamente enganados, tomando a nuvem por Juno. Como se tivéssemos feito o papel de Íxion, como reza a mitologia, e eles, os praienses, com o sortilégio de Zeus, se divertindo enquanto nos entretínhamos com uma fantasia. Agora, fazendo jus à mitologia, só falta que eles, os donos do templo, nos transformem numa raça de Centauros, o que equivalerá a uma espécie de ilhéus a gravitar eternamente à volta da capital.
    Mas isso, só se deixarmos, claro, porque para tudo existe remédio na democracia, dentro do leque de opções que ela permite aos cidadãos e às comunidades. Claro que não será da parte dos escassíssimos deputados por S. Vicente que, segundo li, ainda têm… dúvidas. Esses serão sempre um enfeite no jarro da democracia, para validar a decisão maioritária. Até S. Antão entrou no conúbio das decisões espúrias, o que no entanto não nos surpreende, pela leitura que de há algum tempo vimos fazendo do comportamento dos ilustres santantonenses radicados na Praia.
Mas importará perguntar o que é feito da opinião de outras ilhas, que continuam timoratas e caladinhas, talvez satisfeitas com a sua condição de peça periférica.
    Então, fica-se agora a saber que a Praia vai passar a contar com mais uma fatia do bolo orçamental, o que já era previsível. E o presidente da câmara ascende a estatuto de ministro! Não deve haver semelhante caso no mundo. Convenhamos que para um país pequeno e pobre isto passa a ser objecto de case-study da ciência política.
    Bem, o que vai acontecer ao resto do país, e em particular à ilha de S. Vicente? S. Antão está, estranhamente, de mãos dadas com a Praia, pois de há muito os representantes dessa ilha se tornaram tão, ou mais, “badios” como os genuínos. Portanto, S. Antão é uma carta fora do baralho nas nossas congeminações sobre uma hipotética conjunção de ilhas do Noroeste em torno de um projecto comum de relançamento daquela região do arquipélago.
    Perante este quadro de completa decepção, em que as ilusões vão com a enxurrada, só resta uma solução: S. Vicente pensar em reivindicar uma autonomia política, para que a ilha volte a ser digna de si própria e dos seus antigos pergaminhos. Porque reforma do Estado não vai haver nenhuma com o significado que lhe damos e se quadre com o verdadeiro interesse nacional. De outro modo, o governo teria ao menos aguardado que mais este rebuçado para a Praia fizesse parte de uma qualquer proposta de reforma global. 
    É caso para se dizer que já nem têm o pudor de ao menos manter as aparências.

Adriano Miranda Lima
18.JUN.2016




1 comentário:

  1. A análise ora apresentada pelo Adriano só pode ser contestada pelos que se encontram conformados com o proceder dos governos anteriores, quais Juscelinos, que apostaram na criação de uma Brasília em Cabo Verde, sacrificando grandemente as outras ilhas quando não sentenciaram anos de purgatório.
    Grandeza demasiada não é judiciosa num pais pequeno, disperso e sem o ouro de Minas Gerais. Provocar o êxodo também é pernicioso até porque chegaram a ponto de não poder satisfazer as imprescindíveis necessidades hodiernas para o bom funcionamento da urbe. E até pedem para não serem aborrecidos pelos forasteiros que bem "gostariam de ficar e não terem de partir" porque tudo està centralizado para o quotidiano.
    Para quando a equidade? E a justiça? Para quando o cumprimento de promessas?

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