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domingo, 19 de junho de 2016

[9345] - SONCENT, ACELERADO OU CONTIDO?!

Nelson  Faria

Errar é humano e reconhecer, desculpar e perdoar são divinos... Quem conseguirá desculpar facilmente se sofre de injustiças várias e recorrentes? Quem conseguirá perdoar se a própria não reconhece o erro das declarações e se esconde na “Comunicação do Governo", que nada esclarece?
Do que disse a Ministra Eunice Silva sobre São Vicente, que teve o condão de agitar, pela negativa, os sanvicentinos, na ilha e fora dela, depreende-se a necessidade de harmonizar discursos, atitudes e comportamentos do governo condizentes com os compromissos de campanha assumidos que mereceram a confiança de São Vicente na Eleição de Março de 2016. Coerência política e comunicativa precisam-se e para isso é necessário, sim, conter a expansão da língua que anda em ritmo acelerado...
O povo de São Vicente mostrou-se cansado da governação centralizadora do PAICV que muito contribuiu para encalhar a ilha, confiando em compromissos, que não são promessas, do MPD. Entretanto reparamos que, mesmo sendo demasiado cedo para avaliações, os indícios não tem sido abonatórios... Senão, vejamos:
• Governo constituído sem uma figura Mindelense;
• Instituições do Estado onde não se vê gente de São Vicente nos órgãos de decisão;
• Órgãos decisórios e de representação do país não contemplam Sanvicentinos;
• Imposição do lobby Praia à volta de um Estatuto Especial para a Capital como se ser Capital já não fosse, por si só, especial...
• Declarações da Ministra Eunice Silva... Será este o pensamento subconsciente por trás do que se pretende fazer em toda linha da governação? Parar o parado e desacelerar o desacelerado seria pura e simplesmente tirar a ilha do mapa... Garantidamente, se vier a acontecer, vamo-nos reinventar...
São Vicente não tem gente capaz na ilha e fora dela para ocupar cargos em órgãos de decisão e estar representado nas grandes instituições do Estado? Felizmente o que nos orgulha é o facto de que não faltam de São Vicente pessoas qualificadas e bem formadas para o exercício de cargos e funções de responsabilidade várias dentro da nossa República, porém, oportunidades, essas sim, todas com destinatários, excluindo Sanvicentinos. Esta constatação não é adstrita apenas a este governo, já na ultima legislatura se via praticamente o mesmo... Andamos numa continuidade de segregação que, qualquer dia, em vez de havemos de falar SBI (Segregação Baseada na Ilha)...
Se São Vicente, segundo no ranking nacional, com mais de 80.000 almas, cerca de 16% da nossa população residente na ilha, sem contar o numero de Sanvicentinos espalhados pelo país, sobretudo na capital, uns por vontade e outros, a maior parte, por “obrigação” devido à centralização de tudo, não será legitimo aspirar estar igualmente representado no Estado? Não será legítimo reivindicar ser um polo de desenvolvimento auxiliar até para o próprio bem da Capital? Não será legitimo pedir apoios ao desencravamento sobretudo na burocracia centralizadora em que vivemos hoje?
Ora, com isto, não alinhando com correntes bairristas e sentimentos egocêntricos, diria que temos de concordar que realmente Cabo Verde não é só São Vicente, mas “é também São Vicente” e todas as ilhas merecem realmente atenção e distribuição da riqueza nacional de forma justa de modo a proporcionar o crescimento e desenvolvimento harmonioso do país, todavia, é de um contra-censo sem precedentes quando verificamos que apesar do discurso “Cabo Verde não é só São Vicente” há um apelo e forcing desmedido no sentido de, o quanto antes, providenciar o Estatuto especial para a Praia e nisto não há contenção nem da situação e nem da oposição. Então o Cabo Verde de que se fala é a Praia?
Das consequências desta declaração, a primeira e evidente, é ter causado desconfiança aos Sanvicentinos, mesmo os que votaram MPD, no que realmente o governo pretende para a ilha, embora seja demasiado cedo e o governo ainda agora tomou posse. Uma segunda foi certamente atolar o actual Presidente da CMSV e com o avizinhar das autárquicas, devido a forma contundente como criticou o governo anterior por desconsiderar São Vicente, terá repercussão na sua reacção ou não a este tema. Terá consequências nas autárquicas e será explorado pela oposição? Certamente, contudo a oposição PAICV está igualmente atolada na centralização de tudo e na paralisação da ilha nos últimos 15 anos...
Se a Ministra se retratar em pessoa e acções subsequentes demonstrarem alinhamento com os compromissos de campanha, continuarei a dar o benefício da dúvida, não fazendo e não acontecendo, estarei desconfiado, contando que, confiando ou não, o tempo, o trabalho e os resultados responderão se aceleramos ou fomos, mais uma vez, contidos.

Foto Nelson Faria


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