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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

[9983] - COUP D'ETAT...


Golpe de Estado Cultural em Cabverde

A independência cultural de Cabverde foi facto histórico assumido, não declarado literalmente, pelo movimento intelectual e cultural da Claridade.
A declaração de independência de Cabverde, em 5 de julho de 1975, foi política, jurídica e administrativa. A sua autonomia como gente identificada, criadora da sua cultura, com usos, costumes e língua próprios tinha sido já constatada e afirmada durante os anos trinta do século XX.
O que se passou em 1975 foi apenas um culminar natural de um processo gradual de autonomia que se vinha fazendo notar e a afirmar ao longo da existência de Cabverde que teve como resolução sua independência política, jurídica e administrativa.
Já havia matéria-prima trabalhada e bem trabalhada. Já havia substância, conteúdo, para que as Ilhas pudessem afirmar-se como país, com gente capaz - formada, informada, ilustrada e ilustres pessoas – de gerir os seus destinos. Por isso fácil se apresentou ao PAICV assumir a gestão política e administrativa do país. Ao PAICV incumbia o dever Nacional de continuar o rumo traçado pelo movimento a Claridade. Ao Mpd igualmente incumbia prosseguir o mesmo rumo. Acontece que o tempo de governação desta força política apenas demonstrou leves intenções. O tempo parece não ter sido suficiente, com direito ao benefício da dúvida. Mas o tempo foi suficiente para mostrar falta de iniciativas.
Com o chegar da independência política, jurídica e administrativa, em vez de criar-se um ambiente de estabilidade social - porque tal proporcionava-se com gente adulta e madura que lá vivia e outra que previa o seu regresso, disposta a ajudar e a contribuir para a construção de uma Nação -, provocou-se um ambiente injustificado de instabilidade social e política, aberrante, pejado de complexos de inferioridade; criou-se o medo, a violência física e coacção moral, a perseguição sem motivos, a falta de respeito, a falta de tolerância, a falta de aceitação pela diferença (naquilo que era e é a concepção de igualdade e diferença no ideário totalitarista “paicêvista”), a falta de consideração pelos valores culturais e intelectuais do país em formação e afirmação cultural.
Desrespeitou-se profunda e gravemente o Povo, a sua História, a sua Língua, a sua Cultura.
Com a criação do Mpd procurou-se travar a sangria de completo desvirtuamento que se assistia e ocorria em Cabverde, mas tal não lhe foi possível, em tempo útil. Com o regresso do PAICV ao Poder, encabeçado por José Maria das Neves, vimos a confirmar a continuação, a prossecução, afirmação e finalização do GOLPE DE ESTADO CULTURAL em Cabverde.
Golpe de Estado que afastou de sua Terra muita gente de valor, com capacidade intelectual, cultural e científica e, fundamental, capacidade de trabalho.
José Maria das Neves e acólitos vieram confirmar o afastamento de grande parte da Elite de Cabverde, por medo, por complexo de inferioridade, para promoverem a sua própria mediocridade que salta e exala de seus poros respiratórios.
José Maria das Neves e acólitos apenas confirmaram a vontade antiga e assumida por alguns destacados elementos do PAICV em prosseguir outro qualquer rumo que não aquele traçado pelo movimento Claridade.
Quem são estes indivíduos para assim renunciarem, subvertendo-os, aos ditames já douta e superiormente plasmados em doutrina e apontados em política para Cabverde pelo movimento Claridade que respirava cultura cabveridana e o seu povo? Conduta política “paicêvista” que buliu direta e agressivamente com o fundamento de uma cultura política sã e com a política de e da Cultura em Cabverde.
José Maria das Neves e seguidores declararam expressamente guerra à nossa Claridade!
Incumbe agora ao Mpd retomar o seu trabalho que fora interrompido, cumprindo o benefício da dúvida.
Incumbe agora ao Mpd repor a Verdade Histórica, Cultural e Linguística de Cabverde. Repor o estado de direito democrático em todas as suas matrizes, matizes, vertentes e variantes. Repor e assumir a Claridade como fonte estruturante e constitutiva de uma nação, da Nação Cabverdiana. 
O cabverdiano hoje não é apenas emigrante que vive na diáspora – linda palavra, mas enganadora – ou simplesmente ultramarino, mas é também um exilado político e um exilado cultural.
Desta feita é meu convicto entendimento que devemos todos, todo o Povo de Cabverde, das Ilhas e ultramarino, deve assumir e iniciar o caminho para a realização da nossa necessitada suave, doce e delicada revolução de mentalidades.

Lisboa,4/12/016,
José Gabriel Mariano

http://claridade.org/temas/claridade/

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1 comentário:

  1. Receio que o MpD pouco ou nada fará que o diferencie do PAICV quanto
    à "reposição e assunção da Claridade”, ou seja, aquilo que consideramos a verdadeira identidade cultural cabo-verdiana e que o autor aqui sintetiza na palavra Claridade. A identidade cabo-verdiana é predominantemente atlântica e feita de uma fusão de elementos culturais e étnicos diferentes que o acaso da história e da geografia pôs em contacto, e de onde emergiu uma singularidade humana expressa num modo peculiar de ser, sentir e exprimir-se.
    De facto, considero que esses dois partidos do arco da governação, talvez por as suas mais fundas raízes se localizarem na ilha mais populosa e mais africana, têm em comum um entendimento algo diferente sobre a nossa identidade, perfilhando porventura uma visão mais apontada para o continente próximo. Em suma, tenta-se esbater o perfil atlanticista para deixar emergir a matriz continental, a africana; não se valoriza a vocação cosmopolita para permitir o recuo inexorável a uma suposta origem. Uma política que aposte na integração total na CEDEAO conduzirá paulatinamente a esse desiderato. Não foi por acaso que a ilha de S. Vicente e outras do Barlavento foram sendo negligenciadas, para não dizer marginalizadas, tentando-se diluir a sua influência no contexto das políticas promovidas no sector da cultura. Não foi por acaso que o Onésimo Silveira criou a designação “República de Santiago”, pelo cunho centralista e de algum modo fundamentalista imprimido à política cultural, a que não é alheia a questão linguística suscitada com o instrumento ALUPEC.
    Mas acredito que a cabo-verdianidade, a verdadeira, dificilmente se diluirá porque tem muitos ancoradouros no além-mar.

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