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sábado, 16 de junho de 2012

ERA UMA VEZ, ANGOLA - III...


A minha primeira noite tropical foi inesquecível...Ao calor sufocante (não havia ar condicionado!), aliava-se uma humidade que eu jamais suportara e que dificultava a respiração e nos mantinha o corpo untuoso como se tivéssemos saído de um banho de óleo de palma...Nunca tive tantas saudades do vento seco do Mindelo...E a manhã acabou por chegar como uma dádiva dos céus: banho tépido, barba rápida, um café negro antes do primeiro cigarro, o primeiro olhar sobre a cidade lavada de fresco, luminosa, espraiando-se ao longo da extensa baía de praias de areia dourada e o ruído caracteristico das grandes urbes, subindo a um céu limpo de nuvens, prometedor de bom tempo e menos humidade...


Por volta da nove horas lá tomei o meu primeiro "mata-bicho" à angolana que, nesse dia, constava de salsichas grelhadas com
mostarda, ovos mexidos e um vinho branco muito fresco e inesperadamente saboroso...Claro que também havia leite, café, sumo de maracujá, pão (branquíssimo...) manteiga e tudo o que se serve no chamado pequeno-almoço continental, mais queijo de cabra, fiambre e doce de marmelo...Uma delícia que acaba por ser uma necessidade de sobrevivência pois o exigente clima das zonas tropicais e sub-tropicais reclama uma alimentação abundante e diversificada como medida de resistir a algumas maleitas a que os europeus não são especialmente imunes...
Não sabia - ninguém sabia - quando é que nos poriam as Guias de Marcha nas mãos,  a nós aspirantes a Aspirantes Administrativos, pelo que urgia ocupar o tempo da forma mais rentável possível pois, uma vez mandados para o mato (interior), poderiam passar muitos anos antes que tivéssemos a oportunidade de rever Luanda ou qualquer outra grande cidade...
Pessoalmente, tive a sorte de dar de caras com o Daniel Henriques, um tipo excelente, infelizmente já ausente do nosso convívio, de família importante do Fogo, produtora de um dos melhores cafés do Mundo...O Daniel, claro, trabalhava no Grémio do Café e era um consumidor abnegado de Cuca, o nome que, em Angola, se dava à cerveja...Claro que também havia a Nocal, mas como a Cuca, nenhuma...Então, os volumosos canecos do Bar da Ermelinda da Ilha de Luanda tinham fama, não menos que a companhia habitual de generosas doses de ameijoas ao natural, com um molho de fazer os deuses deliciarem-se...Foram tardes tão inolvidáveis que eu até dava anos de vida para tornar a vive-las!

Continua...

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