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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ERA UMA VEZ, ANGOLA - XIV ...


Era um fim de tarde daqueles em que se tinha a sensação de a Humanidade se resumir àquele pequeno grupo que, na larga varanda da entrada da pensão, se dava a amena cavaqueira tendo o senhor aspirante (eu...) como figura principal...Era tudo pessoal descomplexado que adorou as minhas histórias Cabo Verde, as frases em crioulo a que correspondiam com sonoras gargalhadas, incluindo o aspirante Diz (assim mesmo...) a quem eu ia substituir e marcharia daí a uma semana, depois de me pôr a par das coisas...Para além de nós, o aspirante e o aspirante a aspirante, estava o sempre presente Heitor, chofer e caçador da Administração, o Mário Matos, dono da Pensão e da loja anexa, ambos angolanos mestiços, a mulher do Mário, a D.Iolanda, professora, natural da Figueira da Foz, esguia e pouco simpática, a irmão dela, o Crispim, jovem desocupado e a irmã Filomena, uma desajeitada moça de 14 anos, que andava sempre com o nariz a pingar...Relegado da sua habitual posição de destaque, o terrorista da povoação, o Duca, 5 anos, filho do Mário e da mulher, interrompia constantemente a tertúlia protestando fome, agora, sede, depois, dor-de-barriga mais tarde, até que um sopapo do pai o sentou, definitivamente, num dos degraus, enquanto soluçava de olhos secos...
No melhor da conversa, no meio da minha receita de cachupa, um jeep que já tinha visto melhores dias parou e de lá saltou um tipo encorpado, impecavelmente fardado de branco e outro, mais elegante de calções e balalaica, enquanto toda a malta se levantava...Era o senhor Administrador, José Eduardo Marques Estaca e o médico, Dr. Poupinha das Neves e vinham, precisamente, cumprimentar o "novo" aspirante (eu...).
Trocámos efusivos apertos de mão e fiquei logo ali a saber que o Administrador fumava desalmadamente e fungava com muita frequência, dando a impressão de estar sempre constipado...Veio a revelar-se um óptimo amigo e do médico, dizia-se à boca pequena que costumava tomar banho de imersão com a esposa recente (e uma bela criatura...) mas sem qualquer maldade: era para poupar na água...De resto, como o Administrador, andava sempre impecavelmente vestido e penteado e era o único que cheirava a Tabac, um perfume muito em vigor na altura...O Sr. Estaca, esse, era mais Acqua Velva...
Seguindo um hábito que, pelos vistos era rotineiro como o Diz afirmou, o Adminsitrador convidou-me a jantar com ele, a esposa e o casal Poupinha das Neves, no dia seguinte, segunda-feira e meu primeiro dia no activo, como funcionário do Quadro Administrativo Privativo de Angola.
Continua...

1 comentário:

  1. Acqua Velva, dos frascos de forma quadrada, na face; no cabelo, o Brylcreem, dos frascos brancos,bom para receber o pó da savana...

    Braça à angolana,
    Djack

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