Mal me tinha eu restabelecido da minha estranha febre mas ainda com os pulmões inundados pelo enjoativo aroma da colónia barata, quando me vi atirado, de novo, para o leito...
Em má hora, infelizmente, o Padre Dâmaso mandara-me um recado, que era mais um convite para umas febras na brasa de um "facochero" apanhado na noite anterior...É o estranho nome de um estranho javali africano, de enorme cabeça, corpo em forma de barril e cara com enormes verrugas, um animal
feíssimo mas de sabor inigualável e uma peças de caça mais difíceis de aprisionar dada a sua extraordinária velocidade, por um lado e a sua extrema agressividade, por outro...Henrique Galvão, de quem li, há muitos anos, um livro belíssimo sobre "A Caça no Império Português" escrito com a colaboração de Abel Pratas, caçador imérito, dizia que o "facochero", como o paquiderme rinoceronte, devia sofrer do fígado, pois estava sempre muitíssimo mal disposto, no sentido anti-social do termo!
Pelo sim e pelo não, consultei o Dr. Poupinha das Neves que me disse que eu não tinha nada de especial no meu sistema digestivo mas que era aconselhável não abusar de bebidas alcoólicas...Bastante mais descansado e já salivando de forma abundante, montei na minha bicicleta para ir até à Administração buscar o Jeep, pois as febras-na-brasa eram na Missão Católica de Cazombo, que ficava a cerca de 10 quilómetros da vila...
Estava o Heitor, em fato de macaco, debruçado sobre o motor do incansável veículo, o que não era bom sinal e quando lhe falei que precisava do Willys para ir à Missão, torceu o nariz, dizendo-me que tinha que desmontar o carburador que devia estar sujo pois o motor estava sempre a parar por nítida interrupção do fluxo do combustível...Mas, acrescentou que eu podia ir de mota, pois a Jawa de 250cc estava a funcionar lindamente e ela tinha acabado de a lavar...Ora, eu não gostava lá muito de andar de mota... Tinha eu l7 anos quando tirei a carta de mota e ligeiros e, no mesmo dia, numa curva a caminho do Mato-Inglês, em S.Vicente de Cabo Verde, aterrei num monte de paralelepípedos, e dei cabo da embraiagem da BSA do meu pai, de tal forma que teve que fazer a viagem de volta à cidade em segunda, que era o único carreto que respondia...
Um tanto receoso, lá montei na Jawa 250, dei duas aceleradelas e lá segui, estrada fora, deixando atrás de mim uma ténue nuvem de poeira pois o receio era muito e a velocidade muito...pouca!
Cheguei sem incidentes à Missão e, antes de entrar pelo amplo portão que dava acesso ao pátio, curvando para a esquerda, travei um pouco e...estraguei tudo! A moto resvalou na gravilha sequíssima atirou-me de encontro ao pilar da porta, onde bati com a parte superior do meu pé direito...A dor lancinante que me percorreu o corpo até à ponta dos cabelos denunciava, de forma eloquente, que algo de grave havia acontecido!
(Continua...)
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