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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

OS DIAS DA RÁDIO...


Como alguns dos visitantes deste sítio saberão, o gerente, quando era menos velho, foi radialista no Mindelo, Cabo Verde, tendo dado a sua colaboração ao Rádio Clube Mindelo e à Rádio Barlavento. Em ambas as estações usou o nome de "José Manuel"...
Teria por aí 15 anos, quando não sei quem se lembrou de editar uma série de humor que, anos antes, tinha feito grande sucesso aos microfones da, então, Emissora Nacional (Lisboa), com o Vasco Santana (Tonécas) e o professor cujo nome se perdeu nos meandros da memória: AS LIÇÕES DO TONÉCAS... Eram uns interessantes diálogos entre um professor com paciência de santo e um aluno muito curto de conhecimentos e que tirava partido de palavras e situações de duplo sentido para criar humor...A versão em que foram intérpretes, este vosso amigo (com o nome de Chiquinho) e o Sr. Henrique de Albuquerque, que era proprietário do Salão Mimoso, ali mesmo ao lado do R.C.M. que, entre outras coisas, vendia os célebres chapéus para homem da marca Palmares...Durante uns quantos meses, o aluno Chiquinho e o Senhor Professor divertiram a audiência mindelense - e poucos mais - com as trapalhadas inventadas pelo escritor José de Oliveira Cosme, em aulas que corriam sempre mal e terminavam com a promessa de, na próxima, ainda ser pior...
Entretanto, este vosso amigo passou uns tempos em Angola e, depois, na Ilha Brava, tendo regressado a S.Vicente aí por volta de 1963, para trabalhar nos escritórios de uma empresa sediada na Rua de Lisboa, mesmo em frente do Banco - a Drogaria do Leão. Era costume, na altura, às Sextas-Feiras, distribuir umas dezenas de moedas pelos mais necessitados que faziam fila, passavam por uma portinhola onde alguém distribuía os óbolos...Uma tarde, estava eu a distribuir as  moedas quando uma velhinha, de olhos estranhamente meigos, estendeu a mão e olhando-me fixamente, 15 anos depois de ter feito "As Lições do Tonécas", disse: -"Obrigado, senhor Chiquinho"... Vieram-me as lágrimas aos olhos, juro!

11 comentários:

  1. Ja viu que ainda tem a sua boa memoria,graças a Virgem! E felizmente que terminou a cronica na primeira pessoa porque fiquei preocupado com o seu inicio na terceira pessoa.

    Excelente e continue ja, pois eu também me lembro das liçoes do Tonécas!

    Bom Ano!

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  2. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  3. Este hábito de usar a 3ª pessoa é, certamente, deformação profissional e reconheço que a 1ª talvez seja preferivel, dependendo, talvez do contexto.
    Obrigado pelo incentivo. Bom Ano!

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  4. O Eu foi explicado por Freud! E antes dele o proprio Deus ao falar para Moisés disse:

    Eu sou Eu!

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  5. Zito, estava mesmo à rasca com o ter de confessar que não me lembro desse programa da nossa antiga rádio. Mas, depois, quando cheguei ao fim, respirei de alívio. E porquê? Porque fiz as contas relacionando as idades, os factos e os anos que mencionas. Então, tinhas 30 anos em 1963 e a velhinha reconheceu nos teus traços o rapazinho Chiquinho de 15 anos atrás. Logo, em simples conta de subtração, esse programa foi em 1948. Ora, nessa altura eu tinha 4 anos e que me lembre não havia rádio na nossa casa, apenas um gramofone. Uf...Eras ainda um menino e eu um menininho, ah-ah-ah.
    Mas estou curioso pela continuação deste interessante episódio não só da tua vida pessoal como da história da nossa rádio do Mindelo.

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  6. O nosso amigo anónimo, agora, anda sempre acompanhado...Desta vez é Freud, noutro post foi um filósofo! Obrigado pela erudição que tenta injectar em prosa despretenciosa e prometo que eu serei eu sempre que me lembre...

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  7. Amigo Adriano, o Chiquinho andou pelo ar em 1948/49. Obrigado pelo apoio a que tentarei corresponder!

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  8. Ja agora porquê Chiquinho? Com 15 anos dos anos 40 ja tinha lido o Chiquinho de Baltasar? Para essa altura, sabendo que os livros não circulavam com frequência, um rapaz de 15 anos que conhecia ja o romance de Baltasar tinha que ser muito precoce.
    Lembro-me que a minha geração muito mais nova, quando tinhamos 15 anos, nao conhecia o Chiquinho. Modéstia à parte eu conhecia o romance que ja tinha lido na biblioteca do meu pai, mas na minha turma ninguém o tinha lido. E era normal, porque a malta lia Julio Dinis, Camilo, Eça etc e tal, e na maioria das vezes, apenas textos seleccionados, e nao os livros em si!

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  9. Eu não tive qualquer influencia na escolha do nome e não sei sequer se quem me baptizou o terá feito em homenagem ao Chiquinho de Baltasar obra que, aliás, só muto mais tarde viria a ler, à margem das leituras curriculares...
    Mantenhas!

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  10. A pessoa que escolheu dar-lhe o nome de Chiquinho tinha que ter lido forçosamente Baltasar, porque o cenario, o conceito da peça Tonecas, enquadra-se muito no cenario de um professor e um aluno..

    Ora bem Baltasar era professor e o autor do romance Chiquinho, que alias descreve o percurso todo de Baltasar desde S Nicolau, passando por Soncente para estudar e depois Lisboa até a América, donde devia vir o complementar do Chiquinho da Diaspora.

    Infelizmente ele nao escreveu o segundo Chiquinho e é o drama do crioulo, pois eu continuo a pensar que a chave para o problema de Cabo Verde tem de ir de fora, dos seus filhos da Diaspora, que ja estariam apetrechados com os conhecimentos que Baltasar ja tinha cabeça...

    Que crioulo na Diaspora vai escrever esse segundo Chiquinho?!!!

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  11. Alguem, necessáriamente imune à globalização que se pretende impere na nossa civilização...Cada vez há mais cidadãos do Mundo e o Mundo é cada vez mais a Casa Comum!

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