Em conversa informal com o Aspirante Diz - o tal que eu ia subsituír - fiquei a saber que ele e a mulher também iam almoçar a casa do Administrador e que o Dr. Poupinha das Neves e esposa também estariam presentes...
Comecei a ficar nervoso...Não é que eu seja bicho-de-mato mas encontrar-me, assim, num evento um tanto formal, em terra estranha com gente que eu não conhecia é coisa para provocar algum desconforto, a começar pela indumentaria...Claro que eu podia perguntar como é que um aspirante a Aspirante se devia vestir para ir almoçar com o chefão e demais convidados mas também não tinha lata para tanto...Depois de maturar durante horas resolvi-me pelas minhas calças creme, camisa branca, gravata e casaco cor-de-tijolo e o toque final dos meus óculos Persol...
Se é certo que me senti um tanto ridículo, assim vestido a rigor a dois passos da savana africana por onde se passeavam leões, elefantes e outras feras mais ou menos ferozes, a imagem devolvida pelo espelho não era de todo desanimadora...
À saída da pensão, com todo o mundo a olhar para mim como se eu fosse um marciano, fiquei com a certeza de que ia dar barraca mas já era tarde e não dava para voltar atrás. Alem disso, o Heitor insistiu em registar o momento numa foto que eu não sabia se alguma vez iria ver...Mas tanto a vi que ainda a conservo, como memória desse dia que haveria de provar-se extremamente frutuoso, a começar no momento em que penetrei na sala da residência do Administrador, onde já se encontrava todo o mundo, de copo na mão e...em mangas de camisa e o dito cujo se aproximou de mim, colocou-se a mão sobre o ombro e afivelando um sorriso de orelha a orelha, disse-me: "Ó Azevedo, deixe-me ajudá-lo - dispa o casaco e tire a gravata que o Malaquias (o criado) guarda-lhe isso a bom recato..." O meu sorriso amarelo devia denunciar a minha vergonha, enquanto, bonacheirona, D. Gertrudes, esposa do Administrador que eu ainda não conhecia, me piscava o olho e abanava a cabeça, como quem diz: "Não ligue..." A frescura e o aroma incomparável do meu primeiro e imenso gole de gin-tonic fez-me recuperar o equilíbrio psicológico que até deu para a primeira piada da tarde quando, dirigindo-me ao dono da casa balbuciei: "Muito obrigado, senhor Administrador pois eu ter-me-ia sentido pouco àvontade a beber este néctar-dos-deuses...de casaco vestido!" Gargalhada colectiva que terá quebrado os restos de gelo que se mantinham em suspenso!
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