Quando há dias vim aqui contar as historias do "Vale" como moeda de troca nas transacções do dia-a-dia no Mindelo, Cabo Verde, a amiga Eloah, lá do outro lado do Atlântico, comentava, entre outras coisas, "que havia confiança" e, aqui, ela acertou na "mouche"...
Há muitos anos, meu pai andou pelo país inteiro, a montar "aerodínamos", que era uma espécie de moinho de vento, de duas pás, que fazia accionar um dínamo que produzia energia eléctrica contínua que, armazenada em baterias, iluminava tantas lâmpadas quanto a capacidade das ditas baterias e a potência do dínamo permitisse...Era uma forma de os lugares mais recônditos do país terem um pouco de luz nas longas noites de Inverno... Ora, como o meu pai não podia garantir em que dia e a que horas estaria em determinado sítio para montar uns tantos aerodínamos e as pessoas, por sua vez, necessitavam de ir tratar da suas vidas nas culturas da terra ou no pastoreio, deixavam as portas das casas cerradas mas...com as chaves nas fechaduras, do lado de fora!
Ainda hoje há casas com meias-portas...A meia porta de cima abre-se logo pela manhã para entrar luz e calor: calor da atmosfera e das gentes que passam e lançam os "bons-dias" para dentro da casa pela meia porta escancarada e que escancarada ficará enquanto houver gente presente!
Quando estive em Angola e todos os meses necessitava fazer uma viagem nocturna de cerca de 300 km, passava pelo Posto de Nana-Candundo, cerca da meia-noite...Em pleno mato, numa clareira aberta para o efeito, tinha sido implantada a casa do Chefe Rodrigues que, passando as noites à caça, deixava a porta apenas presa no trinco para que os viajantes pudessem entrar e reestabelecer forças com um cafézinho, forte e quente, que ele deixava em cima da mesa em garrafas termos, com cubinhos de açúcar e cream-crakers ingleses...
Estas três situações, entre muitas, reflectem, precisamente, aquilo a que a Eloah se referiu e se foi perdendo ao longo da História: a confiança!
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