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terça-feira, 12 de março de 2013

ERA UMA VEZ, ANGOLA - XXIV ...


Esta quebra da rotina que a visita do McCosh provocava tinha os seus efeitos, a nível emocional e tirou todo o mundo da cama bem cedo, mau grado sabemos que ele só chegaria or volta do meio-dia... Alem disso, dizia-se, ele dava sempre uma volta por cima da pensão do Mário Matos antes de aterrar...
Eram cerca das 11,35 quando sentimos o ronco da Auster, cada vez mais forte, enquanto milhares de pássaros, passarinhos e passarões iniciavam uma fuga para norte, na maior confusão e na maior algazarra...O Heitor, o Mário e eu, metemo-nos no Jeep da Administração e sete minutos depois chegávamos à pista, no momento em que o MaCosh iniciava a aterragem. Parou a três quartos da pista, mesmo à nossa frente e depois de um vigoroso adeus com a mão esquerda, desligou o motor, abriu a portinhola e fez tombar a escada de cinco degraus por onde desceu sobraçando quatro enormes calços de madeira que foi colocar à frente e atrás dos pneus, antes de se dirigir a nós para um efusivo cumprimento com palmadinhas nas costas e  sonoros "hello, hello"... Era um tipo maior do que eu imaginara e vinha vestido de caqui verde; calções, botins e meias altas e um colete de caçador por cima de uma "T-shirt" encharcada...Cabelo cortado "à escovinha", pele queimada pelo sol e maxilar saliente com barba de três dias ou mais...Falava com se tivesse a boca sempre cheia e eu lá conseguia entender uma de cada três palavras do que ele dizia...Acabámos por melhorar o diálogo quando o convenci a falar mais devagar...
Entretanto, tínhamos ido buscar umas caixas brancas ao bojo da avioneta que carregamos no jeep e lá voltámos os quatro, enquanto um cipaio que o Administrador mandara, ficava de guarda à aeronave...
Quando chegamos à pensão, já aí estava uma pequena multidão, que incluía todos os europeus, oito ao todo, contando comigo.
Depois dos cumprimentos da praxe, o McCosh abriu as caixas e, como por milagre, delas tirou pequenos ramos de rosas que distribuiu  por todas as senhoras e meninas...Aos homens, um charuto a cada um, mesmo aos que não fumavam e chocolates meio moles para as crianças...
Um verdadeiro "gentleman" este Ian McCosh que até tinha trazido um presente para ele próprio:  uma garrafa de whisky de uma marca que eu já não via há séculos - "Hundred Pipers"...


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