Quando, a meio da tarde, vimos desaparecer para lá das nuvens, o pequeno bimotor do McCosh, pairou no ar aquela sensação indefinível de "fim-de-festa" como se, de repente, todos tivéssemos ficado órfãos...O que valia é que tinha sobrado bastante caldeirada e os entendidos diziam que "no dia seguinte ainda era mais saborosa!"...Era só uma questão de esperar...
Nessa noite não houve "king"; ficámos em amena cavaqueira, depois de uma canja de pombo verde que estava uma delícia, fumando os charutos com que o amigo irlandês nos havia obsequiado...
Por entre as nuvens de fumo azulado a conversa foi ficando cada vez mais distante até que me senti absolutamente só, entregue apenas aos meus pensamentos, povoados com imagens da Maiúca, minha noiva bravense, e a família, de quem havia recebido cartas dois dias antes, coisa que sucedia, por norma, uma vez por mês...
Lembro-me de, às vezes, abrir o pacote dos jornais e dar de caras com o Diário de Notícias de 40 dias atrás...Havíamos combinado casar em Outubro desse ano de 1957 para que a eventual ida da então já minha mulher para Angola, se verificasse durante a estação quente...Mal sabíamos nós que, afinal, ela jamais viajaria com tal destino, e ainda hoje não sei dizer se feliz, se infelizmente...
Os acontecimentos que eclodiram no dealbar da década de 60 no Norte de Angola tinham antecedentes históricos já em 1957, que vinham preocupando as autoridades, de tal forma que os Administradores da zona andavam numa roda-viva de reuniões com os "Sobas" mais representativos, buscando explicação para acontecimentos estranhos que se vinham repetindo com alguma frequência como, por exemplo, ondas de morticínio de vacas brancas, galinhas brancas, e outros animais de pelo ou pele brancas...Toda a gente dizia que eram boatos que ninguém sabia de onde partiam mas veio a saber-se, por exemplo, que da Rodésia vinham uns chefes tribais que, em segredo, aconselhavam as pessoas a abandonar o dinheiro angolano que não valia nada, por troca com notas rodesianas que, depois, os angolanos podiam utilizar para ir pagar o imposto do lado de lá da fronteira...Creio que foi por esta e por outras que Nhacatole, Raínha dos Luenas, foi raptada e trazida para território angolano!

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