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segunda-feira, 27 de maio de 2013

ERA UMA VEZ, ANGOLA - XXXI


Durante muito tempo pairou no ar a alegria pelo "miraculoso" reestabelecimento do Álvaro de uma doença que costumava ser fatal, a famigerada biliosa, à mistura com o espanto generalizado pela eficiência das "mezinhas" nativas...Na realidade, quatro garrafas da nauseabunda tisana tinham bastado para curar o nosso amigo!
Como a colaboração do curandeiro-feiticeiro luena tinha tido êxito, era devida uma gratificação que normalmente era fixada pelo Soba, até porque ele próprio beneficiava de parte dessa retribuição, que acabou por ser fixada em quatro mantas, duas caixas de missangas de vidro, dois novelos de cordel, uma caixa de fulminantes para os canhangulos, um chapéu de feltro e uma latinha de óleo para bicicletas...Nunca se soube como é que este espólio foi dividido entre o curandeiro e o Soba se é que aquele chegou a receber alguma coisa...
Durante dias estiveram na base das nossas conversas os diversos casos conhecidos na comunidade do Alto Zambeze, de curas
inexplicáveis para os poucos médicos (3) que serviam a Circunscrição, de europeus apanhados na rede de doenças tropicais contra as quais a ciência médica ainda não tinha descoberto antídotos ou preventivos...Tal é possível face ao imenso manancial de plantas medicinais que a Natureza coloca à disposição de um número não muito extenso de conhecedores indígenas. Infelizmente, esta medicina nativa mostrava-se impotente no combate contra doenças levadas para África por colonos europeus que, beneficiando, embora,  do saber dos curandeiros no tratamento das doenças autóctones, pagavam com a pior  moeda, disseminando maleitas para as quais a medicina tradicional não estava preparada. Bizarro, sem dúvida!
Três dias depois, no entanto, surgia um novo pólo de interesse para alterar a pachorra do nosso dia-a-dia: um telegrama recebido na Administração, dava conta da chega, no dia seguinte, de uma personalidade que eu jamais esqueceria, mesmo que vivesse séculos - o excelentíssimo fiscal do Grémio do Arroz, senhor António Simões de Abreu...

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