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sexta-feira, 10 de maio de 2013

PARA LÁ DA RUA DE PRAIA - 3


O amigo e colaborador Valdemar Pereira também tem algo a dizer sobre este mal-cheiroso assunto e, para dourar um pouco a pílula, resolveu contar a sua história...em verso!
***
CRIADA DE DIA, CRIADA DE SERVENTIA...
*
Esta, ali na esquina é a Maria das Dores, a Bia
Há anos quando não havia água canalizada,
Ela era jovem criada de servir, criada de dia,
Carregava água de Madeiral para a moradia.

Ela era garbosa, agradável, contentinha,
Andara pela escola e outros predicados tinha.
Depois, a jovem pretinha, cheirava a sabão,
Com frescura no corpo que não sabia dizer não,

Perdeu a juventude, a honra e a sua inocência
E, para com ela, já ninguém tinha paciência.
Chegou a perigosa velhice, lançou as raízes,
A miséria e a doença nas pernas com varizes.

A vitalidade da sua juventude desaparecia
Já não tinha forças para ser criada de dia,
Sem a água canalizada a merda era enlatada
E, ao cair da noite, por ela era despejada.

Como a Bia tinha que ganhar a subsistência
Para não pedir esmola e viver de assistência,
Então, na esquina, contava as horas do dia
E às nove ia buscar a lata de serventia!

***


1 comentário:

  1. Crónica de tempos difíceis de uma das melhores memórias vivas do Mindelo.

    Braça poética,
    Djack

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