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quarta-feira, 8 de maio de 2013

PAU-DE-CABELEIRA...



Pau-de-cabeleira era, antigamente, uma espécie da pega de um galheteiro em que, as galhetas, eram, obviamente, dois namorados...Era uma espécie de guardiã ou confidente dela e, pela sua presença mais ou menos constante, garantia que as coisas se mantivessem dentro de limites de comportamento legitimados pela moral e os bons costumes...Era uma seca de todo o tamanho!
Na foto,  este vosso amigo, impecavelmente penteado de risca ao lado, olhava, embevecido aquela que, anos mais tarde, viria a ser sua mulher,  enquanto a Anita de Nhô Tuntum desempenhava o seu papel, fazendo de conta que era invisível...
E faço aqui um parêntesis para informar que esta Anita, natural da Ilha do Fogo e que se hospedava em casa da minha futura para poder frequentar o Liceu, é da família do marinheiro Avelino a quem o Arroscatum fez referencia há alguns dias, contanto a sua odisseia de herói da última Grande Guerra!
Mas, voltando ao "pau-de-cabeleira", é bem verdade que já naquele tempo, por volta dos anos 40 do séc. XX, a coisa estava em decadência, persistindo, apenas, nalgumas famílias ditas tradicionais ou, apenas, por mera precaução contra a "má-língua"...De resto, com ou sem "pau-de-cabeleira" acabámos por casar e a amizade de então com a Anita perdura, até hoje! Portanto, tudo está bem quando acaba bem! Um beijinho, Anita!

3 comentários:

  1. Caro Zito
    ... Como é belo o amor!

    O próprio povoamento da Ilha Brava, nasceu duma bela e dramática história de amor, como nos conta o seu filho maior Eugénio Tavares:
    ..." Naqueles tempos estava o renome lusíada no seu apogeu: tínhamos ocupado acosta oriental da África; Duarte Pacheco acabava de imortalizar na defesa de Cochin; havia nove anos que Vasco da gama chegara à Índia.
    As velas gloriosas que o espírito forte de D. João II enfunava,devassem os mares, e deixavam, na fronte torturada dos velhos oceanos, esteiras de sangue, desse sangue impetuoso que ia levando a todas as margens a semente imortal da Civilização..."
    ..." Entretanto,a colonização das terras ia-se realizando.
    A língua, os costumes, as tradições, irradiavam da acção desses homens extraordinários e se fixavam na história num relevo que o próprio tempo respeitaria.
    Foi por esse tempo que se fez a colonização da pequena ilha de S. João, à qual uma vaga tradição empresta cores dramáticas, como dramática é, ainda hoje, a vida tempestuosa do povo bravense.
    Os donatários das terras descobertas enviavam caudais de sangue português para os seus domínios. E assim foi que, de uma vez, viera para a ilha do Fogo, uma das mais prósperas, entre mais colonos, uma família vassala, gente da mediania adstrita ao ao serviço das casas senhoriais, a qual devia ter caído no desagrado dos senhores passando das isenções de amadigo para o mal da proscrição, pelo facto de o primogénito da casa se ter enamorado, até à vertigem, de uma das filhas do velho criado.
    Numa das caravelas teria vindo a família alvejada pelos preconceitos de sangue; e em outra, clandestinamente, o jovem fidalgo enamorado, que abandonara para seguir a formosíssima plebeia que se fizera estrela do seu destino.

    Era, então capitão-mor da ilha do Fogo, um famoso atravessado, amorudo e de índole bárbara. à chegada dos proscritos, deslumbrado pelos encantos da rapariga, o capitão-mor sentiu-se ferido: incendiou-se-lhe as víscera mais nobre, e pensou em pôr em prática, servindo-se da sua paixão, as recomendações que de Portugal lhe tinham chegado com relação à família degradada.
    Nesta linha seguiram os acontecimentos o seu curso, até que, à beira de um precipício pavoroso, por uma desabrida noite de Setembro, os vigias de serviço nas eminências sobranceiras à praia, não enxergaram, sequer,, duas lanchas que se despegavam da sombra da rocha e se lançavam para o mar arrebatadas como plumas nas asas do sueste que fazia galopar, canal abaixo, bandos de tritões de esparsa crina luarenta. Ao amanhecer, as lanchas aportavam ao remanso da Fajã d'Água, na sombra protectora do Gabeiro. E quando o sol se derramou em cheias, pelas vertentes abaixo encontrou os fugitivos ajoelhados na areia húmida, rendendo graças a Deus, no mesmo sítio em que vieram a construir a primeira igreja, cujos alicerces ainda hoje lá estão atestando a veracidade deste facto histórico..."
    ..." A família desterrada, pai, mãe, filhas, o fidalgo e os marinheiros fieis que o tinham seguido, formaram esse núcleo de população que em breve se desenvolveu e prosperou..."

    Continua...

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  2. Bela história, meu caro...Aguardamos, com todo o interesse a sua continuação!

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  3. Continuação...

    ..." Asperezas dos terrenos, pouco a pouco foram vencidas. Serpeavam já trilhos abertos a machado pelas aspérrimas gargantas ensombradas de espinheiros de caules duros e ramagens irriçadas de pequenos punhais em guisa de folhas; de figueiras bravas, de cujos troncos se fazem pratos, desnatadeiras e mais utensílios domésticos, e de favateiras colossais umbelando a paisagem com suas altas sombras.

    Romperam através do inextricável emmaranhamento de "lavacans" de "ouris e de " mormulanos"; e, depois de transmontar as cristas dentadas, de transpôr os cimos enevoados, uns grupos derivaram pelos declives úberes de Senhora do Monte, e outros tomaram à esquerda, e desceram a essa encantadora bacia, onde hoje imerge do seu ninho de laranjais e roseiras, a lindíssima Vila de Nova Sintra.

    Assim, se é facto que em 1680 alguns casais do Fogo se refugiaram na Brava, indubitável é que já encontraram a ilha habitada por famílias brancas.
    Mesmo admitida a hipótese dos advenas fogueteiros de 1680, impõe-se a negação de terem sido eles escravos; porque estes não podiam quebrar as cadeias da sua condição para passar à Brava com mulheres e filhos; nem seus senhores, cupidos e despiedosos, malbatariam o seu precioso ébano em holocausto a sentimentos que então só flresciam em almas santas.

    E não é maravilhoso que,de uma colónia de escravos negros, proviesse esta raça branca, perfeita, de linhas físicas, elevada de perfil moral, dotada das eminentes qualidades dos povos superiores, que é o mundo étnico da Brava? E não é explicável que dessa colónia retinta não tenha ficado sinal, de tal jeito que já em 1879 apenas se conhecessem duas ou três famílias de pretos, como o disse, em relatório oficial o General Sérvulo Medina?

    Não, não há dúvida que os supostos escravos dessa colonização, ou mudaram de cor e natureza ao tocar as plantas na santa terra bravense, ou então em algum abismo desconhecido se afundaram para que deles não ficasse notícia, nem na epiderme do bravense, nem no seu folclore, nem na sua indumentária de motivos fortemente minhotos, nem nas típicas palhotas de tectos cónicos, dos quais, na Brava, jamais se teve notícia.

    ....

    Todo este arrazoado para trazer á história a confluência de um veio de verdade; e não porque essa sonhada origem guineana nos importe depressão, pois que a dignidade humana não está na cor da epiderme.

    Antes honra insigne seria descender de escravos e ter subido a senhores... já que ninguém ignora que, na Ilha Brava, cada homem é um senhor independente e livre em toda a sua acção social.

    Eugénio Tavares

    Nota: A estória do fidalgo e da sua amada, continua narrada em forma de poesia...
    Continuará oportunamente.
    Mantenha

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