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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

(5669) - ERA UMA VEZ, ANGOLA - XXXIX...


O senhor Eugénio era um cinquentão de pouco cabelo, poucas falas e pouca simpatia, casado com uma senhora que parecia sua mãe e pai de uma miúda meio parva de quem mais parecia avô...Era uma família singular, pouco sociável, embora a sua loja fosse a mais nem recheada da zona: fui lá descobrir uma garrafa de Vinho do Porto a que os ratos já tinham comido parte substancial do rótulo mas se reconheceu como sendo de 1930,  por estranho acaso o ano do casamento de meus pais...
Por isso, causou uma  certa estranheza quando correu a  notícia de que o "Genão" ia oferecer um churrasco de porco à malta, lá na ilha no meio do Rio Zambeze onde se sabia que ele criava, há muitos anos algumas dezenas desses bichos, do tipo alentejano...

 
O Padre Dâmaso, que estava sempre pronto para alinhar em tudo o que quebrasse a rotina da selva, encaregou-se para, junto dos seus amigos luenas, arranjar pirogas e remadores que levassem as cerca de 25 pessoas que constituíam as "forças vivas" do lugar, incluindo o Administrador, o Médico, os Padres da Missão, os outros  comerciantes, esposas e familiares, eu, o Heitor, o Simões de Abreu, o Enfermeiro, dois Chefes-de-Posto que estavam de passagem, enfim, bastante gente que tinha que garantir as bebidas frescas, as saladas e as sobremesas, para além de pratos e talheres, e a inestimável grafonola do Mário Matos e a sua escolhida colecção de seis discos de 78 rotações por minuto, das Marchas Militares da América do Norte que como se sabe, eram, todas, da autoria de um músico imigrado dos Açores, de seu nome João Filipe de Sousa...ou, como os americanos lhe chamam, John Philip Suza...
Quando se ouviram os primeiro e aflitivos guinchos do primeiro porco sacrificado, muito boa gente começou a salivar, na perspectiva de umas belas febras na brasa, apenas com sal e  gindungo, e abriram-se as primeiras "Cucas" fresquinhas enquanto as conversas se animavam e generazilavam...
Estranhava-se, todavia, a sucessão de grunhidos sofredores parecendo que o amigo (?) Eugénio estava a matar porcos a mais ou, então, a fazer sofrer em demasia o pobre coitado por falta de eficiência do matador...
Foi um incómodo que tivemos que suportar durante cerca de meia hora, à distância, pois o Genão não permitia que ninguem se aproximasse do local do sacrifício porcino...
Subitamente, sentiu-se, no ar, o aroma inconfundível do churrasco de porco e como que respondendo a um toque a reunir imaginário, todos seguimos esse rasto até à mesa onde jaziam umas travessas com fumegantes nacos acabados de grelhar e, então, muitas dúvidas e coisas ficaram esclarecidas:
não tinha havido excesso de matança, aliás. nem um só porco havia sido morto...Na realidade, tinha havido, apenas, a capação de umas dezenas de animais e a passagem dos respectivos tubaros pelas brasas...Algumas senhoras, mais sensíveis, sentiram-se ofendidas outras, certamente por motivos mais óbvios, sofreram uns princípios de chilique...
Já os homens, incluindo os três padres franciscanos, chamaram-lhe um figo!
 
 
 

6 comentários:

  1. Pelos vistos as más almoçaradas e jantaradas Bracarenses não prejudicaram em nada essa veia literária. A raiva da tua mão que pegou no garfo foi substituída pela leveza com que teclaste o computador...
    Essas febras souberem-te melhor que os acepipes de Braga!
    Continua
    Abração

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  2. Isto foi uma espécie de contraponto...Aquilo era um contexto completamente diverso, outro universo, outra gente, outras posturas perante a vida...Por isso me marcaram, tão indelévelmente! Obrigado pela força!
    Braça
    Brotas

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  3. Por via de várias actividades que tenho realizado junto da Universidade do Minho, conheci em Braga vários restaurantes, de que destaco três: o "São Frutuoso" (junto à raríssima capela visigótica do mesmo nome), o "Bem me quer", com inesquecível bacalhau do mesmo título e o "Abade de Priscos", com o docinho de 350 estrelas do mesmo ápodo. Do restaurante da universidade (chamar cantina a semelhante local seria ofensa) também saí regalado. No restaurante do Hotel Lamaçães jantei um belo peixe assado, antes de ir para o quarto acabar de preparar uma palestra sobre arte pública para o dia seguinte, num mestrado sobre Economia...

    Grandes comezainas bracarenses. Não cito outros, por não me lembrar dos nomes de mais, mas nunca fui defraudado na cidade arcebispal em termos de comes (nem de bebes)

    Braça com um verde branco a borbulhar,
    Djack (hic, hic)

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  4. Resta dizer que não me admiro NADA de o Arroz Zital ter vindo de Braga a falar de comida, a falar de comida e a falar de comida.

    A comida bracarense merece a faladura.

    Braça com canudo,
    Djack

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  5. No melhor pano cai a nódoa...E. alem do mais, eu tenho um binómio preço/qualidade que não posso ultrapassar por motivos orçamentais, salvo o que iria todos os dias ao Tavares ou à Cozinha Velha do Palácio de Queluz...
    Braça, de etômago enganado,
    Zito

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  6. Já agora, informo que na viagem de regresso parei no Restaurante Palhotas, nas cercanias de Águeda, onde eu e minha mulher comemos meia-dose de um "cozido" de ninguém botar defeito por €5,95...

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