(5848) - ERA UMA VEZ, ANGOLA - XXXVII...

 

 

A Circunscrição Administrativa do Alto Zambeze, que pertencia ao Distrito do Moxico, é uma extensa planície com uma área de cerca de 50.000 km2, ou seja, mais de metade da área de Portugal. Para além da Sede da Administração, cujo quadro de pessoal era constituído por um Administrador de Circunscrição, um Secretário Administrativo e dois Aspirantes Administrativos, havendo, ainda, uma força de cipaios com um Cabo e seis ou sete Praças, espalhados, de forma geograficamente organizada, havia sete Postos Administrativos geridos por Chefes-de-Posto, hierárquicamente dependentes da Sede, e que comandavam um Cabo e três cipaios...Mau grado esta grelha de pessoal, não era fácil atender a todas as tarefas cometidas a estes funcionários que não se limitavam a ser administrativos mas eram forçados, por inerência de funções, a serem juízes, oficiais do Registo Civil, engenheiros civis e de estradas, agricultores, operadores dos CTT e dos Serviços Meteorológicos, oficiais das Finanças e, aínda por cima, directamente responsáveis, politicamente, pelas boas relações com as autoridades e autóctones dos territórios das vizinhas colónias do Congo Belga e da Rodésia do Norte...

Este enorme território é atravessado, pelo Rio Zambeze, de quem herdou o nome, e que atravessa toda aquela zona da África meridional, indo desaguar no Índico, na cidade da Beira, em Moçambique. Este enorme curso de água é o responsável pelo pior e pelo melhor que traz ao território...Se, por um lado, em anos de cheias normais permite a safra de duas colheitas de arroz e amendoim em abundância, em anos de cheias acima de certos limites, detrói as colheitas agrícolas de forma radical, especialmente a cultura da mandioca, base da alimentação local...Nessas alturas, era necessário abrir frentes de trabalho, especialmente na recuperação da escassa rede de estradas e picadas o que garantia alimentação, agasalhos e assistência médica para os trabalhadores e respectivos agregados familiares..

Eram, no entanto, ocasiões penosas e de algum melindre em que a intervenção de funcionários brancos, europeus ou não, era a menor possível, no sentido de não ferir  o orgulho de povos habituados à plena liberdade, como os Luenas, os Quiocos e os Luchazes, mau grado o pacifismo subjacente às suas culturas ancestrais,  caldeadas pela vivência, durante séculos, num território suficientemente grande e rico para albergar e alimentar todos, sem lutas intestinas.

(Continua...)