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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

(6176) - NO ÂMAGO DA QUESTÃO...



Amigos
Vou fazer uma pergunta politicamente incorrecta, sabendo que vai enervar muitos amigos meus que não perceberão bem as minhas perguntas e onde quero chegar, (perceberão mais a frente) mas tenho que a fazer pois o nível de dúvidas e de questões começa a avolumar-se...
Com o estado actual da ilha e projectando-o no passado, alguém pode indicar quais foram os ganhos palpáveis obtidos para S. Vicente desde o hastear da bandeira?  Eu só vejo elefantes brancos, projectos falidos e uma ilha desertada e perdida no oceano, desânimo por toda a ilha? Os "Eden Park" são as pontas dos icebergs dos males profundos que afetam a nossa ilha e o resto de CV.
Resultante da independência só vejo uma ilha vencedora: Santiago!(embora saiba que muitos vão dizer que as coisas não são bem assim). A ilha onde o regime investiu tudo, apostou tudo, construiu os seus palácios e castelos, digues,  muralhas e barragens e onde correm todos os dinheiros de CV, oferecidos pelo mundo para todo o CV e onde uma elite em minoria beneficia quase que exclusivamente. Hoje, a ilha transformada em república de santiago, defende exclusivamente as suas gentes em detrimento do resto de Cabo Verde, propões sujeitar o resto de cabo Verde à língua desta ilha e aos modos culturais dela. Onde está o Estado de Cabo Verde independente em S. Vicente, esta ilha desértica e desertada, ou no resto de CV, uma marca sua desde 1975: o estaleiro vendido aos chineses ou o famigerado Centro de Saúde.
Meus senhores a independência foi para a ilha de Santiago, em 5 de Julho de 1975 foi proclamada a República de Santiago e todos os anos ela comemora esse feito: politicamente incorrecto? Não !!!
Para quem tenha duvidas sobre o meu passado, participei em todas as manifestações pró-independência, fiz vigilância, participei na associação dos estudantes pró jacv, fui as festas populares e  saraus, festejei efusivamente como todos os jovens mindelenses a independência, defendi as ideias do paigc face aos opositores e fui simpatizante do paigc até 1981. Ou seja era um jovem modelo, daqueles que o paigc gostava. Acreditei nas ilusões que nos venderam e sonhei com a minha ilha em franco progresso não o estado que vejo, 40 anos passados (de acordo com as promessas à população da ilha. Deve-se recordar que o Paigc tomou o poder graças aos jovens e pela tremendo pressing exercido pela população mais jovem de SV. Sem essa adesão as coisas teriam-se processado de outra forma. Quem tenta convencer-nos do contrário está a mentir. Basta consultar os arquivos e informação da época ). Hoje, li no Semana Online que qualquer pessoa, mesmo oportunista ou agente da PIDE, que se aparente alegando ter estado detido,  alegadamente,  em actos de resistência anti-colonial é automaticamente considerado Combatente da Liberdade da Pátria, acrescentando-se, assim,  à enorme legião do falsos combatentes. Que eu saiba,  havia os guerrilheiros na Guiné Conacri, alguns militantes do Paigc em Portugal,  França, Hollanda e alguns em C verde. Isto tudo não fazia tanta gente. Eu acho isso indecente em plena crise e uma manobra eleitoralista e mais uma mentira a acrescentar ao conjunto de inverdades que temos ouvido sobre esta fase. Mas o que é que JMn e os seus amigos de Santa Catarina sabem sobre a luta pela Independência protagonizada no chão de S. Vicente depois de 25 de Abril, a não ser as baboseiras que temos ouvido sobre falsos actos de heroísmo?  Tendo em conta o contributo que S. Vicente deu para a independência podia-se propor S. Vicente como Ilha Combatente da Liberdade da Pátria e que está hoje como está. A república de Santiago deixaria?
Uma nota de ressalva: conturbado,  graças a Deus nunca participei em nenhum desacato, nunca ofendi nem ameacei ninguém, coisa que podia acontecer a qualquer um durante este período.
Onde quero chegar, como René Dumond disse uma vez, ‘L’Afrique est mal parti,’ S. Vicente "est mal parti", em 1974 e é preciso corrigir o tiro. Para sair da cepa torta e das cadeias que a impedem de desenvolver,   SV tem que ter autonomia total, um governo regional autónomo com orçamento próprio e possibilidade de fazer diplomacia económica e ir buscar investimentos lá onde existem para o seu desenvolvimento. Da Praia não virão bons ventos, mas sim formas diversas e camufladas de opressão socio-económica. Não é por acaso que temos património a cair de podre outros demolidos, a bandalheira reinante na ilha, valores culturais e históricos a desaparecer.
Creio que a solução para CV é um estrutura federativa de Regiões que podem ser ilhas ou grupos de ilhas. O dia em que SV e o resto de CV se libertarem da tutelas talvez possamos dizer que S. Vicente e o resto de CV participam de um CV independente. Por enquanto  esta realidade não existe, todo o jogo se concentra em Santiago. Estou convencido que uma estrutura descentralizada de CV fará também faria  Santiago desconcentrar-se e viver de outra maneira mais criativa, em vez de lapada ao estado. Não vejo outra solução para um C Verde viável,  pois no dia em que acabarem as ajudas aquilo estoira na Praia. O desnorte de CV tem a ver com a falência de S. Vicente. Sei que os estados–maiores já têm os seus projectos de Regionalização. Não acredito nos partidos centralistas. Vai haver muitas manobras de desinformação do que é a regionalização para tentar vender o municipalismo ou a ideia dos governadores. Sei que há muitos mindelenses e nortenhos afiliados aos partidos que deles têm de deixar de ter medo e de serem puros "apparatchiks" e zelarem por aquilo que é melhor para o país e não agradarem os seus chefes da Praia. Tem que acabar o medo em CV!
E eu, agora, estaria curioso por saber o verdadeiro estado (as contas verdadeiras) de Cabo Verde, pois estou convencido que tudo não passa de um grande "bloeuf"!...
 

 
 
José, este desabafo que aqui fazes remete-nos necessariamente aos textos que já escreveste sobre a situação da nossa terra, com opiniões e argumentos que todos subscrevemos e até respaldámos nos nossos próprios textos. Concordo com o emprego da palavra bluff quando pretendes demonstrar, e com acerto, que existe uma certa mistificação relativamente às estatísticas que apresentam o país como um caso de sucesso em África. Virtualmente, é um facto que Cabo Verde tinha e tem especiais condições para se diferenciar pela positiva em África, desde logo a homogeneidade étnica, a religião predominantemente católica, a índole tolerante do povo, a escolaridade, etc. Como contraponto, claro está, a sua pobreza e escassez de recursos. Mas o problema foi que a noção de Estado que os detentores do poder traziam na mochila estava desvirtuada à nascença pela ideia de que ele tinha de ser erigido numa única ilha, dando razão aos que no futuro haveriam de denunciar o percurso ínvio que conduziu à "República de Santiago". Hoje parece claro que, mais do que a mera intenção de tudo concentrar para melhor controlar e racionalizar recursos, houve um propósito de cariz marcadamente ideológico e de hegemonização de uma ilha sobre as outras. Não foi só o factor demográfico que pesou, houve intenção de, em coerência com a linha política então dominante, alienar a ilha de S. Vicente do processo de construção do novo país, castrando-lhe a importância política e social que no passado teve e com largo proveito para todo o território. Uma análise desapaixonada feita por alguns pensadores, e que partilhamos, hoje desfaz qualquer dúvida de que a ilha foi punida por aquilo que, na estreita e mesquinha interpretação dos seus adversários, ela fizera no passado: maior abertura e ductilidade na relação com administração colonial. O que é uma autêntica falácia e uma perversa mentira, pois foi precisamente a ilha de S. Vicente que arejou a consciência cívica do povo cabo-verdiano e abriu as vias que haveriam de conduzir à sua autonomia política. Todos sabem que é assim e tu, José, não te cansas de o lembrar.
Mas convenço-me também de que a redução de Cabo Verde àquilo que hoje é corrente chamar-se "República de Santiago" foi uma estratégia congeminada com outro fim. A concentração do país praticamente numa só ilha viria a facilitar a manipulação da realidade nacional e entronca aqui a legítima suspeição do bluff a que o José se refere.
Mas o grave revés de todo um percurso errado conduziu ao esvaziamento de S.Vicente de todo o alforge das suas possibilidades. Não se iluda com o apregoado investimento de que foi objecto e que o José bem caracteriza como elefantes brancos. Eu diria que foi uma maneira de tentar desviar a atenção sobre a castração política de que a ilha foi vítima. Desde o consentimento na destruição do património material que lhe era mais caro até aos níveis preocupantes de desemprego que assolam os seus filhos, S. Vicente foi, na verdade, arredado da história do país. Não fosse algum ânimo remanescente das suas gentes (festivais de música, Carnaval, teatro, passagem do ano), a ilha estaria no mais deplorável estado de inanição. Não será de todo assim, mas tem de se perguntar sobre o estado de saúde de uma população que não se indigna e não se revolta com a destruição consentida ou programada do seu património material.
Abraço...

3 comentários:

  1. Devide a reumatismo na dede, tenho andando afastado da computação. Agora, um poquim amejor, comento:

    Não se esqueçam que, após a independência, a maioria dos governantes de CV eram oriundos de S.Vicente (Barlavento) até diziam em jeito de gozo: "Mim é cooperante"! Portanto, culpa não é só de "badio".

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  2. Olá, Artur...Calcula o q. sentes pois tambem me detectaram excesso de ácudo úrico no sangue...Ando de dieta e a tomar umas mèzinhas a ver se evito o estado gotoso!
    Quanto ao post, creio que aos amigos José Lopes e Armando Lima, interessa o que foi ou não foi feito, mais do que quem fez ou não fez...
    Braça de boas-vindas!
    Zito

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  3. Ok Amigo
    Pior do que acido úrico só o sulfúrico! Só há um remédio 100%eficaz para essa maleita: " "Colchicine", só que tomado em dozes de crise (3 X dia)dá, como se diz na Brava: Desaforo na cagatêra"
    ---
    Quanto ao resto, não concordo:
    As "coisas boas ou más" não nascem espontaneamente, são obras de homens... homens que bem identificados e, por o serem devem ser responsabilizados.
    Como diz o meu colega Sócrates ( o filosofo): Isto donavati panium per manga"

    Melhoras e felicidades.

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