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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

(6384) - POEIRA DO TEMPO...

O apurado sentido de pesquisa do nosso colaborador A. Mendes, levou-o à descoberta de escritos do SEC. XIX sobre a Ilha de Santo Antão e a que, gostosamente, vamos dar guarida, mantendo a escrita da época, o que torna a leitura bem mais divertida...Esperamos que apreciem devidamente...
 
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1886
ARCHIPELAGO DE CABO VERDE
ILHA DE SANTO ANTÃO
(Clima)
Desfructa a ilha de Santo Antão excelente clima.
São alli desconhecidas essas febres emdemicas e malignas, a que chamam carneiradas, e que dizimam, em certos períodos do anno, a população das ilhas de S. Thiago e S. Nicolau principalmente. As sezões que tanto afligem os moradores da ilha de Maio, e as disenterias, que tantas vidas custam aos habitantes d’esta e de outras ilhas do archipelago de Cabo Verde, também isentam dos seus rigores a ilha afortunada de Santo Antão, que em salubridade leva vantagem á nossa Lisboa, que tanto se ufana de gozar de ares salubérrimos.
As frescas brisas do Oceano, que por todos lados a bafejam, modificam a sua temperatura africana, fazendo-a muito menos quente que a das terras do continente situadas na mesma latitude. Apenas em alguns valles do interior, onde, por mui baixos e cercados e montanhas altas, aquellas brisas não penetram, é que se sente esse calor excessivo dos trópicos.
Junho, julho, agosto e setembro, e principalmente os dois últimos são os mezes das chuvas, e é isto, com alguns temporaes do sul, o que constitue o inverno. Durante esta quadra está a atmosphera mais ou menos nebulosa. Não é raro, porém, passar-se um anno ou mais sem chover. Quando sucede esta desgraça, os horrores da fome levam á sepultura milhares de victimas.
Os mezes de outubro a dezembro e de janeiro a maio são chamados mezes  das brisas , porque n’essa quadra sopram frescas de E. N. E. até N.N. E., as quaes ás vezes se convertem em fortes ventanias. Enquanto o ceo conserva-se ordinariamente limpo e a atmosphera clara, excepto quando o vento, voltando a lêste, traz das praias africanas aquelle sopro ardente, que até nos chega no verão, parecendo sufocar os viventes, e crestando as plantas como se fossem tocadas do fogo. É em dezembro e janeiro que esse vento abrasador açoita de vez em quando as ilhas de Cabo Verde. Por essa ocasião turva-se a atmosphera de vapores crassos.
As manhãs e as noites são em geral sempre frescas, tanto na ilha de Santo Antão como em todo o archipelago, e não é raro aparecerem algumas frias. As cacimbas são commumente tão copiosas, que chegam a ensopar as velas das embarcações surtas nos portos, e até as dos navios que vão sulcando aquellas aguas. Se durante a noite ou madrugada houve ventania forte, o que acontece a miude , levanta um pó mui fino e amarello, que se vai impregnar, tingindo da sua côr, em quantas velas molhadas encontra em seu caminho. D’aqui tiram motivo os que exaggeram a insalubridade de algumas ilhas do archipelago para dizerem que “ nas ilhas de Cabo Verde até as velas dos navios se fazem amarellas”…
E. de Vilhena Barbosa
Foto - John Leão
 


 

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