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sábado, 1 de fevereiro de 2014

(6471) - DA POEIRA DOS TEMPOS...


O SEMINÁRIO – LICEU DA ILHA

DE S. NICOLAU DE CABO VERDE

POR

JOSÉ DOS REIS BORGES

Professor do Liceu Infante D. Henriques

É certo que já estavam lançados os fundamentos do ensino primário oficial com a criação de algumas escolas de primeiras letras, e funcionava uma escola primária superior, na capital. Mas aquele ensino limitava-se a muito poucas escolas, que permaneciam quási sempre fechadas por falta de mestres e material didascálico, e por isso arrastava uma existência miserável, e a escola principal “andava às moscas”, no sugestivo dizer do falecido escritor caboverdeano, dr. João Augusto Martins.
De sorte que se vivia aqui em trevas, quando começou a funcionar o Seminário, cujo fim principal era formar eclesiásticos para a evangelização do Arquipélago. Mas cada padre ao ser despachado para a respectiva paróquia tinha a necessária preparação para, a par da doutrina cristã, ministrar os primórdios de instrução primária.

Foi pois, ao calor vivificante da sua luz da fé e moral cristãs, de mistura com as beneficentes luzes do abc, de que eram portadores os padres saídos do Seminário de S. Nicolau, que mais tarde se formou, e de todo se depurou, o carácter franco, leal, pacífico e hospitaleiro dos caboverdeanos. Mas, o Seminário que também era Liceu, preparava igualmente para a vida civil, e nesta qualidade aleitou ao seu úbere seio, filhos que cá e lá fora o estão honrando nos diversos ramos da actividade humana, sobretudo nas letras, na burocracia e no magistério.
A fundação do Seminário-Liceu é dos acontecimentos mais felizes da história caboverdeana, porquanto é dele que partiu a luz que mais intensamente iluminou Cabo Verde.

Falando do estabelecimento do ensino em questão, assim se expressa o referido escritor, dr. João Augusto Martins, a pág. 152 de “ Madeira, Cabo Verde e Guiné”: “… O Seminário – Liceu de S. Nicolau e a escola central da Praia constituem os únicos focos de instrução de um carácter superior, em Cabo Verde.
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Do Seminário – Liceu não se pode dizer o mesmo.
Vê-se e enumera-se hoje um grande número de filhos da Província, em todas as classes e profissões liberais, que receberam ali os elementos de uma instrução cotável em toda a parte.
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Efectivamente, quem, senão o Seminário, produziu esses formosos talentos – brilhantes uns, poetas distintos outros – que se chamam José Lopes, Corsino Lopes, Miguel Monteiro, Silva Araújo, para não falar em mortos ilustres como Costa Teixeira, Duarte da Graça, Lopes Cardoso, Marques Lopes, Pedro Delgado e Tertuliano Ramos? (1)

Filhos do Seminário são ainda esses esperançosos moços, cujos nomes registará também a História da Literatura Caboverdeana, a que chama Barbosa Ferreira, Barreto de Carvalho, Francisco Duarte, José Calazans, Lela Lopes, Mário Pinto e quantos outros mais!
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A acção educativa do Seminário – Liceu foi, pois, decisiva na civilização caboverdeana.
Contudo, foi o Seminário extinto … E contra essa extinção, que representa um gravíssimo erro administrativo, para não dizer crime tremendo, protestámos na imprensa caboverdeana; mas a nossa voz era muito débil para que o seu eco pudesse chegar aos ouvidos do Governo Central…
Abafaram-no, infelizmente, as ondas do Atlântico…

Praia, 24 de Dezembro de 1928.
(1)  Acrescentamos mais dois vultos da literatura: os Professores Baltazar Lopes da Silva e António Aurélio Gonçalves (Nhô Roque).

 
Pesquiza de A.Mendes
 

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