O
SEMINÁRIO – LICEU DA ILHA
DE
S. NICOLAU DE CABO VERDE
POR
JOSÉ
DOS REIS BORGES
Professor
do Liceu Infante D. Henriques
É certo que já
estavam lançados os fundamentos do ensino primário oficial com a criação de
algumas escolas de primeiras letras, e funcionava uma escola primária superior,
na capital. Mas aquele ensino limitava-se a muito poucas escolas, que
permaneciam quási sempre fechadas por falta de mestres e material didascálico,
e por isso arrastava uma existência miserável, e a escola principal “andava às
moscas”, no sugestivo dizer do falecido escritor caboverdeano, dr. João Augusto
Martins.
De sorte que se vivia
aqui em trevas, quando começou a funcionar o Seminário, cujo fim principal era
formar eclesiásticos para a evangelização do Arquipélago. Mas cada padre ao ser
despachado para a respectiva paróquia tinha a necessária preparação para, a par
da doutrina cristã, ministrar os primórdios de instrução primária.
Foi pois, ao calor
vivificante da sua luz da fé e moral cristãs, de mistura com as beneficentes
luzes do abc, de que eram portadores os padres saídos do Seminário de S.
Nicolau, que mais tarde se formou, e de todo se depurou, o carácter franco,
leal, pacífico e hospitaleiro dos caboverdeanos. Mas, o Seminário que também
era Liceu, preparava igualmente para a vida civil, e nesta qualidade aleitou ao
seu úbere seio, filhos que cá e lá fora o estão honrando nos diversos ramos da
actividade humana, sobretudo nas letras, na burocracia e no magistério.
A fundação do
Seminário-Liceu é dos acontecimentos mais felizes da história caboverdeana,
porquanto é dele que partiu a luz que
mais intensamente iluminou Cabo Verde.
Falando do
estabelecimento do ensino em questão, assim se expressa o referido escritor,
dr. João Augusto Martins, a pág. 152 de “ Madeira, Cabo Verde e Guiné”: “… O
Seminário – Liceu de S. Nicolau e a escola central da Praia constituem os
únicos focos de instrução de um carácter superior, em Cabo Verde.
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Do Seminário – Liceu
não se pode dizer o mesmo.
Vê-se e enumera-se
hoje um grande número de filhos da Província, em todas as classes e profissões
liberais, que receberam ali os elementos de uma instrução cotável em toda a
parte.
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Efectivamente, quem,
senão o Seminário, produziu esses formosos talentos – brilhantes uns, poetas
distintos outros – que se chamam José Lopes, Corsino Lopes, Miguel Monteiro,
Silva Araújo, para não falar em mortos ilustres como Costa Teixeira, Duarte da
Graça, Lopes Cardoso, Marques Lopes, Pedro Delgado e Tertuliano Ramos? (1)
Filhos do Seminário
são ainda esses esperançosos moços, cujos nomes registará também a História da
Literatura Caboverdeana, a que chama Barbosa Ferreira, Barreto de Carvalho,
Francisco Duarte, José Calazans, Lela Lopes, Mário Pinto e quantos outros mais!
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A acção educativa do
Seminário – Liceu foi, pois, decisiva na civilização caboverdeana.
Contudo, foi o
Seminário extinto … E contra essa extinção, que representa um gravíssimo erro
administrativo, para não dizer crime tremendo, protestámos na imprensa
caboverdeana; mas a nossa voz era muito débil para que o seu eco pudesse chegar
aos ouvidos do Governo Central…
Abafaram-no,
infelizmente, as ondas do Atlântico…
Praia, 24 de Dezembro
de 1928.
(1) Acrescentamos
mais dois vultos da literatura: os Professores Baltazar Lopes da Silva e
António Aurélio Gonçalves (Nhô Roque).
Pesquiza de A.Mendes
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