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sábado, 19 de abril de 2014

[6817] - MUDAR, É PRECISO...{2}




"Compreende-se bem o sentido da mensagem de Carlos Fortes Lopes. O sistema demo-liberal, em que os partidos organizados tendem a apropriar-se a seu bel-prazer do regime democrático, servido-se dele em vez de o servir, não pode ser literal e uniformemente aplicado a todos os povos e sociedades, sem se ter em conta as suas especificidades, idiossincrasias e estádio de maturidade política. Caso contrário, corre-se o risco de os aspectos negativos se sobreporem às potenciais virtudes do sistema. Virtudes que, conforme Churchill nos permite intuir, só são exploráveis se houver ciência, arte e disposição para as lapidar. Isto quer dizer que Constituição e as leis cabo-verdianas não deviam ser decalcadas das dos regimes de longa e sedimentada tradição democrática. Há que ter em conta os factores atrás mencionados.
Percebi que o Carlos Fortes Lopes entende que o nosso sistema político devia conter uma forte componente de democracia directamente participativa. O mesmo é dizer que o associativismo cívico devia ter voz mais activa e interveniente para que o jogo político não fique refém da vontade e das conveniências partidárias, que nem sempre coincidem com o interesse nacional. Infelizmente, em Cabo Verde o associativismo não corresponde ainda aos nossos anseios nem demonstra a necessária vitalidade e autonomia para andar com as suas próprias pernas, como bem se viu quando a "Associação para a Regionalização" com sede em S. Vicente não conseguiu libertar-se da influência de um partido político.
Ao pensar-se num maior activismo cívico, pensamos logo em “ambrósios”, que , de tão nula existência, precisamos de os formar ou de desenvolver os que possam encontrar-se em estado larvar.
Agora, o que não acho funcional nem talvez desejável é recorrer a referendos por tuta-e-meia para aprovar todas as grandes decisões, como parece preconizar o autor do texto. Creio que, em vez de favorecer democracia, pode encalhá-la em processos morosos e nem sempre suficientemente participados. Contudo, a regionalização será uma forma de concretizar esse desiderato, desde que as populações passem a ter uma atitude mais dinâmica e actuante na vida colectiva. E quando digo populações, estou a pensar nos Zés e nos Tóis, mas também, e principalmente, naqueles que, podendo, devem ousar aplicar a sua iniciativa e os seus recursos no desenvolvimento local, para não darmos azo a algumas insinuações e críticas constantemente dirigidas aos mindelenses".
 
Adriano M. Lima

 




2 comentários:

  1. Como sempre, bem escrito. E sobretudo bem pensado...

    Braça apoiante,
    Djack

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  2. Concordo em absoluto com esta visão. Nomeadamente na forma discricionária como deve ser utilizada a mais democrática mas contudo melindrosa ferramenta do referendo.
    As iniciativas pela regionalização teriam muito a ganhar se partissem despidas de colorações políticas. Se esse for o genuíno anseio das populações, terá tudo para vingar!!

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