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terça-feira, 1 de julho de 2014

[7105] - S.VICENTE - EVOLUÇÃO SOCIAL (3)...

 
                                                       O Escotismo -- 1

…” Nos primeiros anos da década de 1910, foi criado, em Mindelo, um grupo de escoteiros – movimento fundado, em 1907, pelo general inglês Baden Powell, a partir de suas experiências em campanhas militares na África do Sul, com o intuito de constituir uma instância de educação de jovens, ancorada em três pilares:
Desenvolvimento físico, desenvolvimento moral e desenvolvimento intelectual. Vale destacar que, em função de seus princípios, as actividades físicas eram encaradas como importante ferramenta, e o desenvolvimento de hábitos saudáveis considerado um dos seus objectivos.
Em muitas colónias africanas, segundo Martin (1995, p.92) “ O escotismo foi visto como um excelente treino – base para formar uma elite que, por sua vez, irá exercer boa influência sobre as massas”. No caso cabo-verdiano, tratava-se, fundamentalmente, de algo que tinha raízes internas, não uma imposição externa, algo que atendia estritamente, ou ao menos linearmente, aos desejos do colonizador, que sequer teve influência na fundação do grupo de Mindelo.
…” No arquipélago, o líder dos escoteiros foi Simão Barbosa, um dos mais notáveis educadores de Cabo Verde, figura importante da sociedade mindelenses, igualmente envolvido com a criação do Liceu Infante D. Henrique. Muito rapidamente o movimento passou a ser valorizado pelas lideranças locais e a ser apoiado por iniciativas diversas, como a organização de récitas, por exemplo. Segundo informa Joaquim Sail (2006):
     “ Ainda no mesmo ano (1913), em 7 de Novembro, houve no Mindelo, uma récita a favor dos escuteiros (Boy Scouts), organizados por Simão Barbosa, que reverteu para o cofre dos mesmos. Cantou-se “ A Portuguesa”  -- acompanhada ao piano por miss Eveleigh, à rabeca por Chaluio e Correia e ao violão por Mariano Martinho – representaram-se comédias, cantou-se a “Sementeira”, fez-se ginástica sueca”
…” Além das actividades de campismo, os Boy Scouts praticavam diariamente a ginástica. Suas exibições públicas contribuíram para torna-las apreciadas em Mindelo. Vejamos a notícia de 1913: - “ Ginástica sueca executada … agradou muito, despertando admiração o facto de se não desconectarem os meninos, quando, em outras circunstâncias, poderiam assustar-se e interromper os exercícios (Noticiário) , 20 Nov. 1913, p.3).
…” Os rapazes chegaram a se apresentar em outras ilhas, inclusive na capital, Praia: “ Principiou o espectáculo pela apresentação de um grupo de 18 alunos os quais, sob a direcção do seu professor, Simão Barbosa, executaram com muita correção e uniformidade vários movimentos livres de ginástica sueca” (Noticiário), 12 Ago. 1912. P.2).
“ A ginástica sueca surgiu na primeira metade do século XIX, tendo como um dos seus líderes Per Henrik Ling. O método notabilizou-se por sua preocupação científica, tanto no que se refere ao uso de conhecimento da anatomia e da fisiologia quanto no tocante a preocupações de natureza pedagógica. Os exercícios eram concebidos para respeitar e contribuir para a potencialização das aptidões físicas e da saúde dos praticantes. Foi adotada em muitos países até a década de 1940, embora, na ocasião, já existissem outros métodos gímnicos.
A adesão ao método sueco é um dos indícios de que os Boy Scouts estavam plenamente inseridos no quadro sociocultural mindelenses da época. Se, por um lado, eles mantinham relações com a ambiência cultural da cidade, por outro, atendiam à necessidade – sentida por algumas lideranças locais, não necessariamente ligadas ao governo metropolitano – de disciplinarização e de hábitos saudáveis”…
In: U. Rio de janeiro – Estudos Sociais
 
Pesquisa de A.Mendes


5 comentários:

  1. Enfim, Mindelo introduziu a modernidade em Cabo Verde e nas suas diversas vertentes.

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  2. A ilha de S. Vicente foi o centro de toda a inovação no arquipélago, e isto não devia ser apagado com uma esponja política.

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  3. Tenho a certeza que se o caminho do progresso desta ilha não fosse impedido durante décadas Cabo Verde seria outro país

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  4. Permitam-me destacar as palavras do José Lopes...Não fora o ostracismo hostil do poder e o dinamismo evolutivo sanvicentino teria irradiado, com vantagens evidentes para o todo nacional...
    Isolar a ilha foi um erro estratégico ferido de uma menoridade intelectual imperdoável por lesiva dos altos interesses da Nação...A História não perdoará instigadores e autores de tal crime!

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  5. Tem razão, Zito. A História não pode perdoar semelhante crime. Os responsáveis podem não vir a sentar-se no banco dos réus de qualquer tribunal, mas no da História temos de continuar a denunciar a malfeitoria para que nele se sentem e mostrem ao menos o seu arrependimento.
    Nunca é tarde para arrepiar caminho, mas é tarefa ciclópica recuperar 4 décadas de regressão. Essa tarefa tem de ser perseguida, não para um ajuste contas, mas para que Cabo Verde possa enveredar por um novo caminho, no qual todas as ilhas têm de ser parceiras da jornada.

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