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segunda-feira, 21 de julho de 2014

[7202] - CABO VERDE - RECORDANDO GENTE GRANDE...

 
António Barbosa Carreira – 1905 – 1988…” Nascido na Ilha do Fogo, António B. Carreira, foi um historiador e um homem de ideias firmes que deu a Cabo Verde pistas de vital importância sobre o seu passado e a sua identidade.
Imparável, a linha do tempo alonga-se indefinidamente. Nele figuram as datas, pessoas, feitos e momentos que marcam um povo e que investigadores vão descortinando pouco a pouco. Foi neste trabalho de tirar do obscurantismo feitos, movimentos e personagens do passado de Cabo Verde que, durante 83 anos da sua vida, António Carreira se destacou.
…” Carreira nasceu no Fogo em 28 de Outubro de 1905. Mas viveu a maior parte do seu tempo em Portugal e na Guiné-Bissau. O seu interesse pela História cabo-verdiana levou-o a viajar por vários países, onde recolheu dados que lhe permitiram aprofundar o conhecimento sobre vários aspectos do passado de Cabo Verde. O resultado das suas investigações está presente em vários artigos científicos e livros que, ainda hoje, são considerados a base da História cabo-verdiana.
“ Panaria Cabo Verdiana e Guineense” e “Cabo Verde: Classes Sociais, Estrutura Familiar e Migrações” são alguns dos muitos livros escritos por Carreira.
Esta bibliografia imensa é, para os investigadores que lhe seguiram, de leitura obrigatória, diz Daniel Pereira. Para este historiador, que foi “ impulsionado a estudar a História de Cabo Verde depois de ler as obras de Carreira”, nunca mais um investigador cabo-verdiano conseguiu igualar a dimensão deste que quis saber de onde vinha para saber o que era e onde queria ir. Para atingir o nível de Carreira, diz – “ é preciso os historiadores publicarem muito mais, estudarem muito mais”.
De facto, as investigações deste estudioso e autodidata ao contrário de se debruçarem sobre uma temática específica, abordam inúmeros factos da História cabo-verdiana, desde a economia à cultura, passando pelos aspectos sociais. Uma opção metodológica possivelmente influenciada, explica Daniel Pereira, “ pelo seu amigo íntimo Vitorino Magalhães Godinho, um importante historiador português da École des Annales, que vê a História sob o ponto de vista globalizante”.
Mas para além da capacidade intelectual e de trabalho de Carreira, um outro factor tornou este investigador ímpar: o “espirito indomável” que, segundo Daniel Pereira o levou “suplantar grandes dificuldades e a enfrentar os poderes instituídos para lograr a publicação de alguns dos seus estudos é o caso da premiada obra “ Cabo Verde: Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata” que, pela temática que abordava, tornava-se incómoda para alguns sectores da sociedade de então”.
In: “MANDUCO – ILHA DO FOGO
O ÚLTIMO LIVRO DE ANTÓNIO CARREIRA
…” Incansável pesquisador de documentos, principalmente relacionados com a temática cabo-verdiana, e com os quais elaborou diversos trabalhos, pode-se considerar António Carreira aquilo a que se costuma denominar um “rato dos arquivos”.
Deste modo, ao longo das suas pacientes investigações detectou elementos do maior interesse que depois analisou profundamente, como foi o caso do material que conduziu à feitura do livro “ A Companhia Geral Grã – Pará e Maranhão” (São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1988)
-- Livro publicado graças ao apoio explícito do Presidente José Sarney e do Embaixador do Brasil em Portugal.
“ A ampla experiência acumulada, tanto através de aturadas pesquisas como também da sua bibliografia contribuíram para a elaboração deste excelente trabalho, que concluiu contando já com mais de oitenta anos de idade, mas infelizmente não assistiu à efectiva publicação do seu último livro, visto ter falecido pouco antes de o mesmo ser dado à estampa”.
Professor Dr. João Lopes Filho
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Nota: - A sua vastíssima bibliografia pode ser consultada no “site”: Memórias d’África e d’Oriente.
 
Pesquisa de A.Mendes

7 comentários:

  1. Excerto de texto a publicar em livro... criando água na boca...

    Segunda metade dos anos 70 do século passado, na Avenida de Berna, mais concretamente nas instalações da Universidade Nova de Lisboa, que então era mesmo "nova", de nome, idade e ideia. De tal modo nova que nem casa tinha, tendo ocupado para poder sentar os alunos e possuir endereço de correio um antigo quartel mesmo ao lado do Distrito de Recrutamento e Mobilização de Lisboa. Isto, depois de ter estado noutras paragens, como o Seminário dos Olivais ou o Liceu Filipa de Lencastre. Aqui o escriba fazia a sua segunda licenciatura, desta vez em Ciências Humanas e Sociais, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (!) da dita universidade. Cadeiras várias, de História, Arte, Linguística, Geografia, Economia, Estatística, Sociologia e… Antropologia. E logo com António Carreira e Mesquitela Lima, dois cabo-verdianos de prestígio feito. É claro que nem a uma aula deste duo faltou o interessado aluno, extasiado com as lições de um e outro, embora depois os caminhos intelectuais do mesmo tenham seguido para a História da Arte, com consequente mestrado e longas investigações obrigatórias mas igualmente apetecidas.
    Carreira enchia o anfiteatro e outras salas daquela casa. Conseguia falar de temas triviais com uma erudição e profundidade que extasiavam os alunos e os colavam às suas palavras. Sobretudo, falava de coisas novas/velhas, de uma Antropologia que nunca fora muito estimada por um Estado sempre medroso da novidade mas que em época pós-25 de Abril já não era tabu. Por isso, salas constantemente repletas de ouvintes, muitas perguntas, sempre uma palavra de resposta dele, nunca deixando ninguém com dúvidas. Um dia, já para o fim do curso, apanhei-o no bar e disse-lhe do meu cabo-verdianismo adoptivo. O homem rejubilou. Só agora é que você me fala disso?, inquiriu, dando-me um palmadão no ombro que me fez ver estrelas. Ali ficámos, até o sítio fechar, continuámos na Pastelaria Fátima, do outro lado da rua, ele falando das suas investigações, dos seus livros, eu ouvindo, ouvindo, ouvindo, com pena de não poder gravar toda a ciência que estava a obter de borla… Nunca mais o vi.

    Braça Carreiristíca,
    Djack

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  2. Mais Carreira, embora "by book", destinado ao mesmo book de que se falou acima:

    Muitos anos mais tarde, na Praia, recebi de oferta o crucial "Cabo Verde – Formação e extinção de uma sociedade escravocrata (1460-1878)", da minha amiga sanvicentina Encarnação Alves, na edição comemorativa do XXV aniversário do Banco de Cabo Verde, em que ela tem alto posto. No dia seguinte, data de partida para Portugal, fiquei toda a tarde sentado num fofo sofá da recepção do Hotel Horizonte, onde o Centro Cultural Português do Instituto Camões me instalara, a ler o livro. De tal modo enterrado nele, que nem amigos que se iam despedir de mim me encontraram… Quando veio o jipe da embaixada portuguesa para me levar ao aeroporto, em atribulada história de atrasos que me fizeram perder o avião, meti o calhamaço de mais de 500 páginas de Carreira no saco de mão. A leitura continuou numa espera de duas horas, depois de tudo resolvido, através da dedicada ajuda de outra amiga, a Gilda, filha de Arcádio Monteiro. E lá vim para Portugal, em oportuna aeronave que ligou a outra proveniente de Fortaleza, em viagem demorada e complicadíssima que só não deu cabo de mim porque tinha o Carreira para me distrair dos aborrecimentos.

    Braça com medo de não apanhar o avião seguinte,
    Djack

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  3. Quanto ao "sanvicentina" é gralha ainda não emendada, neste moroso trabalho de ordenação e revisão de texto. Melhor ficará "são-vicentina".

    Braça com olho vivo,
    Djack

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  4. Nem de propósito... com esta música de fundo!
    O cantor merece um : Cabo Verde-- Recordando Gente Grande!

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  5. Ó diabo, este anónimo deixou-nos confusos. Que música de fundo e que cantor?

    Braça interrogativa,
    Djack (anónimo só de brincadeira)

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  6. ... Mornas de Cabo Verde --Zito Azevedo... Lá na fundo da página!
    Oucê eve tem aquês computador de loja dos trezente!

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  7. Mais um grande Homem que Cabo Verde viu nascer.Recorde-se que António Carreira é pai do político e ex-ministro das finanças português Medina Carreira, actualmente um famoso analista comentador de direita que tem desconcertado a classe política e económica portuguesa. Famoso por ter previsto antes de todos a crise financeira em que Portugal se mergulhou

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