Foi de propósito que me emoldurei a ouro, pois é como me sinto quando a gentilíssima Ondina se refere à minha pessoa como "o nosso Zito"...
Eu tenho um coração de manteiga no Verão e já minha mãe dizia que, como ela, eu tinha sempre a lágrima e espreitar no canto do olho! Por isso, estas pequenas grandes coisas têm o condão de me perturbar - no bom sentido - e sinto o ego inchar quando acontecem...
Em boa verdade, esta coisa de ser "nosso", vindo da pena de quem vem, não é coisa pouca, nem gratuita, nem circunstancial: as pessoas de bem só falam o que sentem e eu, com idade já mais do que suficiente para ter juízo, sempre que leio "nosso Zito" entro na minha cápsula do tempo imaginária e revejo-me a jogar golo-a-golo no Canal de João Bintim, a grafitar, com giz colorido, as paredes do Telégrafo, na Rua de Senador, a mirar o Palácio da janela do meu quarto, no primeiro andar do prédio do Rádio Clube, a comer uma bela duma sandes de carne assada no Bar Estrela, e a aperitivar um bom grogue de Sintantom com mancarra torrada, sob o olhar complacente de Faninha, no Café Portugal, a dar uma volta pela marginal depois do jantar, a fazer de locutor de rádio no R.C.Mindelo e na Rádio Barlavento, a cantar mornas de Jorge Pedro, B.Leza e Tatai, a namorar, às voltas na Praça Nova, ouvindo a banda no coreto, a arbitrar jogos de futebol, a apresentar a Voz de Cabo Verde no Éden-Park, a musicar os filmes do Henrique Pereira, a cumprir horário laboral na Drogaria do Leão, a fazer amigos - e amigas - e a cabular em anos de ouro, no Liceu Gil Eanes, com Baltazar, com Nhô Roque, com Adriano, com Rendall Leite, com Chantrim e Chantrão, com Daniel Leite e tantos outros, a beber água de Madeiral e leite de cabra, a comer cachupa, rica e pobre, midge-in-gron, bife de atum, moreia frita, doce de coco, aranha de papaia, sucrinha de mancarra, pão de trança com açucar amarelo, e a olhar o mar com Santo Antão ali, à mão de semear, a mergulhar na Baía-das-Gatas e almoçar o caldo de peixe de Djô de Lino depois de um bom gin & tonic com água pela cintura, a deleitar-me com as noites do luar de Agosto, a suar numa subida ao Monte Verde, a sentir no rosto o vento perene e a tomar uns banhos de chuva, quando S.Pedro entendia...Porque, afinal, amiga Ondina, dê por onde der, eu sinto-me UM DOS VOSSOS!
Obrigado, por concordar!
Nunca tive dúvidas que o Zito era Nosso e dos Nossos, como nós saboreou a água e a comida da nossa mamãe terra. Só um mindelense de gema conhece esta lista detalhada de iguarias!!!
ResponderEliminarE eu volto a questionar!!!... como é que essa "terra", teve a leviandade de te deitar fora???
ResponderEliminarDona Ondina....
ResponderEliminarMim também é "nosse"... "Emboramente" com um currículo muito más pobre que Nosso Zito d'ourade!
Quadro d' Honra pã Zito.
Paulo com a expulsão do teu pai ( e de tantos outros) S. Vicente e Cabo Verde ficaram pobres, perderam, não tenho dúvidas, um dos seus filhos adoptivos que o ama tanto, e que tanto podia ter dado para a cidade/ilha /país, cujas ruas estão na rua da amargura, e mergulhadas na escuridão social total. Os altifalantes da Rádio Clube e Barlavento cujo som ainda recordo com nostalgia silenciaram-se para sempre. Os americanos costumam exclamar: God Dam It
ResponderEliminar.
ResponderEliminarBolas !!!
De ouvir o Zito falando das iguarias que so là se pode encontrar (pela genuidade) fiquei a babar. Ê que eu sai antes
dele e por causa do que vocês sabem, estive 30 anos sem voltar.
Se deitaram fora o "rapazim d'rua d'Lisboa" é porque ele era um perfeito exemplo do sampadjudo de que não gostam.
Oh Zito. foi pena não terem ouvido a Ondina antes porque o "nosso" dela equivalia ao "ca bocês po mom na ele !!!"
Este quadro de vida que o "nosso" Zito pinta com minúcia descritiva, autenticidade e sentimento é dele mas é também "nosso", não provavelmente na totalidade dos ingredientes mas em muitos deles, pelo que o Zito é verdadeiramente "nosso" e nós também "dele".
ResponderEliminarPena é que em circunstâncias confusas do passado na nossa terra alguns tenham perdido a lúcida percepção dos que são verdadeiramente "nossos". Gostei deste bocadinho, amigo.
Que querido! Oh Zito! o que eu disse é mesmo verdade! O seu texto sensibilizou-me... Transmitiu uma vida repleta de boas memórias.Serão precisas mais palavras? Creio que não.
ResponderEliminarAbraços
Ondina
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarComo é que me escapou este post? Vim agora dar uma volta ao prato de arroz com atum e dou com este mimo. Mindelo é sabe e quanto ao resto não há escapatória. Quem ali cai, fica de lá. Não é coisa de genes, é coisa de atmosfera...
ResponderEliminarBraça para os mindelenses de sangue e para os mindelenses de atmosfera,
Djack
Esta parte vai para Amendes: Sim senhor, poderei estar de acordo, desde que o Djack organize um concurso, daqueles em que ele "dá cartas", para se saber quem de nós outros é aqui: «nosso» também. Ah!Ah!Ah!
ResponderEliminarO Zito já o é sem quaisquer dúvidas! De provas dadas e por unanimidade.
Abraços
Ondina
Querido amigo,
ResponderEliminarQuem lhe faz feliz, comigo compartilha o pão.
Tenham todos o meu carinho e estima!