Esta noite, a insónia, que raramente me visita, lembrou-se de mim e fez-me companhia durante largas e intermináveis horas de vigília...
Não é do meu feitio enervar-me com o inevitável e, oitenta anos passados, já aprendi que a melhor forma de enfrentar a insónia é, pura e simplesmente, aguardar que se vá...Entretanto, convém aproveitar o tempo e, desta feita, dei comigo a divagar sob o conceito de amizade.
Primeiro, achei que as chamadas "falsas amizades" são uma utopia pois, se são falsas, não são amizades e, se são amizades, não podem ser falsas...Talvez fingidas mas, mesmo assim, tenho as minhas dúvidas...
Depois, interroguei-me sobre se a amizade é um sentimento - ou estado de alma - que exija presença, contacto, visualização, abraços e outras efusões do género, duas bebidas e um "tchim-tchim", partilha de emoções, cumplicidade completa e totalmente isenta de egoísmos, fruto do intercâmbio dos mais íntimos segredos e, claro, do mútuo respeito, livre e inconscientemente aceite...
Cheguei à conclusão, já com algum peso nas pálpebras, que é possível cultivar amizades à distância, com o conhecimento apenas superficial do aspecto físico do outro - ou da outra - mas com a assimilação interessada do conteúdo dos escritos que se intercambiam e reflectem o pensamento e o espírito dos intervenientes, sem clivagens ou amarras preconceituosas e onde as almas bem formadas se encontram e se geminam nos ideais que partilham e respeitam as diferenças que, afinal, fazem de cada um de nós peças únicas na babel cósmica a que chamamos Humanidade...
É, assim, que eu tenho o privilégio de, graças a este veículo, ter encontrado amigos que jamais vi mas, que, ainda assim, fazem parte de um acervo mental inestimável que preservo como tesouro precioso, único, insubstituível!
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