Osvaldo dos Santo |
Nasci em S.Vicente há 38 anos, mas não vou falar de mim neste artigo. Vou falar de São Vicente, que me viu nascer, e do quanto é a minha desilusão ao ver a situação em que está a ilha de que tanto meu pai me falava com saudades e boas recordações dos tempos passados. Quanto a mim, só tenho frustrações e desilusões da minha ilha
São Vicente é uma ilha de festa e mais festa, sem perspectiva de futuro. Somos fustigados pela presença do mar e assombrados pela cidade-capital onde os seus filhos são obrigados a viver para fugirem à fome e à depressão do desemprego. Inclusive os que estudaram vêem o seu futuro pintado de negro numa das paredes da cidade.
Cidade repleta de jovens a andarem nas ruas com documentos na mão à procura de trabalho, para depois voltar para casa e meter na bebida e droga para esquecer mais um mau dia. Jovens a andar com portáteis na bolsa sem carregamento, carteiras vazias, com fome e sede a pediem dinheiro até aos pedintes da cidade.
Outros frustrados a fingirem-se de licenciados e doutores sem emprego, mesmo que tenham passado pelas muitas universidades igual a coentros nos mercados, que nascem uma em cada rua da nossa cidade. Estas produzem jovens sem futuro. Um bando de desempregados nas ruas, dando outra visão aos que nos visitam. Mas Mindelo é também uma cidade linda, de pessoas com bons empregos e com contas recheadas no banco.
São esses poucos que sustentam os nossos bancos, abarrotados de dívidas de clientes jovens que não conseguem assumir os seus compromissos. De clientes enganados pelos projectos de empreendedorismo, cursos, moradias e férias no estrangeiro.
A nossa cidade também é habitada por idosos largados à deriva, portugueses e outros estrangeiros que chegam para investir em bares e discoteca. Antes investiam em fábricas, mas descobriram que investir no lazer rende mais, muito mais.
Hoje São Vicente só nos dá tristeza. Os nossos governantes ludibriam-nos com festas, para receberem em troca um lugar na primeira fila para verem os desfiles dos desempregados. De lá, riem e zombam da festa dos idiotas e miseráveis. No dia seguinte, as nossas ruas amanhecem como as nossas vidas, cheias de lixos e a cheirar mal.
Falam em planos de desenvolvimentos, em infraestuturas, projectos, receitas e tesourarias. Bandos de mentirosos e hipócritas que fazem chacota da nossa ilha e sua gente, parem de vestir São Vicente com roupas de luxo. Não queremos continuar a viver de aparência. Precisamos mudar isso tudo e mandar todos para o planeta dos macacos para voltarem mais inteligentes e darem à nossa ilha o orgulho que ela perdeu.
Em São Vicente hoje temos poucas opções. Podemos trabalhar nas empresas, sermos drogados, prostitutas ou ladrões. Os polícias estão cansados de apartar desavenças entre moradores a brigar, por causa da fome que castiga os seus filhos.
Enquanto isso, nas estradas do Mindelo deslizam viaturas último modelo, conduzidos por quadros e efectivos do Estado e privados, que residem em boas moradias, e compram jornais todas as semanas para lerem a desgraça dos outros e da ilha.
Os chineses, que antes abriam lojas diariamente e empregavam muitos jovens, estão a zarpar porque já não ganham tanto dinheiro. Também não vêem com bons olhos os filhos a namorarem crioulas, que mais tarde vão pedir cidadania asiática. Também os nossos irmão da costa africana estão a ´jogar a toalha`. Para trás deixam filhos a passarem fome e mulheres que já ninguém quer. Resta-lhes ir à rua prostituir.
Os tripulantes dos barcos que procuram a Cabnave para fazer reparações aumentaram, mas as mulheres da vida não estão a conseguir ganhar mais. Ao contrário, são usadas e abusadas por asiáticos, que muitas vezes deixam o país sem pagar os “programas”. Mas temos uns novos-ricos que chegam a Cabo Verde, alguns deles europeus, a fingirem-se de crioulos. E com honras de Estado e medalhas.
A “cabo-verdianização” é tanta que não surpreende se algum vier a candidatar-se à Câmara Municipal. Qualquer um serve. Na Câmara, os vereadores e deputados tentam passar a imagem que estão a trabalhar.
Passam o dia a desfilar nos corredores e a assinar papéis de compadres e comadres, de escolas onde o ensino é precário e os nossos filhos não aprendem a boa conduta. É a nossa ilha a viver de aparência.
Hoje não temos uma televisão privada - os canais de Zau não funcionam. Somos obrigados a ver a TCV do Estado, que passa uma imagem de um país que não é Cabo Verde. Este é São Vicente, sem futuro e a viver apenas de aparência.
(Desempregado)
in A Semana (24.03.2015)
HOJE, 26.03.2015, ÀS 09H29, ESTE POST REGISTA O NÚMERO RECORDE DE 230 VISUALIZAÇÕES!!
HOJE, 26.03.2015, ÀS 09H29, ESTE POST REGISTA O NÚMERO RECORDE DE 230 VISUALIZAÇÕES!!
Os lamentos aqui passados são confrangedores e fazem-nos ver a cidade luminosa coberta de negras nuvens. Triste, triste, triste! A grande chatice, a maior chatice de todas, é que nós gostamos dela - o que ainda mais nos faz sofrer quando lemos textos com conteúdo como o deste.
ResponderEliminarBraça fúnebre,
Djack
S. Vicente real, puro e duro visto por um desempregado. Aqui não temos o blabla dos comensais que têm algo a perder. Meus senhores o que dizer? perguntemos aos 250 Condecorados, muitos deles com a responsabilidade nesta situação infame porque passa a ilha depois dos 40 anos da Independência conquistada no chão desta ilha que eles Rebentaram. Louros, Palmas e Manguitos para eles no dia 5 de Julho de 2014, pois S. Vicente em 5 de Julho de 2014 comemorará 40 anos da lenta mas inexorável caída no abismo. Esta é a verdade que não gostam de ouvir
ResponderEliminarDjack, nós que, meninos e moços, calcorreamos aquelas calçadas saudando quem passava pois a todos conhecíamos, na comunhão da verdadeira morabeza e na inocência dos nossos verdes anos, nem sonhávamos que, um dia, o paraíso que nos acolhia viria a transformar-se na tristeza da nossa velhice...Bem sei que, por vezes, reconfortará reviver os anos do mel mas sobra sempre a tristeza de ver os nossos irmãos mindelenses vergados ao peso do infortúnio numa luta sem quartel e de futuro incerto para devolver à nossa ilha todas as glórias do passado, conquistadas por mérito próprio e que lhe conferiram um estatuto de maioridade social e intelectual que as forças do mal e da mediocridade vêm combatendo ferozmente nos ultimos 40 anos de ditadura ideológica e de alguma inexplicavel letargia...Como canta o velho samba, "quero chorar, não tenho lágrimas!"...
ResponderEliminarBraça desconsolado,
Zito
Estagnação e retrocesso social acelerado em S. Vicente. As causas deste mal têm sido exaustivamente abordadas por nós e tudo o que a esse respeito pudesse ser agora dito, seria repetição. Pois, as causas são por demais conhecidas. E o que é grave, muito grave, é a ausência de perspectivas para se inverter a situação. Nem sequer se vislumbra qualquer possibilidade de ao menos suster a situação, o que significa que a tendência será certamente deslizante. Facilmente se destrói, muito mais difícil é construir. Dado que qualquer economia só regista progressos só muito tempo decorrido desde as medidas correctoras introduzidas (investimento produtivo), o cenário é mesmo muito grave, porque não há conhecimento de algo de importante que tenha sido feito nesse sentido.
ResponderEliminarEnfim, um lamento saído bem do fundo das entranhas de quem realmente sofre...mas o Governo e os poderes locais bem entrincheirados na vibrante "vidinha sebim" desta Ilha fantástica que é São Vicente continuam a vincular o círculo de mentiras e futuras realizações para "colmatar o vazio existente", com Clusters do mar e fanfarronadas que não saem do papel...O meu querido pai já dizia há muito,muito tempo atrás, se o Porto Grande de São Vicente e o Aeroporto do Sal tivessem reboque, estariam agora na Ilha de Santiago...A decadência da ilha de São Vicente começou logo após a declaração de Independência e está intimamente ligada ao facto de muitos dos nossos Governantes não aceitarem a forma de estar e viver dos Sãovicentinos, verdade seja dita...Um povo extremamente afável e simpático,trabalhador, cosmopolita e empreendedor ,Eu, passei os meus melhores dias da minha juventude nesta Ilha...e os meus melhores amigos são oriundos desta Ilha...A centralização do poder na Ilha de Santiago também obedece a impulsos nacionalistas de origem etnico-racial, sem sombra de dúvidas culminando, recentemente na ridícula aprovação do crioulo- alupec como língua materna oficial em detrimento do português, sem a letra "c" e com um palavriado e vocabulário aberrante ,virados essencialmente para a "mãe África"...Em vez de co-existir e aceitar o facto de que somos simplesmente Cabo-Verdianos, Ilhéus, nascidos nestas Ilhas do Atlântico descobertos por navegadores Portuguêses e povoados pelos mesmos e pelos escravos Africanos,os nossos Governantes actuais envendram pelo caminho do Pan-Africanismo, asfixiando a tudo e a todos aqueles que ousarem opôr a este fenômeno nefasto, levando o país para um beco sem saída...Não sei qual destas opções seria uma mais valia a Cabo-Verde: a independência total ou tornar-se num território autônomo á semelhança dos Açores e da Madeira...Mas de uma coisa estou certo: A vida de muitos Cabo-Verdianos tornou-se simplesmente num pesadelo...
ResponderEliminarDesafio os mindelenses para as comemorações do 5 de Julho organizarem à nossa moda concertos de panelas.... e desfilarem em frente aos condecorados e todos os sabujos gritando: Viva Soncente
ResponderEliminarSr. Lobo:
ResponderEliminar...é verdade. E S.Vicente nunca mais será o que foi por ciúme. Por isso deixam ruir tudo o que é bom e esquecem de falar do que nunca poderão levar: - Porto Grande, seu Ilhéu dos Pássaros, seu Monte Cara e criaram o que dizem que será o maior porto de Cabo Verde. Como não fica bem proibir a festa na Baía das Gatas, criaram a Gamboa e dizem que não trabalhamos e andamos em festas. Esquecem de falar do Carnaval de S.Vicente e enaltecem o de S.Nicolau e o de Santo Antão. Tentaram levar Mindelact para a Praia mas afundaram-se. Permitiram o desaparecimento do Fortim d'El Rey e mandaram abaixo a Casa do Dr. Adriano. Agora procuram fazer desaparecer o que foi uma universidade popular, um monumento de cultura de Cabo Verde inteiro - o Eden Park.
Pelo nome de Lobo, não tenho dúvidas quanto à sua sinceridade. Conheci um que era admirado não só pelo seu porte e honestidade como pela sua voz de enfeitiçar as mindelenses. E nunca nenhum "mnine d'Soncente" teve ciúme quanto mais ódio. Pelo contrário: acompanhavam-no nas suas serenatas
Eduardo Oliveira
Sr Eduardo Oliveira, sou natural da Ilha do Sal e o meu pai era um cantador nato, sem microfones, que levou a morna,a coladeira e o chorinho a todas as Ilhas de Cabo-Verde...Sendo ele um boêmio invertebrado, era marinheiro do navio Ilhú e portou em todas as Ilhas de Cabo-Verde até decidir regressar á Ilha das salinas aonde casou-se e teve uma família numerosa..Falo do Antuninho Lobo, o Ninga como era conhecido pelo povão...pai do também falecido Ildo Lobo, meu irmão mais velho...Um abraço e aqui neste Blogue da verdade e da liberdade vamos dando umas tacadas nestes abutres que tomaram conta das nossas Ilhas em nome de revoluções e ideologias idióticas, tendo como pano de fundo regimentos e afiliações que já não nos fazem falta...Bem haja
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