Àcerca dos aumentos salariais dos titulares de cargos públicos - incluindo os deputados - que o Parlamento de Cabo Verde votou com uma afinação digna das melhores orquestras sinfónicas mas a que o P.R. dedicou o seu veto político, o ilustre plumitivo A. Ferreira fez publicar no Blogue "Coral Vermelho" da nossa querida Ondina, uma interessantíssima crónica de que respingamos o seguinte passo, com a devida vénia:
(...) Já se escreveu muito sobre isto. Não penso trazer qualquer novidade mas apenas registar a minha vergonha pela nossa classe política dirigente – aqueles que recebem ou esperam receber do Estado recompensas chorudas (à escala do País) pelo seu dito “trabalho cívico” – e a minha profunda indignação por esse comportamento tão egoísta, cínico e insensato que esses nossos dirigentes políticos exibiram. Finalmente levantaram o véu. Bem interpretou o Mestre Baltazar Lopes o provérbio “a ocasião faz o ladrão” quando nos dizia que “a ocasião não faz o ladrão mas sim, revela o ladrão que já lá estava”. Atenção que este aforismo é aqui usado apenas como uma metáfora e nada tem a ver com a honradez dos políticos da qual não posso nem devo duvidar e nem se enquadra no objectivo deste exercício. (...)
Permito-me, no entanto, desmontar um pouco a metáfora e ser um pouco mais contundente, no que se refere a toda a grande matilha dos lobos, digo, políticos, de todas as praças, de todos os regimes, de todas as raças, de todos os credos religiosos e ideológicas...Excluo, evidentemente, os raros políticos com consciência cívica a que ninguém, por razões que a psicologia esclarecerá, liga a mínima, permanecendo num quase envergonhado anonimato, quiçá temendo as represálias dos "outros"... E digo isto porque nutro pela generalidade dos políticos uma desconfiança visceral que eles se esforçam por justificar a cada dia que passa, e que me leva a considerá-los, de uma maneira geral, desonestos...No limite mínimo da minha animosidade, poderei excluír uns tantos - não muitos - do pecado de meter a mão em algibeira alheia já que, do anátema da desonestidade mental raríssimos escaparão!
Tenho para mim que essa coisa de democracia (logo, existência de políticos e disputa política em liberdade) não tem de ser um figurino uniforme para todas as geografias e idiossincrasias. No norte da Europa, vá lá, mas no Iraque que o Bush invadiu (assassinando o Saddan Hussein) com o o fim de meter lá a democracia? Ou onde a Ellery Clinton saudou efusivamente a primavera árabe? Deixem-me rir um pouco. Ou em Portugal, onde cada um puxa a brasa para a sua sardinha, sem ligar ao colectivo? Ou em Cabo Verde, onde a democracia é cópia ipsis verbis dos modelos ricos e complexos, com instituições para tudo? Bem, aqui pouca vontade tenho de rir porque aquele país não tem recurso para o mais importante quanto mais para sustentar um Estado inflacionado que pode dar jeito aos carreiristas da política mas não para resolver os problemas do povo. E depois, claro está, a ocasião faz o ladrão...
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