Osvaldo dos Santos |
Cada vez mais, vemos os nossos jovens a viajarem para fora da ilha de São Vicente, em busca de soluções para os problemas que os afligem. Dizem que vão atrás de dinheiro, de trabalho e, principalmente, de resposta para o seu futuro. Até os nossos deputados eleitos por São Vicente já não querem morar mais na nossa ilha, que os viu nascer.
Tempos atrás, um amigo meu foi morar fora da ilha de São Vicente e levou o seu cão, na volta o animal não mais queria voltar porque entendia que lá fora podia viver melhor. Sentimos que todos nossos direitos estão a ser ignorados, até por aqueles que deveriam ser os nossos maiores defensores. Ou seja, pelos nossos políticos.
O produtor Djô da Silva, que ganhou notoriedade e fama pelo seu trabalho e também na boleia da nossa querida e saudosa Cesária Évora, gostou de viver fora de São Vicente e ficou por lá. Hoje é um dos impulsionadores dos grandes eventos que se fazem na Praia. Curiosamente, Djô da Silva nunca tentou fazer nada por S.Vicente. E sabemos que a nossa Cise, a nossa rainha, dizia que era menininha de S.Vicente.
Por causa disso, a cidade da Praia, além de capital de Cabo Verde, agora é também capital da cultura, dos festivais e de outros eventos. Já São Vicente assiste impotente e sereno à fuga dos seus filhos, sem nada poder fazer para os reter.
Há pouco tempo, os cabo-verdianos saíram à rua por causa do novo Estatuto dos Titulares de Cargos Políticos. Por pressão do povo, os políticos voltaran atrás nas suas decisões. Alguns tentaram sacudir a culpa e responsabilizar o Primeiro-Ministro José Maria Neves que, não podemos esquecer, tem feito um trabalho positivo para o país, apesar da oposição do bota-abaixo e de alguns falsos governantes.
É preciso que fique claro que, nesta balança, o peso maior pende para o lado do povo. Temos de exigir e reivindicar mais, porque somos fortes. Exigimos pois o estatuto para os desempregados. Falam em vencimentos congelados, enquanto que os desempregados morrem com a alma gelada com vontade de comer um simples sorvete de 10 escudos.
Falam em salário mínimo há mais de trinta anos, mas este não passa de 11 mil escudos. Até algumas lojas chineses que pagavam mais recuaram quando se fixou o salário minímo. Hoje, por causa da situação económica dificil da ilha, nem isso. Muitos chineses começaram a fechar as suas lojas. Já ganharam o suficiente, dizem.
Alguns anos atrás, foi residir na Praia o Presidente de um Partido, agora Deputado na Assembleia da Republica eleito com a promessa de resolver os nossos problemas. Gostou da abundância e do dinheiro fácil e mandou uma mensagem aos sanvicentinos: “Calma, meus amigos moradores em casa de tambores, bandos de miseráveis vocês são a caça e eu sou o caçador associando-se aos que validaram o Estatuto.
Não podemos continuar a dormir e ver os nossos problemas a nos matar. Não queremos apenas um veto e explicações complexas que não explicam nada. Estamos cheios de festas, festivais. Estamos cansados de estar na fila da frente do palco, sem conseguir esquecer as nossas depressões e frustrações. Acordem e lembrem que a nossa voz é a nossa arma. Mais nada nos escapa. Às vésperas do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, vamos todos exigir um estatuto para os desempregados em S.Vicente. Vamos à luta pelos nossos direitos. (in A Semana)
O jovem faz bem em denunciar o grave problema do desemprego em S. Vicente, pois quanto mais bater na tecla melhor. Mas peca por algumas contradições e por evitar chamar os bois pelo nome. Por exemplo, sublinha que o primeiro-ministro fez um trabalho positivo, mas esquece de lembrar que, durante o seu longo e reconduzido governo, não fez aquilo que é a causa principal dos problemas de S. Vicente: não descentralizou o poder e manteve o Estado concentrado na Praia. É a razão por que todos os mindelenses não têm outro recurso senão fugir para lá em busca de trabalho. Tão simples como isso.
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